Artur Queiroz*, Luanda
No dia 5 de Junho de 1991 o chefe dos serviços secretos militares do regime de apartheid, Comandante De la Ray, emitiu uma ordem para serem criadas bases secretas no Cuando Cubango a fim de serem escondidos 20.000 soldados da UNITA e as suas melhores armas, inclusive a artilharia e os mísseis Stinger, ofertados pelo presidente Reagan a Jonas Savimbi. As bases secretas receberam os seguintes nomes: Licua, Girafa, Palanca e Tigre. “Devem ser aquartelados os melhores comandantes”, diz o documento.
A ordem secreta chegou às mãos do “oficial de ligação” da UNITA, Isaías Samakuva, e do “cunhado de Savimbi”, Abílio Camalata Numa, o assassino de serviço. As ordens foram cumpridas, sendo os militares distribuídos pelas bases criadas. O objectivo era incluir 7.000 homens em cada base mas só conseguiram juntar 20.000, o que deu 5.000 soldados por quartel . Jonas Savimbi tinha assinado o Acordo de Bicesse apenas cinco dias antes, no dia 31 de Maio, faz hoje 32 anos.
Miguel Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes, dirigentes e fundadores da UNITA, quando souberam da traição ao acordado em Bicesse, afastaram-se de Savimbi e denunciaram publicamente a existência das bases secretas. Mas não sabiam o local. A ONU (UNAVEM) supervisionava o cumprimento do que foi acordado e Margaret Anstee anunciou que ia imediatamente verificar a veracidade da denúncia dos dois generais. Ninguém quis apurar a verdade. Porque foi considerado que os dois denunciantes agiram apenas para prejudicar o líder da UNITA. Assim, não foram encontradas bases secretas!
Na época já existiam meios tecnológicos (satélites) para rastrear o território angolano e detectar grandes concentrações (5.000 em cada base) de pessoas e armas pesadas. O território só podia ser fronteiriço. Os EUA tinham capacidade para isso. Não o fizeram porque apoiaram a decisão dos serviços secretos militares da África do Sul. E não se opuseram ao plano “se a UNITA ganhar as eleições tudo bem, se perder tomamos o poder pela força.”
O documento secreto só chegou ao conhecimento do Estado Angolano em 2014. Demasiado tarde para evitar a rebelião armada de Savimbi em 1992 e que durou até 2002. Mas demonstra por que razão o Acordo de Bicesse nunca valeu nada para a direcção da UNITA.
A paz para o Galo Negro é igual a poder para queimar mulheres nas fogueiras. Poder para matar à paulada políticos que pensam pela sua cabeça. Poder para torturar. Poder para enterrar pessoas vivas em cacimbas ou covis de feras. Essa é a paz da UNITA. Hoje estão mais raivosos e perigosos do que nunca. Porque a “frente unida” só deu mais acomodados na Assembleia Nacional. E eles querem os lugares todos!
A TPA diz bem dela própria de hora a hora. Mas um “spot” de publicidade desmente tragicamente a propaganda. A imagem está atrasada alguns segundos do som e aquilo só da para rir. Tecnologias de ponta, alta definição, última maravilha da tecnologia dão reportagens com imagens paralíticas e som sincronizado com as imagens do dia anterior. As tecnologias avançadas precisam de técnicos igualmente avançados. Casio contrário não funciona.
Mas hoje o canal público mostrou para que serve. No noticiário das 13 horas foi anunciado que o Presidente da República visitou o Hospital Pedro Mara Tonha (Pedalé) no Morro Bento. Do estúdio passaram a emissão para o repórter Duda, em cima do acontecimento. Ele falou, falou, falou sem dizer nada e as imagens mostravam entulho e um monte de areia. Lá longe viam-se pessoas com capacetes de protecção brancos. Um deles devia ser protector de João Lourenço. Senhora ministra da Saúde, o seu Hospital Pedalé mostrado pela TPA (o chefe Miala) é entulho e areia. Já foi à vida. O Instituto Politécnico Superior do Cuito inaugurou instalações da área da Saúde e anunciou uma Clínica Universitária. Sem a ministra da tutela!
Hoje o Bureau Político do MPLA esteve reunido para apreciar as políticas económicas. A TPA passou a emissão para o repórter de serviço e ele estava sozinho na sala vazia onde decorreu a reunião. Porque, segundo o solitário, a direcção do partido tinha concluído os trabalhos 40 minutos antes! Como o tempo não espera só mostraram a sala vazia e o paleio. Novas tecnologias para isto? Nestas coisas o repórter organiza a forma como vai cobrir o acontecimento. Garante que haja quem no fim da reunião fale. Nada. Só cadeiras vazias e lá ao fundo trabalhar mais e informar melhor. Notícia de uma reunião de pessoas mas sem pessoas.
O próximo conselho de ministros é importantíssimo. O FMI impõe que os governos submetidos não subsidiem os combustíveis. Querem a energia só para eles. Se o Executivo capitular ante os agentes financeiros de Washington temos graves problemas em Angola. Não venham com a demagogia habitual justificando o fim dos subsídios aos combustíveis porque eles obrigam os que não têm carro a pagar aos quem têm carro. Quem não tem, anda nos meios públicos. E o fim dos subsídios significa o aumento em flecha do preço dos transportes de pessoas e mercadorias. Cuidado com o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).
Hoje tenho uma novidade. Há precisamente 46 anos, a 31 de Maio de 1977, a embaixada de Portugal em Luanda informava Lisboa de que os golpistas assaltaram a cadeia de S. Paulo onde se encontravam detidos, entre outros, cidadãos portugueses. Eis o texto: “Segundo declarações do presidente Neto e uma notícia do Jornal de Angola apenas saíram da prisão os partidários nitistas e os marginais, tendo-se recusado a sair os do ELP (Exército de Libertação de Portugal, grupo de extrema direita português), da OCA (Organização Comunista de Angola, de orientação maoísta), os sul-africanos e os mercenários”.
O Michel Nuvem Negra diz que o 27 de Maio foi uma manifestação popular. Mas os “manifestantes” arrombaram os portões da prisão, entraram com um tanque de guerra para o pátio, abriram as portas das celas e mataram funcionários do Estado entre os quais Hélder Neto. Mercenários estão livres! Fascistas do ELP estão livres! Maoistas da OCA estão livres. Inactivos da Revolta Activa estão livres. Marginais assassinos e salteadores estão livres!
Por sorte só fugiram da cadeia os golpistas presos dias antes do golpe. E foram logo matar para o Sambizanga. Peço humildemente perdão ao Presidente da República por lembrar este acontecimento e revelar o documento. As suas vítimas arrombaram os portões da cadeia de São Paulo. Tomaram o quartel da IX Brigada. Tomaram de assalto a sede da DISA. Ocuparam a Rádio Nacional de Angola. Montaram barreiras nas ruas de Luanda. Assassinaram chefes militares e atiraram os cadáveres à lixeira de Luanda. Vítimas mais vítimas é impossível.
*Jornalista
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