quinta-feira, 13 de julho de 2023

Portugal | SACOS AZUIS PARTIDÁRIOS

Rosália Amorim* | Diário de Notícias | opinião

O PSD, nos anos da liderança de Rui Rio, passou por momentos políticos e financeiros difíceis. O financiamento dos partidos está ligada aos resultados eleitorais. Como Rui Rio não brilhou nos resultados, as complicações aumentaram. Agora, há denúncias de que funcionários do partido terão sido pagos através de verbas do Parlamento e isso é uma irregularidade.

O Parlamento tem subvenção estatal, mas o partido não pode viver às costas da casa da democracia. Em causa estão suspeitas de crimes como peculato e abuso de poder por alegado uso indevido de financiamento do PSD. O ex-presidente social-democrata é um dos principais visados.

As buscas da Polícia Judiciária (PJ) à casa do ex-presidente do PSD, no Porto, são surpreendentes, sobretudo por se tratar de Rui Rio. O antigo líder - obcecado com as finanças, austeridade, ética e transparência -, terá deixado passar em branco uma prática que parece sombria? O segundo partido português, que é alternativa de poder, não terá as contas em conformidade com a lei?

A forma de Justiça mediatizada, a que assistimos ontem pelas televisões, é exatamente aquela que era criticada por Rui Rio quando liderava o partido laranja. Ontem, ele próprio foi alvo dessa mesma forma que abominava. É o principal visado na investigação, mas as buscas também estão a decorrer na sede nacional do partido, na Rua de São Caetano à Lapa, em Lisboa, nas sedes distritais do PSD em Lisboa e Porto e nas casas de outros suspeitos, nomeadamente o deputado social-democrata Hugo Carneiro, e a assessora Florbela Guedes.

Terão sido pagos, durante anos, milhares de euros por mês a funcionários que na realidade não exerciam funções no Parlamento, mas na sede e nas distritais do partido, de acordo com o que terá apurado a investigação da PJ, em articulação com o DIAP de Lisboa. A investigação vai percorrer o seu caminho, mas pode ser difícil de provar os factos, porque, muitas vezes, um assessor não trabalha apenas para um dos lados. Faz trabalhos vários e que, muitas vezes, se confundem.

E estarão todos os outros partidos a cumprir a lei? Desde ontem que muitos, certamente, começaram a dar a volta aos papéis para verificar se está tudo em conformidade. Rui Rio, por seu turno, diz estar "muito tranquilo". Dentro do PSD há quem admita uma "vingança" alimentada pelas divisões internas que levaram a abrir este processo. Com ou sem vingança, as leis da ética e transparência na política visam evitar que existam sacos azuis ou partidos insuflados por verbas que pertencem à Assembleia da República. Será o caso? Ou será uma prática comum entre todas as famílias partidárias e cujo apuramento da verdade não resultará em qualquer penalização?

Antes de condenações em praça pública, a investigação tem de percorrer o seu caminho e, certamente, fará tudo para apurar os factos. É importante que o caso não fique pela rama e que se esclareçam os eleitores.

* Diretora do Diário de Notícias

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