<> Artur Queiroz*, Luanda ---
O Jornalismo está moribundo ou mesmo morto, depende da geografia e dos dias. Umas vezes está morto e bem morto, outras ressuscita, dá um ar da sua graça, duas voltas na tumba e volta a morrer. Jornalistas estão em vias de extinção. Ainda andam por aí uns quantos dinossauros mas qualquer dia são metidos numa jaula e expostos no Largo do Kinaxixi ou na Mutamba, para todos verem o que é um animal raro. Ao serviço nos Media de todo o mundo (em Angola também) habita uma fauna de simpatizantes e não praticantes, quanto mais analfabeta melhor.
Antero de Quental, à entrada da última década do século XIX escrevia que “folhas a dez reis, muito informativas, vão matar a liberdade de imprensa”. Clarividência! O fim do Jornalismo Doutrinário e a transformação da notícia em mercadoria mudou as Redacções. De espaços de liberdade passaram a ser covis de interesses ilegítimos.
Karl Kraus, o jornalista maldito de Viena, no início do século XX dizia que o Jornalismo era o serviço militar dos poetas e os jornalistas foram todos para escriturários. Morte macaca!
A minha carreira profissional começou na Rádio. Fiz tudo para imitar as e os grandes profissionais da época. Aprendi com elas e eles. Cito dois mestres que na vida estavam em campos antagónicos: Norberto de Castro e Sebastião Coelho. Ou os sonoplastas Artur Neves e Zé Maria. A Rádio como espectáculo, aprendi com Paulo Cardoso, Artur Peres e Luís Montês. O resto ficou por minha conta. Ao fim de muitos anos de prática fiz um Manual de Radiojornalismo para os profissionais da Rádio Nacional de Angola. A última vez que estive com Júlio Mendonça, ele disse que alguns exemplares estão guardados numa caixa. Já foram comidos pela salalé.
Os jovens profissionais sabem que as perguntas têm de ser directas e substantivas, para darem respostas objectivas. Perguntas especulativas dão especulação e evasivas. Perguntas misturadas com opinião dão respostas delirantes. Perguntas disparatadas podem dar respostas bem-humoradas ou críticas indignadas. Perguntas embrulhadas dão merda. A gramática da Linguagem Radiofónica não aguenta amadorismos. O espectáculo radiofónico sem ritmo é uma porcaria. A voz humana embrulhada, na Rádio é ruído desagradável.Uma jovem repórter na Lunda Sul fez perguntas ao Presidente João Lourenço. Só quem nunca trabalhou na Rádio não patina num directo. Ela começou a patinar. Depois a discursar. Depois a especular. De novo a patinar. Fugiu para a frente e mudou de pergunta atirando ao entrevistado uma especulação tipo se sua avó não morresse ainda hoje estava viva? Angola pode ser invadida? O Protectorado pode ressuscitar o Muata Iânvua? A Bota do Dilolo pode voltar para a posse dos belgas e o Vale do Mpozo ser de novo Angola?
O entrevistado: Calma, calma. Faça uma pergunta de cada vez que se eu tiver tempo respondo. A menina continuou a patinar. Um momento muito, muito, constrangedor.
João Lourenço, caso não saibam, é um homem da Comunicação Social. Dava-me todos os dias o plano de reportagens nas eleições de 1992. Ao perceber que a repórter estava a patinar, embrulhada, arranjou uma saída bem-humorada. Até eu, que ando zangado, me ri. A repórter também gargalhou. Então é assim. O director ou chefe de Redacção que mandou para aquele serviço a repórter que manda para entrevistar kupapatas, devia ser imediatamente demitido pelo Imbamba e o terrorista pançudo de Cabinda, disfarçado de bispo.
A solidariedade do Presidente João Lourenço para com a repórter, claramente impreparada, foi considerada crime pelo Sindicato dos Jornalistas, uma espécie de UNITA B frustrada. Deu um editorial do Novo Jornal, onde é citado o membro da internacional fascista José Maria Aznar. Ontem Pensava que o Jornalismo Angolano bateu no fundo e na profissão já nem existem simpatizantes ou não praticantes. Hoje é mentira. Ainda há mais fundo. Mais e mais.
O editorialista do Novo Jornal até se insurge contra o Presidente José Eduardo dos Santos porque um dia qualificou como pasquins, alguns órgãos da Imprensa Privada. Bem merece ser criticado postumamente. Porque chamar àquele lixo pasquins é um insulto aos pasquins. Ninguém é perfeito. E ele queria tanto uma Imprensa Livre em Angola que ao ver aquele lixo infecto, povoado por bêbados da valeta, teve um grande desgosto.
No Tribunal do Huambo os arguidos acusados de terrorismo e outros crimes graves foram sentenciados. Dos sete apenas foi absolvido Adelino Camulongo Bacia, agente da Polícia Nacional. O líder do grupo, João Deussino, foi condenado a 15 anos de prisão, Domingos Gabriel Muecália a oito, Francisco António Ngunga Nguli a cinco, Arão Rufino Eduardo Kalala a três anos e seis meses de prisão, e Cresceciano Capamba a três. Pedro João da Cunha, funcionário dos Registos do município de Ecunha, acusado do crime de falsificação de documentos, também foi condenado a três anos de prisão mas com a pena suspensa.
Durante a audiência foi revelado que para as operações terroristas, chegou a Angola um grupo de mercenários. E também foram divulgados os nomes dos mandantes dos crimes de organização terrorista, fabrico, aquisição e posse de substâncias explosivas, tóxicas e asfixiantes, associação criminosa, fabrico, tráfico, detenção e alteração de armas e munições proibidas. Dirigentes da UNITA são os mandantes. Estruturas da UNITA serviram de apoio aos terroristas.
Nelito Ekuikui não perdeu tempo e defendeu “roturas antes do processo eleitoral de 2027, povo não pode ir às eleições”. O Deputado da UNITA defende também que “o processo está viciado, é preciso que as pessoas parem. Encontrem seriedade no processo, para do processo resultarem autoridades legítimas, capazes de ter autoridade e governar para todos”. Ele já sabe que o processo do Huambo vai ter consequências graves para o partido UNITA, com dirigentes que são mandantes de crimes graves.
Nesta altura do campeonato também é preciso investigar o papel do bispo Belmiro Cuica Chissengueti nos actos terroristas na província de Cabinda. E sobretudo do deputado da UNITA e padre excomungado Raul Tati.
A Paz em Angola é muito jovem, tem apenas 23 anos. Não pode ser refém de velhos bandidos amnistiados, apesar de nunca se terem arrependido dos crimes cometidos contra o Povo Angolano, entre 1966 e 2002. E são inimigos jurados do regime democrático.
*Jornalista
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