sábado, 25 de janeiro de 2014

AS CRIANÇAS-SOLDADOS DOS EUA

 

Ann Jones*
 
O Congresso dos EUA aprovou no Outono de 2008 a Lei de Prevenção de Meninos Soldados com o objectivo de proteger crianças em todo o mundo de modo a não serem obrigadas a lutar na guerra dos grandes. Mas acontece que os Estados Unidos têm o maior e o mais eficiente sistema do mundo para recrutar crianças soldados. Com uma modéstia pouco característica, o Pentágono não utiliza essa descrição. Chama-lhe «programa de desenvolvimento da juventude».
 
O Congresso queria sem dúvida actuar correctamente quando, no Outono de 2008, aprovou a Lei de Prevenção de Crianças Soldados (CPSA, de acordo com a denominação em Inglês). A lei tinha o objectivo de proteger crianças em todo o mundo para não serem obrigadas a lutar na guerra dos grandes. A partir daí, imaginava-se que qualquer país que pressionasse crianças a tornarem-se soldados perderia toda a ajuda militar dos Estados Unidos.
 
No entanto, acontece que o Congresso — num raro momento de preocupação com a futura geração — se enganou rotundamente. Na sua grande sabedoria, a Casa Branca achou que países como o Chade e o Iémen são tão vitais para o interesse nacional dos Estados Unidos que preferiu passar por alto o que acontecia aos meninos à sua volta.
 
Como a CSPA exige, este ano o Departamento de Estado voltou a enumerar dez países que utilizam crianças soldados: Birmânia (Myanmar), República Central Africana, Chade, República Democrática do Congo, Ruanda, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iémen. Sete deles deveriam receber milhões de dólares em ajuda militar norte-americana assim como o chamado «Financiamento Militar Estrangeiro dos Estados Unidos». Trata-se de um ardil orientado para apoiar os fabricantes de armas norte-americanos entregando milhões de dólares públicos a «aliados» tão suspeitos, que devem dar uma volta e comprar «serviços» do Pentágono ou «material» dos habituais mercadores da morte. Já os conhecemos: Lockheed Martin, McDonnell Douglas, Northrop Grumman, etc.
 
Era uma oportunidade para Washington ensinar a um grupo de países a proteger as suas crianças, não a levá-los à matança. Mas em Outubro, como sempre acontece desde que a CSPA foi promulgada, a Casa Branca tornou a conceder «dispensas totais ou parciais a cinco países na lista de «não ajuda» do Departamento de Estado: Chade, Sudão do Sul, Iémen, República Democrática do Congo, e Somália.
 
Má sorte para os jovens — e para o futuro — desses países. Mas há que pensar: porque deveria Washington ajudar as crianças do Sudão ou do Iémen a escapar da guerra se não poupa gastos dentro do país para pressionar os nossos americanos, impressionáveis, idealistas, ambiciosos, a fazerem o «serviço militar»?
 
Não deveria ser segredo que os Estados Unidos têm o maior sistema, o mais eficiente do mundo para recrutar crianças soldados. Com uma modéstia pouco característica, no entanto, o Pentágono não utiliza essa descrição. Chama-lhe «programa de desenvolvimento da juventude».
 
Impulsionado por múltiplas firmas altamente remuneradas de relações públicas e publicidade de alta potência, contratadas pelo Departamento de Defesa, o programa é algo importante. O seu rosto principal é o Corpo de treinamento de reserva de oficiais menores (o JROTC em inglês).
 
O que torna este programa de recrutamento de crianças soldados tão impressionante é que o Pentágono realiza-o perante centenas e centenas de estabelecimentos de ensino médio privados, militares e públicos nos Estados Unidos.
 
Ao contrário dos senhores da guerra africanos ocidentais Foday Sankoh e Charles Taylor (levados ambos a tribunais internacionais por acusações de crimes de guerra), o Pentágono realmente não sequestra crianças nem as arrasta fisicamente para a batalha. Em vez disso trata de transformar os jovens «cadetes» no que John Stuart Mill chamou «escravos voluntários», tão enganados pelo guião do amo que aceitam os seus papéis com uma vontade que passa por ser escolha pessoal. Com esse fim o JROTC influencia as suas mentes ainda não totalmente desenvolvidas, inculcando-lhes o que os livros do programa chamam «patriotismo» e «liderança» assim como uma atenção por reflexo às ordens autoritárias.
 
A conjura é muito mais sofisticada — tanto mais «civilizada» — que qualquer outra imaginada na Libéria ou Serra Leoa, e funciona. O resultado é o mesmo: as crianças são levadas a servir como soldados, uma tarefa que não poderão abandonar, e durante a qual serão obrigadas a cometer atrocidades terríveis. Quando começam a queixar-se e a não suportar a pressão, nos Estados Unidos, como na África Ocidental, aparecem as drogas.
 
O programa JROTC, que existe em institutos de ensino médio em todo o país, custa aos contribuintes dos Estados Unidos, centenas de milhões de dólares por ano. Custou os filhos a uma quantidade inenarrável de contribuintes.
 
As brigadas de acne e aparelhos dentais

Encontrei alguns rapazes do JROTC há alguns anos num desfile do Dia dos Veteranos em Bóston. Antes de começar, passei por grupos uniformizados que se instalavam ao longo de Boston Common. Havia alguns velhos empunhando bandeiras dos seus grupos da Legião Americana, algumas bandas escolares de ensino médio e alguns jovens em elegantes uniformes de gala, recrutadores militares da grande Bóston.
 
E depois vinham os rapazes. As brigadas de acne e aparelhos dentais, de 14 e 15 anos de uniformes militares, com espingardas ao ombro. Algumas dos grupos de meninas tinham elegantes luvas brancas.
 
Demasiados grupos semelhantes, com demasiadas crianças impúberes, estavam ao longo de Bóston Common. Representavam todos os ramos das forças armadas e muitas comunidades locais diferentes, embora quase todos fossem morenos ou negros afro-americanos, latinos, filhos de imigrantes do Vietname e de outros pontos do Sul. No mês passado em Nova Iorque vi esquadrões semelhantes do JROTC codificados por cores, marchando pela Quinta Avenida no dia dos Veteranos. O JROTC não é uma coligação arco-íris.
 
Em Boston perguntei a um rapaz de 14 anos porque tinha ido para o JROTC. Tinha um uniforme do Exército para jovens e levava uma espingarda quase do seu tamanho. Afirmou: «O meu pai abandonou-nos e a minha mãe tem dois trabalhos, e quando chega a casa, bom, não está em muito boas condições. Mas na escola disseram-nos que temos de ter boas condições para chegarmos a algum lado. Por isso aqui estou».
 
Um grupo de meninas, todas pertencendo ao JRTOC, disseram-me que iam às aulas com os rapazes mas que tinham a sua própria equipa de treino (tudo negro) que competia com outras de tão longe como Nova Jersey. Mostraram-me as medalhas e convidaram-me a ir à escola para ver os seus troféus. Também elas tinham 14 ou 15 anos. Pulavam como entusiastas adolescentes que eram enquanto falávamos. Uma afirmou: Antes nunca tive prémios.
 
A sua alegria surpreendeu-me. Quando tinha a sua idade, crescendo no Oriente Médio, levantava-me antes do amanhecer para ir a um campo de futebol e praticar manobras em formação cerrada às escuras antes de iniciar o dia escolar. Nada me teria afastado dessa «condição», desse «exercício», «dessa equipe» mas estava numa banda marcial e a arma que empunhava era um clarinete. O JROTC aproveita essa ansiedade juvenil de fazer parte de algo maior e mais importante, que o próprio ser lamentável, solitário, cheio de acne. O JROTC captura o idealismo e a ambição juvenil, retorce-a, arma-a e coloca-a no caminho da guerra.
 
Um pouco de história

O Corpo de Treinamento de Reserva de Oficiais Menores do Exército dos Estados Unidos foi concebido como parte da Lei de Defesa nacional de 1916 no meio da Primeira Guerra Mundial. Depois dessa guerra, no entanto, apenas seis institutos de ensino médio aceitaram a oferta dos militares de equipamento e instrutores. Uma versão mais adulta do Corpo de Treino para Oficiais da Reserva (ROTC), foi tornada obrigatória em muitos colégios e universidades estatais, apesar da questão controversa da época se o governo podia obrigar os estudantes a ter treino militar.
 
Em 1961, o ROTC tornara-se um programa optativo, popular nalgumas escolas, mal recebido noutras. Desapareceu imediatamente em muitos colégios de elite e universidades estatais progressistas, excluído por protestos contra a guerra do Vietname e descontinuado pelo Pentágono, que insistia em manter políticas de descriminação (especialmente a respeito da preferência sexual e género) ilegalizadas nos códigos de conduta das universidades. Quando renunciou a «Não perguntes, não o digas» em 2011 e ofereceu um menu de subvenções substanciais para instituições semelhantes, universidades de elite como Harvard e Yale voltaram a aceitar os militares com uma deferência indecorosa.
 
Durante o exílio do ROTC dessas instituições, este arraigou-se em campus universitários em Estados que não expressavam inconformidade com a discriminação, enquanto o Pentágono expandia o seu programa de recrutamento em escolas de ensino médio. Quase meio século depois do estabelecimento do JROTC do Exército, a Lei de Vitalização do Corpo de Treino de Oficiais de Reserva de 1964 abriu o mesmo treino para jovens a todos os ramos das Forças Armadas. Mais ainda, a quantidade de unidades do JROTC em todo o país, limitada anteriormente a 1.290, aumentou rapidamente até 2001, quando desapareceu a ideia de impor limites ao programa.
 
