Artur Queiroz*, Luanda
Sem duas margens não há passagem. Sem a montanha não há rio. Lá nas Boas Águas (Tchicala Tcholohanga) está a mãe dos rios Cubango (Okavango) e Cunene. O rio Cuanza é filho do Chitembo, Bié. Tantas margens. Tantas passagens. Quando éramos miúdos procurávamos a Génese nas águas mansas do grande Cunene, ainda fio de água pura no início do seu longo caminho de mil quilómetros até Ruacaná.
Afinal o primeiro Homem estava resguardado, pensativo, num rochedo da montanha. Um raio fendeu a pedra e das suas entranhas saiu o nosso Papá. Das profundezas do rio emergiu Choya para deslumbrar o nosso Pai Fety.
Nesse tempo de férias grandes sem horário nem calendário aprendemos esta mensagem do barqueiro: Amol’osonge, lilongisa okuywila asiña avali: Esiña limosi hoyokilo. Ó cria do songue aprende a nadar: Uma só margem não é passagem.
A “bíblia” que nos apresenta a Génese está escrita em Umbundu:
Suku wa lulika omanu vatete. Alume vakuãlã va tunda vesenje. Va sanga ovombanda akuãlã. Wa tete wa tambula umbanda wokuloa. Wavali wowu wokutãhã. Watatu wa tambula unune Wokusakula wakuãlã wa linga ukongo. Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa linga ukongo.
Eteke limue ukongo wa enda okuyeva konele yolui, yu wa mõlã cimue ci lisenga vovava, wa ci kuata, wa ci kuta lolondovi kuenda wa ci limgisa upika waye.
Oco ukai watete. Eci ukongo wa tiuka kocilombo caye wo kuela yu wa linga ukai waye. Kovaso yoloneke we mina yu wa cita. Omala vaye akai vatatu va linga akai valume vatatu vakuavo.
Isso do Corredor do Lobito não pode ficar nas mãos de Joe Biden que, eufórico, depois de apertar a mão de João Lourenço disse orgulhoso:
“Nós vamos construir Angola e vai tornar-se líder economicamente”.
Lá na terra dele envenenaram a água dos rios, destruíram as pradarias, dizimaram os bisontes e prenderam em reservas os índios que sobreviveram ao Genocídio. Nós em Angola ainda não fomos sacrificados no altar do neoliberalismo. Nas montanhas sagradas do Planalto Central onde nascem os nossos rios, ninguém pode envenenar nada. Os angolanos sobreviventes das guerras que nos foram impostas pelos EUA, não podem ser enjaulados em reservas.
O ramal da Zâmbia vai nascer ao longo da estrada que liga Luena, Lumbala Nguimbo e Mussuma? Ou desce até às nascentes do Ninda? Se é esse o traçado, cuidado com as mães dos rios. E os próprios rios: Lucusse, Lungué-bungo. Luvuei, Lutembo. O almirante Gago Coutinho incluiu em Angola o saliente do Cazombo para ficarmos com o rio Zambeze. Quando lhe disseram que o território tem reservas infindáveis de cobre, ele recusou qualquer exploração mineira: Se querem cobre vão explorá-lo onde não existe esta riqueza sem preço que é o rio Zambeze!
E se o ramal ligar Menongue ao Barotze para dar força ao Porto Mineiro do Saco de Giraúl? Esse era o sonho dos alemães. Mas também queriam construir uma via-férrea até à Namíbia e ao coração da África do Sul.
Se o ramal vai nascer na
República Democrática do Congo, podem esperar sentados. Os campeões da paz em
África ainda não conseguiram parar a guerra no Leste do país. Vem aí mais uma
trégua mas depois das celebrações do Natal a guerra regressa
Hoje soubemos que João Lourenço
assinou com Joe Biden o Acordo Artemis que vai ficar nos anais da História de
Angola e da Humanidade. Tomem nota. Os EUA criaram um programa espantoso “para
devolver aos humanos a Lua, até
Mas a exploração do espaço vai até Marte! Em África, além de Angola já temos a companhia da Nigéria e do Ruanda. Vamos partilhar as naves espaciais com os rebeldes do “M23”, devidamente domesticados pelo campeão da paz em África, João Lourenço.
Os Acordos Artemis são executados pela NASA que está falida. Não faz mal, pagamos nós. Estamos salvos. Que se lixe o Corredor do Lobito. Em 2027, João Lourenço faz as malas e vai para a Lua. Arranja uma casa de férias em Marte e nunca mais nos dá confiança.
Angola assinou o Acordo Artemis.
O nosso ministro da comunicação social vai abrir um jornal diário, uma estação
de rádio e um canal de televisão na Lua, quando estiver
Eu sabia que João Lourenço ainda tem muito para nos dar. É para nós mais do que uma mãe. Obrigado.
* Jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário