Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Mundo não só mudou;
está também mais perigoso, embora mais para uns do que para outros. A
afetuosidade é tão determinante na análise como a competência. E os exemplos
sucedem-se a ritmo quase alucinante, como ficou vincado nas últimas horas.
O país está vinculado
a uma mistura de estados de espírito, entre os tranquilizantes e os
esquizofrénicos.
A Justiça, por
exemplo, cortou cerce a desculpa do não apuramento de sérias responsabilidades
de Duarte Lima nas vigarices envolventes do BPN.
Acusado de vários crimes,
findou-se o período de prisão domiciliária com pulseira eletrónica em que
Duarte Lima vivia desde maio de 2012. Argumento: já não há perigo de fuga!
Assim seja. O país fica mais descansado e espera para ver o resultado. Por
pouco que seja, o erário público sempre poupa uns dinheiritos no controlo
eletrónico de Duarte Lima. Não se sabe bem quando é condenado, ou absolvido,
por parte do saque do BPN. Logo se vê.
Os bem
intencionados da quadra pascal não perceberão mas, à falta de cumprimento de
prazos pelo Tribunal da Relação, Tiago safou-se de comer o folar no
internamento a que foi sentenciado por dois anos e meio pelos crimes de
homicídio tentado e posse de arma proibida. O puto pôs em alvoroço uma escola
de Massamá. Problemático foi; problemático não será no futuro, pelos vistos. A
falha da Justiça é uma treta...
...Pode até ter
sido por mera afetuosidade, mas de outro processo ontem conhecido resulta
também um dado interessante: Passos Coelho foi apanhado em dez escutas à
conversa com o banqueiro José Maria Ricciardi num tempo em que em cima da mesa
estava a privatização da REN e da EDP. E então? Fintemos o maquiavelismo. Uma
conversa é passível de ir por vários caminhos e, em nome dos bem intencionados,
Ricciardi pode até só ter manifestado ao primeiro-ministro preocupações com o
seu Sporting e a coleção de canários de que é fã!
É mesmo,
acredite-se, uma questão de afetos.
"O problema é
deles!". Seria? O desabafo da impagável Assunção Esteves perante a birra
dos militares pais do 25 de Abril ao reclamarem o púlpito da Assembleia da
República nas comemorações dos 40 anos da Revolução foi, no fim de contas, só
isso: um desabafo. Apesar de malcriado, um desabafo. A senhora percebeu que
deve o seu posto de segunda figura do Estado aos agora velhos, carecas e
barrigudos militares e recuou. Agendou um encontro "de afeto" com
Vasco Lourenço, o mais umbiguista e pesporrente dos revolucionários, e foi
lindo vê-los numa exposição no Parlamento sobre o 25 de Abril a anunciar um
armistício falso. O Mundo mudou.
Não fosse assim,
não tivesse havido 25 de Abril, e o país não conheceria falhanços e atrasos da
Justiça, cusquices impagáveis, escutas. E por aí fora.
O país continua
envolto em incompetência, mas dispõe há 40 anos de uma vantagem: topa os
malfeitores todos.
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1 comentário:
Já está é na rua e a rir-se de todos. Ser vigas é lucartivo em Portugal e no resto do mundo.
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