terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

NOVO PM TIMORENSE. QUEM NÃO QUER SER LOBO NÃO LHE VESTE A PELE



Beatriz Gamboa, Díli

Xanana Gusmão levou quase um ano a dizer que se demitiria em 2014. Depois desistiu de o fazer porque se apercebeu que a justiça se preparava para “incomodar” membros do seu governo por crimes de corrupção, incluindo ele, primeiro-ministro. Já não se demitia tão depressa como o anunciado. A partir desse momento prevaleceu a emergência de planear e agilizar uma tática que impedisse a elaboração de processos judiciários e investigações incómodas e interrogatórios e mais que prováveis julgamentos. O plano resultou. Os executantes de tratar judicialmente dos processos em curso foram expulsos e os processos ficaram prontos para irem parar no lixo.

Finalmente, livre dos juízes que lhe preparavam a “cama”. Sentiu-se livre de se demitir… Não. Falta aqui, em tudo isto, nesta trama, qualquer coisa que nos está a escapar e que decerto mais tarde viremos a saber. Xanana Gusmão não é pessoa de se demitir. Aquela falsa modéstia de declarar que só tinha o 2º ciclo escolar e mais isto e aquilo foi para atirar areia para os nossos olhos.

Mari Alkatiri e outros confidentes de Xanana Gusmão saberão quase tudo deste nebuloso processo. Não foi por acaso que teve uma reação demasiado branda em relação à inconstitucional expulsão dos juízes. Nem foi por acaso que reiterou estar ao lado de Xanana nos ataques que lhe fizeram. Talvez um pouco antes tenha nascido o acordo entre ambos e também nesse tempo foi selecionado o futuro primeiro-ministro substituto de Xanana, Rui Araújo. Só agora, há poucos dias, publicamente anunciado. E o que sabia o presidente Taur Matan Ruak sobre toda esta panóplia de políticas de concordância que levaram Xanana Gusmão a abdicar do seu “reinado”? Muito provavelmente ainda não sabia de nada. E o que soube eram só rumores. Porque quando soube com toda a certeza a primeira convicção foi convocar eleições antecipadas.

Então, primeiro, eram as eleições antecipadas para a Assembleia Nacional, daí surtiria o partido ou partidos que formariam governo. Processo normal e democrático. Acontece que nem Xanana Gusmão, nem Mari Alkatiri e alguns dirigentes da Fretilin, partilhavam da opinião do Presidente da República, Taur Matan Ruak. Eleições antecipadas não foi o acordado anteriormente entre Alkatiri e Xanana. Perante a resistência dos dirigentes dos dois maiores partidos políticos, o presidente acabou por aceder às pretensões daqueles líderes e aceitar a queda do governo e sua substituição como se trate de uma reestruturação. Além do mais, para o presidente, o primeiro-ministro indicado agradou-lhe. Considera Taur Matan Ruak que Rui Araújo oferece garantias de desempenhar o cargo de PM com qualidade.

Em todo este processo existem algumas versões desta trama. A que se chamam rumores. E são. Imensos rumores até correspondem à realidade. Não são ficção. Sobre esta trama em que um governo cai, incluindo o PM, e um novo governo nomeado é chamado fruto de reestruturação me parece que a versão acima contida é o rumor mais certo e que mais se coaduna com a realidade. Sendo que a realidade é, também, que nenhum timorense eleitor foi consultado nem se pronunciou democraticamente – através do voto – para que o PR e os dirigentes partidários se sintam com legitimidade democrática para alegarem que este governo, com Rui Araújo, da Fretilin, no cargo de PM, é legítimo. Não é. Admira é que Rui Araújo tenha aceite desempenhar aquele cargo nas atuais circunstâncias, anómalas e antidemocráticas. Esta atitude pode ser para já a demonstração de uma má característica da personalidade do PM indigitado que está incumbido de assegurar a condução governativa do país até 2017.  Araújo começa com um mau prenúncio e até nem merecia que o sacrificassem assim. Diz o adágio que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. 

Infelizmente em Timor-Leste quase tudo é possível. O que existe de mau no mundo paira insistentemente sobre as nossas cabeças e nossas vidas. Antes foi o que foi e que na nossa história consta. Agora é só mais isto: absoluta ausência de democracia em todo este processo. E é certo que Xanana Gusmão e tantos outros continuarão por aí, impunes. Ao que se diz, governando e governando-se.

RUI ARAÚJO INDIGITADO COMO PRIMEIRO-MINISTRO DE TIMOR-LESTE




Díli, 10 fev (Lusa) - O Presidente da República timorense aceitou hoje a proposta do partido mais votado, o CNRT, que indigitou para o cargo de primeiro-ministro Rui Maria Araújo, informou a presidência em comunicado.

"O Presidente da República aceitou a proposta do partido mais votado nas últimas eleições legislativas, o CNRT, que indigitou para o cargo de primeiro-ministro o Dr. Rui Maria Araújo", refere o comunicado distribuído ao final da tarde, hora local.

"O Presidente da República receberá nos próximos dias o primeiro-ministro indigitado para discutir a constituição do VI Governo Constitucional. O Governo será, de seguida, empossado pelo Presidente da República, previsivelmente, ainda durante esta semana", explica.

No curto comunicado, de três parágrafos, a Presidência da República timorense recorda que se concluiu hoje a audição dos partidos com assento parlamentar sobre a indigitação do novo primeiro-ministro.

Depois de reuniões com a Frente Mudança (FM) e com o Partido Democrático (PD), Taur Matan Ruak recebeu hoje uma delegação da Fretilin e do Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNRT).

ASP // JPS

Rui Araújo, o 'estafeta' que tratou a guerrilha e agora comandará o Governo de Timor-Leste




Díli, 10 fev (Lusa) - O primeiro-ministro indigitado timorense, Rui Araújo, que em maio completará 51 anos, é um dos médicos mais conhecidos do país, com uma longa carreira que incluiu tratar guerrilheiros e ter sido estafeta de Xanana Gusmão para o exterior.

Considerado um homem dedicado à família e ao serviço público, íntegro e dedicado, Rui Araújo chega ao topo do executivo depois de uma ampla experiência ao longo de toda a jovem vida do Estado timorense - foi ministro da Saúde e assessor nos Ministérios da Saúde e das Finanças.

Mesmo que o facto de ser militante da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) tenha causado algum mal-estar aos partidos da coligação do Governo, o seu nome nunca deixou de suscitar consenso, com apoiantes e adversários políticos a reconhecerem a sua dedicação, ética e qualidade de trabalho.

