Artur Queiroz*, Luanda
Ismael Mateus, membro do Conselho da República nomeado pelo Presidente João Lourenço, publicou um texto no Jornal de Angola com conteúdo racista e xenófobo. O título do repositório dos crimes de ódio é sugestivo: “Invasão Muçulmana”. A partir daqui o autor manipula factos para levar os leitores a concluírem que sim, em Angola existe uma gravíssima invasão de muçulmanos. Esperei até este momento por uma reacção a tão graves crimes mas o silêncio é de ouro, vale mais do que o Corredor do Lobito.
No Conselho da República têm lugar a Presidente da Assembleia Nacional. Nem uma palavra sobre a “invasão dos muçulmanos”. O senhor Procurador-Geral da República, Hélder Pita Grós, também é membro do Conselho da República. Sabe que os crimes de ódio não necessitam de queixa. Os seus serviços deviam imediatamente informar a opinião pública de que Ismael Mateus ia responder em Tribunal pelos seus crimes gravíssimos, mais graves ainda quando praticados num país que viveu durante séculos a discriminação racial e a ocupação estrangeira. Mais grave é impossível.
Leiam este naco da prosa de
Ismael Mateus, membro do Conselho da República; “Há muito que segmentos da
sociedade angolana têm dificuldades de perceber que caminho o Governo angolano
pretende seguir no caso da ‘invasão muçulmana’
Isto é xenofobia e racismo. Islamofobia (repugnância, satanização e repúdio dos muçulmanos) primária inadmissível muito menos manifestada por um membro do Conselho da República escolhido pelo Chefe de Estado. Um texto criminoso publicado num Media público! É grave.
Ismael Mateus no seu texto criminoso faz insinuações torpes como esta: “As cantinas e lojas de bairro, baptizadas como ‘cantinas do Mamadou’ representam o campo avançado de uma operação mais complexa e com inúmeras facilidades das autoridades”. Só faltava mesmo a teorias da conspiração religiosa contra Angola!
Querem um exemplo gritante de xenofobia e racismo? Leiam o que escreveu Ismael Mateus: “Os hábitos e padrões de vida angolanos que deveriam ser a cultura dominante estão gradualmente a ser substituídos por costumes e padrões religiosos e culturais dos muçulmanos, como se vê em bairros inteiros de Luanda.” João Lourenço colecciona pessoas assim: Agualusa, Rafael Marques, Ismael Mateus mais outras e outros ainda piores.
Segundo o criminoso autor deste vómito de ódio, “As jovens mulheres angolanas, viúvas ou esposas de maridos desempregados ou caídos na bebedeira, decidem converter-se ao Islamismo para que possam ser segundas e terceiras esposas de um mamadu. A poligamia é aceite no Islão quando as circunstâncias sociais o tornam necessário”. Pois. Em Angola também. O soba do Dambi tinha sete mulheres. Sabem porquê? Era dono de muitas propriedades, tongas e lavras, precisava das mulheres para cultivá-las: café, ginguba, batata-doce e mandioca. Em Angola há minorias sociais onde a poligamia é uma brincadeira de crianças comparada com os haréns dos muçulmanos.
Ismael Mateus lavra a sentença: “Trata-se, realmente, de uma invasão que hoje atinge todas as províncias do país e, quiçá, todos os municípios. Nas grandes cidades, existem bairros inteiros sob domínio cultural e económico dos mamadus”. E lança a pergunta final: “Perante estes processos em curso de afirmação (até dominação) da religiosidade e de culturas islâmicas, é difícil de acreditar que tanta permissividade, tanto silêncio seja inocente. É grave demais para ser mera inépcia. Mas não sendo inocente, qual é a estratégia do Governo angolano para a invasão muçulmana?”
O reverendo Luís Nguimbi, homem de honra e que muito considero, a profetiza Suzete João, igualmente mulher honrada e de respeito (sou amigo da família) como se sentem perante estes crimes racistas e xenófobos praticados por um membro do Conselho da República? Tenho a certeza de que se sentem muito mal. Um dia também eles podem ser perseguidos por não praticarem a religião do Ismael Mateus.
O Artigo 41° da
Constituição da República consagra a liberdade de consciência,
religião e culto. É consagrado também o direito de um cidadão se declarar
objector de consciência. Eis o texto integral:
Um membro do Conselho da
República cospe na Lei Fundamental e mancha todos os restantes membros
manifestando crimes de ódio como o racismo e a xenofobia. Ismael Mateus escreve
que ninguém sabe quantos muçulmanos existem
Já agora e não vá o conselheiro de João Lourenço voltar à carga com crimes de ódio e perseguição religiosa, informo que em Angola há 350 judeus (grupo Judeu Chabad-Lubavitch) entre angolanos e estrangeiros residentes, que são a maioria.
Em Angola existem, que eu saiba, as instituições Conselho Islâmico e Fundação Islâmica de Angola. Ao todo existem 300 mesquitas (lugares de culto). Voltemos ao Censo de 2014. Da população angolana 41,0 por cento segue a religião Católica Romana e 38,0 por cento a religião Protestante. Agnósticos e ateus são 12,0 por cento. Os restantes 9,0 por cento são animistas, muçulmanos, judeus e outras confissões religiosas.
O Conselho da República dá lugar a Ismael Mateus assumidamente racista e xenófobo. Contra a liberdade de religião. O seu texto no Jornal de Angola é prenúncio da nova política de Estado.
* Jornalismo
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