O motivo foi bastante evidente. Em 1973, o governo de Nixon descartou o serviço militar obrigatório a favor de um exército profissional permanente «apenas de voluntários». Mas onde estavam esses profissionais? E como iam ser «persuadidos» a tornarem-se voluntários? Desde a II Guerra Mundial, os programas do ROTC em instituições de ensino superior tinham administrado 60% dos oficiais comissionados. Mas o exército precisava de soldados de infantaria.
 
Oficialmente, o Pentágono afirma que o JROTC não é um programa de recrutamento. Em privado, nunca considerou que seja algo diferente. O JROTC descreve-se agora como «desenvolvido de alguma fonte de recrutas alistados e candidatos a oficiais a um programa de cidadania dedicado à elevação moral, física e educacional da juventude norte-americana. Mas, o ex Secretário de Defesa William Cohen, testemunhando perante o Comité de Serviços Armados da Câmara em 2000, qualificou o JROTC como «um dos melhores instrumentos de recrutamento que podemos ter».
 
Com essa missão não acreditada em mãos o Pentágono pressionou por um objectivo planeado primeiro em 1991 por Colin Powell, então chefe do Estado Maior Conjunto: o estabelecimento de 3.500 unidades do JROTC para «elevar» os estudantes nas escolas de ensino médio em todo o país. O plano era expandir para «áreas educacional e economicamente marginalizadas». As escolas de má qualidade dos centros urbanos, os cinturões industriais, o Sul profundo e o Texas tornaram-se ricos campos de caça. No início de 2013, só o Exército reciclava 4 mil oficias na reserva que dirigiram os seus programas em 1.731 escolas de ensino médio. No total, unidades do JROTC do Exército, a Força Aérea, a Armada e os Marines surgiram em 3.402 escolas em todo o país — 65% delas no Sul — com um total de 557.129 rapazes.
 
Com funciona o programa

O programa funciona assim: o Departamento de Defesa gasta várias centenas de milhões de dólares — 365 milhões em 2013 — para fornecer uniformes, textos aprovados pelo Pentágono e equipamento para o JROTC, assim como parte dos salários dos instrutores. Esses instrutores, designados pelos militares (não pelas escolas) são oficiais na reserva. Continuam a receber a pensão federal, apesar de se exigir que as escolas cubram os seus salários ao nível que receberiam no serviço activo. Os militares reembolsam à escola cerca da metade da considerável remuneração, mas apesar disso custam muito dinheiro à escola.
 
Há dez anos o Comité de Serviço de Amigos (CSA em espanhol e AFSC em inglês) estabeleceu que o verdadeiro custo dos programas do JROTC para os distritos escolares locais era «a miúdo muito mais elevado — em muitos casos mais do dobro — do custo mencionado pelo Departamento de Defesa». Em 2004, os distritos escolares locais estavam a gastar mais de 222 milhões de dólares só em custos de pessoal».
 
Vários directores escolares que me falaram do problema elogiaram o Pentágono por subvencionar o pressuposto da escola, mas evidentemente não compreendiam as finanças das próprias escolas. O facto de as escolas públicas que oferecem programas do JROTC subvencionarem actualmente a campanha de recrutamento do Pentágono. De facto, uma classe de JROTC custa às escolas (e aos contribuintes) significativamente mais do que custaria um curso regular de educação física ou de história dos Estados Unidos — embora seja frequentemente considerada um substituto adequado para ambos.
 
As escolas locais não têm qualquer controlo sobre os planos de estudo do JROTC prescritos pelo Pentágono, que são inerentemente orientados para o militarismo. Muitos sistemas escolares simplesmente adoptam programas do JROTC sem mesmo ver o que se ensina aos estudantes. O Comité de Serviços de Amigos dos Estados Unidos, Veteranos pela Paz, e outros grupos civis compilaram provas de que essas aulas não só são mais dispendiosas que as aulas regulares, mas também inferiores em qualidade.
 
Que outra coisa para além de qualidade inferior poderia esperar-se de livros de texto interessados escritos por ramos em competência das forças armadas e utilizados por militares na reserva, sem qualificações ou experiência pedagógica? Em primeiro lugar, nem os textos nem os instrutores ensinam o tipo de pensamento crítico central actualmente nos melhores planos de estudo escolares. Em seu lugar, inculcam obediência à autoridade, medo a inimigos, e postulam a primazia da força militar na política exterior norte-americana.
 
Grupos civis apresentaram uma série de outras objecções ao JROTC, que vão desde práticas discriminatórias — por exemplo, contra gays, imigrantes e muçulmanos — a outras perigosas, como levar armas às escolas (precisamente). Algumas unidades incluso estabeleceram polígonos de tiro onde se usam espingardas automáticas e munição de guerra. JROTC tem a mística perigosa de tais armas, transformando-as em objectos pelos quais se deve ansiar, aceitar, e apressar-se a encontrar a possibilidade de utilizá-las.
 
Em sua própria defesa o programa publicita uma vantagem principal amplamente aceite nos Estados Unidos que administra «condição», que evita que os rapazes abandonem a escola, e transforma meninos (e agora meninas) com antecedentes «problemáticos» em «homens» que, sem o JROTC para os salvar (e ao resto de nós contra eles), se tornariam drogados ou criminosos ou algo pior. Colin Powell, o primeiro graduado da ROTC que chegou ao posto máximo nas forças armadas, pregou precisamente essa linha nas suas memórias My American Journey. «Meninos dos centros urbanos pobres» escreveu, muitos de lares desfeitos, [encontram estabilidade e modelos a imitar no JROTC.
 
Não há provas para essas afirmações, no entanto, aparte testemunhos de estudantes como o que apresentou o de 14 anos que me disse ter participado em busca de «condição». Aquilo de que esses meninos (e os pais) se deixam convencer por esse argumento de vendas é uma medida das suas próprias condições limitadas. A grande maioria dos estudantes encontra melhor «condição», mais positiva para a vida, na própria escola através de cursos académicos, desportos, coros, bandas, clubes de ciência ou língua, períodos de capacitação — em escolas onde existam essas oportunidades. É precisamente em escolas com programas semelhantes, onde administradores, mestres, pais e filhos, trabalhando em conjunto, teriam mais êxito em manter fora o JROTC. Aos sistemas escolares «económica e socialmente deficitários» que são o objectivo do Pentágono fica-lhes a possibilidade de eliminar «detalhes» semelhantes e gastar o seu dinheiro num coronel ou dois que podem oferecer aos estudantes necessitados de «estabilidade e modelos» um futuro promissor, embora talvez muito curto, como soldados.
 
Dias na escola

Numa dessas escolas do bairro marginal do centro de Bóston predominantemente negra, estive em classes do JROTC onde rapazes viam filmes intermináveis de soldados a desfilar, e depois tiveram de fazê-lo também no ginásio da escola, de espingarda na mão. (Tenho que admitir que podiam marchar muito melhor do que esquadrões do Exército Nacional Afegão, que também observei, mas é isso motivo de orgulho? Já que essas classes pareciam consistir frequentemente em passar um bocado, os estudantes tinham muito tempo para conversar como o recrutador do Exército cujo escritório estava convenientemente instalado na sala de aulas do JROTC.
 
Também conversaram comigo. Uma menina afro-americana de 16 anos, que era a primeira da sua aula e se tinha alistado no Exército, disse-me que passaria para as Forças Armadas. O seu instrutor — um coronel branco que considerava como o pai que nunca tivera — tinha levado a classe a crer que a «nossa guerra» continuaria durante muito tempo, como declarou, «até termos matado o último muçulmano na Terra». Ela queria ajudar a salvar os Estados Unidos, dedicando a sua vida a essa «grande tarefa que nos aguarda».
 
«Oh, não senhora, afirmei, «Malcolm X era norte americano”.

Um rapaz mais velho, que também se havia alistado com o recrutador, queria escapar à violência das ruas da cidade. Alistou-se pouco depois de um dos seus melhores amigos, apanhado no fogo cruzado de outros, ser morto num minimercado muito perto da escola. Afirmou-me: Aqui não tenho qualquer futuro. Era o mesmo que estar no Afeganistão. Pensava que as suas probabilidades de sobrevivência seriam ali melhores, mas estava preocupado pelo facto de ter de acabar a escola secundária antes da incorporação para cumprir o seu «dever». Afirmou: «Só espero poder chegar à guerra”.
 
Que espécie de sistema escolar oferece aos alunos e alunas tais «alternativas»? Que espécie de país?

Que se passa nas escolas da tua cidade? Não é hora de o descobrir?
 
*Ann Jones, colaboradora regular de TomDuispatch, é autora do livro: Eles eram soldados: Como voltam os feridos das guerras da América — A história não contada. Um projecto de Dispatch Books em cooperação com Haymarket Books. (Jeremy Scahill acaba de o escolher como favorito de 2013. Jones, que informou do Afeganistão desde 2002, é também autora dos livros sobre o impacto da guerra em civis: Kabul no Inverno e A Guerra não acaba quando acabar. Está na web em annjonesonline.com.
 
- Este artigo está publicado em O Diário.info
 

REFORMAS DE OBAMA NA NSA NÃO AGRADAM NENHUM LADO NOS EUA

 


Para críticos da política de espionagem, intervenção não sinaliza mudanças; para conservadores, presidente não foi contundente em relação a 'manter EUA seguros'
 
Cristina Garcia Casado – Rede Brasil Atual
 
Washington – As reformas na Agência de Segurança Nacional (NSA) anunciadas ontem (17) pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não convenceram em seu país. Legisladores democratas e republicanos, empresas tecnológicas e a grande mídia as consideraram pouco concretas. Obama, que defendeu em um esperado discurso o equilíbrio entre segurança e privacidade, não conseguiu agradar nem os que pedem para manter os programas de espionagem da NSA intactos para evitar ataques aos EUA, nem os que acham que estes foram longe demais.
 
