quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Portugal: PRECISA-SE ELETRICISTAS

 

Carla Romualdo - Aventar
 
No país onde se paga a electricidade mais cara da Europa, a EDP cortou hoje, com o apoio da polícia, o fornecimento de electricidade no bairro do Lagarteiro, um dos bairros mais pobres do Porto. Dezenas de moradores com facturas em atraso, muitos deles considerados pelos serviços sociais da Junta de Campanhã como em situação de “emergência social”, ficaram sem luz, sem aquecimento, sem fogão para cozinhar, porque não podem pagar o que a EDP exige. Entre eles, havia gente com crianças pequenas e até, como mostra a reportagem da RTP, um deficiente motor que, a partir de hoje, deixa de poder recarregar a cadeira de rodas eléctrica.
 
“Electricidade mais cara da Europa” não é figura de estilo nem recurso demagógico. É isto: ver quadro em cima.
 
E se mais detalhes quiserem conhecer, recomendo-vos este estudo elaborado pela consultora finlandesa VaasaETT, e onde fui buscar o anterior gráfico. E a EDP não se debate, como sabem, com dificuldades que ponham em risco a sua subsistência, antes reparte lucros milionários a uma elite de gestores e accionistas. Por tudo isto, o que hoje se viu, com a cumplicidade do Governo, é mais um acto indigno num país em que se perdoam os grandes corruptos, fecha-se os olhos a quem se esquece de declarar milhões no IRS, despejam-se milhões para tapar os buracos da ganância de meia dúzia de banqueiros, e se trata com mão de ferro os mais pobres.
 
O que é legal nem sempre é justo. O que a EDP fez hoje, sendo legal, é um atentado à dignidade humana. Quando a lei é injusta, a desobediência impõe-se. Por isso, se esta noite a luz for resposta ilegalmente em cada casa onde a EDP a cortou, e se de cada vez que for cortada novas mãos conectem esses cabos, estaremos perante uma acção justa e solidária e quem a executar estará apenas a assegurar o acesso a um direito que é de todos.
 
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Violação dos Direitos Humanos é “realidade cada vez mais rara” nos países lusófonos

 


A violação dos direitos humanos é uma "realidade cada vez mais rara" nos países lusófonos, com a violência doméstica a liderar a lista de preocupações, disse hoje o presidente do Observatório Lusófono para os Direitos Humanos (OLDH), Waldimir Brito.
 
Em declarações à Lusa em Braga, à margem de um colóquio sobre a situação do respeito pelos direitos humanos, aquele responsável afirmou que os governos dos países lusófonos estão "atentos e sensíveis" à questão do respeito pelos direitos do Homem e que têm "empreendido um grande combate" no sentido de "sensibilizar e educar" as populações.
 
Waldimir Brito apontou a Guiné-Bissau como o país "mais preocupante" e mostrou-se apreensivo quanto ao desrespeito pelos direitos do Homem em Moçambique, caso o país enfrente um conflito político-militar.
 
"A generalidade dos países da lusofonia tem apresentado progressos no respeito pelos Direitos Humanos. Isto espelha-se nos vários relatórios oficiais e de organizações não-governamentais que têm sido elaborados", afirmou.
 
Ainda assim, o desrespeito pelos Direitos Humanos "é uma realidade" embora "cada vez mais rara" e para a qual os governos daqueles países têm tido atenção.
 
"De um modo geral, é uma questão a que estes países estão atentos. Por exemplo o combate e proibição da mutilação genital feminina, combate às violações, tem havido um grande esforço para proteger as mulheres, seja através de legislação seja através da educação das populações", disse.
 
No entanto, segundo Waldimir Brito, "a violência doméstica é a questão que mais preocupa", isto porque, disse, "é ainda uma questão cultural".
 
Dos países da lusofonia, aquele em que mais casos de violação dos Direitos Humanos se têm verificado é a Guiné-Bissau, "fruto da instabilidade político-militar".
 
O OLDH teve também relatos de casos de tortura no Brasil e em alguns dos países de África mas, esclareceu, "são casos pontuais, ligados à criminalidade e não casos de tortura institucional".
 
Mas "os direitos humanos não se resumem à tortura, são também a garantia do acesso à Saúde, à Educação, a agua potável, higiene, proteção de crianças e velhos e nestes campos ainda há muito por fazer, mesmo em Portugal".
Waldimir Brito manifestou-se ainda preocupado com o desenvolvimento da instabilidade política sentida em Moçambique.
"Se o conflito (entre o governo e a Renamo) perdurar e houver um incremento armado, Moçambique vai ter problemas graves na área do desrespeito pelos direitos humanos", alertou.
 
Isto porque "sempre que há um conflito político-militar há sempre violação dos direitos humanos, nomeadamente o direito à vida, integridade física, falta de acesso à saúde, deslocação maciça de população, violações de mulheres sempre inerentes a conflitos armados, falta de proteção para as crianças".
 
O responsável lembrou ainda a importância da estabilidade económica no quadro do respeito pelos direitos humanos.
 
"O desenvolvimento económico de um país é fundamental para colmatar necessidades existentes pelo que é preciso combater esse desrespeito também do ponto de vista económico. Quanto mais civilizado for um país, mais culto for um país, mais respeita os direitos humanos", finalizou.
 
JYCR // JMR – Lusa – Foto José Sena Goulão
 

Ex-líder da Marinha guineense será julgado por tráfico de droga apenas em 2014

 


Nova Iorque - O antigo chefe de estado da Armada da Guiné-Bissau Bubo Na Tchuto, acusado de tráfico de droga nos Estados Unidos, será julgado apenas em 2014, afirmou à Lusa a sua advogada.
 
“O julgamento não deve ser marcado nos próximos três meses", disse a advogada, Sabrina Shroff, salientando que ainda não recebeu a acusação judicial completa e depois receber formalmente a documentação ainda terá 60 dias para analisar o material.
 
Segundo o calendário primeiro estabelecido pelo juiz do caso, Richard Berman, os procuradores responsáveis pela acusação, Aimee Hector e Glen Kopp, deveriam ter concluído a acusação no passado dia 25 de Julho.
 
No entanto, "o processo está a decorrer mais lentamente do que se esperava. Neste momento, ainda estamos a receber a prova produzida pela acusação", explicou a advogada.
 
No mês de Abril, Na Tchuto e outros quatro guineenses - Manuel Mamadi Mane, Saliu Sisse, Papis Djeme e Tchamy Yala - foram detidos em águas internacionais perto de Cabo Verde por uma equipa da agência de combate ao tráfico de droga norte-americana. Os cinco homens arriscam pena de prisão perpétua.
 
Na Tchuto, Djeme e Yala vão responder pela acusação de conspiração para importar drogas para os EUA. Segunda a acusação, Na Tchuto cobrava um milhão de dólares norte-americanos por cada tonelada de cocaína da América do Sul recebida na Guiné- Bissau.
 
O embaixador da Guiné-Bissau para a Organização das Nações Unidas (ONU), João Soares da Gama, disse à agência Lusa que Na Tchuto contesta que tenha sido detido em águas internacionais e que provar esse facto será uma das estratégias da defesa em julgamento.
 
Além da detenção do antigo militar guineense, a 04 de Abril, a justiça dos EUA manifestou também intenção de deter também o actual chefe das Forças Armadas, António Indjai, que entretanto já reafirmou por mais de uma vez refutar as acusações de tráfico de droga.
 
Angop
 

Governo transição Guiné-Bissau anuncia recenseamento eleitoral de 01 a 21 Dezembro

 


O governo de transição da Guiné-Bissau anunciou nesta quinta - feira que o recenseamento eleitoral, no país e na diáspora, com vista à realização de eleições gerais, vai decorrer de 01 a 21 de Dezembro.
 
O anúncio foi feito em comunicado lido pelo ministro de transição com a pasta da Administração do Território, Batista Té, segundo o qual o governo de Bissau já tem dinheiro para avançar com o recenseamento eleitoral, sem precisar o valor em causa.
 
"Neste momento, o governo já tem disponibilidade financeira graças aos nossos parceiros internacionais", disse Batista Té.
 
O financiamento foi disponibilizado pela Nigéria, Timor-Leste, União Europeia, União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) e pela Comunidade Económica de Países da África Ocidental (CEDEAO).
 
Batista Té referiu que o dinheiro disponibilizado para o recenseamento faz parte do "bolo global" de 14,5 milhões de euros mobilizado junto da comunidade internacional para financiar as eleições gerais, marcadas para 24 de Novembro, aguardando-se o anúncio de uma nova data devido aos atrasos no processo.
 
Explicou também que, contrariamente ao previsto, o recenseamento eleitoral será assegurado pelo governo, através do Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE) com a assessoria de técnicos estrangeiros, nomeadamente de Timor-Leste e de países da CEDEAO.
 
Na comunidade guineense na diáspora serão recenseados os emigrante no Senegal, Guiné-Conakry, Cabo-Verde, Gâmbia, Portugal, Espanha e França.
 
A embaixada da Guiné-Bissau em cada país vai encarregar-se da organização do processo, sublinhou, precisando que, "se for preciso" internamente serão mobilizados os funcionários públicos.
 
O governante adiantou que até o dia 01 de Dezembro estará no país o equipamento necessário para o recenseamento.
 
Um perito em questões eleitorais do GTAPE disse à agência Lusa que serão necessários cerca de 450 conjuntos de equipamento, que incluem pequenos geradores eléctricos, computadores portáteis, máquinas fotográficas, entre outros dispositivos necessários para o registo dos eleitores.
 
Segundo Batista Té, os cartões a serem entregues serão parecidos com o actual Bilhete de Identidade guineense.
 
Angop, com foto em cache Lusa
 

PILOTOS TIMORENSES RECEBEM FORMAÇÃO NA AUSTRÁLIA

 


O Governo de Timor-Leste anunciou hoje que enviou este mês cinco pilotos timorenses para receber formação em Sydney, Austrália, durante três meses para obter a licença de piloto multi-motor.
 
Segundo o ministro do Petróleo, Alfredo Pires, citado em comunicado, a "formação é uma fase preparatória para que os pilotos possam obter licenças de acordo com os padrões internacionais".
 
"É muito importante que estes nossos primeiros pilotos obtenham as suas licenças no melhor lugar do mundo, que é a Austrália. Até agora, a reputação da Austrália na indústria da aviação é seguramente a melhor do mundo. No futuro iremos precisar de pilotos de asa fixa para voar, a partir de Díli, para o Suai e do Suai, de helicóptero, para as plataformas ‘offshore', e é isso que estamos presentemente a preparar", referiu o ministro Alfredo Pires.
 
Os cinco pilotos, quatro homens e uma mulher, vão estar na Austrália até dezembro e são estudantes pós-graduados, apoiados pelo Ministério da Educação, que especializaram como pilotos de asa fixa nas Filipinas.
 
"A cooperação entre o Ministério da Educação e o Ministério do Petróleo e Recursos Minerais começou no IV Governo, onde ficou estipulado que os pilotos enviados pelo Ministério da Educação para estudar, seriam transferidos para o Ministério do Petróleo e Recursos Minerais para cuidar do seu desenvolvimento futuro, uma vez que ainda têm um longo caminho a percorrer. Terão que participar em mais ações de formação e trabalhar em variadas áreas quando se tornarem oficialmente pilotos", acrescentou o ministro.
 
Quando regressarem da Austrália, os cinco pilotos vão ser integrados no Ministério do Petróleo e Recursos Naturais.
 
MSE // VM – Lusa - Foto António Amaral
 

Moçambique: Milhares manifestam-se em Maputo contra raptos e espetro da guerra

 


Milhares de pessoas estão hoje a participar numa manifestação pacífica em Maputo, em protesto contra a onda de raptos e o espetro da guerra que ameaça Moçambique, acusando o Governo de estar "mudo" e a polícia de "corrupção".
 
"Pela primeira vez, estamos a marchar contra o nosso Governo. Temos um líder-chefe que deve cuidar de cada um de nós. Não deve existir nenhuma diferença no tratamento de cada moçambicano que nós possamos ser", gritou, para as milhares de pessoas presentes, Mohamed Asif, da organização do protesto, no interior de um veículo ligeiro, na dianteira da manifestação.
 
A "Marcha pela paz e contra os raptos" foi organizada pela Liga dos Direitos Humanos, em conjunto com outras organizações da sociedade civil e confissões religiosas, numa reação à onda de raptos e ao clima de instabilidade político-militar que Moçambique atravessa.
 
"Depois de terem sido raptadas a toda a hora, as pessoas são deixadas em pânico, apesar da guerra já estar a acontecer. Isto é pior do que a Líbia. As pessoas não vão viver nunca: com todos os chefes (de Estado) vamos ter de passar por guerras? Não estamos para isso. Estamos para a paz", disse Asif, em declarações à agência Lusa.
 
"É uma manifestação contra o Governo (moçambicano) porque nós exigimos os nossos direitos que não estão a ser cumpridos", acrescentou.
 