A sua indigitação como primeiro-ministro por um partido diferente ao seu confirma a tentativa de procura de consenso entre as várias forças políticas do país.

Natural do suco de Mape, na região de Zumalai, no distrito de Covalima, Rui Araujo nasceu a 21 de maio de 1964, tem dois filhos, é licenciado em Medicina pela universidade de Bali, com mestrado em Saúde Pública pela Universidade Otago, em Dunedin, na Nova Zelândia.

Completou a escolaridade primária em Suia e em 1974 veio para Dili onde estudou no Externato de São José, no bairro de Lahane.

É durante a sua vinda para Díli que Rui Araújo primeiro se interessa pela política, tornando-se militante da ASDT e, posteriormente, da Fretilin, influenciado na altura pelo catequista José de Arayjo.

Termina o 7º liceu em 1985, em Díli, e consegue uma bolsa de estudo do Governo provincial indonésio para estudar literatura inglesa na Universidade Católica Satya Wacana, em Salatiga, Java Central.

Durante o período em que estudou na Indonésia amplia o seu trabalho na clandestinidade, enviando informação regular para a comunidade timorense na Austrália, nomeadamente em Darwin.

Em 1986 muda-se para a faculdade de medicina da Universidade Islaun Sultan Agung, em Semarang (Java Central), mantendo-se sempre ativo como "caixa" ou estafeta, levando informação entre Bali, Surabaya e Jakarta.

Três anos depois transfere-se para a faculdade de medicina da Universidade Udayana, em Bali, onde termina o curso de medicina geral 1994.

Rui Araújo assume-se, então, formalmente como membro da RENETIL (Resistência Nacional dos Estudantes de Timor-Leste), incluindo entre as suas atividades a redação e edição do boletim informativo Neon Metin.

Entre 1990 e 1992 Rui Araújo torna-se um dos elos de comunicação principais entre Xanana Gusmão, então no comando das Forças Armadas de Libertação e Independência de Timor-Leste (Falintil), e a rede externa, incluindo em Macau e em Portugal.

Fez parte da equipa que, em 1991, preparou a visita de receção à delegação parlamentar portuguesa, que nunca se chegou a realizar, apoiando ainda Kirsty Sword Gusmão, hoje mulher do primeiro-ministro, e o jornalista Max Stahl.

Entre 1994 e 1998 Rui Araújo exerce como médico de clínica geral no Hospital de Díli, tendo colaborado na altura com a organização Caritas em programas de combate à tuberculose.

Paralelamente ao seu trabalho mais público, Rui Araújo dedica parte do seu tempo ao cuidado clandestino, apoiando no tratamento a elementos da guerrilha incluindo, em abril de 1996, ao então chefe de Estado Maior das Falintil, o comandante David Alex Daitula.

Atividade que, em fevereiro de 1998, lhe vale uma carta anónima, de denúncia, apresentada ao então governador de Timor-Leste, Abílio Osório Soares.

Nesse ano, em setembro, Rui Araújo é um dos colaboradores que apoia o então administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo, na organização da ronda de diálogo conhecida como Dare I.

Um mês depois obtém uma bolsa de estudo do Governo neozelandês - o seu filho também acabaria por estudar naquele país - para completar um mestrado em Saúde Pública na Universidade Otago, em Dunedin.

Depois do referendo, em 1999, Rui Araújo volta ao seu trabalho em Timor-Leste, integrado na Autoridade Interina de Saúde, o embrião do futuro Ministério de Saúde, então pertencente à Administração Transitória das Nações Unidas (UNTAET).

A sua tese de mestrado - "Um sistema de saúde adequado para Timor-Leste pela perspetiva dos timorenses" - é aceite em junho de 2001, sendo recrutado no mês seguinte como Diretor dos Serviços de Saúde da UNTAET.

Finalmente, a 2 de maio de 2002 inicia funções como ministro da Saúde no 1.º Governo Constitucional, cargo que mantém depois da reestruturação levada a cabo a 26 de julho de 2005, terminando o cargo em agosto de 2007.

Nos dois anos seguintes mantém-se como assessor de política e gestão de saúde no mesmo Ministério ocupando entre agosto de 2009 e o presente o cargo de assessor de gestão e política pública no Ministério das Finanças.

Simpatizante da Fretilin desde 1975 registou-se oficialmente como militante a 9 de dezembro de 2010, com o número 0177/DL/102551/003920.

Em 2011 funda a organização Profissionais de Saúde Militante Fretilin (PSMF) e a 11 de setembro desse ano é eleito como membro do Comité Central do partido, a que ainda pertence.

Participa na Conferência Nacional da Fretilin, em abril de 2014, durante a qual é aprovada uma resolução que permite a entrada de elementos do partido, se convidados de forma individual, no Governo nacional.

ASP // PJA

Organizações ambientalistas e cidadãos lançam campanha para salvar árvores históricas em Díli




Díli, 9 fev (Lusa) - Organizações ambientalistas timorenses e residentes em Díli iniciaram uma campanha para salvar árvores no centro da capital timorense que poderão ser abatidas.

A polémica sobre as árvores do centro de Díli começou no final de janeiro quando começaram a surgir nas árvores de várias ruas da cidade cruzes brancas, que anteriormente significaram o abate das árvores marcadas.

Questionado pela Lusa sobre as marcações, Domingos Soriano, responsável dos serviços de limpeza do distrito de Díli, confirmou que as árvores estavam de facto a ser marcadas, explicando que os funcionários seguiam instruções do primeiro-ministro.

"As instruções para resolver a questão das árvores vieram do primeiro-ministro", disse Soriano.

"As árvores estão a ser marcadas mas não vão ser todas cortadas. Só as que estão a ocupar a estrada", garantiu à Lusa.

Dúvidas sobre o que ia acontecer às árvores suscitou uma ampla campanha em vários grupos do facebook e de outras redes sociais, o que, acabou por motivar primeiro uma petição e, posteriormente, campanhas de sensibilização nas ruas.

Elementos de várias organizações ambientais e residentes em Dili colaram cartazes nas árvores marcadas e realizaram ações de sensibilização da população.

"Mantém-me e eu mantenho-te a ti. Espaço verde, vida verde", são algumas das frases em tétum e inglês inscritas nos cartazes colados nas árvores.

Com mais de 500 partilhas e 300 assinaturas está também a circular uma carta aberta da Fundação Haburas, a organização ambiental mais antiga de Timor-Leste, formada em 1998 por um grupo de jovens timorenses.

