Artur Queiroz*, Luanda
A “comunidade internacional” exigiu ao Governo de Angola a adopção da democracia representativa e da economia de mercado, expressão que significa o capitalismo que mata. A guerra de agressão estrangeira (em Angola nunca houve uma guerra civil) iniciada no segundo semestre de 1974, com a invasão silenciosa do Norte pelas tropas de Mobutu, estava a consumir todos os recursos materiais e humanos. As exigências foram aceites. Impuseram eleições multipartidárias, organizadas e controladas pela ONU mais uma Troika de Observadores (Portugal, EUA e Rússia). Vamos a votos.
Já ninguém se lembra mas os Media portugueses davam, segundo a segundo, minuto a minuto, em páginas diárias uma vitória esmagadora à UNITA. Segundo eles, apenas tinha como adversário à altura o PRD, liderado pelo padre Joaquim Pinto de Andrade e juntava fraccionistas de duas épocas: Revolta Activa (1974) e golpistas do 27 de Maio (1977). O MPLA ia desaparecer porque só governava para os angolanos do asfalto! As agências humanitárias dos EUA, com a CIA à cabeça, espalhavam pelo universo mediático que os partidos no poder em África iam ser todos varridos em eleições democráticas.
Nesta altura foram cometidos dois erros graves. O primeiro foi deixar ficar no ar o papel da Troika de Observadores e da ONU representada pela UNAVEM. Iam monitorizar o processo de paz mas sem regras bem definidas. Salvo no que dizia respeito às eleições. E se um dos signatários do Acordo de Bicesse despisse a camisola, deixasse de cumprir? A resposta seria conversa fiada e mais nada. Mas nas declarações púbicas, quem os ouvisse falar, agiam imediatamente e obrigavam o violador do acordo a cumpri-lo nem que fosse à porrada! Mas isso só era verdade se fosse o MPLA a não cumprir!
Segundo erro e gravíssimo. Os EUA patrocinaram a UNITA, quase impuseram ao Presidente José Eduardo o Acordo de Bicesse. O lado angolano não exigiu que Washington desnazificasse o Galo Negro, antes de qualquer conversa. Obrigasse os assassinos de Savimbi a responderem pelo Holocausto da Jamba. Pelo contrário, os Media controlados pela CIA apresentavam Savimbi como um herói da democracia e a Jamba a capital da Angola democrática. Mas todos sabiam que as elites femininas da UNITA foram queimadas vivas. Todos sabiam que Savimbi assassinou todos os que não lhe obedeciam cegamente ou não pensavam pela cabeça do criminoso de guerra.
Podia ter sido diferente? De todas as coisas tristes, a mais triste é esta: Podia ter sido! Sim, a liderança de Angla podia ter feito diferente. Mas as pressões políticas eram muitas. A penúria económica era total. O Povo Angolano não aguentava mais sacrifícios numa guerra que já tinha 13 anos a somar aos outros 13 da Luta Armada de Libertação Nacional. Então não foram erros. Foi a força das circunstâncias. Às sabichonas e sabichões quero dizer que a guerra atrasou Angola pelo menos 100 anos. Contem a partir de 2002.
Fomos a votos! O MPLA esmagou. E tal como estava combinado com a CIA e os serviços secretos de Pretória, ainda dominados pelo regime nazi, imediatamente foi posta a circular a tese da fraude! O impossível. Porque nunca no mundo se realizaram eleições tão escrutinadas. Tão bem organizadas. Face à derrota eleitoral os sicários da UNITA regressaram à guerra em nome dos seus amos. Mas como, se por força do Acordo de Bicesse, Governo e UNITA desarmaram e desmobilizaram as suas tropas?
Esta parte é muito grave. Tony da Costa Fernandes e Miguel Nzau Puna foram fundadores da UNITA. Fazem parte do grupo que foi treinado militarmente na República Popular da China sob o patrocínio de Viriato da Cruz, o herói dos traidores escondidos na Universidade Católica e outros canalhas. Estes são maoistas! Estes é que são os bons! E Pequim aceitou o veredicto do conselheiro. Mais uma tragédia!
Puna foi sempre o “número dois” da UNITA. Quando Savimbi estava bêbedo e drogado tinha que ser o “número um”. E o criminoso de guerra estava demasiadas vezes sob os efeitos de paraísos artificiais ou a violar as suas escravas sexuais. Tony da Costa Fernandes tinha muito peso. Tanto como Savimbi. E era o pensador das políticas. Quando ele saiu da direcção da UNITA, o criminoso de guerra só foi capaz de pôr o partido a dar tiros, socorrendo-se dos acéfalos e oportunistas que aderiram após o 25 de Abril de 1974. Pedro e Sachilombo já tinham ido para os Flechas da PIDE em 1968. Tchiwale tinha caído em desgraça.
Puna e Tony souberam que após assinar o Acordo de Bicesse, Savimbi tinha recebido ordens para esconder os melhores militares e as melhores armas em bases secretas, no Cuando Cubango, criadas e abastecidas pelos serviços de inteligência militar de Pretória. Mas não conheciam o mapa das bases. Mesmo assim denunciaram a traição aos acordos. A UNAVEM fingiu que foi procurar as bases e uns dias depois a senhora Margareth Anstee (representante do secretário-geral da ONU em Angola) disse que não havia nada. Tony e Puna apenas estavam a levantar suspeitas porque se zangaram com Savimbi.