Trajando camisolas brancas ou vermelhas, com frases como "abaixo a violência, o racismo, a corrupção, os raptos", os manifestantes concentraram-se, ao inicio da manhã, junto à estatua de Eduardo Mondlane, na avenida com o mesmo nome, seguindo em direção à Praça da Independência.
 
"Abaixo a polícia corrupta, abaixo o Governo mudo, abaixo o racismo", gritavam os manifestantes.
 
Uma onda de raptos assola a capital moçambicana, dirigida contra setores economicamente favorecidos, habitualmente descritos na comunicação social e do discurso oficial como "moçambicanos de origem asiática", conceito repudiado pelos manifestantes.
 
"Cidadãos de origem asiática não existem, existem cidadãos moçambicanos", contrapôs Asif.
 
"Os raptores usam as telefonias móveis para intimidar o povo moçambicano e, mesmo assim, as telefonias continuam surdas. Os raptores usam os bancos para transferências bancárias ilícitas e, mesmo assim, os bancos estão surdos", gritava-se na manifestação.
 
A atividade económica na cidade de Maputo está hoje a funcionar a meio gás, o que indicia a solidariedade de muitas empresas - que estarão hoje encerradas total ou parcialmente - com a marcha de protesto.
 
EMYP // ARA – Lusa – foto António Silva
 

REGIME RICO ACUSADO DE ASSASSINAR CRIANÇAS

 


NO COMBATE À MORTALIDADE INFANTIL AS NAÇÕES UNIDAS ELOGIAM A ETIÓPIA
 
Orlando Castro – Folha 8 – 26 outubro 2013
 
É verdade que, em termos mundiais, a mortalidade infantil está a baixar. Mas ainda há mui­to caminho a percorrer, reconhece a ONU. Em 1990 morriam 12 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade. Em 2012, de acordo com as estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), terão morrido 6,6 milhões.
 
Mesmo assim, o mais re­cente relatório da UNI­CEF revela que Angola ocupa a segunda posição mundial na tabela da taxa de mortalidade de meno­res de cinco anos, com 164 mortes em cada mil crian­ças nascidas vivas.
 
EXIBICIONISTAS MAS OS PIORES
 
De entre os países lusó­fonos, segue-se a Guiné­-Bissau, na 6ª posição ex­-aequo com a República Centro-Africana, sendo que morreram 129 crian­ças em 2012, contra 158 em 2011 e 243 em 1990.
 
Moçambique classifica­-se no 22º lugar da lista com 90 crianças entre cada mil nascidas vivas em 2012, em contraste com as 103 que se en­contravam nessa situa­ção em 2011 e as 226 em 1990.
 
Timor-Leste encontra­-se no 48º lugar com 57 crianças, mais do que as 54 em 2011, mas muito menos que a registada em 1990: 180.
 
A 52ª posição da lista pertence a São Tomé e Príncipe, onde, em 2012, 53 crianças enfrentavam esse limite temporal, contra 89 em 2011 e 96 em 1990.
 
O arquipélago de Cabo Verde classifica-se na 88ª posição, apresentan­do 22 crianças em mil, contra 21 em 2011 e 58 em 1990.
 
Na 120ª posição, está o Brasil, que ocupa o últi­mo lugar entre os países lusófonos, com a mais baixa taxa de mortalida­de de menores de cin­co anos: 14 crianças em 2012, contra 16 crianças em 2011 e 58 em 1990.
 
ATÉ QUANDO ESTA POLÍTICA DE DESPREZO ÀS CRIANÇAS?
 
Considerando os respec­tivos números de nasci­mentos, a mortalidade infantil caiu mais de 40%. Mas o lado triste da his­tória é que esses números ficam aquém dos Objecti­vos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas. Segundo a meta da ONU, até 2015, a mortalidade infantil deveria ser reduzida em dois terços.
 
Assim sendo, tanto a UNICEF como a “Save the Children” alertam para a urgência de mais esforços na luta contra a mortalidade in­fantil.
 
Ben Hewitt, director de campanha da “Save the Children”, afirma que se registou “um progresso significativo”, acrescen­tando, contudo, que “ago­ra temos de nos perguntar como podemos continuar a progredir e realmente impedir todos os casos evitáveis de mortalidade infantil”.
 
O relatório com o ranking de 75 países emergentes e em desenvolvimento le­vou em conta não somen­te o declínio no número de mortes mas, igualmen­te, os esforços para igualar as chances de sobrevivên­cia de crianças provenien­tes de famílias ricas e po­bres. Foi avaliado, ainda, se os países levam a sério e consistentemente uma estratégia sustentável con­tra a mortalidade infantil.
 
De acordo com o estu­do divulgado esta sema­na, a República do Níger foi quem mais progrediu mundialmente na redu­ção da mortalidade infan­til desde 1990. Embora ali ainda morram anualmen­te 114 em cada mil crian­ças, em 1990 morriam 326 crianças. Na Alemanha, por exemplo, morrem quatro.
 
Há vários factores que explicam por que alguns países são mais bem su­cedidos do que outros na luta contra a mortalidade infantil. A estabilidade po­lítica e factores ambien­tais, como as secas, por exemplo, têm um grande impacto. É especialmente importante que os gover­nos adoptem uma políti­ca de saúde pública bem direccionada. Um bom exemplo, segundo a ONU é a Etiópia, onde o gover­no treinou dezenas de milhares de técnicos de saúde.
 
Martin Dawes, porta-voz do UNICEF para a África Central e Ocidental, acre­dita que a responsabili­dade seja principalmente dos respectivos governos, que devem disponibilizar fundos suficientes para os cuidados de saúde.
 
“Há um consenso de que os governos devem utili­zar 15% de seu Produto In­terno Bruto para a saúde”, explica Dawes em relação à situação em África. Se­gundo ele, somente a Li­béria e o Togo o fizeram. “Num país como a Nigé­ria, que gasta somente 4% de seu PIB com a saúde, observamos grandes pro­blemas”, lamenta Martin Dawes.
 
O especialista da UNI­CEF também vê a Etió­pia como exemplo para outros países na região. “O modelo etíope leva a assistência de saúde para muito mais perto das pessoas”, elogia Dawes, acrescentando que os téc­nicos de saúde lidam di­rectamente com os afec­tados, o que lhes permite reconhecer os problemas, cuidar da vacinação em todo o país e educar as populações.
 