"Estamos preocupados que as árvores vão ser abatidas como o foram muitas outras árvores de grandes dimensões anteriormente. Estas árvores foram plantadas ainda durante a época colonial portuguesa. Sobreviveram a ocupação indonésia e têm servido as pessoas em Díli de muitas formas desde então ", refere a carta, que é assinada por Virgílio Guterres, responsável da Haburas.

Guterres disse à Lusa que já no ano passado se organizaram manifestações que conseguiram evitar o corte programado de várias árvores no centro de Díli, explicando que se for necessário voltarão a tomar medidas idênticas.

ASP // JMR

MDM apoia referendo sobre gestão autónoma das províncias de Moçambique




Daviz Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segundo maior partido da oposição, defende soluções que respeitem a Constituição para acabar com a crise política entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO.

Nesta segunda-feira (9.2.), Simango teve um encontro com o recém-eleito Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Em entrevista à DW África, Daviz Simango fala sobre os temas da conversa com Nyusi e se aceitaria ou não formar um bloco com o maior partido da oposição, a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana).

DW África: Quais foram as preocupações que o MDM levou para este encontro com o Presidente Filipe Nyusi?

Daviz Simango (DS): Nós levamos vários pontos. Desde os problemas da intolerância política, da partidarização, da separação dos poderes e da independência dos juízes, os problemas de desenvolvimento económico, da educação, da saúde. Falamos em pormenor sobre a agricultura, a necessidade de desenvolvimento dos municípios e naturalmente sobre a energia. O nosso país tem escassez de energia e é preciso encontrar alternativas. Falamos da política em si, dos últimos momentos políticos que estão a decorrer no país. E também falamos da construção da governação, aquilo que é o nosso pensamento em relação a assuntos pertinentes que possam levar o país ao desenvolvimento sustentável.

DW África: O que achou da reação do Presidente Nyusi quando colocou as preocupações do MDM?

DS: O MDM não foi lá só com preocupações. O MDM foi também com sugestões. Aquilo que é a forma de governação que o MDM gostaria de ver. Portanto, colocamos um leque de questões com propostas de governação.

Eu também pedi a justificação da construção do seu Governo, da redução dos ministérios e porque alguns ministérios foram criados agora. E ouvimos também dele a situação política. Eu penso que foi um encontro saudável e que inspira a vontade de nós, os moçambicanos, podermos construir o nosso país e – claro – estabilizar o país que está em crise.

DW África: O MDM seria capaz de se juntar à RENAMO na sua causa concernente a uma gestão autónoma das províncias?

DS: Nós como Movimento Democrático de Moçambique surgimos para fazer política, surgimos porque respeitamos os princípios democráticos e as leis moçambicanas. O nosso entender sobre a questão que me coloca é o seguinte: é preciso entregar à Assembleia da República uma proposta de lei. Uma vez que o documento entre na Assembleia da República, os nossos deputados vão sugerir àquele orgão para que se avance com um referendo. E dependendo daquilo que vai ser o resultado do referendo, o MDM vai pautar pelo que decidir a maioria dos moçambicanos.

Nós somos a voz do povo e vamos cumprir com esta palavra desde que os moçambicanos dêem mandato para isso. Mas a proposta tem que ser submetido a um referendo.

DW África: Sob o ponto de vista de democratização, esta possibilidade de uma gestão autónoma das províncias é vista como mais um passo neste caminho. O MDM também tem esta visão ou nem por isso?

DS: Temos um Estado constituído, temos uma Constituição da República que nós, os mocambicanos, aprovámos. O nosso entendimento é que todo o processo que mexe com a gestão do país, todo o processo que mexe com a complexidade como o caso, passe pela Assembleia da República. Naturalmente os deputados têm que ter um mandato para solicitar um referendo e ouvir os moçambicanos sobre a sua preferência.

Portanto, não podemos construir uma sociedade moçambicana no entender e no momento que cada formação política ou cada entidade queira impor. O fundamental é que os moçambicanos decidam. Se os moçambicanos forem por esse caminho, quem é o MDM para contrariar a soberania que reside no povo?

DW África: O que o MDM e o Senhor Daviz Simango esperam da governação de Filipe Nyusi e da sua equipa?

DS: Ele tem um mandato do Conselho Constitucional e nós naturalmente como oposição vamos fiscalizar. E na qualidade de fiscalizadores representantes do povo vamos fazer o nosso papel. Queremos aceder ao poder e é natural que tenhamos a nossa própria ambição. Vamos trabalhar no sentido que o trabalho político – quer no Parlamento, quer nas outras frentes políticas – possa surtir efeito de modo que o MDM se constitua em poder nas próximas eleições.

DW África: Basicamente a RENAMO e o MDM fazem as mesmas acusações quanto à atuação do Governo da FRELIMO. Uma união de forças da oposição, naturalmente incluindo o MDM, a RENAMO e talvez outros partidos, é uma possibilidade real ou utópica no seu entender?

DS: Para o MDM, a estratégia está clara desde o princípio: tudo que seja do interesse dos moçambicanos, tudo que seja um mandato dos moçambicanos, que nos solicitarem. Se isto nos obriga, se isso nos promove, se isso nos leva a uma determinada união para atingir esses objetivos, é natural que o MDM não vai negar aquilo que é a vontade popular.

Queremos que de facto os moçambicanos se sintam realizados, os moçambicanos se sintam os donos de si a partir das suas ações. O MDM passa a ser apenas a voz do povo. Supomos que nós queremos isso, e se isto for o entendimento do MDM, da RENAMO e dos outros partidos políticos, e conscientes que a união faz a força, e se for para o bem do povo, sem ferir os princípios da legalidade, é natural que o MDM pode embarcar neste barco.

Agora, o MDM não vai embarcar em situações ilegais, não vai embarcar violando a Constituição. O MDM quer respeitar o Estado de Direito!

Nádia Issufo – Deutsche Welle

Moçambique pode adoptar Zonas Económicas Especiais semelhantes às da China



Estratégias Económicas

Há condições em Moçambique para se adoptar, com sucesso, o modelo chinês das Zonas Económicas Especiais (ZEE), com vista a impulsionar a economia, afirmam os investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa.

Os investigadores, Fernanda Ilhéu e Hao Zhang, dizem que ao longo de 35 anos, as ZEE tiveram “um papel decisivo no desenvolvimento de locais como Shenzhen, Zhuhai, Xiamen, Shantou, Hainan e Xangai, e que os países africanos podem aproveitar esta experiência.

