Artur Queiroz*, Luanda
A Constituição da República de Angola foi aprovada pelos deputados da Assembleia Nacional em 27 de Janeiro de 2010. O MPLA tinha 191 deputados, o PRS oito, a FNLA três e a Nova Democracia dois. Estes foram os que votaram. O Grupo Parlamentar da UNITA, constituído por 16 parlamentares, abandonou o plenário no momento da votação. Não votou contra. Não se absteve. Não votou a favor. Boicotou a Lei Fundamental. Para os sicários do Galo Negro não existe. Eis os nomes de alguns dos que cometeram esse crime contra a democracia: Abílio Camalata Numa, Demóstenes Chilingutila, Ernesto Mulato, Jaka Jamba, José Chiwale, Lukamba Paulo (Gato), Raul Danda, Silvestre Gabriel Samy.
Os que viraram as costas à Constituição da República na hora de votar, nem que fosse contra, traindo quem lhes confiou o voto (a UNITA é traição permanente e irremediável), hoje invocam a Lei Fundamental para continuarem a rejeitar os resultados eleitorais de Agosto do ano passado. Tudo lhes serve para destruírem o regime democrático. Primeiro actas falsas que inventaram após a contagem dos votos. Depois “manifestações” que eram acções terroristas para que o poder caísse na rua. Agora servem-se da Carta Magna para ganhar na secretaria o que perderam no terreno de jogo.
Estrondosa derrota eleitoral! A UNITA conseguiu juntar nas suas listas o trânsfuga Abel Chivukuvuku (terrorista de papel passado por uma academia marroquina) que carreou para o Galo Negro os votos da CASA-CE. Mobilizou os antigos maoistas e revoltosos inactivos (Revolta Activa, uma cisão do MPLA). Levou pela trela os “revus”. Tudo quanto era lixo social alinhou com o traficante de diamantes de sangue, Adalberto da Costa Júnior. Com os que queimaram vivas as elites femininas do partido na Jamba. Os que serviram de biombo à invasão dos racistas sul-africanos. O braço armado do apartheid contra o Povo Angolano. Todos juntos foram esmagados nas urnas. A maior vitória de sempre do MPLA.
A vitória foi ainda mais retumbante se tivermos em conta que o cabeça de lista e líder do MPLA, João Lourenço, fez tudo para dividir a base social e eleitoral do partido. Para ele foi uma derrota. O objectivo era retirar ao MPLA a maioria absoluta, para ficar ainda mais dependente de Washington e suas políticas criminosas. A História Contemporânea de Angola vai registar as eleições de Agosto de 2022 como um marco indelével na consolidação da Pátria Angolana.
Os sicários da UNITA agora são justiceiros. Amam a Constituição da República. Estão preocupados com a Justiça. Porque lhes foi garantida a impunidade. Sabem que jamais responderão pelo assassinato de dirigentes e chefes militares. Por terem queimado nas fogueiras da Jamba as elites femininas. Por terem enterrado viva Dona Isabel Paulino, esposa do criminoso de guerra Jonas Savimbi.
Esta metamorfose do Galo Negro (qualquer dia viram pombas brancas) apesar de tudo, não é tão hilariante como a de João Lourenço. Ele enquanto dirigente do MPLA e deputado da Nação, condenou bravamente a invasão e destruição do Iraque pelo estado terrorista mais perigoso do mundo. Todos os dias denunciava nos Media a invasão e ocupação do Afeganistão pelos EUA e a OTAN (ou NATO). Horas a fio condenou os voos secretos da CIA e os centros de tortura que espalhou pelo mundo. Convocou dezenas de conferências de imprensa para condenar a invasão e ocupação da Síria! As tropas dos EUA tomaram de assalto as regiões mais ricas do país. João Lourenço é um pacifista estremecido.
Imaginem que Angola só tem as províncias de Cabinda, Zaire, Cunene e Moxico. Um dia chega o estado terrorista mais perigoso do mundo e ocupa militarmente as províncias de Cabinda e Zaire (já estiveram mais longe…). Foi isso que os EUA fizeram na Síria. E continuam a fazer ante o protesto diário de João Lourenço. Não dá descanso aos ocupantes!
O dirigente e deputado do MPLA João Lourenço nunca perdeu uma oportunidade para denunciar a ocupação da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) por Marrocos. Nunca. Foi a Washington e atirou à cara de Joe Biden a ocupação. Fez o mesmo com a ocupação da Palestina e o genocídio dos palestinos. Um homem firme na condenação das guerras da OTAN (ou NATO), União Europeia e EUA.
Em 1974, o MPLA estava dividido e cercado. Desarmado. Isolado. Só a República Popular do Congo e a Jugoslávia não nos viraram as costas. Precisávamos urgentemente de armas porque os esquadrões de morte dos independentistas brancos estavam cada vez mais agressivos. O Norte de Angola foi invadido silenciosamente pelas tropas de Mobutu, sob o biombo da FNLA. Os racistas de África do Sul tomavam posições a Sul e Centro de Angola à custa da UNITA.
Um navio jugoslavo trouxe as
armas necessárias, em
Quando o estado terrorista mais perigoso do mundo e a OTAN (ou NATO) destruíram a Jugoslávia, em 1999, João Lourenço queria ir combater os destruidores. Foi um problema agarrá-lo. Todos os dias aparecia na TPA e na RNA condenando a guerra de agressão contra um dos nossos melhores amigos. Os outros eram a República Popular do Congo, Cuba e União Soviética, hoje Federação Russa. João Lourenço queria sair da Assembleia Nacional e ir defender a Jugoslávia de armas na mão. Grande herói!
Ontem em Gaberone, o Presidente João Lourenço foi igual a si próprio e no seu discurso oficial disse isto: “A agressão da Rússia à Ucrânia e a anexação de parte do seu território viola os princípios do Direito Internacional, constitui um mau precedente nas relações entre os Estados e periga a paz e segurança mundiais”. Não perde uma oportunidade para bater nos amigos a mando de Washington. O Botswana votou como Angola na ONU condenando a Federação Russa, mas quem manda lá é a De Beers. Em Angola ainda mandam os angolanos?
Joe Biden integrou o director da CIA, Bill Burns, no seu gabinete. Aqui foi João Lourenço que marcou pontos. Ele deu o exemplo integrando Fernando Miala na Presidência da República, com plenos poderes sobre o Poder Judicial. Temos líder!
* Jornalista
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