AMNISTIA INTERNACIONAL PEDE LIBERTAÇÃO DO ANGOLANO NITO ALVES

 

Deutsche Welle
 
A ONG alerta que é ilegal a detenção do jovem de 17 anos, em setembro último, por supostamente difamar o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Nito Alves está sujeito a péssimas condições de higiene na cadeia.
 
A Amnistia Internacional (AI) lançou esta terça-feira (29.10) uma campanha para a libertação de Manuel Chivonde Nito Alves. O jovem foi detido no dia 12 de setembro pela polícia quando estava numa gráfica na zona de Viana, arredores de Luanda, capital angolana.
 
Inicialmente, a polícia alegou que deteve o jovem em flagrante delito por este supostamente ter encomendado a impressão de 20 camisolas na referida gráfica. Nito Alves foi então acusado de difamação contra o Presidente da República de Angola, por alegadamente ter solicitado a inscrição de palavras contra a honra e o bom nome de José Eduardo dos Santos.
 
A DW África entrevistou Anne Muluka Miti, da AI, que assegura que a campanha só terminará com a libertação de Nito Alves.

DW África: Em que consiste esta campanha da AI?
 
Anne Muluka Miti (AMM): Trata-se de uma campanha pela libertação de Nito Alves, que foi detido em setembro. Primeiro foi acusado de difamação e agora é acusado de ultraje ao Presidente por causa das camisolas que mandou fazer. A Amnistia Internacional pensa que o jovem é um prisioneiro de consciência, que foi detido apenas pela expressão pacífica da sua opinião. Estamos preocupados com a sua detenção na Comarca Central [de Luanda] e também por estar detido juntamente com adultos, porque ele é um jovem de 17 anos e está na mesma cela com adultos.
 
DW África: O estado de saúde de Nito Alves é mau, dadas as condições precárias de higiene no local onde se encontra detido. A AI já fez algum apelo para que lhe seja dada, pelo menos, assistência médica?
 
AMM: A AI também está preocupada com a situação de higiene e as condições da prisão. Estamos a pedir pessoal médico para ele e também acesso à família e aos advogados. Desde que foi detido em setembro e até ao dia 6 de outubro, quase três semanas, ele não teve acesso à família. Essa também é uma violação dos direitos humanos. E uma pessoa detida também tem direito de acesso a um médico.

DW África: Foram respeitados os procedimentos para que o caso vá a julgamento?
 
AMM: Houve alguns procedimentos que não foram respeitados. Primeiro, ele foi detido sem mandato de captura. Não tinha aceso à família nem a um advogado. É muito importante que uma pessoa acusada tenha acesso a um advogado no início da detenção e ele não tinha acesso a um advogado. Essa é uma violação dos direitos humanos: A Amnistia também está preocupada porque ele foi primeiro acusado de difamação, que não devia ser um caso criminal, devia ser um caso civil. Agora a acusação é ultraje ao Presidente, mas ainda continuamos preocupados porque esta é uma violação do direito de liberdade de expressão.

DW África: Como é que a AI vê esta detenção? Será que é uma espécie de chamada de atenção para os potenciais jovens que queiram seguir o exemplo de Nito Alves?
 
AMM: Achamos que esta detenção é uma detenção irregular, que viola o direito de liberdade de expressão. E existe o risco de que outros jovens também não possam ter esse direito de expressão por causa deste caso.
 
DW África: Na opinião da AI, que motivos terão levado as autoridades angolanas a agir de forma tão severa em relação a Nito Alves?
 
AMM: As camisolas que Nito Alves pediu para serem feitas tinham algumas palavras contra o Presidente. Por isso, foi acusado de difamação contra o Presidente. Para a AI, houve um motivo político para a detenção do jovem, para suprimir o direito à liberdade de expressão. Trata-se de uma violação dos direitos humanos porque todas as pessoas têm o direito à liberdade de expressão pacífica e Nito Alves fez isto pacificamente
 
Autoria: Nádia Issufo – Edição: Madalena Sampaio/António Rocha
 

Moçambique ainda não vive "cenário de guerra civil" assegura mediador

 

Deutsche Welle
 
O académico Lourenço do Rosário afirma que Governo e RENAMO têm procurado “manter as portas entreabertas”, mas é preciso não endurecer posições para facilitar o diálogo e evitar recorrer a mediadores internacionais.
 
Lourenço do Rosário, mediador não oficial indicado pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, para aproximar o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), não sustenta a ideia do regresso da guerra civil a Moçambique, na sequência do clima de tensão que se vive no país há já vários meses.
 
“Parece-me que se chegou a um ponto tal que era inevitável o eclodir desses focos de violência. Não me parece que estamos num cenário de guerra civil”, assegurou o reitor da Universidade Politécnica de Moçambique em entrevista à DW África em Lisboa, a propósito do conflito político-militar entre o Governo e o principal partido da oposição, liderado por Afonso Dhlakama, que continua em parte incerta. Em entrevista a um diário português esta semana, Rosário tinha afirmado que “Moçambique vive uma situação de guerra não declarada.”
 
O académico explicou à DW África que se criou uma situação nova no país com o desalojamento de Afonso Dhlakama do seu acampamento pelas forças governamentais, a 21 de outubro. “Uma coisa é a polícia, que lida com questões de segurança, de proteção, mas quando são os militares, o alvo muda de significado”, sublinha, lembrando que “quando se militariza uma situação, não se sabe muito bem como lidar com o adversário.”
 
Extremar de posições
 
O académico moçambicano aponta as razões que levaram a este extremar de posições de ambas as partes. Uma delas é a exigência constitucional, “natural num Estado de Direito”, que impede um partido político de ter pessoas armadas.
 
“O que se passa é que o pressuposto da integração dos homens armados da RENAMO no Estado, na polícia, não foi devidamente resolvido ao longo destes 20 anos”, explica, sugerindo que é necessário averiguar por que motivo esses homens não foram desarmados nas duas últimas décadas. “Essa é uma questão básica”, salienta.
 
Por outro lado, a exigência da RENAMO no sentido de se alterar a Lei Eleitoral com a garantia de que não vai haver fraude “deixa de lado todo o pressuposto de que o xadrez político se modificou”, sustenta o académico. “Neste momento, a RENAMO não tem legitimidade para exigir paridade, quando os resultados eleitorais lhe foram desfavoráveis ao longo do tempo. E esta questão deveria ter sido colocada num outro tempo histórico,” observa.
 
Segundo Lourenço do Rosário, “a RENAMO utilizou um instrumento armado para exigir este pressuposto político, que baralhou completamente os termos do diálogo.

