Artur Queiroz*, Luanda
Alguns políticos confundem propaganda com jornalismo e vendedores de banha da cobra com jornalistas. Se este engano viesse apenas dos irrelevantes, era lastimável mas tinha remédio. O problema é que vem, sobretudo, de políticos no poder, que confundem Liberdade de Imprensa com bajulação e desinformação. Têm um conflito insanável com notícias e reportagens. Gastam milhões a demolir os factos e a falsificar a História.
Em Angola temos muitos peritos na arte de desacreditar o Jornalismo e domesticar os jornalistas. Os profissionais, num número assustador, desconhecem que o Jornalismo só se realiza numa lógica de contrapoder. A maioria dos jornalistas angolanos escreve de ouvido. Profissionais que têm funções de chefia e direcção faltaram à aula onde o professor ensinou a criar e explorar a fontes. Fazem um jornalismo de ouvir dizer. Vezes sem conta atentam contra o Direito à Inviolabilidade Pessoal em todas as suas projecções. E acham que violar a honra alheia não tem importância nenhuma. Se houver punição, que seja ao nível da multa de trânsito!
Os Conselhos de Redacção são hoje meros instrumentos decorativos ou simplesmente não existem. Não sou capaz de qualificar os jornalistas que os integram e muito menos aqueles que neles votam e permitem atentados gravíssimos ao Estatuto do Jornalista, ao Código Ético e Deontológico e ao mais elementar dever de cuidado. A Comissão da Carteira e Ética, importantíssima, é sabotada ou ignorada.
O jornalismo é a minha vida há 60 anos. Trabalhei em mais de 40 órgãos de comunicação social. Comecei no barracão de zinco ao lado dos correios da Cuca na Emissora Oficial. Em Portugal fui jornalista do “Jornal de Notícias” e “Diário de Notícias”, quando ambos, cada um na sua época, eram líderes de audiências e de tiragens. Passei duas vezes pela Redacção do Jornal de Angola. Hoje esses títulos estão desvalorizados. Por acção de poderes ilegítimos e inacção dos jornalistas.
Baptista-Bastos, meu camarada- Ó Bastos, os outros todos são jornalistas não praticantes!
Infelizmente, o tempo veio revelar que ambos estavam certos. Mas não precisava de descobrir essa dura realidade através de dois jornais onde fui feliz profissionalmente. Sobretudo o meu “JN”, o jornal feito por figuras extraordinárias do jornalismo português. Isto está cheio de simpatizantes da baixeza moral e não praticantes da decência!
Alves René é o manda chuva da comissão da prisão preventiva. Ouvi, com estes que a terra há-de comer, sua excelência dizer que “excesso de prisão preventiva há em todo o mundo”. Fiquei siderado. A tal comissão deve ser uma brincadeira de mau gosto, um pretexto oara distribuir mundos, fundos e mordomias.
Se houvesse Jornalismo em Angola esta afirmação ia fazer correr muita tinta. O chefe da comissão era demitido em directo, pelo Presidente da República, Quem o nomeou tinha o mesmo destino. Havia um sobressalto cívico do Maiombe a Namacunde e do Lobito ao Moxico Leste
Excesso de prisão preventiva só existe nos países onde o Poder Judicial é um mero instrumento de repressão da classe dominante. Não pode existir num Estado de Direito. Excesso de prisão preventiva é uma arma das ditaduras. Um atentado aos Direitos Humanos. Um crime de ódio contra a Liberdade.
Alves René é a voz e o rosto de um Poder Judicial comprado a dez por cento de comissões por cada sentença que dava “recuperação de activos”. Um Poder Judicial que convive com indultos presidenciais a quem não foi condenado. Um Poder Judicial que convive pacificamente com desprezo pelas decisões do Tribunal Constitucional e do Alto Comissariado da INU para o Direitos Humanos.
Mas em 1961 foi mil vezes pior e resistimos! Evitem menosprezar o povo.
* Jornalista
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