O Congresso, para quem Obama deixou a última palavra sobre o assunto, será portanto um terreno complicado para o presidente conquistar, já que parlamentares de todas as tendências se mostraram críticos a suas propostas sobre a NSA.
 
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, disse que Obama “não soube explicar de maneira adequada a necessidade desses programas”. “A câmara analisará toda reforma legislativa proposta pela Administração. Mas não minaremos a integridade operacional desses programas cruciais que ajudaram a manter os EUA seguros”, sentenciou.
 
As duas grandes mudanças propostas pelo presidente são o fim da espionagem a líderes de países aliados e reformas na vigilância telefônica da NSA, entre elas que o governo deixe de controlar esses dados e que uma corte especial autorize seu acesso.
 
A senadora democrata Dianne Feinstein e o republicano Mike Rogers destacaram em comunicado conjunto que a coleta de dados da NSA é “legal e efetiva”, e pediram à Casa Branca que envie ao Congresso suas propostas em “linguagem legislativa” para poder se pronunciar sobre elas.
 
Ainda mais crítico foi o senador republicano Marco Rubio, que desponta como possível candidato às eleições de 2016, ao assegurar que “algumas das propostas do presidente foram longe demais”.
 
Além do Congresso, outro protagonista no debate é o setor tecnológico do país, que está em pé de guerra depois que as revelações do ex-técnico da NSA Edward Snowden sobre a espionagem nos EUA enfraqueceram a confiança dos usuários nacionais e estrangeiros.
 
Google, Microsoft, Facebook, Yahoo! e outras empresas publicaram uma declaração conjunta após conhecer as propostas de Obama. Consideram que “detalhes cruciais sobre este assunto” não foram abordados. “Devem ser dados, além disso, passos adicionais em outros importantes temas, por isso continuaremos trabalhando com a administração e o Congresso para manter o impulso e defender reformas na linha dos princípios que detalhamos em dezembro”, acrescenta a nota.
 
Alex Fowler, o diretor de políticas globais da Mozilla, criadora do navegador Firefox, defendeu que “internet merece mais”. “Sem uma mudança significativa, a internet continuará por um caminho que leva à desconfiança, muito diferente de suas origens de abertura e oportunidade”, acrescentou.
 
As reformas anunciadas ontem pelo presidente Obama também não contentaram os principais veículos de imprensa do país, que em linhas gerais as consideraram insuficientes e pouco precisas.
 
O New York Times, por sua vez, dedicou ao tema um editorial crítico no qual classifica as mudanças propostos pelo presidente como “frustrantemente pouco específicas e vagas em sua implementação”. O The Wall Street Journal considera que Obama tentou “contentar a todos de maneira retórica” e critica que algumas de suas novas propostas “farão muito pouco pela privacidade e talvez tornem o país menos seguro”.
 
Além disso, Washington Post e USA Today destacaram a abordagem superficial sobre conceito de espionagem e a intenção de promover as mudanças na NSA.
 

Para frear crise, presidente da Ucrânia oferece cargo de primeiro-ministro a opositor

 


Líderes dos protestos que sacudiram país também receberam proposta para compor gabinete; Constituição será revista
 
Dodô Calixto, São Paulo - Opera Mundi
 
A reunião entre o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovitch, e um grupo de opositores neste sábado (25/01) resultou em uma proposta para que líderes dos protestos que sacudiram o país façam parte do governo.

Arseni Yatsneniuk, uma das vozes mais eloquentes nas manifestações, foi convidado para assumir o cargo de primeiro-ministro. O ex-boxeador e porta-voz de grupos de direita do país, Vitali Klitschko, foi convidado pelo presidente para assumir o cargo de vice-primeiro-ministro de Assuntos Humanitários. Além de cargos do alto escalão do governo, Yanukovitch também prometeu uma revisão da Constituição do país.

O objetivo, afirma oficialmente o governo da Ucrânia, é frear a grave crise política e social que atinge o país. Segundo informações do portal RT, o presidente ucraniano também considera a possibilidade de renunciar o seu posto.
 
A onda de manifestações na Ucrânia começou com a recusa do presidente Viktor Ianukovich de assinar um tratado de associação comercial com a União Europeia. Grupos de direita se rebelaram contra a decisão e tomaram praças da capital Kiev. Os manifestos e confrontos resultaram, até agora, em cinco mortes e mais de 100 detenções.
 
O impasse, no entanto, se agravou esta semana, com confrontos entre a polícia e manifestantes. Líderes pró-UE contrários ao governo ucraniano chegaram a dar um ultimato para o presidente Yanukovitch pedindo eleições antecipadas para o país.

Com a proposta de um governo de coalização, a expectativa do presidente Viktor Ianukovich é que os ânimos se acalmem e uma nova plataforma de governo seja anunciada.
 
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POR QUE A SÍRIA PODE INCENDIAR O ORIENTE MÉDIO

 


Immanuel Wallerstein descreve o caos geopolítico da região e alerta: “não há mais controle; será preciso sorte, para evitar uma explosão”
 
Immanuel Wallerstein – Outras Palavras - Tradução: Antonio Martins - Imagem: Henri Rousseau, Guerra (1894)
 
Houve um tempo em que todos, ou quase todos os atores no Oriente Médio, tinham posições claras. Era possível antecipar, com alto grau de êxito, como este ou aquele ator reagiria a qualquer fato novo. Este tempo passou. Se examinarmos a guerra civil na Síria, perceberemos rapidamente não apenas que cada ator estabelece para si mesmo um largo leque de objetivos, mas também que cada um está envolvido em debates internos ferozes, sobre que posição deveria adotar.
 
No próprio interior da Síria, a situação oferece três opções básicas. Há quem apoie, por diversas razões, a manutenção do regime hoje no poder. Há os que desejem a chamada “solução salafista, na qual alguma forma de regime da sharia islâmica se estabelece. E existem os que não querem nenhum destes desfechos, preferindo uma solução em que o regime de Assad é derrubado mas não se instala, em seu lugar, um regime salafista.
 
Esta é, claro, uma imagem muito simples, mesmo como descrição das posições dos atores internos. Cada uma desta três posições básicas é apoiada por diferentes atores (poderíamos chamá-los de sub-atores?), que debatem consigo mesmos sobre as táticas que seus partidários deveriam adotar. Claro, o o debate sobre táticas na luta é também um debate sobre o desfecho preciso desejado por cada sub-ator. No entanto, este triângulo de atores, cada um com múltiplos sub-atores, cria uma situação em que há uma constante revisão de alianças locais, que é difícil de explicar e cujas resultantes são difíceis de prever.
 
Os dilemas não são menores entre os atores não-sírios. Vejamos os Estados Unidos, que já foram o gigante da arena, e hoje são vistos amplamente como um país em grave declínio e, portanto, sem muitas opções positivas. Até o fato de admitir isso é polêmico, nos Estados Unidos. O presidente Obama é severamente pressionado por alguns sub-atores, para fazer “mais”; e, por outros, para fazer “menos”. Este debate está presente até mesmo em seu círculo de assessores mais íntimos, para não falar do Congresso e da mídia.
 
O Irã enfrenta o dilema de como melhorar suas relações com os Estados Unidos (e também com a Turquia e mesmo a Arábia Saudita) sem reduzir seu apoio ao regime sírio e o Hezbollah. O debate interno sobre as táticas a adotar parece tão intenso e em tom elevado quanto nos Estados Unidos.
 
A Arábia Saudita deseja apoiar os grupos muçulmanos amigos, na Síria, sem fortalecer os que são ligados à Al Qaeda, e querem a queda do regime saudita. O governo de Riad teme cometer um erro capaz de fortalecer a causa dos que desejam que o impasse se espalhe em suas fronteiras. Por isso, procura pressionar o governo dos EUA para que execute seus objetivos. Ao mesmo tempo (e tão secretamente quanto possível) conversa com os iranianos. Não é uma jogada muito fácil…
 
O regime turco, que agora tem seus próprios problemas internos, foi primeiro um apoiador do regime sírio; mais tarde, um opositor feroz; e hoje parece não ser nem uma coisa, nem outra. Procura retornar à antiga posição de uma Turquia pós-otomana que era um amigo poderoso de todo mundo.
 
Os curdos, ao buscarem a máxima autonomia (se possível, Estado independente de fato) travam negociações difíceis com todos os quatro Estados em que há populações curdas expressivas – Turquia, Síria, Iraque e Irã.
 
Israel não pode decidir de que lado realmente está. É contra o Irã e o Hezbollah, mas até há dois anos tinha relações muito estáveis com o regime do partido Baath, na Síria. Se apoiar os oponentes do regime sírio, arrisca-se a construir um regime pior, de seu ponto de vista. Mas para enfraquecer o Irã e o Hezbollah, não pode ser indiferente ao papel que o regime de Damasco joga, ao facilitar relações de proximidade entre o Irã e o Hezbollah. Por isso, Israel ora é verborrágico, sem consistência real, ora mantém-se calado.
 
Debates internos perturbam todos os Estados não-árabes que têm algum interesse na região: Rússia, China, Paquistão, Afganistão, França, Grã-Bretanha, Alemanha e Itália, para começar.
 
É um caos geopolítico, algo que exige, de cada um dos atores, manobras muito astutas, para não cometer erros desastrosos para seus próprios interesses. Nesse turbilhão de alianças – das globais às muito locais – em constante movimento, muitos grupos e sub-grupos consideram útil, taticamente, ampliar a escalada da violência.
 