Fim da violência militar
 
Lourenço do Rosário, que é membro da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, e o bispo Dinis Sengulane são os dois mediadores não oficiais escolhidos por Armando Guebuza para mediar as negociações com vista a aproximar as posições entre o Governo e a RENAMO.
 
“Estive a conversar com o bispo Sengulane, que está no terreno, e a nossa posição como conselheiros é que a RENAMO deixe de exigir a presença de facilitadores e moderadores e ponha na mesa a discussão de como Afonso Dhlakama pode reaparecer com dignidade para poder retomar o processo de diálogo e, sobretudo, para resolver a questão da violência militar”, adiantou à DW África.
 
Os focos de violência intimidam a população, ameaçam os empresários e fazem paralisar a economia. “A estrada nacional número 1 é uma via, uma espinha dorsal onde circulam pessoas e bens, que fazem viver a economia moçambicana, sobretudo os pequenos e médios empreários, que não podem circular à vontade no país”, frisa o reitor da Universidade Politécnica de Moçambique.
 
Na opinião deste mediador, também é preciso resolver um problema fundamental, “que é, por um lado, como se resolve a questão dos homens armados da RENAMO e como, por outro lado, interessa a todo o xadrez político que a Lei Eleitoral seja modificada.”
 
Ilegalização da RENAMO?
 
Lourenço do Rosário cita ainda o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, em Roma, na Itália, que permitia a manutenção de uma bolsa residual de homens armados da RENAMO para proteção do seu líder.
 
No entanto, explica, o que está acontecer neste momento é que “esses homens não estão a ser utilizados para proteção dos líderes da RENAMO, mas estão a ser utilizados como forças armadas de guerrilha para criar focos de violência.” Algo que, segundo o académico, “dá pretexto ao Estado, como garante da segurança nacional, de persegui-los.”
 
Para Rosário, é este xadrez que modifica o estabelecido nos Acordos de Roma. O que, inclusivamente, por legitimidade própria, poderá levar o Governo a criar um decreto de ilegalização da RENAMO.
 
“O que é muito pior”, alerta o mediador, justificando que dessa forma o partido poderá ter “liberdade para fazer o que quiser, o que não é muito bom”.
 
Autoria: João Carlos (Lisboa) – Edição: Madalena Sampaio/António Rocha
 
Na foto: Lourenço do Rosário foi entrevistado pela DW África, na capital portuguesa, à margem da II Conferência sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, encerrada esta quarta-feira
 

BANCO DO BRASIL E PETROBRAS: QUAL A PRÓXIMA?

 

Paulo Kliass – Carta Maior
 
Que os equívocos de BB e Petrobras sejam o encerramento de um breve ciclo a ser esquecido e não o início de uma tendência prejudicial aos interesses do país.
 
O governo conseguiu a incrível façanha de implementar duas importantes e polêmicas decisões em matéria de política econômica em uma única semana. Para quem considerava que não havia muita movimentação da equipe da Presidenta em matéria de economia, as novidades surpreenderam. O problema, no entanto, é que os principais beneficiários de tais medidas foram os representantes do financismo e os setores dos conglomerados das petrolíferas internacionais. Os anúncios se converteram em frustração para todos aqueles que se identificam com um projeto de País que signifique, entre tantos outros aspectos, a conquista de maior autonomia e soberania face às forças econômicas do mundo globalizado.

Na segunda-feira, dia 21 de outubro, o governo insistiu em manter a realização do leilão para decidir a respeito de qual seria o consórcio vencedor para explorar o Campo de Libra - primeira área a se tornar operacional no mundo sub-oceânico, ainda pouco conhecido, do Pré Sal. Apenas quatro dias depois, na sexta-feira dia 25, o Diário Oficial da União trazia a publicação de um Decreto Presidencial, por meio do qual são alterados os limites de participação de capital estrangeiro na composição acionária do Banco do Brasil (BB). Duas medidas que apontam para um conservadorismo preocupante.

Entrega de Libra e mais estrangeiros no BB

A recusa do governo em adiar a data do leilão só contribuiu para aumentar as dúvidas a respeito das reais motivações que estariam por trás da insistência e da pressa em abrir a exploração do maior campo de petróleo brasileiro ao capital internacional. Afinal, a grande maioria dos especialistas e técnicos da área da energia e do petróleo opôs algum tipo de restrição à adoção de tal estratégia. A lista de argumentos contrários à abertura da exploração de Libra é extensa, incluindo razões que vão desde elementos de segurança nacional até a simples sugestão de um pouco mais cautela e prudência no tratamento de tema tão espinhoso. Passando, é claro, por minuciosos estudos demonstrando que a Petrobras teria todas as condições de promover - sem precisar das empresas estrangeiras - a exploração do campo.

Já no caso da participação externa no BB, não houve debate prévio de nenhuma natureza. A sociedade brasileira foi pega de absoluta surpresa, com os termos do texto assinado pela Presidenta. É bem verdade que não foi a primeira vez que uma medida dessas foi anunciada por um governo que deveria passar longe de tal tipo de proposição. Em 2006, Lula foi convencido a publicar um decreto aumentando o limite da presença de capital estrangeiro no BB de 5,6% para 12,5%. Alguns anos depois, em 2009, novamente o então Presidente assina outro documento oficial e eleva esse teto para 20%. E agora Dilma dá continuidade a essa trajetória de benesses concedidas ao financismo internacional e estabelece o novo limite em 30% da composição acionária do banco.

Petrobras e a partilha desnecessária

Na tentativa de convencimento a favor de sua proposta, o governo buscou a comparação com o modelo anterior das parcerias para o petróleo, vigente à época de FHC. Ora, é verdade que o modelo de partilha é bem mais interessante para os interesses nacionais do que o anterior, o de simples concessão. Porém, o fato é que para o caso concreto, desse campo em especial, não haveria nem mesmo a necessidade de compartilhar. Libra já havia sido bastante bem mapeado pela Petrobras e a própria empresa foi exitosa nos poços que perfurou, tendo encontrado o óleo tão desejado. Assim, os procedimentos de exploração comercial praticamente não apresentavam riscos – o principal elemento a justificar uma parceria de partilha com outras empresas.

Por outro lado, às vezes era esgrimida a eventual dificuldade da Petrobras em custear ela mesma as necessidades de investimento para a exploração do campo. Mas atuais e ex-dirigentes da empresa apontavam a fragilidade do argumento, uma vez que tais despesas - significativas, é verdade - seriam realizadas de acordo com um cronograma de médio prazo e não haveria urgência urgentíssima para essa operação. Tanto que, logo após a divulgação dos resultados do leilão, as notícias oficiais falavam do horizonte de 2020 para as primeiras jorradas de óleo economicamente eficientes.