A pesquisa do instituto português é intitulada “O Papel das Zonas Económicas Especiais no Desenvolvimento de Países Africanos e Investimento Directo Estrangeiro Chinês”, escreve a Macauhub.

O País (mz)

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Moçambique: “PROPOSTA DE REGIÕES AUTÓNOMAS FERE LEI MÃE” – Custódio Duma




O Presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma, diz que a aprovação da proposta de regiões autónomas só será possível mediante uma revisão prévia da Constituição da República. Duma reitera que a proposta do líder da Renamo fere a “Lei Mãe”.

Duma acrescentou ainda que “esta é uma ideia da Renamo, tal como qualquer um pode levar sugestões ao Parlamento, para serem aprovadas… assim como não. Ou seja, ainda não podemos considerá-la uma proposta e sim uma ideia, porque ainda não está em discussão no Parlamento”, afirmou.

O País (mz)

Autoridades de São Tomé e Príncipe preocupadas com aumento da criminalidade




As autoridades de São Tomé e Príncipe mostraram-se hoje preocupadas com o aumento de criminalidade do país, em particular "violações sexuais de menores, roubos e assaltos e crimes resultantes do tráfico e consumo de droga".

"Apenas no mês de janeiro registamos 14 casos, entre os quais, assaltos, roubos, burla, lavagem de dinheiro e agressões por consumo de estupefacientes", disse Idalécio Almeida, inspetor da Polícia de Investigação Criminal (PIC).

O governo também já se mostrou "muito preocupado" e defendeu "a conjugação de esforços" para travar a onda de criminalidade no país.

"Em finais do ano passado tivemos alguns casos de violação de menores ocorridos na ilha do Príncipe e também em São Tomé entre pais e filhas, tios e sobrinhas menores de 10 anos", acrescentou Idalécio Almeida.

Nos últimos meses de 2014, "temos um registo de mais de 40 casos, alguns deles bastante alarmantes que já submetemos ao governo" disse fonte policial, escusando-se a entrar em pormenores.

A polícia de investigação criminal e o comando geral da polícia nacional atribuem este crescimento da criminalidade ao aumento do tráfico e consumo de drogas.

"Hoje eles já fazem isso de forma mais aberta e despreocupada", sublinha fonte policial que lamenta a "falta de colaboração dos tribunais" na punição dos criminosos.

"Temos remetido para as instâncias judiciais vários casos graves dessa natureza mas, para nosso espanto, no dia seguinte vemos os indivíduos na rua e muitas vezes dando-se ao luxo de ameaçar os agentes", reclama a mesma fonte.

A gravidade da situação levou, entretanto, governo a pedir uma reunião com o Procurador-Geral da Republica (PGR) para estudar estratégias conjuntas de combate ao aumento dos índices de criminalidade.

O encontro convocado pelo ministro da Administração Interna, Arlindo Ramos, demorou mais de duas horas juntou as chefias policiais, comandos paramilitares e o ministro da Justiça.

"Pedimos esse encontro para analisarmos as causas do crescimento da criminalidade que existe atualmente", disse Arlindo Ramos.

"É fundamental e é preciso que os órgãos ligados a esse ramo cooperem entre si para pôr cobro a essa situação que é uma situação preocupante, e nós estamos preocupados", sublinhou o governante.

"A polícia está a fazer a sua parte mas é preciso que as outras partes (Ministério Publico e os tribunais) também façam a sua", disse o ministro.

"É preciso controlarmos essa gente, é preciso avaliarmos em termos daquilo que é a reinserção social, se estão ou não em condições de serem reinseridos novamente. Alguns deles são muito reincidentes e é preciso ter cuidado e ter muito controle sobre eles", acrescentou Arlindo Ramos.

O encontro com o Procurador-Geral da Republica serviu também, segundo o governante, para avaliar "o perigo que essa gente representa para o estado são-tomense e tomarmos rapidamente algumas medidas preventivas".

O primeiro-ministro Patrice Trovoada reconhece que o crime está a aumentar e "as forças de defesa e segurança estão debilitadas" o que pode comprometer a reposição da autoridade de Estado.

"Nós temos uma polícia de investigação criminal atualmente com dez processos disciplinares, uma polícia de investigação criminal que não tem pistolas", exemplificou Patrice Trovoada em entrevista ao canal de televisão digital STP TV, emitido a partir de Lisboa.

"É verdade que a criminalidade aumentou e tem estado a aumentar porque há um vazio. Não há nada para, de facto, travar esses crimes, não há meios, não há homens, não há políticas" reconheceu o primeiro-ministro são-tomense.

O governante são-tomense que se encontra numa visita ao estrangeiro disse ter "pistas" de solução para "resolver essa questão da debilidade das forças de segurança pública", contando para efeito com o apoio da cooperação internacional.

"É uma urgência", disse, defendendo o recrutamento, treino e equipamento de novos agentes policiais, a reorganização do sistema de segurança pública e a construção de uma nova cadeia.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola: PETRÓLEO E CRIANÇAS QUE AMAM A BOLA



José Ribeiro – Jornal de Angola, editorial

As crianças em Angola estão sempre em alta

O seu preço é tão elevado que não está ao alcance de instituições financeiras ou de especuladores profissionais. Sobretudo aqueles que conspiram e se dedicam a derrubar governos hostis ou a eleger políticos que estão sempre prontos a dizer que sim aos mercados e negar direitos fundamentais às pessoas. As crianças em Angola são previsíveis, desde que nascem até ao dia em que entram na idade adulta. Não valem hoje mil e amanhã apenas um. São sempre a maior riqueza do povo e, pela sua natureza, jamais serão negociáveis.

Angola é um país com grandes carências. Décadas de guerra não se apagam por artes mágicas. Depois da guerra, Angola beneficiou de pouca ajuda. Em 1939 a Alemanha lançou o mundo numa guerra. No Inverno de 1985 visitei os campos de Auschwitz, na Polónia, onde foram dimizados judeus. Ainda sentia o cheiro à morte colado às paredes. Mas apesar de perder a guerra, em 1946 a Alemanha beneficiou dos fundos do “Plano Marshal” e todos os países agredidos e destruídos pelos nazis do III Reich lhe perdoaram total ou parcialmente as dívidas de guerra. 

Angola sofreu agressões brutais. O território nacional foi invadido por exércitos estrangeiros. Apesar de estar a enfrentar a poderosa coligação aliada do apartheid, Angola conseguiu vencer. E só o conseguiu depois de rejeitar interferências externas que não eram mais do que cantos de sereias que criavam o terreno para a submissão política e económica.