A guerra civil síria é, no momento, o locus, do maior volume de violência no Oriente Médio e há poucas razões para esperar que ela cesse. Começou, ao contrário, a se espalhar pelo Líbano e Iraque, em particular. A maior parte dos atores teme que a difusão da violência, além de chocante, possa ao final ferir seus interesses, ao invés de promovê-los. Por isso, muitos atores procuram, de diversas maneiras, restringi-la. Mas poderão fazê-lo?
 
Quando o Exército de Libertação Popular marchou sobre Xangai em 1949 e estabeleceu um governo comunista, teve início nos Estados Unidos um debate enorme – e fútil. Foi focado no tema “Quem perdeu a China?”. Era como se a China fosse algo que outros pudessem perder. É provável que, muito em breve, haja debates em muitos países, sobre “Quem perdeu a Síria”. Na verdade, todos estes atores têm capacidade muito limitada de influir sobre os desfechos. O Oriente Médio está ficando fora de controle e precisaremos de sorte para evitar uma explosão.
 

Portugal: ACABEM COM AS PRAXES

 

Balneário Público
 
Seis jovens estudantes morreram num alegado ato de praxe universitária. Uma onde gigante e inesperada arrastou sete estudantes para o mar quando estavam no areal, muito pouco distanciados da linha de rebentação. Ocorreu na praia do Meco – aldeia próxima da praia onde os estudantes alugaram casa para passarem dois ou três dias e aí cumprirem as praxes reservadas aos caloiros. Seis deles eram caloiros, o sétimo estudante pertencia à denominada Comissão das Praxes. A lamentar são as seis mortes na flor da vida. Seis jovens promissores que iniciavam o caminho da universidade e de um melhor futuro. Vai daí tiveram de se submeter às praxes. Eis o resultado. Resultado terrível porque o uso e abuso das praxes vai muito para além do admissível. Vezes demais, apesar de alegadamente dizerem que é “uma tradição e uma brincadeura”, ultrapassa e viola os Direitos Humanos. Vezes sem conta os jovens praxados são humilhados. Pior ainda quando as “brincadeiras” conduzem à morte e a outro tipo de acidentes graves. Diz a Wikipédia sobre as praxes universitárias: “A praxe rege-se, de acordo com os seus promotores, por códigos aprovados por grupos restritos da comunidade estudantil1 . Os promotores da praxe afirmam que se trata de uma forma de integração, já que, através da praxe, os novos alunos conhecem os estudantes mais velhos que os podem ajudar ao longo da sua vida académica, e os colegas do seu próprio ano, contribuindo para novas amizades. As práticas associadas à praxe revelam, porém, em muitos casos, o exercício de formas de humilhação e de agressão física e psicológica a que os novos estudantes se submetem, entre outras razões, pelo receio que têm da da sua ostracização pela comunidade. Estas práticas que conduziram, nalguns casos, à morte ou a danos físicos graves irreversíveis a caloiros, que levaram à abertura de processos-crime, têm sido objeto de forte contestação e gerado enorme polémica.” Acreditemos que aqui acabámos de ler e tomar conhecimento do essencial. Que se termine com as praxes e que sejam os próprios univertários a tomar tal decisão. Isso seria muito melhor que qualquer lei repressora e, naturalmente, convite à contestação e à desobediência. Desse modo os universitários demonstrariam maior e melhor consciência de humanidade. Um caloiro é um estudante como outro qualquer. É, principalmente, uma jovem pessoa que merece todo o respeito dos estudantes mais “velhos”. Todo o respeito ao darem-lhes as boas vindas e na sua integração na universidade. Em memória às vítimas das praxes, acabem com estas estúpidas e perigosas praxes.
 
Robles Neto
 
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Portugal: OS SUCESSOS E A ESCRAVATURA

 

Triunfo da Razão
 
A ministra das Finanças em entrevista à TVI não escondeu a satisfação perante os pretensos sucessos do Governo, designadamente a redução do défice (abaixo do valor estipulado pela troika), mas afasta para já qualquer redução de impostos. O esforço é para continuar - se insistirmos nesta linha de governação vamos ouvir estas palavras durante décadas.

Em bom rigor, a dívida (privada e soberana) não dá sinais de apaziguamento. Pelo contrário, a dívida encarna uma forma de escravatura que nem sequer é nova. Continuaremos a ser escravos, sem que isso incomode sobremaneira o Governo.

Por outro lado, a redução do défice não é dissociável do "enorme" aumento de impostos a que os portugueses foram sujeiros.

O que resta é um país destroçado, apático e sem esperança. Os custos do "ajustamento" são considerados pela senhora ministra como sendo particularmente difíceis, ela conhece quem passe por essas dificuldades - "tem amigos e família". Em Portugal não se vive em paz: muitos vivem um tormento interior que não raras vezes se transforma num verdadeiro paroxismo. Tudo em prol de uma dívida impagável e que por ser impagável vai permitir a perpetuação da escravatura que tanto convém a alguns.

Ana Alexandra Gonçalves
 
Leia mais em Triunfo da Razão
 

Portugal: A DESTRUIÇÃO DA CLASSE MÉDIA

 


Eduardo Oliveira Silva – jornal i, opinião
 
Está a desaparecer uma fatia da população, enquanto uma pequena parcela acumula riqueza e pouco contribui para o colectivo
 
Há muito que a classe média é o motor da sociedade moderna. É na sua capacidade criativa e de produção de riqueza que assenta o desenvolvimento e foi a sua implantação que permitiu o crescimento do consumo e dos grandes negócios.
 
Além disso, a existência da classe média foi geradora do desejo de mobilidade e ascensão social por parte das classes mais baixas que a ela se guindavam, nomeadamente por via da educação, essa superior forma de progresso.
 
Apesar destes factos incontroversos, é hoje sobre a classe média (que concentra o dinheiro mais limpo e colectável) que se abatem as sucessivas medidas de austeridade decretadas pelos governos, deixando desprotegida uma população essencial que empobrece todos os dias, trabalhadores quer do Estado quer do privado ou sobretudo reformados.
 
Esta perseguição faz com que haja pessoas que viram pensões da Segurança Social que há quatro anos andavam nos 2400 euros ser objecto de um confisco de 500 euros mensais, por via de cortes sucessivos iniciados no tempo de Sócrates completados pela famigerada CES (outro imposto) e uma revisão em alta do IRS, isto para não falar do aumento do custo de vida e de todas as taxas e impostos possíveis.
 
É na franja que vai dos mil aos dois mil e quinhentos euros de rendimento líquido que se encontra boa parte do número de trabalhadores activos, comerciantes e reformados que efectivamente contribuíram durante uma vida inteira, fazendo os seus descontos, a que se juntaram os das empresas.
 
É exactamente por isso que hoje se chegou a um ponto em que não é possível sacrificar mais esta faixa da população, porque já não há equidade.
 
Quem ganha muito bem e trabalha para outrem já prefere reduzir salários e investir em PPR privados, o que é um dos objectivos de qualquer governo liberal como o actual. Mas isso vai agravar ainda mais as contas da Segurança Social, que agregam milhares de pensionistas que pouco ou nada descontaram. Como é evidente, ao Estado compete dar esse apoio assistencialista e humanitário, mas o propósito não deve ser obtido à conta de quem teve uma vida contributiva estável e longa, criando riqueza e assegurando apoio às gerações mais novas. Não colhem os exemplos demagógicos que usam certos governantes para legitimar cortes, alegando que deixam de fora 87% dos pensionistas, pois isso é dizer que há 13% que suportam tudo, o que é praticamente um atentado a direitos humanos e reconhecer que os restantes vivem abaixo do limiar da pobreza.
 
Evitar a destruição da classe média que já não está activa, da que persiste em ficar por cá e da que é obrigada a fugir para o exterior, é o maior desafio para Portugal e a Europa nos próximos tempos.
 
Para conseguir, é necessário entrar numa fase de crescimento económico, mas também ir buscar contributos ao capital especulativo que faz dinheiro sobre dinheiro sem criar postos de trabalho e riqueza ao nível do cidadão, enquanto milhares de milhões se deslocam de um ponto para outro à velocidade da luz.
 
Se assim não for, deixará de existir classe média, sobrando uma massa proletarizada que interessará enquanto for consumindo algo para comer e comprar mais um conjunto de coisas electrónicas normalmente inúteis, para gáudio das 85 personagens que, segundo um relatório sobre a desigualdade publicado a propósito da reunião de Davos, acumulam 1,7 mil milhões de dólares, tanto como metade da população do mundo, ou seja, 3,5 mil milhões de pessoas.
 

Portugal: CORTAR NA SAÚDE MATA

 


Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião
 
Em entrevista à RTP, José Clemente, director do Serviço Urgência na Hospital Garcia de Orta EPE, afirmou que o caos que se vivia nas urgências do hospital que dirige não se devia a uma ruptura decorrente dos cortes que o governo impôs. Instado a aventar causas para o problema, o director do serviço acossado culpou os velhos por se sentirem doentes e os jovens médicos por demorarem muito tempo com os doentes. Disse-o certamente por outras palavras, temperadas por um bom lugar de remuneração acrescida, mas foi este o sentido da sua intervenção. Curiosamente (ou talvez não) a entrevista depois de ser muito partilhada nas redes sociais saiu dos arquivo online da RTP.
 