Não obstante todas essas ponderações, a data e as condições foram mantidas, apesar de contar apenas com um consórcio inscrito. O chamado “leilão do eu sozinho” não apresentou, por óbvio, nenhuma concorrência e a única proposta apresentada foi vitoriosa. Com isso, o governo brasileiro terminou por entregar 60% da exploração para grupos estrangeiros: i) 20% para a holandesa Shell; ii) 20% para a francesa Total; e iii) 20% divididos igualmente entre 2 estatais chinesas. Com isso a Petrobras ficou apenas com 40% do empreendimento. Não há razão econômica ou energética que justifique tal atitude. O contrato prevê a possibilidade de exploração dos poços encontrados por 35 anos, que apresenta um potencial de 8 a 12 bilhões de barris de petróleo e de 120 bilhões de m3 de gás.

Petrobras e BB: os interesses do financismo

A mudança no limite de participação de capital estrangeiro no BB guarda alguma similaridade com a postura no caso de Libra. Trata-se de uma liberalidade de mão única, sem exigência de nenhuma contrapartida. O governo brasileiro anuncia - em alto e bom tom – que passa a se interessar pelo compartilhamento do capital acionário de uma de suas principais empresas de economia mista com sócios internacionais, em um patamar mais alto do que os atuais 20%. Ora, é mais do que sabido que o sistema financeiro é um setor bastante sensível da engrenagem econômica, uma área estratégica para qualquer projeto de desenvolvimento nacional. Oferecer mais essa alternativa de investimento ao capital globalizado não proporciona nenhum vantagem ao País chamado Brasil, que não seja a falsa ilusão criada por alguns de seus governantes. Os responsáveis por nossa política econômica dificilmente passarão a ser considerados como adeptos do “bom-mocismo” aos olhos dos representantes da banca internacional.

A única explicação que resta para se tentar compreender a aceitação do leilão do Campo de Libra é a visão estreita do curto prazo, a lógica pequena de fechar as contas no final do mês. O governo se sente pressionado pelo financismo a cumprir a meta de superávit primário para 2013 e parece estar com algumas dificuldades de cumprir o que se propôs. Mas não sentido em se sentir obrigado a promover o desvio de tal volume de recursos das áreas sócias do orçamento público para a esfera puramente financeira. Como um dos dispositivos da oferta pública da ANP é o pagamento antecipado de um valor equivalente a R$ 15 bilhões pelo consórcio vencedor, esse recurso deve entrar no caixa do Tesouro Nacional ainda em 2013. O detalhe que ninguém do governo deseja comentar é que a própria Petrobras deverá pagar sua cota parte, arcando com 40% desse total. Ou seja, R$ 6 bilhões que entram por um lado para as contas do Ministério da Fazenda, estão saindo do próprio bolso do setor público federal. Assim, um saldo líquido de apenas R$ 9 bilhões parece muito pouco para tamanha bondade oferecida às empresas estrangeiras, que se vêem no direito de explorarem nosso petróleo, de forma bastante segura, por mais de 3 décadas.

A ampliação da presença do capital internacional no BB deve trazer consequências também para a dinâmica dos mercados que giram em torno das Bolsas de Valores. O peso dessa importante instituição financeira do governo federal na cotação dos índices e do movimento financeiro não pode ser negligenciado. Isso implica em muitas possibilidades de valorização ou desvalorização patrimonial, ao sabor da evolução das conjunturas e das apostas especulativas. As experiências recentes com o esfarelamento das empresas de Eike Batista, além de outros naufrágios verificados pelo mundo afora, deveriam servir como alerta e precaução para esse tipo de deslumbramento com o mundo frágil e efêmero do financismo.

Os riscos da abertura descontrolada ao capital internacional

Ao longo dos últimos anos o Brasil tem apresentado problemas graves de maior exposição de suas contas externas. O desempenho ainda positivo no mero saldo da Balança Comercial (exportações menos importações de bens) não pode servir como fator de ilusão a respeito das dificuldades no conjunto do Balanço de Pagamentos. Isso porque, quando são computadas as entradas e saídas de recursos externos relativos aos serviços e ao universo financeiro a situação, se revela mais grave. Nesse caso, por exemplo, houve um déficit de US$ 76 bilhões em 2012 no total da conta Rendas e Serviços. E ainda corremos o risco de fechar um valor negativo de US$ 90 bi no final desse ano. A fragilidade começa a se expressar de forma mais aguda ainda quando são verificadas as movimentações envolvendo apenas as contas de Rendas, pois ali estão registrados o resultado dos valores líquidos entre os recursos que entram no país e os que são enviados ao exterior sob a forma de juros e lucros. Em 2012 o saldo foi negativo em US$ 35 bi e agora devemos fechar dezembro com algo próximo a US$ 40 bi.

Como se vê, não é esse o melhor momento para se estimular a probabilidade de maiores riscos de perturbação no setor externo, como ocorre com a remessa dos lucros auferidos por empresas estrangeiras operando ou transacionando por aqui. Espera-se que os equívocos do BB e da Petrobras sejam o encerramento de um breve ciclo a ser esquecido e não o início de uma tendência prejudicial aos interesses brasileiros.
 

A PRIMEIRA VIDA DE HUGO CHÁVEZ

 


As mais de 700 páginas do livro de Ignácio Ramonet são lidas com muito interesse, pela trajetória de Hugo Chavez e pela sua imensa sensibilidade política.
 
Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
 
Quando Ignacio Ramonet anunciou que havia começado a fazer um livro de entrevistas, as comparações não poderiam deixar de ser feitas com o excelente livro de entrevistas com o Fidel. Este resume toda a trajetória do líder cubano, pouco antes que ele se retirasse da vida política ativa, que ao mesmo tempo era uma viagem por todos os grandes acontecimentos vividos por Fidel.

O primeiro sentimento em relação ao livro com Hugo Chavez era de que “era demasiado cedo”, ele não teria vivido ainda um período suficientemente longo de tempo, além de que se suporia que viveria um período longo, incluindo acontecimentos de grande transcendência.

A doença e a morte do líder venezuelano fizeram com que a preocupação de que seria “demasiado cedo”, terminasse tendo outro sentido. O livro foi feito “demasiadamente tarde”, pela curta trajetória que terminou tendo Hugo Chavez, a ponto de que um alentado volume de 700 paginas tenha permitido apenas o relato da sua “primeira vida”- como diz o titulo do livro -, que vai apenas até a primeira vitória eleitoral de Hugo Chavez.