As bases existiam. EUA e UNAVEM tinham tecnologias apropriadas e infalíveis para detectar uma concentração de 20.000 homens. Detectaram mas fingiram que Puna e Tony fizeram a denúncia por despeito. A Troika de Observadores nem quis saber. Após a derrota eleitoral, a UNITA despiu a camisola do Acordo de Bicesse, as tropas saíram das bases secretas e de uma forma fulminante ocuparam mais de dois terços de Angola! Com o apoio dos EUA e dos restos do regime de apartheid. Mandela até recebeu Savimbi, já derrotado nas eleições e rejeitando os resultados. No mínimo, deu-lhe força.
Este erro deu mais dez anos de mortes e destruições, agora em todo o país. Os bandoleiros de Savimbi ergueram-se em armas contra a democracia para matá-la ainda no ovo. Voltou tudo ao antes da Batalha do Cuito Cuanavale no Triângulo do Tumpo. A invocação da fraude eleitoral deu dez anos de banditismo armado e roubo dos diamantes de sangue! O que fizeram os fiéis depositários do Acordo de Bicesse? Assobiaram para o lado. E quando aconteceu uma reunião de doadores em Bruxelas para recolher fundos destinados à reconstrução nacional, não deram nem um centavo. Meu caro Moco, não queres escrever sobre isso?
Confiar nas grandes potências ocidentais, na OTAN (ou NATO) e no estado terrorista mais perigoso do mundo foi um erro trágico. Mas não havia meio de evitá-lo. Pior veio a seguir. Os bandidos armados de Savimbi foram agraciados pelos deputados da Nação com uma amnistia, até para os generais desertores, como Abílio Camalata Numa. Tudo em nome da unidade e reconciliação nacional. Como se fosse possível reconciliar bandidos com pessoas honradas, golpistas com democratas, patriotas com os que se venderam ao colonialismo e aos racistas de Pretória.
Os mentores da UNITA convenceram a direcção de que Angola estava madura para virar as costas ao MPLA. E fomos às eleições de 2008, 16 anos depois das primeiras multipartidárias e na vigência da democracia representativa. Ninguém mexeu nas leis nem para criminalizar os políticos e organizações partidárias que não respeitassem os resultados eleitorais apurados pela Comissão Nacional Eleitoral. Que ousassem ser jogadores e árbitros ao mesmo tempo. Sabem o que deu? A UNITA foi esmagada (teve a votação de acordo com a sua expressão nacional, 10,39 por cento e 670.363 votos) mas Samakuva invocou a fraude eleitoral como fez Savimbi 16 anos antes!
Face a esta realidade, nem assim os legisladores eleitos pelo Povo Angolano acordaram. Não foi produzida e aprovada legislação que criminalizasse e com pesadas penas, os políticos e partidos que invocassem a fraude eleitoral substituindo-se às autoridades legítimas que contam os votos e proclamam os resultados.
Eleições de 2012, as primeiras na
vigência da Constituição da República aprovada em
Eleições de 2022. O panorama agravou-se. Os sicários da UNTA convenceram-se de que são impunes. Invocando a liberdade de expressão mentem, difamam, promovem a violência, o ódio, o extremismo. Um ano depois de contados os votos e proclamados os resultados, a direcção do Galo Negro continua a invocar a fraude! Atenta contra as instituições do Estado de Direito e Democrático. Continua a promover o ódio e a violência. Continua na lógica ameaçadora e golpista. Vamos para as eleições de 2027 e os sicários da UNITA vão invocar a fraude. Porque a derrota vai ser mesmo a doer.
A UNITA, sem as bengalas da “frente patriótica”, vai ficar mesmo reduzida à sua insignificância eleitoral. Se até lá não forem travados no seu extremismo e propagação do ódio. Para que servem os deputados da Nação? Não vejo ninguém disponível para defender o Estado de Direito e Democrático.
Vamos à História. A UNITA combateu contra a Independência Nacional. Não me obriguem a enviar de novo as cartas de Savimbi ao capitão português Benjamim de Almeida implorando a integração rápida das suas tropas no exército português e pedindo um bom creme para os pés mais um medicamento para os peidos. A UNITA combateu ao lado dos racistas sul-africanos traindo o Povo Angolano, África e o mundo democrático.
Angola enveredou pelo caminho da
democracia liberal e Savimbi ergueu-se em armas contra o regime. Hitler fez o
mesmo na Alemanha. Adalberto abusa das teorias conspiratórias, Hitler fez o
mesmo. Adalberto cavalga os problemas económicos que são mundiais. Hitler fez o
mesmo. Os discursos de Hitler promoviam teorias conspiratórias. Adalberto faz o
mesmo. Em
Hitler também beneficiou da
complacência de franceses, ingleses italianos (Conferência de Munique). Quem
quis afastar Hitler do poder foi assassinado com requintes de malvadez. Quem
ousou pôr
A hora é de agir antes que seja tarde. A UNITA está a espalhar o extremismo, o ódio e a violência. Só vai parar quando os democratas impedirem. O incêndio hoje na Rua dos Comandos, no Cazenga, é resultado da propagação do ódio e violência pelos sicários da UNITA. Qualquer dia pegam fogo à democracia e aos democratas.
*Jornalista
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