Não sei se Clemente é médico de carreira ou um daqueles gestores liquidatário dos serviços públicos, mas o que fica claro em poucos minutos de entrevista é que é incapaz de gerir as pessoas que dirige e de respeitar as pessoas que serve. Incomodar publicamente quem fala assim é, não apenas, um dever de cidadania mas também uma forma de denunciar quem publicamente desprestigia os seus colegas e humilha os que merecem os últimos anos de vida que lhes estão a tirar.
 
O que se passa nos hospitais públicos, sobretudo com os doentes mais velhos, deve envergonhar-nos a todos. Não há conversa de café que substitua a denuncia pública.
 
Permanecer calado transforma-nos em colaboracionistas.
 
Escreve ao sábado
 

Portugal: Ana Drago demite-se da Comissão Política do Bloco de Esquerda

 


Mesa Nacional do partido reuniu-se hoje para discutir a situação política actual e as próximas eleições europeias, a realizar a 25 de Maio
 
Ana Drago demitiu-se da Comissão Política do Bloco de Esquerda na reunião da Mesa Nacional, realizada este sábado, apurou o i. A militante demitiu-se devido a divergências com a direcção do partido por esta ter rejeitado um debate com outros movimentos de esquerda para um processo de convergência que resultasse numa candidatura única às eleições europeias.
 
A demissão da militante já foi confirmada por fonte oficial do partido, mas remeteu as explicações para Ana Drago.
 
O i tentou contactar Ana Drago, mas não possível obter uma declaração. No entanto, a militante bloquista, numa carta enviada à Agência Lusa e que foi já entregue aos membros da Mesa Nacional, justificou: “As dificuldades processuais dessa candidatura eram várias, e relevantes. Contudo, um modelo de articulação não chegou sequer a ser equacionado – a direção política do Bloco de Esquerda não se mostrou disponível para iniciar um debate programático com alguns dos possíveis participantes nessa convergência. Com essa exclusão antes mesmo de se debater um programa conjunto para as eleições europeias, a possibilidade de uma candidatura alargada fracassou”.
 
A ex-deputada declara-se “entristecida” com a decisão de se demitir, mas sublinha que esta proposta de convergência “era um passo essencial na construção de uma alternativa de esquerda para o país”. “Por entender que a identidade, o papel e a responsabilidade histórica do Bloco de Esquerda é construir essa convergência, não posso hoje, em consciência, permanecer na Comissão Política”, explica, na sua carta de demissão.
 
“Não sei – talvez não saibamos sobre nós próprios – se terei o discernimento e a capacidade de construir uma solução de esquerda para o país. Mas sei hoje, claramente, que não quero fazer parte do problema”, sublinha.
 
Recorde-se que, o BE reuniu hoje, em Lisboa, a Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre convenções, para discutir a situação política actual e as próximas eleições europeias, a realizar a 25 de Maio.
 
O partido foi desafiado recentemente pelo manifesto 3D para uma candidatura conjunta ao sufrágio de Maio.
 
O Bloco de Esquerda tem prevista uma conferência de imprensa para hoje, às 17h00, onde a coordenadora Catarina Martins apresentará os principais resultados da reunião da Mesa Nacional.
 
jornal i
 

SNOWDEN DIZ QUE CHEFES DA NSA DEVEM PAGAR POR PRÁTICAS ILEGAIS

 


Num bate-papo com internautas, ex-colaborador do serviço secreto defende punição para responsáveis pela espionagem e diz que leis dos EUA impedem que ele retorne e tenha um julgamento justo.
 
"Pergunte a Snowden." A hashtag #asksnowden foi destaque durante toda esta quinta-feira (23/01) no serviço de mensagens curtas Twitter. Pessoas de todo o mundo encaminharam perguntas ao ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden, que atualmente está exilado na Rússia.
 
A primeira questão foi lançada pela internauta @savagejen, do Texas, nos EUA, que se identificou como hacker mommy. "Você acha que a nossa democracia pode se recuperar dos danos que a espionagem da NSA causou às nossas liberdades?" A resposta veio prontamente. "Sim. O que torna o nosso país forte é nosso sistema de valores e não a situação atual de nossas agências ou a redação das nossas leis", afirmou Snowden.
 
Das centenas de milhares de mensagens que foram enviadas via Twitter, o ex-colaborador da NSA escolheu, no início, principalmente aquelas relativas à política interna dos Estados Unidos e da NSA. Questões que davam a ele oportunidade para críticas a Washington.
 
As respostas foram relativamente longas. Snowden voltou a falar na "vigilância em massa indiscriminada, na qual governos capturam bilhões e bilhões e bilhões de dados de comunicação de pessoas inocentes todos os dias". Ele argumentou que isso não é feito por ser necessário, mas apenas porque é fácil e barato, devido às novas tecnologias.
 
Além disso, o delator disse acreditar ser possível restringir a monitorização dos serviços secretos. "Podemos corrigir as leis, restringir o alcance desses serviços e processar os funcionários superiores responsáveis ​​por esses programas ilegais."
 
"Leis atuais não me oferecem proteção"
 
Quando alguém perguntou sob que circunstâncias ele voltaria aos Estados Unidos, Snowden criticou a atual lei para denunciantes, que impede que ele retorne e receba um julgamento "justo". Ele disse que retornar e receber um julgamento justo seria a melhor solução não só para si, mas também para o governo e para o público, mas as leis atuais não lhe oferecem proteção alguma.
 
O ex-colaborador dos serviços de espionagem americanos também respondeu a críticas. O internauta @MichaelHargrov1, que se descreve como um "ex-soldado do Exército, um democrata orgulhoso e defensor do presidente Obama", quis saber se Snowden "respeitou a privacidade de seus colegas" quando roubou as senhas pessoais deles. O usuário se referia a uma informação veiculada num artigo da agência de notícias Reuters.
 
No entanto, a resposta teve apenas duas linhas, tendo sido, de longe, a mais curta de todas. "Com todo o respeito a Mark Hosenball, o repórter da Reuters que publicou isso, a informação é simplesmente falsa. Nunca roubei qualquer senha nem enganei um exército de funcionários."
 
Perguntas sobre aliens
 
Além das inúmeras perguntas sérias, havia também brincadeiras. A hashtag #asksnowden foi usada para questionar Snowden sobre Justin Bieber, aliens ou o tempo. Outros queriam saber o que deveriam comer no café da manhã.
 
As respostas de Snowden foram disponibilizadas na página www.freesnowden.is. Nela, há também pedidos de doações e informações detalhadas sobre o ex-colaborador da NSA e sobre os segredos que ele revelou e que provocaram indignação em todo o mundo.
 
O endereço é da The Courage Foundation, criada para apoiar jornalistas perseguidos por causa de suas revelações. Snowden é a primeira pessoa apoiada pela fundação, que tem o fundador do Wikileaks Julian Assange entre seus apoiadores.
 
Ainda no final de 2013, o Parlamento da União Europeia havia discutido se deveria interrogar Snowden através de uma conferência de vídeo. No entanto, a iniciativa de alguns deputados não teve sucesso, porque não houve consenso sobre a forma como o interrogatório poderia ser realizado.
 
Deutsche Welle - Autoria: Greta Hamann (md) – Edição: Alexandre Schossler
 

Conexões Globais: POR QUE O BRASIL DEVERIA DAR ASILO A SNOWDEN

 


Foi consenso no debate que, se os estados nacionais pretendem obter soberania nos terrenos digitais, eles precisam oferecer proteção a Snowden.
 
Roberto Brilhante – Carta Maior
 
Porto Alegre - Nesta sexta-feira, 24/01, ocorreu como parte do Conexões Globais o diálogo “Soberania Digital e Vigilância na Era da Internet”, que reuniu figuras destacadas do debate sobre os meios digitais como Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC; Demi Getschko, considerado um dos “pais” da internet brasileira; Antonio Martins, criador do Le Monde Diplomatique Brasil e do site Outras Palavras; e David Miranda, estrategista de marketing que coordena a campanha que pressiona o Brasil a conceder asilo a Edward Snowden, ex-agente da NSA que revelou informações sobre as estratégias de espionagem do governo norte-americano e hoje se encontra exilado na Rússia, onde ainda não pode esclarecer vários aspectos de suas revelações.

David Miranda - detido em agosto de 2013 pela polícia britânica por quase 9 horas quando fazia uma escala no aeroporto de Londres - foi ovacionado pelo público em sua chegada. Reconhecido como um dos grandes nomes da luta contra a espionagem dos Estados aos usuários da internet, David tirou fotos com ativistas que gritavam palavras de ordem favoráveis à concessão de asilo a Edward Snowden por parte do Brasil.

E a tônica do debate foi justamente a necessidade de que as nações reconheçam a importância de oferecer asilo a Snowden. Todos os participantes citavam seu nome ao discutirem os aspectos técnicos e políticos da espionagem digital. Era consenso que, se os estados nacionais têm qualquer pretensão de obter soberania nos terrenos digitais, precisam oferecer proteção a Snowden e a todos os outros whistleblowers que vierem a se arriscar denunciando as mazelas dos grandes impérios e corporações.

Formas de resistência

O debate foi muito bem servido de referências técnicas para os ativistas presentes. Demi Getschko e Sérgio Amadeu ofereceram um leque de explicações sobre o modus operandi das empresas e dos impérios no mundo digital. Mas ao invés de apresentarem um cenário de trevas, mostraram que há muitas alternativas aos usuários e aos estados para que a privacidade na rede seja possível.
 