Apesar dessa limitação, se lê o livro com grande interesse e com o indisfarçável sentimento de tristeza, pela perda prematura de um líder de tal envergadura. As entrevistas permitem um retrato humano de Hugo Chavez, desde sua primeira infância, de menino pobre do interior de um país do continente, que vendia doces preparados pela sua avó pelas ruas da sua cidade.

Um menino predestinado – o que às vezes ele aceita, outras nega– pela época que lhe correspondeu viver – ele diz que “a história o absorveu”, com um caráter rebelde desde cedo, indignado pelas injustiças e pelos atos de prepotência que pôde presenciar. Lider na escola, nos jogos de beisebol, nos grupos de rua, precocemente grande leitor de literatura clássica, assim como de revistas e de almanaques, que lhe ensinavam as primeiras coisas sobre o mundo.

Um menino que pôde conviver com familiares envolvidos em epopeias históricas, em um tempo de grandes instabilidades e turbulências na Venezuela. Por esse meio – além das historias da avó, do cinema e das ruas -, ele foi se formando como ser humano, empapado pela historia da Venezuela e da América Latina. Ia se gestando ali um grande líder, das entranhas mesmas do povo venezuelano. “Eu me fui aproximando, por distintas vias, a esse rio que é a história“.

A carreira militar foi quase um caminho natural para aquele jovem rebelde, identificado com os grandes heróis nacionais venezuelanos, antes de tudo com Bolivar. Um jovem de origem popular, descendente de índios, negros e espanhóis, diante de uma das elites as corruptas do continente.

A segunda parte do livro já faz parte da historia contemporânea da Venezuela: a segunda eleição de Carlos Andres Peres, o pacote neoliberal e a reação popular chamada de “caracazo”, a primeira tentativa de sublevação militar dirigia por Hugo Chavez, o fracasso militar e a vitória politica, a prisão, a anistia, a viagem pela América Latina, o primeiro encontro com Fidel. A dura campanha para convencer a seus companheiros que valia a pena optar naquele momento pela via institucional, apresentando seu nome como candidato a presidente, a campanha e a vitória. Se vale de frases como “Os únicos que pensam que a perfeição é possível na política, são os fanáticos.”

Aí começava outra vida, a do grande estadista, dirigente latino-americano, que não chegou a ser abordada pelo livro. Suas mais de 700 páginas são lidas com muito interesse, pela trajetória de Hugo Chavez e pela sua imensa sensibilidade política. Mas também com grande tristeza, porque aumenta o sentimento de perda que sua morte deixou a todos – venezuelanos, latino-americanos, povos do mundo.
 

ALEMANHA: EMPREGO NÃO DÁ FELICIDADE

 


Die Welt, Handelsblatt, Frankfurter Allgemeine Zeitung - Presseurop
 
"A Alemanha é uma nação de stressados", titula o jornal Die Welt depois da publicação, a 30 de outubro, dos resultados de uma sondagem realizada pelo instituto Forsa segundo os quais "mais de metade dos alemães se sentem sob pressão: no trabalho, na família ou por causa de problemas financeiros". As mulheres entre os 35 e os 45 anos sofrem especialmente, por serem demasiado exigentes consigo próprias e por não conseguirem conciliar filhos e carreira.
 
"O trabalho tornou-se o fator de stresse número 1", explica o jornal Die Welt, enquanto o Handelsblatt saúda "o milagre do emprego". O diário económico lembra que 42,2 milhões de alemães têm atualmente um trabalho, um nível que não tinha sido atingido desde a reunificação alemã. Um estudo do instituto de estudos económicos IFO citado pelo Handelsblatt lembra que, nos últimos cinco anos, foram criados 1,5 milhões de empregos e esta tendência deverá confirmar-se.
 
Perante estes números, o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung não compreende a inquietação dos alemães:
 
Só os alemães são capazes disto: pela primeira vez, na Alemanha, 42 milhões de pessoas têm trabalho e, no entanto, a opinião pública não para de se queixar das condições do mercado de trabalho. Não há governo no mundo que não queira trocar estas condições com as do seu próprio país. Mas enquanto metade do mundo tenta copiar o 'milagre do trabalho alemão', os seus criadores perde tudo isso de vista.
 

OS MERCADOS DO PODER – cartoon Rainer Hachfeld

 

Neues Deutschland, Berlim - Presseurop
 
Segundo a última classificação das pessoas mais poderosas do mundo, publicada pela revista norte-americana Forbes, o Presidente russo, Vladimir Putin, passou a ser mais poderoso que o seu homólogo americano Barack Obama. Os dois chefes de Estado suplantam o Presidente chinês Xi Jinping e o Papa Francisco.
 
A chanceler alemã Angela Merkel surge na quinta posição e é a primeira europeia. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, está em nono lugar. O primeiro-ministro britânico David Cameron está no décimo primeiro lugar e o Presidente francês François Hollande ocupa a décima nona posição. Nenhum outro europeu figura entre os 30 primeiros.
 
*Nascido em Ludwigshafen en 1939, Rainer Hachfeld é um dramaturgo e desenhador político alemão. Depois de estudar arte em Berlim, começou a su carreira de caricaturista em 1966 no Spandauer Volksblatt, depois passou para o EXTRA-Blatt. Colaborou igualmente com a Stern e o Der Abend. Desde 1990, colabora com o diário socialista Neues Deutschland.
 
 

O TALENTOSO BLATTER E O TOSCO CRISTIANO

 


Ferreira Fernandes – Diário de Notícias, opinião
 
Aquilo do Blatter com Cristiano Ronaldo? Não, não vou lá por indignação patriótica. Sim, suspeito que os países menos ricos como Portugal sejam desprezados pela multinacional FIFA. É a vida, sorte a nossa não sermos o Burundi, ainda mais desprezado. Não, o que retiro da cena de Joseph Blatter, falando entre universitários de Oxford, é outra coisa. Um homem barrigudo levanta-se e permite-se mimar um jovem que quando tira a camisola faz suspirar milhões de mulheres. Um careca permite-se criticar os gastos no cabeleireiro de um ídolo mundial. Um incompetente que marca um evento desportivo para o Qatar com temperaturas a 60 graus, esse (cuja única desculpa à tolice só pode ser o suborno), permite-se criticar um tipo que não sei se é o primeiro ou quarto dos melhores, mas que é, seguramente, um admirável profissional com ganas de perfeição (tudo o diz quando joga, sobretudo quando falha)... Então, porquê, o desaforo de Blatter? Aí já não são suspeitas que tenho, são certezas. Um dia, Marilyn, lindíssima e trágica, cantou no Madison Square Garden uma canção ao seu amor. À volta de John Kennedy, hoje esquecidas dondocas sorriam, julgavam saber de tudo e desdenhavam. A mesma coisa com Blatter. A história mundial da infâmia está cheia de poderosos sem qualidades, que não querem reconhecer a sorte de privarem com gente que sabe, faz bem e fascina. No fundo é bem prudente essa ingratidão: sem ela, como aguentariam a sua inferioridade?
 

