Em Abril as Tropas do Apartheid e da UNITA Saíram de Angola
(Hoje é um dia grande. Um marco na História de Angola Contemporânea. Há 35 anos, as tropas da África do Sul e da sua unidade especial UNITA, abandonaram Angola. Estava em marcha a Operação Displace e foi aberto o caminho para o Acordo de Nova Iorque. Esta reportagem foi construída com factos recolhidos de livros publicados por autores sul-africanos ligados ao regime de apartheid. Conta o fim dos nazis e a libertação da África Austral protagonizada pelo Povo Angolano em armas)
Artur Queiroz*, Luanda
A Operação Displace, que teve início no dia 28 de Abril de 1988 (há 35 anos), marca o fim da invasão de Pretória e o início de negociações directas entre os governos de Angola, da África do Sul e de Cuba, sob mediação dos Estados Unidos da América. O ponto final da Batalha do Cuito Cuanavale foi no Triângulo do Tumpo, ao longo do dia 23 de Março de 1988.
A derrota das tropas invasoras obrigou PW Botha a tomar medidas de emergência. Responsabilizou pela derrota o seu ministro da Defesa, Magnus Mallan, e o comando das forças armadas. Numa reunião em Pretória mandou o seu chefe dos serviços secretos (Neil Barnard) tirar Nelson Mandela do cárcere.
No Sul e Sudeste de Angola as tropas invasoras retiravam penosamente, vergadas ao peso da derrota. Os soldados que chegaram à Namíbia escreveram nas paredes das casas onde pernoitaram: “Viemos do inferno”. O arco-íris começou de imediato a ser “pintado”. Era preciso garantir na África do Sul uma transição para a democracia, num clima de paz social. Neil Barnard, um radical do apartheid, revelou mais tarde que trocou confidências e deu todas as garantias a Mandela.
O futuro Presidente da África do Sul (Nelson Mandela) contou mais tarde em livro que já no fim das conversações com Neil Barnard, telefonou a PW Botha no dia do seu aniversário (12 de Janeiro). O chefe do apartheid, para retribuir a amabilidade, convidou-o para tomar chá e serviu-o. “Saí com a impressão de que tinha falado com um chefe de estado criativo, caloroso, que me tratou com todo o respeito e dignidade”, escreveu Nelson Mandela.
“No dia 29 de Março de 1988, os
invasores punham-se a salvo rapidamente, temendo uma contra ofensiva fulminante
das FAPLA. Antes quase conseguiam desalojar a 25ª Brigada, mal posicionada no
terreno. A vitória esteve ao seu alcance e estiveram a ponto de desalojar as
FAPLA atacando por trás das posições”. (Coronel Jan Breytenbach “The
Buffalo Soldiers: The Story of South Africa’s 32-Battalion 1975-
“Eles esperaram inutilmente. O
Brigadeiro Numa, em vez de avançar, decidiu que a fuga era a melhor parte da
operação e retirou, apressadamente, a sua brigada para uma posição
Abílio Numa e outros oficiais da
UNITA, que no início dos combates derradeiros recuaram para
Mas os militares da UNITA que não
recuaram, pouco tempo se aguentaram nos combates. O coronel Jan Breytenbach, no
seu livro “The Buffalo Soldiers The Story of South Africa’s 32º Battalion
1975-
Esses militares das forças
regulares de Savimbi não tiveram a sorte dos que iam recuando de 20 em
O “pai” das forças da UNITA, Jan Breytenbach, foi testemunha privilegiada porque assistiu, desde o início, à derrocada das tropas invasoras: “Toda a potência defensiva das FAPLA foi dirigida contra o comando do Regimento do Presidente Steyn e contra uma UNITA já em fanicos”.
O comandante do célebre Batalhão Búfalo, do seu posto de observação, verificou que as forças de artilharia invasoras recuavam para áreas mais seguras. Os comandantes perceberam que face à barragem de fogo das FAPLA e à intervenção dos MIG da Força Aérea Nacional, a derrota estava garantida. Só faltava saber a sua dimensão.
Jan Breytenbach dá uma indicação no seu livro. Se os artilheiros se puseram ao fresco, “o mesmo não se pode dizer dos pobres soldados de infantaria da UNITA, que entraram em acção encavalitados nos tanques Oliphant e nos Ratels. Os seus corpos ficaram espalhados em grande número pelo campo de batalha”. (The Buffalo Soldiers The Story of South Africa’s 32º Battalion 1975-1993. Página 309).