Amadeu afirmou que, se antes os EUA espionavam indivíduos suspeitos, hoje usam outra estratégia: “hoje a espionagem é massiva, é data mining, mineração de dados. É um conjunto de palavras de busca, redes sociais, e-mails, que são investigados em toda a internet. A partir disso, certos comportamentos são selecionados e investigados mais a fundo. Então, todos nós somos espionados.” A privacidade na internet é destruída com a justificativa de que isso é necessário para que se descubra quem são as “ameaças”. Mas, ameaças a quem? E o que legitima tamanho poder dos estados?

Outro ponto sob o qual Amadeu e Getschko insistiram é o de que os grandes espiões hoje não são apenas os estados, mas também as grandes corporações. O capitalismo na sua fase atual tem na informação seu grande trunfo: conhecer os desejos dos consumidores é fundamental para construir os produtos e as estratégias de marketing. As redes sociais e sites de busca se tornaram corporações gigantescas graças a coleta de informações que promovem: “se você procurou o preço de uma passagem para Porto Alegre, logo te ofereceram hotéis em todos os anúncios da internet. Coletam suas informações para oferecer o que você deve querer”, exemplificou Amadeu.

Como afirmou Sérgio, uma das formas de protesto que temos é pressionar nossos governos por “tratados internacionais contra vigilância massiva. Vocês dirão ‘nunca vão aprovar isso’, mas essa pressão é uma pedra no sapato, isso coloca os espiões na defensiva. Nós precisamos procurar os líderes dos partidos, colocar na pauta da política nacional essa questão da espionagem.”

Outra maneira de protestar é a criptografia. Amadeu falou aos presentes sobre a possibilidade de que qualquer um de nós utilize chaves criptográficas para suas mensagens. Um usuário que não usa criptografia custa aos espiões cerca de 16 centavos de dólar para que tenha suas mensagens compreendidas, enquanto um que usa criptografia custa cerca de dez mil dólares. O uso de criptografia por muitos usuários tornaria quase impossível a mineração de dados por parte das agências de espionagem.

Por que conceder asilo a Snowden

A privacidade é um dos pilares da democracia. A inviolabilidade dos espaços privados é fundamental para que cada um dos indivíduos possa elaborar suas ideias e se organizar em grupos políticos. Uma sociedade onde não há o universo privado é um lugar onde não há plena liberdade de pensamento e de associação: hoje, os inimigos são os “terroristas”, e amanhã, quem será denominado “terrorista”? Quando o estado detém um poder tão grande, ele deixa de ser legítimo e passa a ter um viés totalitário, que não serve mais aos interesses dos cidadãos, mas sim àqueles dos que detém o poder de sua máquina.

Os participantes do debate de hoje deixaram claro que, se o Brasil quer ser uma referência de desenvolvimento para os povos do mundo, este desenvolvimento não pode ser apenas econômico, mas deve ser também político. E assegurar que as potências como os Estados Unidos, Rússia e China não detenham o controle sobre todas as informações da internet é um passo que precisar ser dado. Conceder asilo a Edward Snowden seria mandar às potências internacionais a mensagem de que o Brasil não aceitará que um poder despótico sobre o mundo digital esteja nas mãos de algumas poucas nações.

E se o governo federal não sinaliza nenhum tipo de apoio a Snowden, o povo tem o feito seu papel. Uma petição online no Avaaz já possui quase um milhão de assinaturas e será em breve levada ao Congresso. O povo reconhece que a espionagem não é um voyeurismo: é uma tática de controle. Trazer Edward Snowden é uma forma de mostrar de que lado do jogo o Brasil quer estar.

Créditos da foto: Roberto Brilhante
 

O PRIMOGÉNITO, O BASTARDO E O ENTEADO

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - Que diversos grupos e associações pró-Israel gozam da oportunidade de utilizar fundos ilimitados para executarem os seus lobbys e as suas influencias nos corredores do Congresso, do Senado e da Casa Branca para influenciar a politica dos USA na região da Ásia Ocidental (conforme, aliás, referiu o ex-ministro britânico das Relações Exteriores e deputado trabalhista, Jack Straw) é algo que é conhecido da opinião publica mundial, mas quando se chega ao ponto de um dos testa-de-ferro dos sionistas no Partido Republicano, Sheldon Adelson, financiador do Great Old Party e angariador de fundos para as campanhas republicanas, afirmar que “os USA devem deixar cair uma bomba nuclear sobre o Irão para impulsionar o país e interromper o seu programa nuclear” (estas palavras foram ditas durante um discurso na Universidade Yeshiva, New York, em finais de outubro de 2013) já estamos no domínio da esquizofrenia e do delírio absoluto.    
 
A política de diálogo encetada pelo Irão após a eleição do actual presidente Rohani foi bem recebida por quase todo o mundo, sendo Israel a única excepção. O recente acordo em torno da questão nuclear iraniana não agradou aos sionistas, que intensificaram a guerra de propaganda anti-iraniana na indústria mediática e nos corredores do poder nos USA. O que os sionistas pretendiam era que os USA e a OTAN atacassem o Irão, destruindo a sua economia e que na resposta, o Irão atacasse as bases militares norte-americanas na região e afectasse as instalações petrolíferas no Golfo, o que representaria uma crise mundial. 
 
Se examinarmos o contexto da supremacia militar israelita no Medio-Oriente concluiremos que desde a sua proclamação como Estado, Israel bombardeou, invadiu e ocupou mais países na região, que o poder colonial britânico ou francês. A lista das vítimas de Israel inclui a Palestina, a Síria, o Líbano, o Iraque, a Jordânia, na região, o Iémen, o Sudão, a Etiópia, o Uganda e o Egipto, em África, mais uma boa dezena de países da Europa, da América e da Ásia se considerarmos as operações clandestinas da MOSSAD.
 
A supremacia militar sionista corresponde á imunidade quase total que é garantida pelo chapéu-de-chuva norte-americano e baseia-se nas transferências de tecnologia nuclear, química e biológica com os USA, para além das novas tecnologias aplicadas á guerra e á espionagem e ao desenvolvimento da indústria da segurança (liderada por Israel, principalmente nos equipamentos eletrónicos de vigilância e deteccção). A transferência de tecnologia entre os USA e Israel ronda os 100 mil milhões de dólares durante os últimos cinquenta anos. Este pilar da supremacia militar israelita converteu alguns países da região (Egipto e Jordânia) em clientes do consórcio Israel/USA e em seus aliados de facto, conjuntamente com as monarquias do Golfo. 
 
Mas o factor mais decisivo na consolidação do poder bélico sionista foi a utilização dos seus agentes no interior dos USA. Esta influência não se limita a ser meramente política, ou um lobby de influência económica e diplomática. Tem muito maior extensão e está por detrás do comportamento dos USA após o 11 de Setembro de 2001. As guerras movidas ao Iraque, á Líbia e á Síria tiveram como objectivo a destruição de três grandes oponentes históricos às políticas hegemónicas sionistas.
 
A acumulação do poder militar israelita na região permite-lhe estender a colonização dos territórios palestinianos para Este. Mas para concretizar esta política colonial, a elite sionista necessita de remover um último obstáculo. Agora que a crise foi implementada na Síria, deixando este país incapaz de exercer qualquer influência na região (a não ser pelo desenrolar da sua própria crise interna e pela forma como o processo sírio afecta toda a área limítrofe). Aliás é bom não esquecer que a agressão á Síria foi desencadeada com o objectivo de atingir o almejado obstáculo às pretensões colonialistas sionistas: o Irão
 
II - A campanha de Israel contra o Irão iniciou-se logo nos primeiros momentos da Revolução Iraniana. Campanhas mediáticas de desestabilização, assassinatos, guerra informática, ataques a laboratórios iranianos e estrangulamento económico, foram armas do vasto arsenal sionista, utilizadas neste processo longo, de duas décadas, contra o Irão.      
 
O mapa sionista de cerco ao Irão foi meticulosamente desenhado e cada passo, fase e etapa, cuidadosamente analisados. Em 2003 a guerra contra o Iraque iniciou a primeira fase da operação de cerco e aniquilamento da nação iraniana. A segunda fase foi precedida de uma campanha terrorista de desestabilização no Líbano (em 2006), com o objectivo de destruir o Hezbollah. Veio depois a agressão á Síria, como forma de isolar o Irão, com o fim de prepara-se a “ofensiva final” contra este país.
 
A campanha de 2006 contra o Hezbollah no Líbano foi um fracasso, que para ser colmatado terminou com a destruição de grande parte de Gaza, em 2008 e 2009, transformando-a na maior prisão ao ar livre do mundo. Mas este procedimento de Israel revelou, em simultâneo, um erro de leitura (o mesmo fora anteriormente cometido pela CIA no seu trabalho com os grupos islâmicos): ao atacar Gaza e o Hamas, perante o falhanço da ofensiva contra o Hezbollah, Israel perdeu uma oportunidade de explorar as divisões ideológicas profundas entre os dois movimentos, desperdiçando as células sunitas, que seriam aliadas fundamentais no combate ao Hezbollah (aliás essa leitura parece ter sido rectificada, se atendermos á campanha terrorista que decorre actualmente no Líbano, nas praças fortes do Hezbollah).
 
Evidente que Israel não tem capacidade militar para levar a cabo uma guerra contra o Irão. A aposta das elites sionistas reside no trabalho de bastidores em Washington, manipulando e influenciando sectores das facções democratas e republicanas instalados no Congresso, Senado e Casa Branca e financiando uma campanha mediática que coloque a opinião pública internacional de acordo com uma eventual operação militar contra o Irão. Nesta vertente a estratégia israelita foi desenhada em função de uma confrontação militar que envolvesse os USA e a OTAN.           Na administração Bush (2001 a 2008) os principais agentes sionistas no seio da administração norte-americana foram: no Pentágono, Paul Wolfowitz e Douglas Feith (ideólogos da “luta contra o terrorismo”, sendo Wolfowitz, um ex-trotskista, um dos ideólogos do neo-conservadorismo norte-americano e ideólogo do Partido Republicano); nos Assuntos de Segurança para o Medio Oriente, Martin Indyk e Dennis Ross); no gabinete do vice-presidente, Scooter Libby; no Tesouro, Levey e no Departamento de Segurança Nacional, Michael Chertoff.
 