Portugal: MENTALIDADE COELHEIRA

 

Fernando Dacosta – Jornal i, opinião
 
Tornaram-se frequentes os queixumes dos defensores das famílias com muitos rebentos - por elas estarem a deixar de os ter. Como os não produzem, os lamentos generalizam-se: sem petizes não haverá no futuro tanta mão-de-obra barata para tarefas e serviços, tanta carne fresca para canhões e camas, tantos contribuintes para fiscos e rapinagens, tantas almas para pastoreios e caridades, tantos votantes para partidos de engodo e ludíbrio.

Crescei e multiplicai-vos, exortaram durante séculos os poderosos do mundo, embandeirados pelas suas igrejas, aos miseráveis desse mundo. E os miseráveis cresceram e multiplicaram-se, obedientes no engendrar filhos e netos tão miseráveis como eles - agora ainda mais.

Agredida pelo excesso populacional (o homem é o maior poluidor do ambiente) a natureza reagiu, começando felizmente a emperrar a natalidade com a queda - na Europa, por exemplo - de nascimentos (sobretudo) de rapazes e com a diminuição da sua capacidade reprodutora, a que se juntaram os incentivos, lançados pelos mais lúcidos, à despenalização da interrupção da gravidez, ao uso do preservativo, à normalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, à mudança da estrutura familiar, etc.

Alimentar, acomodar, educar, vestir, assistir os milhões que não param de nascer, significa destruir irremediavelmente a atmosfera, a água, os solos, a agricultura, as florestas, o planeta - a vida.

Argumentar que se precisam de (mais) jovens para sustentar os idosos é inverdadeiro, pois dois terços deles só sobrevivem hoje por amparo, precisamente, dos pais, avós e afins.

“O ser humano apenas será dignificado quando escassear”, repetia Natália Correia, “isto é, quando se libertar da horrenda mentalidade coelheira que desgraçou a humanidade”.

Escreve à quinta-feira

Moçambique: PELO MENOS DOIS MORTOS EM ATAQUES EM MULTIVAZE

 


Confrontos entre militares e supostos elementos armados da Renamo em Mutivaze e Navevene, na província de Nampula, norte de Moçambique, provocaram a fuga de populações para as matas para se protegerem.
 
Esta manhã, em Mutivaze, os poucos populares ali presentes disseram à Lusa que voltaram para as suas casas para arranjar comida e água e procurar crianças desaparecidas.
 
"Eu vim aqui para ver se encontro um dos meus filhos que desapareceu quando fugíamos aos disparos", disse à Lusa Amisse Taíde, residente em Mutivaze.
 
Ali, um camião vindo do distrito de Ribáuè foi assaltado e, depois de saqueados os produtos que transportava, foi incendiado por pessoas até agora não identificadas, estando o ato a ser imputado pelas autoridades a supostos elementos armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
 
Em consequência do assalto ao camião e de outros ataques, foram mortos dois civis e há um número ainda não determinado de feridos, segundo os habitantes da região.
 
A população afirma que as pessoas que dispararam na região na quarta-feira falavam uma língua estranha.
 
"Nós ouvimos as pessoas a falarem, mas não entendemos o que estavam a dizer porque falam uma língua estranha", disse Joana Afonso.
 
Todavia, a população abandonou as suas residências e muitas pessoas são dadas como desaparecidas.
 
Elementos da Força de Intervenção Rápida e das Forças Armadas de Defesa de Moçambique já se mobilizaram para o local e a situação mantinha-se ainda calma.
 
Funcionários públicos afetos a serviços, como saúde e educação, também abandonaram os seus postos e muitos deles encontram-se refugiados na cidade de Nampula.
 
Lusa
 

Moçambique: Tio de Dhlakama não se interessa por política mas reza pela paz

 


Afastada da estrada nacional e do ambiente de conflito no centro de Moçambique, Mangunde, terra onde Afonso Dhlakama nasceu há 60 anos, é uma pequena vila em paz, a meio de uma longa picada de terra batida.
 
O líder da Renamo estudou ali, na escola onde padres italianos continuam a ensinar técnicas de agricultura, mas, depois, ainda jovem, foi-se embora.
 
"Não o tornámos a ver, não voltou cá", diz Arone Ticutenae Tenana, tio direito de Dhlakama e régulo da pequena vila no interior da província de Sofala, a cerca de 100 quilómetros do local onde se têm registado mais ataques, que as autoridades atribuem à Renamo.
 
Arone, 67 anos, 19 filhos e três mulheres, todos a morarem com ele "numa casa grande", sentado numa mota chinesa Lifan, "oferecida por um muzungo" (branco) é o símbolo da tranquilidade que se vive na aldeia.
 
"Estamos fora da política, há uma convivência entre todos", diz este crente da Assembleia de Deus.
 
A "convivência" está à vista no caminho que conduziu até ao tio de Afonso Dhlakama. Numa curva anterior, crentes da Zion Jacken-chen, uma seita cristã originária do Zimbabué, que proíbe a construção de templos, dançavam ao ar livre, no meio das árvores; e, junto à missão católica, o padre Giocondo Pendi passeava entre os embondeiros, aproveitando a última luz de fim de tarde.
 
Afonso Dhlakama está há uma semana "em parte incerta", depois do exército ter ocupado a base em que vivia, em Sadjundjira, a 200 quilómetros de Mangunde.
 
"O desaparecimento dele causa preocupação na família", admite o tio, que insiste na sua neutralidade. "Não sou da Frelimo nem da Renamo, estamos a rezar pela paz".
 
E perguntado, mais uma vez, sobre a sua relação com o sobrinho, Arone usa a expressão com que os moçambicanos dão o caso por arrumado: "Nada!"
 
Moçambique vive a sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, na sequência de confrontos entre o exército e elementos armados da Renamo, principal partido da oposição, devido a divergências em torno da lei eleitoral.
 
As últimas semanas têm sido marcadas por confrontos de parte a parte e o exército governamental já ocupou algumas das principais bases do movimento, tendo colocado em fuga o líder da Renamo.
 
Lusa
 

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