Mas Angola não teve direito a um “Plano Marshal”, como  teve a Europa. Pelo contrário, os europeus que se comprometeram a assumir responsabilidades na condução do processo de paz e na reabilitação das infra-estruturas destruídas pela África do Sul e fizeram promessas em Bruxelas, em Nova Iorque e em Genebra, viraram-nos as costas, porque tinhamos “petróleo”. O Presidente José Eduardo dos Santos teve de arranjar financiamentos para fazer a reconstrução nacional e abrir os caminhos do desenvolvimento. Nada que se compare a uma Venezuela ou à Nigéria. 

A reconstrução e o desenvolvimento são um processo com várias vertentes. Mas a mais importante é a “reconstrução” das pessoas. Exactamente porque elas são a nossa principal riqueza. E o núcleo mais valioso dessa riqueza é constituído pelas crianças angolanas. Se juntarem todos os barris de petróleo do mundo e os cotarem a um preço tão elevado que atinja as raias do absurdo, não valem uma criança angolana, uma só! 

Os diamantes só atingem valor que se veja quando são lapidados. Por saberem disso, as autoridades angolanas acabam de abrir uma fábrica de lapidação em Luanda. O petróleo só tem valor, seja ele qual for, se for retirado das jazidas. Nós também temos que ajudar as nossas crianças a adquirir valor ao longo da vida. Tudo o que se fizer para valorizar uma criança angolana é um investimento inestimável que garante o futuro do Povo Angolano.

Os organizadores do Torneio Infantil “Amabola” sabem disso e resolveram ignorar o “sobe e desce” do preço do petróleo, apostando na maior riqueza de Angola: a sua população jovem e, sobretudo, as crianças.

O Torneio Infantil “Amabola”, que começou em Luanda há precisamente uma semana, junta centenas de equipas de futebol infantil que mobilizam mais de mil crianças. O desporto sempre foi uma escola de virtudes, um campo de aprendizagem dos valores morais que suportam uma sociedade justa, livre e solidária. 

O desporto cria nas crianças o espírito de grupo. Dá-lhes a dimensão da vida em sociedade, onde o sacrifício, a verdadeira entreajuda, a confiança, a generosidade e a capacidade de enfrentar as adversidades têm um papel fundamental. A prática desportiva, e particularmente o futebol, dá às crianças uma noção muito forte da disciplina e da partilha com o outro. Os desportistas aprendem a ganhar e a perder. Mas também a superar limites e contornar obstáculos.

O Torneio de Futebol Infantil “Amabola”, tão oportunamente promovido pela Amangola – a União das Associações Locais de Angola –  vai pôr nos rectângulos de jogo centenas e centenas de crianças em competição e milhares de pessoas a assistir às partidas. Os jogos são uma brincadeira. Mas também são os meios que vão dar a cada atleta a capacidade de amar a camisola, lutar por uma causa, reconhecer nos companheiros uma família muito especial no seio da qual se vivem alegrias e tristezas, ver nos adversários o outro que é preciso respeitar e reconhecer. 

Poucos países no mundo têm a riqueza de Angola no que diz respeito a uma população jovem. A preocupação da sociedade deve ser, em primeiro lugar, aproveitar esta riqueza inestimável em força de progresso. Para isso temos de dar às nossas crianças muitos torneios de futebol infantil, centros sociais, espaços desportivos, escolas, professores, especialistas em metodologia do treino, motricidade humana, educação física, treinadores e outros técnicos. 

O desporto só é uma escola de virtudes se chegar a todas as crianças, desde os primeiros anos de vida, dos bairros das grandes cidades às aldeias do mundo rural. Um atleta de alta competição não se faz por milagre, como a paz em Angola não chegou por milagre. É criado ao longo dos primeiros anos de vida.

O Torneio de Futebol Infantil “Amabola” é a resposta certa e adequada a essa necessidade.

Posso voltar à minha experiência pessoal. Ainda menino de escola fui treinar no velho Vila Clotilde, que tinha duas tabelas de “basket” esfrangalhadas, um campo cimentado no quintal da Liga Africana, dava-nos meias rotas e quedes tipo Macambira. Tive centenas de colegas nesse clube e muitos deles atingiram patamares muito elevados no desporto de alta competição. E apesar de nessa época vivermos numa sociedade elitista e colonialista, muitos desenvolveram aí o seu carácter e a sua resiliência, fizeram a sua carreira académica e profissional e triunfaram socialmente. São hoje cidadãos de corpo inteiro e têm lugares de responsabilidade na nossa sociedade. 

No fundo, todos começamos num projecto como o “Amabola”. Quando tanto se fala do preço do barril de petróleo, é bom responder com iniciativas que custam pouco dinheiro mas têm grandes resultados.

Angola: Conselho da República exorta Executivo angolano a investir fora do petróleo




O Conselho da República angolano, convocado hoje pelo Presidente José Eduardo dos Santos para analisar a situação do país face à crise do petróleo, exortou o Executivo a "apostar decididamente na diversificação da economia nacional".

A informação consta do comunicado emitido no final da reunião deste órgão consultivo do Presidente angolano, a primeira da atual legislatura, iniciada após as eleições gerais de 2012, convocada precisamente para discutir os efeitos da forte quebra da cotação do petróleo no mercado internacional.

Para ajustar as contas públicas, e além de rever a cotação esperada para a exportação do barril de petróleo de 81 para 40 dólares, a revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2015 preparada pelo Governo angolano corta um terço do total da despesa pública para este ano, entre outras decisões.

"O Conselho da República considerou como sendo positivo o conjunto de medidas adotadas pelo Executivo, tendo sugerido que se deverá apostar decididamente na diversificação da economia nacional e na consequente redução do peso do setor petrolífero", aponta o comunicado final, lido no Palácio Presidencial, em Luanda, pelo procurador-geral da República, João Maria de Sousa.

Um "maior rigor na implementação do OGE e no combate ao desperdício e má gestão", mas também a "melhoria do ambiente de negócios", são outras medidas preconizadas pelos conselheiros.

No arranque desta reunião, que se prolongou durante cerca de duas horas, o Presidente angolano anunciou que o contributo do petróleo para as receitas fiscais do país deverá cair para 36,5% em 2015, cerca de metade em relação ao ano anterior, devido à quebra na cotação internacional do crude.