Na administração Obama algumas figuras das cartas foram alteradas, sendo actualmente: Dennis Ross (que mantem-se nos Assunto de Segurança para o Medio Oriente), acompanhado por Rahm Emanuel e David Cohen; no Tesouro Jake Lew e no Comércio, Penny Pritzke (Secretário do Comércio) e Michael Froman (representante dos assuntos comerciais externos). A estes há que juntar congressistas e senadores.    
 
Só assim se compreende que a Secretaria de Estado do Tesouro dos USA tenha imposto sanções contra o comércio lucrativo no Irão, Iraque e Síria, privando os agricultores e exportadores norte-americanos de mais de 500 mil milhões de USD de facturação (devendo aqui ser incluídos os sectores industriais ligeiros, os sectores das novas tecnologias e comunicação e as próprias companhias petrolíferas). Os lobbys israelitas nos USA impediram que o Departamento de Estado tenha efectuado relações estratégicas, comerciais e politicas, com mais de um milhão e meio de islâmicos, muitas vezes sacrificados em apoio á colonização de Jerusalém e da Cisjordânia e do isolamento da Faixa de Gaza. 
 
Estes dados obrigam a uma pergunta: Porque suporta a elite norte-americana esta relação unilateral com Israel, sendo Israel um pais que ultrapassa em muito o âmbito de país aliado ou de estado-cliente e ultrapassando as relações de subserviência própria de um estado-satélite?
 
III - O governo iraniano, pelas vozes do seu presidente e do ministro das Relações Exteriores, está disposto a negociar o fim das hostilidades com os USA e fez grandes concessões, estabelecendo garantias para o uso pacífico da energia nuclear, declarando-se abertos á redução da produção de uranio enriquecido e a inspecções. Lady Ashton, a secretária das Relações Exteriores da União Europeia mostrou-se favorável á proposta iraniana, enquanto dos USA chegavam sinais contraditórios.
 
Enquanto algumas vozes da administração norte-americana apoiavam, mais ou menos moderadamente o acordo, Jack Lew, o secretário do Tesouro defendia que as sanções deveriam permanecer até o Irão ter cumprido as exigências dos USA. Por sua vez o Congresso rechaçava as propostas do Irão, insistindo nas “opções militares”, que implicavam o total desmantelamento do programa nuclear iraniano e aprovou um novo pacote de sanções contra o Irão.
 
Esta posição do Congresso era transversal aos congressistas democratas e republicanos e é consequência do PAC (Comité de Acção Politica), um comité pró-sionista, autorizado pelo Supremo Tribunal em 2010, a apoiar candidatos pró-israelitas e a financiar as suas campanhas eleitorais. Dos 435 membros da Camara dos Representantes dos USA, 219 foram apoiados pelo PAC. Os números são muito mais drásticos no Senado: dos 100 senadores que o compõem, 94 viram as suas campanhas financiadas pelo PAC.
 
O senador Mark Kirk (conhecido pela seu slogan: “Bombas sobre Teerão!”) encabeça a lista de financiamentos do PAC, com 925 mil USD recebidos, seguido de John McCain (que defende “Bombas sobre Damasco!”), com cerca de 770mil USD. Outros senadores, que a coberto pela legislação que regula os lobbys, tem recebido avultadas quantias do PAC são: Mitch McConnel, Carl Levin, Robert Menéndez e Richard Durban.
 
Na Casa dos Representantes a congressista da Flórida, Ileana Ros-Lehtinen – republicana conhecida pelas suas posições de “falcão”, belicistas, que fazem Netanyahu parecer uma “pomba” - lidera a lista dos “amigos de Israel”. Acompanham-na Eris Cantor (republicano), Whip Steny Hoyer (democrata) e John Boehner, líder dos republicanos no congresso.  
 
Segundo Grant Smith, que conduziu uma investigação às actividades da PAC e da Anti-Defamation League (ADL), o Departamento de Justiça nega-se, desde 1963, a fazer cumprir as leis federais que recaiam sobre cidadãos norte-americanos que estejam a trabalhar no próprio pais para um país estrangeiro, registados como representantes estrangeiros. Por sua vez a ADL pressionou e pressiona o Departamento de Justiça, o FBI e a NSA para investigar cidadãos norte-americanos críticos da colonização sionista e da situação vivida nos territórios ocupados.
 
O norte-americano Steve Lendman investigou a indústria mediática e as suas ligações com Israel. Importantes personalidades da comunicação social norte-americana (jornalistas, redactores, repórteres, etc.), geralmente considerados “profissionais imparciais” têm fortes laços a Israel, sejam familiares, financeiros, políticos ou outros, acabando por realizar intensas campanhas de propaganda e de imagem a favor do colonial-sionismo.
 
Através da investigação de Lendman ficamos a saber que, por exemplo, a conceituada repórter do Times, Isabel Kershner (cujas reportagens parecem ser produções do Gabinete das Relações Exteriores de Israel), é casada com Hirsh Goodman, assessor para assuntos de segurança, do gabinete de Netanyahu. O chefe do escritório da Times em Jerusalém, Jodi Rudoren, vive numa casa de uma família palestiniana desalojada, nessa cidade histórica. Talvez fique assim parcialmente explicado a postura da Times a favor de Israel. Nas exemplos destes podem ser encontrados no New York Times e no Washington Post, o que explica a preocupação demonstrada por estes dois jornais perante o acordo com o Irão.
 
Quando o ex-chefe da Inteligência militar israelita, Amos Yadlin, refere que o seu país tem de escolher entre “a bomba e o bombardeamento”, acrescentando que “os nossos amigos nos USA têm um papel decisivo nessa decisão” ou o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, assume publicamente que “Israel não aceitará que o Irão enriqueça mais uranio”, e apela á “opinião pública norte-americana e aos seus legisladores”, que “tragam a Casa Branca á razão” definem a posição que querem ver assumida pela indústria mediática e pelos congressistas, senadores e outros políticos financiados pela PAC.
 
Mas existem também outras preocupações para Israel. Para contrabalançar a operação de estrangulamento da sua economia, o Irão ofereceu generosos contratos às petrolíferas ocidentais, removeu anteriores disposições legais sobre investimento estrangeiro e permitiu que as companhias ocidentais passem a ter participação nos projectos iranianos, ao mesmo tempo que lhes abriu a exploração nas áreas de reserva petrolífera e de gás natural. Desta forma os iranianos esperam atrair cerca de 100 mil milhões de USD em investimento estrangeiro nos próximos três anos.
 
O Irão conta com a maior reserva de gás do mundo e com a quarta maior reserva de petróleo, mas devido às sanções impostas pelos USA a produção caiu de 3mil e 500 milhões de barris por dia (2011), para 2 mil e 500 milhões (2013). Com a abertura aos capitais externos o Irão tenta repor os seus níveis anteriores de produção e reposicionar-se na economia-mundo. É evidente que estas medidas, por si só, não serão suficientes para uma alteração estratégica dos USA, mas é preciso entender que a actual situação económica e financeira dos USA obriga a administração Obama a negociar.
 
Os sionistas têm o seu mapa desenhado e para a elite sionistas um Irão economicamente estável a prosseguir uma adequada política de desenvolvimento afasta-se dos seus objectivos e não se encontra nos seus planos para a região. Além do mais um Irão democrático e independente representará um duro golpe para a imagem sionista de Israel, que ambiciona ser (em exclusivo) a única grande “potência democrática” do Médio Oriente. Senão como ficaria o “Povo Eleito” e os seus aliados antissemitas da indústria petrolífera norte-americana, aqueles que estabelecem a ponte entre a “democracia do Povo Eleito” a “democracia do Tio Sam” e as “monarquias do Golfo”?
 
E como ficarão os importantes investimentos (realizados a partir da transferências de capitais do sector petrolífero) nas “tecnologias da segurança”?
 
Decididamente, para os sionistas, os seus agentes nos USA e os seus aliados do Golfo, um Irão reposicionado na economia-mundo não serve para nada…a não ser para “estragar o negócio!”    
 
IV - Contrariamente a Israel, o Paquistão (que é um aliado de peso na região) não tem grande influência nos corredores da administração norte-americana. E pode-se, até, considerar que as relações entre ambos os Estados encontram-se numa fase de degradação, se atendermos á forma como os USA se livraram de Bin Laden, no território paquistanês, sem consultar (pelo menos oficialmente) as autoridades paquistanesas. Este resfriar de relações entre dois estados que outrora praticaram de forma exímia os papéis de amo e lacaio é pressentido num comunicado do Ministério da Defesa do Paquistão, onde se refere mais de 300 ataques dos USA em território paquistanês, efectuados por drones (os aviões não tripulados), desde 2008. Segundo o mesmo comunicado estes ataques eliminaram cerca de 2 mil combatentes islâmicos e perto de 70 civis.   
 
Apesar das palavras ressentidas deste lacónico comunicado, os habitantes das áreas mais afectadas pelas operações norte-americanas (nas regiões fronteiriças com o Afeganistão, a norte) consideram que o Ministério da Defesa Paquistanês está muito longe da realidade e acusam os seus governantes de estarem a escamotear os factos, exigindo que os meios de comunicação passem as imagens e divulguem os nomes das vítimas. Os residentes das Administrações Federais das Áreas Tribais (FATA), fronteiriças com o Afeganistão (a área mais afectada pelos bombardeamentos norte-americanos), iniciaram um movimento de protesto divulgando os nomes das baixas civis, vitimadas pelos drones.
 
