MARTINHO JÚNIOR, Luanda
NADA APRENDEU!
Pedro Pires, Presidente de Cabo Verde, é daquelas personagens que os africanos respeitam, em relação à sua trajectória durante sua juventude.
Ele fez parte daquele escol que deu vida aos movimentos de libertação em África, no seu caso concreto participando na luta contra o colonialismo na Guiné Bissau, integrando as fileiras do PAIGC que tinha como guia Amílcar Cabral.
Na luta então travada, o colonialismo português (recorde-se que Portugal foi o único estado fascista presente na fundação da NATO) fez uso de meios bélicos daquela Organização, inclusive aviões de ataque ao solo Fiat-G-91, fornecidos pela Alemanha.
Amílcar Cabral foi um dos dirigentes do movimento de libertação que mais chamou a atenção para o papel da NATO em socorro de Portugal e, por isso mesmo, conseguiu que o PAIGC recebesse mísseis solo-ar portáteis que limitavam o espaço aéreo aos aviões portugueses, fazendo-os perder muitas das suas capacidades ofensivas.
Com as independências das então colónias portuguesas, Cabo Verde incluído, esperava-se dos seus dirigentes muito mais cuidado em certas abordagens que envolvem as componentes militares e de inteligência.
Nos relacionamentos com Portugal os cuidados deveriam ser muito mais perspicazes, pois se Portugal foi o único país fascista a constituir-se membro fundador da NATO, é por causa dos seus imensos bons ofícios para com os aliados e aquela Organização, desde os tempos da IIª Guerra Mundial.
Não é agora que Portugal, após o 25 de Abril, que se constituiu num componente da Europa, que essa situação se alterou, mas Pedro Pires, Presidente de Cabo Verde, poucos cuidados tem para com a NATO!
Seria relativamente admissível a Cabo Verde empenhar-se na luta contra o tráfico de droga, assim como na luta contra as migrações clandestinas, ou ainda na luta contra a pirataria nos mares e oceanos, mas não é admissível, em nome do bom entendimento com Portugal e com outras potências europeias (Holanda e Itália, por exemplo), abrigar em seu próprio território para treino e preparação, as forças especiais da NATO (a espinha dorsal do potencial de agressão daquela Organização), fosse a que pretexto fosse.
Na qualidade de Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires acompanhou a par e passo o Exercício da NATO “Steadfast Jaguar 2006”, esquecendo-se por completo dos sacrifícios impostos ao movimento de libertação em África, que experimentou o potencial das armas da NATO colocadas ao serviço de Portugal, desde então membro dessa Organização!
Entre o jovem Pedro Pires e o Presidente, é evidente que toda a nossa simpatia só pode ir para o primeiro; para o segundo e neste caso: parece que quanto mais velho, mais memória perdeu, mais oportunista se tornou e sobretudo, demonstra não ter aprendido a lição!
Não são dirigentes deste tipo que África precisa!
PAZ SIM, NATO NÃO!
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2 comentários:
Eu subscrevia este artigo integralmente se o Pedro Pires ainda fosse Presidente de Cabo Verde mas lá se foi o seu reino.
O articulista está cheio de razão!
É PRECISO PREVENIR, DEFENDENDO A PAZ!
Grato pela atenção, no entanto nós africanos precisamos urgentemente de não ter razão: é preciso acima de tudo prevenir, cultivar a paz em toda a sua profundidade, pois África já teve sua dose mais que suficiente de guerras, tensões, conflitos e miséria e todos os africanos devem ganhar a sabedoria para essa prevenção, sem prejuízo de cidadania, de participação e de generosa democracia!
Martinho Júnior.
Luanda.
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