"Tem afetado de sobremaneira as receitas do Estado. Prevê-se assim que o contributo do setor dos petróleos para as receitas do Orçamento Geral do Estado [OGE], que em 2014 foi de cerca de 70%, seja este ano apenas de 36,5%", disse José Eduardo dos Santos, na mensagem inicial dirigida aos conselheiros.

"Diminuiu assim, enormemente, a capacidade do Executivo de realizar despesa pública e de financiar a economia", reconheceu o chefe de Estado angolano.

Durante a reunião do Conselho da República, esclarece o comunicado final, o ministro das Finanças, Armando Manuel, prestou ainda informação aos conselheiros sobre a situação económica e financeira do país, "tendo concluído que o estado da economia angolana é sólido".

"E que a estratégia do executivo para fazer face à situação assenta em medidas de natureza monetária, cambial e fiscal, que irão assegurar o cumprimento dos objetivos preconizados no Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017", afirma o comunicado final.

Acelerar a revisão da lei do investimento privado e implementar a lei das cooperativas para garantir o aumento da oferta interna, foram sugestões apresentadas pelos conselheiros, onde se incluem os líderes dos quatro partidos da oposição com representação parlamentar.

"Finalmente, o Conselho da República considera que as medidas adotadas visam manter a situação económica e financeira estável, e garantir a satisfação das necessidades fundamentais dos cidadãos", conclui o comunicado final da reunião.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Banco Mundial: Petróleo mais barato torna diversificação económica mais difícil em Angola




O Banco Mundial considera que a recente quebra dos preços do petróleo vai tornar mais desafiante o objetivo de Angola relativamente à diversificação da economia, porque a descida dos preços configura uma mudança estrutural de médio prazo.

"O novo contexto torna mais desafiante o objetivo de médio prazo das autoridades angolanas de diversificarem a economia para lá do petróleo", lê-se no Documento de Informação do Programa, um breve relatório que explica as razões para a concessão de um empréstimo de 500 milhões de dólares a Luanda, no seguimento da quebra das receitas fiscais decorrente da descida do preço do petróleo, a principal fonte de receita do Estado angolano.

No documento, a que Lusa teve acesso, os analistas do Banco Mundial explicam que "Angola precisa de uma política orçametal contracíclica para conseguir manter os esforços de diversificação da economia ao mesmo tempo que protege os pobres e os mais vulneráveis" no novo contexto do setor petrolífero, marcado por uma descida dos preços e por um choque na oferta e, em menor grau, também na procura.

À Lusa, a responsável senior de Operações para Angola do Banco Mundial, Ana Maria Carvalho, explica que Angola, sendo um país de rendimento médio desde julho do ano passado, "apenas tem acesso aos fundos do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento", que são oferecidos aos países em condições mais vantajosas que as oferecidas pela banca comercial.

"Por exemplo, o Empréstimo Flexível do BIRD com uma variável spread situa-se actualmente entre 0,26% e 0,46% acima da LIBOR (dependendo da maturidade média) em comparação com a média do Emerging Market Bond Index (EMBI), spread actualmente de 3,8% para os países emergentes em África", diz a responsável em respostas colocadas por email pela Lusa.

O empréstimo flexível, acrescenta, tem um prazo de até 30 anos, com vários perfis de amortização e uma opção incorporada para ajudar os destinatários a gerirem os juros e os riscos da moeda.

O empréstimo de 500 milhões de dólares junta-se a mais outros dois, de 250 milhões cada um, contraídos junto do Goldman Sachs e do Gemcorp Capital, fazendo com que, só este ano, Angola já tenha contraído cerca de mil milhões de dólares, a que se junta um conjunto de emissões de dívida pública nos mercados internacionais, um processo que será liderado pelo Goldman Sachs.

Lusa, em Notícias ao Minuto

CELESTE – UMA ASSOMBRAÇÃO DO TEATRO UNIVERSITÁRIO DO PORTO




CELESTE é uma assombração. Habita um edifício há muitos anos: de vez em quando, alguém parece ver uma freira enforcada, pendurada do tecto.

CELESTE é um dispositivo que dá a ver um tempo e um espaço do passado, cruzando-os com um tempo e um espaço do presente. O público é convidado a explorá-los sensorialmente, coexistindo com os fantasmas vivos de uma tragédia antiga. Escolhendo o seu próprio percurso, o espectador procurará encontrar sentido nos vários ambientes não narrativos, instalação orgânica que se revela no final.

Encenação: Gonçalo Amorim e Luís Araújo
Movimento e Assistência de Encenação: Vera Santos
Figurinos e Dispositivo Cénico: Catarina Barros
Sonoplastia: Rui Lima e Sérgio Martins
Desenho de Luz: José Nuno Lima
Conto Original de Raquel S. a partir de dramaturgia colectiva
Adaptação ao latim: Sofia Soares
Assistência e Operação de Luz: Francisco Campos e Renato Marinho
Assistência de Figurinos: Rosana Amorim
Apoio a Figurinos: Ana Monteiro
Apoio Técnico: Eduardo Brandão
Design Gráfico: Nuno Matos
Produção: Raquel Chaves e Gonçalo Gregório
Apoio e Acolhimento: Leonor Cordes, Casa da Alegria

Interpretação: Daniela Araújo Braga, Ema Santa-Bárbara, Joana Mont’ Alverne, Joana Pereira, Maria João Calisto, Miguel Lopes Rodrigues, Orlando Gilberto-Castro, Raquel S., Rita Marques, Sara Nogueira e Sofia Soares

Figuração: Inês Mondim, Magui Costa e Raquel Borges

Com o apoio da Universidade do Porto, Fundação Calouste Gulbenkian e IPDJ.

13 a 28 de Fevereiro, de Terça a Domingo - entradas às 21:00, 21:20, 21:40, 22:00, 22:20 e 22:40, na Casa da Alegria, na Rua da Alegria, nº 953 

Informações e Reservas: reservas@teatrouniversitariodoporto.org

Este espectáculo implica a mobilidade do público, bem como a subida de vários lances de escadas

Portugal: HAJA SAÚDE!



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Recordar-se-ão que o JN publicava uma avaliação mensal, feita por vários cronistas, à atuação dos diversos ministros do Governo. Onde, creio, me distinguia pelas notas abaixo de 10 que a todos atribuía, dado que não conseguia conceber uma positiva, por mais baixa que fosse, a quem integra um Governo que, na minha opinião, tão mal tem feito ao país.