Embora alguns dos líderes dos combatentes islâmicos talibãs e da Al-Qaeda tenham sido eliminados pelos drones (Nek Mohammad Wazir, Baitullah Meshud e Hakeemullah Meshud), os ataques não tês surtido efeito noas movimentações dos Talibã e da Al-Qaeda na região. Depois de 2001 muitos combatentes Talibã estabeleceram bases no território paquistanês, principalmente no Wazirstão, região que actualmente palco de ataques norte-americanos, utilizando os drones. O problema é que quem mais sofre com estes ataques são as populações, sendo rara a família que já não tenha perdido um ente querido, vitima das operações norte-americanas.
 
Um dos partidos políticos paquistaneses que aderiu a este movimento contra os bombardeamentos norte-americanos na região é o Pakistan Tehreek Insaf (PTI) liderado pelo jogador de cricket Imran Jan. Segundo o PTI mais de mil e quinhentos civis paquistaneses foram mortos pelos drones. O PTI governa a provincia de Jyber Pajtunjwa (de maioria tribal Patjun) e implementou uma acção de bloqueio às vias que servem de passagem para a rede logística das bases da NATO instaladas no Paquistão. O PTI acusa o governo central de aceitar os argumentos de Washington e exige que os governantes paquistaneses devem suspender as relações com os USA, até estes pararem os bombardeamentos.    
 
Esta questão agravou-se quando em finais de Novembro do ano passado, um ataque com um drone, no distrito de Hangu, na provincia de Jyber Patjunjwa provocou a morte a quatro estudantes de um seminário islâmico. A população acusa os norte-americanos de estarem a levar uma campanha de genocídio. Muitas comunidades são obrigadas a mudarem de local de residência e acusam o governo central de nada fazer em relação aos combatentes islâmicos, que percorrem livremente toda a região, perturbando as comunidades que aí residem e de não impedirem a actuação dos norte-americanos. As comunidades acusam também o Afeganistão, país de onde os drones deslocam, a partir da base aérea de Bagram.
 
São aliados pobres, os paquistaneses, que não conseguem exercer lobbys que agraciem senadores, congressistas e funcionários da Casa Branca, nem pagar almoços, jantares e arranjar bons casamentos com os jornalistas.
 
V - Um terceiro aliado dos USA é a Arábia Saudita. Este é um aliado rico, que tem os seus corredores específicos dentro da administração, embora não tão cuidado como Israel. Pode não influenciar jornalistas, mas é parceira de ex-presidentes em diversas sociedades comerciais e no sector petrolífero.
 
 A Arábia Saudita jogou um papel crucial na criação e sustentabilidade dos grupos terroristas sunitas, durante os últimos 30 anos. Os USA e a NATO podem desenvolver as suas concepções de “guerra ao terrorismo”, que os sauditas e as monarquias do Golfo continuam a assumir o seu papel de financiador aos grupos terroristas sem qualquer restrição.
 
Num documento da Comissão do 11 de Setembro, ficou estabelecido que Bin Laden não financiou a Al-Qaeda desde 1994 (parece que o homem deixou de ter dinheiro para essas aventuras) passando esse papel para os seus familiares da casa real saudita. Uma análise efectuada pela CIA, em Novembro de 2002, concluía que as monarquias do Golfo e em particular a Arábia Saudita financiavam todas as estruturas da Al-Qaeda. 
 
Os USA podem levar a “guerra contra o terrorismo” ao Afeganistão, ao Iraque, á Líbia, á Síria e a outros países, que os seus aliados sauditas continuam a financiar aqueles que os norte-americanos pretendem eliminar. Os drones dos USA podem bombardear em grande escala o Paquistão, o Afeganistão e as aldeias do Iémen, que os sauditas estão lá para financiar os aparentes inimigos dos seus amigos ocidentais. Este facto foi oficialmente reconhecido pela administração norte-americana, em 2009, quando Hillary Clinton enviou às embaixadas norte-americanas um telegrama sobre “finanças terroristas”, onde é referido o suporte financeiro saudita á Al-Qaeda e aos talibãs do Lashkar-e-Taliba, no Paquistão. 
 
Os sauditas não estão sós nestas operações de financiamento, sendo secundadas pelo Koweit (aquele pequeno país que os iraquianos ocuparam, durante o regime de Saddam e que os norte-americanos e a NATO fez questão de “libertar”. A máquina propagandista esforça-se por fazer crer que o Irão dos aiatola e o Iraque de Saddam financiavam os terroristas islâmicos, mas não conseguiram esconder o óbvio.
 
As evidências eram apenas a ponta visível do icebergue. Criada nos laboratórios da CIA, inicialmente para combater os soviéticos no Afeganistão, a Al-Qaeda assumiu, com o tempo, dois objectivos centrais: A desestabilização (realizando ataques terroristas indiscriminados, em diversas regiões do globo, para permitir as intervenções dos USA e da NATO, ou acções no Ocidente com o intuito de fazer aprovar comportamentos de controlo e de aumentar a capacidade de domínio das elites sobre as relações democráticas históricas instaladas nas sociedades capitalistas mais avançadas, de forma a restringir as liberdades civis e a evitar que a democracia ultrapasse o plano politico e se instale a nível económico e social) e o combate aos xiitas no mundo islâmico. Nesse sentido a Al-Qaeda comporta dois tipos de operacionalidade, uma representada por Bin Laden e pelas cúpulas da rede, que se preocupa essencialmente com o Ocidente e a outra representada pelas suas filiais no Iraque, no Paquistão e na Síria, localmente centradas no combate aos xiitas, para alem das acções de desestabilização.
 
São os xiitas que morrem, anualmente, aos milhares, se contabilizarmos as acções terroristas nos três países acima mencionados e no Líbano (cada vez mais arrastado para o turbilhão sírio). Mesmo no Egipto, onde os xiitas não são mais do que uma pequena comunidade histórica, minoritária, registam-se atentados contra as comunidades xiitas. No Paquistão os jornais já nem prestam a devida atenção às centenas de xiitas massacrados. No Iraque, em 2013, foram assassinados cerca de 5 mil xiitas nos atentados efectuados pelo braço local da Al-Qaeda, o ISIL (Califado do Iraque e Levante, que também inclui a Síria, fazendo-se representar neste país pela Frente al-Nusra), Na Líbia, predominantemente sunita, existem diversos casos de execução sumária de xiitas, principalmente na cidade de Derna. Na Síria as milícias da extrema-direita sunita procederam a centenas de execuções de xiitas, decapitando-os, conforme se pode observar nos vídeos filmados pelos “combatentes da liberdade”. Por detrás destas decapitações e execuções sumárias na Síria, estão os financiamentos do Qatar Em primeiro na lista) e da Arábia Saudita.
 
Neste momento os sauditas pretendem realizar uma operação de camuflagem, secundarizando a Al-Qaeda na Síria (ISIL e a al-Nusra) e unificá-las com os diversos bandos sunitas espalhados pelo país, criando um forte exército sunita de 40 a 50 mil elementos, para derrubar o governo sírio. Esta operação foi planificada pelo ministro saudita dos Assuntos Externos, o príncipe Saud al-Faisal, o chefe dos serviços sauditas de inteligência, o príncipe Bandar bin Sultan e pelo vice-ministro da Defesa, o príncipe Salman bin Sultan e implica um financiamento de milhares de milhões de USD.  
 
A iniciativa saudita é também (e aqui junta a sua voz á de Israel) uma resposta de desagrado para com o acordo entre os USA e o Irão. Mas os sauditas esquecem-se que o seu dinheiro tem um alcance limitado. A unidade artificial dos grupos sunitas de extrema-direita (e dos mercenários islâmicos que os financiamentos sauditas atraem) em torno do dinheiro saudita não vai durar. Os sauditas já cometeram este erro no Afeganistão, onde criaram grupos de combatentes islâmicos que careciam de um marco político unificador (eram criados com financiamento saudita e giravam em torno do dinheiro saudita, mas nunca chegaram a consensos políticos). Essas forças tomaram Cabul, mas foram incapazes de a governar, sendo, por isso, derrotadas pelos Talibã.  
 
No panorama sírio a unificação dos bandos sunitas e dos mercenários da Al-Qaeda não permitirá a entrada em Damasco. A Síria não é o Afeganistão. Na época em que os sauditas executaram o seu plano afegão, a URSS tinha abandonado a Revolução Afegã á sua sorte e o Partido Democrático do Povo Afegão mais parecia uma manta de retalhos, o que não é o caso do BAAS Sírio, que continua a ser uma maquina politica que funciona em função de Bashar e que continua com peso politico suficiente para se impor às elites burocráticas sírias, evitando a sua deriva para o campo oposicionista. 
 
Será, pois, dinheiro deitado ao vento…e com o vento regressará às areias do deserto. As monarquias do Golfo deslumbraram-se com as riquezas proporcionadas pelo Ocidente e deslumbram o Ocidente com as suas riquezas, transformadas em ilhas artificiais, aeroportos considerados exemplares e hotéis luxuosos. Dinheiro é, pois, coisa que não falta aos príncipes, emires e outros marialvas do Golfo. Deve ser para compensar a ausência de dignidade.
 
Fontes
Financial Times, October, 29, 2013
Financial Times, October, 18, 2013,
Daily Alert, October, 24, 2013
 

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