Diário de Notícias,
editorial
A mensagem de
incentivo que Angela Merkel trouxe ao Governo de Portugal, espalhada pelos
meios de comunicação a todo o mundo, teve vida curta. O Banco de Portugal
(BdP), menos de um dia depois, veio deitar por terra a visão governamental dos
efeitos da sua política de austeridade orçamental em 2013. Não se trata de um
palpite à mesa de café, nem de uma das inúmeras tertúlias de escárnio e maldizer
que enxameiam a blogosfera. Como resultado de um trabalho de análise
independente, conclui-se que, também no BdP se prevê um ano negativo como
resultado do forte aperto fiscal que se estende a muitos mais contribuintes no
próximo ano. O consumo de milhões de portugueses e o investimento de milhares
de empresários vão cair muito mais do que o previsto. O produto recuará muito
mais e não será ainda em 2013 que se poderá dar a tão ansiada inversão de
tendência económica.
Os parceiros
sociais dizem outro tanto. Já não se trata de uma "tendência doentia"
de comentadores para ressaltarem sempre os piores cenários possíveis. São
praticamente todos os atores da cena económica a afirmarem que não acreditam no
caminho que o Governo lhes impõe. Não é possível arrancar uma economia, ou
seja, toda uma população, da espiral destrutiva da recessão com medidas
desacreditadas perante quem cria os bens e serviços, quem os consome, quem
impulsiona uma economia nacional. Até já o FMI o admite.
Já o Governo
mantém-se frio e distante perante este coro de dissidentes, de uma diversidade
e amplidão sem precedentes. Até ao fim do mês fechar-se-á a discussão e a
votação final do OE 2013. Será que os grupos parlamentares da maioria vão
aprovar o documento apesar de tanta discórdia? Ou irão acertar alterações até
lá?
Que greve teremos
Qual o impacto da
greve geral da CGTP marcada para hoje? Qual o grau de contestação social a que
vamos assistir? Estas duas questões não têm resposta fácil. Uma greve deste
género, como se sabe, fica sempre ligada ao grau de paralisação dos
transportes, que afeta todos os resultados. Ora nesse sector as paragens têm-se
sucedido e hoje não será exceção. Nas restantes áreas, só ao longo do dia se
perceberá se os portugueses vão aproveitar o argumento e a oportunidade para
fazerem um novo voto de protesto contra o garrote da austeridade ou se a
situação precária da empregabilidade no País e o impacto da perda de um dia de
ordenado nos salários já reduzidos pesará na decisão.
Há ainda um outro
fator a ponderar. O facto de a CGTP não ter convidado a UGT a juntar-se a esta
greve geral revela alguma divisão nos protestos. Algo que se deve à história de
concorrência entre as duas centrais sindicais em Portugal, a que se junta agora
a necessidade de afirmação da nova liderança de Arménio Carlos, por um lado, e
a assinatura isolada e criticada de João Proença no Acordo de Concertação, por
outro. Mesmo assim, mais de 30 sindicatos afetos à UGT e o próprio líder vão
aderir à greve.
E há ainda que
contar com o efeito de se tratar de uma greve europeia, que se fará sentir
especialmente em Espanha, Itália e Grécia, de onde podem vir exemplos mais
radicais. E perigosos. Amanhã se fará o balanço.
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