Essa avaliação era seguida de um comentário que procurava caraterizar o que de mais relevante se atribuía a cada ministro. Em abril do ano passado, procurando caraterizar a atuação dos ministros de duas das mais importantes pastas governamentais - Educação e Saúde -, mimoseava os mesmos com as seguintes frases: Nuno Crato - "Como elefante em loja de porcelanas, vai destruindo a escola pública!"; Paulo Macedo - "Com pezinhos de lã, vai destruindo o Serviço Nacional de Saúde (SNS)!"

O objetivo dos meus comentários era claro: apesar de estilos diferentes, os ministros tinham objetivos semelhantes de desmantelamento de dois dos pilares do nosso Estado social.

Ao contrário de Crato, que apesar (ou por isso mesmo?) da sua origem maoista, só faz disparates comunicacionais (que se juntam à irracionalidade das medidas que toma), Paulo Macedo consegue transmitir uma imagem de rigor, uma discrição cauta que ajuda a "esconder" as verdadeiras machadadas que tem dado no Serviço Nacional de Saúde. Sendo que, naturalmente, uma "boa imprensa" o ajuda nesse objetivo.

Mas, tal como o azeite, a verdade vem sempre à tona. E, nos últimos tempos, têm sido vários os exemplos que põem a nu as consequências da política seguida pelo Governo na área da saúde. Onde parece evidente que o ministro da Saúde, quiçá por estarmos em ano eleitoral, anda sempre a reboque da mediatização dos problemas.

De facto, há picos de afluência às urgências hospitalares e os doentes ficam dezenas de horas à espera de ser atendidos (em cadeirões e macas, por inexistência de camas disponíveis!), falecendo um número anormal de pessoas. Depois de o problema atingir proporções assustadoras e a comunicação social lhe dar um enorme destaque, o ministro faz saber que autorizou a abertura de concursos para a contratação de médicos, deixando "cair" a informação de que a "culpa" é destes, dado que, não obstante os vencimentos horários "altíssimos" oferecidos, não há médicos a concorrer... Esquecendo o mais relevante do processo: é que, para além da sua falta, há médicos a ser contratados para os hospitais por intermédio de empresas de trabalho temporário! Onde chega a precarização...

Agora, foi preciso morrer uma doente com hepatite C e outros manifestarem-se ruidosamente na Assembleia da República, para se conseguir chegar a acordo com a farmacêutica que produz medicamentos que têm apresentado uma elevada taxa de sucesso na cura da doença. Por preços exorbitantes, mesmo assim, mas, como dizia a presidente da Plataforma Hepatite C, "é a lei da oferta e da procura". Ou, por outras palavras, o capitalismo no seu melhor, em que a saúde é um negócio...

Este caso também dá para ver a lógica desta Europa monetarista. Harmonizar défices, sim! Negociar conjuntamente a aquisição de um medicamento - o que permitiria reduzir custos por efeito de escala - não!...

O problema não está no SNS, um dos mais avançados e socialmente justos do Mundo. O problema está em opções políticas erradas que, à boleia de uma pretensa racionalização de custos, mais não visam do que favorecer o sistema de saúde privado e os grupos financeiros que nele investem à espera de retorno financeiro suculento.

Por isso, e por melhor imagem, bondade, conhecimentos e mesmo competência do ministro, o problema não é esse. O problema, como em tudo, são as opções políticas...

Portugal: RUI RIO ALERTA PARA RISCO DE PORTUGAL IMITAR ELEIÇÕES GREGAS




O ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, disse, em Coimbra, que compreende os resultados eleitorais na Grécia e que Portugal está exposto a idêntico fenómeno se o fosso entre os partidos moderados e os cidadãos se acentuar.

"Aquilo que aconteceu na Grécia [vitória da esquerda nas legislativas de 25 de janeiro deste ano], também pode, eventualmente, acontecer em Espanha" e mesmo em Portugal, se se continuar a cavar "o fosso entre os partidos mais moderados e as pessoas", sustentou o antigo autarca, que falava, ao princípio da noite de hoje, em Coimbra, numa sessão de apresentação do livro 'Rui Rio de corpo inteiro'.

O anterior presidente da Câmara do Porto e antigo deputado do PSD compreende a opção dos cidadãos gregos, mas não concorda com ela, "nem votaria assim" se fosse eleitor naquele país, assegurou.

"Estes resultados [eleitorais na Grécia] vêm de encontro" ao perigo para o qual "tenho alertado", afirmou Rui Rio, defendendo a necessidade de os partidos políticos inverterem o "cada vez maior afastamento das pessoas".

Os partidos são "um pilar fundamental do regime democrático", mas "estão desacreditados", afirmou o antigo dirigente social-democrata, considerando que "não há um afastamento das pessoas em relação aos políticos, mas -- e isso é mais grave -- há um afastamento" entre os cidadãos e a política.

"Os políticos não são todos iguais" e "há políticos de qualidade, mas [estes] são cada vez menos", salientou.

Sobre a sua eventual candidatura à Presidência da República ou a primeiro-ministro, Rui Rio, questionado por participantes na sessão, disse "a mesma coisa" que tem dito, isto é, voltará se "sentir que há entusiasmo em torno do [seu] regresso a um eventual cargo político".

Não se trata de esperar por "uma passadeira vermelha" ou "uma manifestação nos Aliados", mas antes de reafirmar que "qualquer regresso à vida pública, à vida política, há de passar por aquilo que for" a sua "sensibilidade", conclui o ex-autarca do Porto.

Na sessão de apresentação da biografia de Rui Rio também intervieram o autor do livro (que foi lançado em dezembro), Mário Jorge Carvalho, e o deputado e professor da Faculdade de Direito de Coimbra Paulo Mota Pinto.

Na apresentação da obra e do biografado, Paulo Mota Pinto apontou "a seriedade e a transparência", "a independência de espírito e a coragem" e "a firmeza e o rigor" como características de Rui Rio, que também possui "flexibilidade para promover consensos".

"Penso que Portugal tem ainda muito a esperar de Rui Rio", afirmou o antigo membro do Tribunal Constitucional.

Jornal de Notícias

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A COVA DA MOURA NÃO CAMINHA SÓ - racismo e xenofobia em Portugal




Costuma-se dizer que na Amadora há bairros em que a polícia não entra, mas não é verdade. Nesses bairros, o que não entra é a Constituição da República Portuguesa. É preciso dizê-lo claramente: a Cova da Moura é um bairro de trabalhadores. Gente que todas as manhãs desce a encosta íngreme de ruas labirínticas para ir levar os filhos à escola e depois, quando há trabalho, ir trabalhar. Quem conhece o Alto da Cova da Moura depressa aprende a admirar a criatividade, a alegria e a solidariedade desta comunidade que, desafiando a exclusão dos governos, a pobreza imposta pelo capitalismo e as condições de vida, tantas vezes miseráveis, consegue ser um exemplo de dignidade para Portugal.

Esta população, por ser maioritariamente negra, pobre e imigrante, vive assediada por vândalos e arruaceiros que, com total impunidade, revistam, questionam, espancam, ofendem, humilham e detêm. Em poucas palavras, a Cova da Moura é a nossa Gaza. Uma bolha temporal onde subsiste o espírito colonial português num pensar, tantas vezes articulado aos ouvidos dos encostados à parede, "vocês têm sorte que a lei não permite, senão seriam todos executados", numa corrida com os pretos que queriam entrar numa esquadra da PSP, para, vejam só a lata, apresentar queixa dos polícias, numa doce impunidade de saber, que podes ir com a tua tatuagem nazi para dentro do bairro das barracas e começar a disparar contra asmulheres nas varandas e as crianças a brincar e contra tudo o que te apetecer magoar, porque "o lugar de lixo e cães é no chão".

É isto que se passa e não é de agora. E quem mora na Cova da Moura não conta apenas histórias de espancamentos, torturas e assassinatos às mãos da PSP, narra o assédio constante de homens armados até aos dentes que te mandam parar quando vais para casa, que te revistam e te ofendem quando vais trabalhar, que te mandam embora porque não podem fazer nada, mas primeiro ainda levas uma chapada.

Numa destas noites, há pouco tempo atrás, um amigo da Cova da Moura foi detido ilegalmente pela polícia e largado no meio do Monsanto. Não tinha telemóvel e voltou para casa a pé. Quando lhe perguntei porque é que não apresentava queixa ele explicou-me que num tribunal a palavra de um polícia conta sempre mais que a palavra de um africano. No próximo dia 12 de Fevereiro, as nossas vozes valerão muito mais do que a palavra de qualquer racista. Estaremos em frente à Assembleia da República para dizer que em Portugal não há lugar para fascistas e que a repressão policial contra a população da Cova da Moura tem que terminar. Estar em solidariedade com a Cova da Moura e reclamar consequências criminais contra os responsáveis pela brutalidade de 5 de Fevereiro é defender a Constituição, a liberdade e o que resta de democracia. Estejamos presentes: temos ouvidos e lemos, não podemos ignorar.

António Santos, em Manifesto 74 

VER EM VÍDEO - Habitantes da Cova da Moura acusam polícia de força excessiva e tortura. Uma intervenção policial na Cova da Moura acabou com a detenção de seis pessoas. Outras cinco sofreram ferimentos. A polícia explica que a ação foi a resposta ao apedrejamento de um carro-patrulha. A população do bairro acusa as autoridades de uso excessivo de força e diz que os detidos foram torturados na esquadra. (Youtube)

*Título alterado por PG

NOVO PRIMEIRO-MINISTRO TIMORENSE DIZ QUE É “UMA HONRA” SERVIR TIMOR-LESTE




Díli, 10 fev (Lusa) - O primeiro-ministro indigitado de Timor-Leste, Rui Araújo, disse hoje à Lusa que é uma honra servir o povo timorense, considerando que há uma distância gigantesca entre si e a estatura política do seu antecessor, Xanana Gusmão.

"Estou consciente de que há uma distância gigantesca entre a estatura política de Xanana Gusmão e aquilo que sou. Mas aceitei o desafio simplesmente sob a perspetiva de melhor servir a causa e o povo", disse à Lusa, na sua primeira entrevista desde que a Presidência da República confirmou que tinha sido indigitado para suceder a Xanana Gusmão.

Rui Araújo, membro do Comité Central da Fretilin, vai tomar posse, previsivelmente esta semana, como primeiro-ministro do VI Governo timorense, tendo explicado à Lusa numa conversa telefónica que ainda estão a decorrer negociações sobre a formação do executivo.

"Isso ainda está em discussão e depois das consultas com o Presidente da República comunicaremos a composição", disse.

Já depois desta conversa, fonte da Presidência confirmou que Rui Araújo vai ser recebido na quarta-feira às 11:00 locais (02:00 em Lisboa)

Rui Araújo, que no passado foi 'estafeta' das comunicações do então líder da resistência timorense, Xanana Gusmão, passa agora a liderar um executivo onde comandará o líder histórico timorense.

"É uma honra e privilégio fazer isso. Não por uma questão de honra pessoal ou de prestígio pessoal, mas por servir a causa e o povo", afirmou.

Questionado sobre o que representa ser primeiro-ministro, Rui Araújo considerou que marca "o início de uma operação de resgate do futuro [de um país] que até aqui tem vivido refém do passado", marcando uma mudança geracional.

"No sentido de que é preciso pensar para a frente, é preciso respeitar a história do passado, mas é preciso trabalhar para construir o futuro", afirmou.

"É uma iniciativa que dá o começo a uma transição da qual, nos próximos anos, vamos começar a ver os resultados", disse.

Sobre o seu programa de Governo, Rui Araújo considerou que "tudo é prioridade" na complexa agenda de Timor-Leste, mas que é necessário realismo, já que o tempo até ao final da legislatura, apenas dois anos e meio, é pouco.

"A prioridade não deve ser diferente daquilo que foi traçado pelo V Governo. Terá que ser desenvolvida no âmbito do Plano Estratégico Nacional", disse.

"Mas o foco da governação vai ter que se centrar na melhoria da prestação de serviços e da qualidade das obras, em curso e que vão ser feitas", afirmou.

O objetivo parece ser aproveitar o que falta da legislatura para melhorar formas de trabalho, algo que Rui Araújo explicou implica atuar em toda a cadeia de tarefas, "tanto a nível de eficiência orçamental, como técnica na preparação e execução dos programas".

Isso permitirá, finda esta legislatura de trabalho, facilitar a continuação de toda a agenda de desenvolvimento nos anos seguintes, explicou.

Uma tarefa complexa que começa já no desenho do seu elenco governativo e que a partir de agora mudará o que era a vida, muito mais simples, de um homem fortemente ligado à família.

"Já partilhei com franqueza os sacrifícios que a família vai ter que passar. Estão comigo, solidários, porque também comungam a causa e estamos unidos para enfrentar isto", afirmou.

O novo Governo timorense deverá tomar posse, no Palácio de Lahane, nos arredores de Díli, na sexta-feira.

ASP // VM

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