quarta-feira, 19 de março de 2014

Angola: COLONIZAÇÃO CHINESA AINDA MAIS FORTE



Folha 8 – 15 março 2014

Câmara de Comércio Chinesa em Angola, no âmbito da sua estraté­gia siamesa de unir ou assimilar mais um país irmão, mesmo que à revelia dos seus ha­bitantes, criou em Luanda algo que fazia falta como pão para a boca dos ses­senta e tal por centos de angolanos que passam fome: um centro de ser­viços para assistência legal e apoio logístico às cada vez mais empresas e cidadãos chineses esta­belecidos no nosso país. Uma espécie de filial neo­-colonial.

“Actualmente há pelo menos 500 empresas chinesas a operar em Angola e mais de 100 mil expatriados chineses que trabalham em projectos de reconstrução do pós­-guerra, dando um no­tável contributo para o desenvolvimento socio­-económico do país afri­cano”, afirma a agência noticiosa Nova China. 100 mil? Os chineses não são, nesta matéria, grade coi­sa. Facturam por cima e pagam por baixo.

A criação do centro de serviços é justificada, como se isso fosse neces­sário perante a constata­ção diária de todos nós, pelos “imensos desafios e dificuldades” resultantes da falta de conhecimento da legislação angolana e das “diferenças culturais” entre os dois países, se­gundo o secretário-geral da Câmara de Comércio, Zhao Hongbing.

Em matéria de “diferen­ças culturais”, pelo andar da carruagem “made in China” tudo leva a crer que não tardará muito e os angolanos já estarão assimilados e prontos a ombrear com os seus ca­maradas da pátria de Mao Tsé-Tung, bem como a ler “O Livro Vermelho” na versão em mandarim.

A nova estrutura, que cooperará com a Embai­xada da China em Luan­da, vai ajudar as empre­sas e cidadãos chineses na obtenção e renovação de vistos, registo de ne­gócios e arbitragem em disputas comerciais. Por outras palavras, vai ajudar a acelerar a colonização chinesa, tal como é dese­jo de Pequim e perante a permissividade do nosso regime, parte dele forma­tado pelos mesmos ideais chineses.

“Vai ainda, entre outros aspectos, garantir assis­tência aos expatriados chineses com dificulda­des financeiras”, acres­centa ainda a organização. De facto, o proletariado chinês também precisa de ajuda, sabido que é que funciona como carne para canhão dos grandes inte­resses do capitalismo co­munista chinês.

Angola, assinala a agên­cia noticiosa Nova Chi­na, “expulsa anualmente milhares de imigrantes ilegais, na sua maioria provenientes dos países vizinhos e que vêm à pro­cura de oportunidades de emprego”. É verdade. Mas, convenhamos, os chineses não vêm à pro­cura de emprego, pelo contrário. Tiram é o em­prego que deveria ser dos nossos cidadãos, mas essa é também uma história conhecida que não tira o sono às autoridades ango­lanas.

Os dois países estabe­leceram em 2010 uma parceria estratégica, que começou na passagem à prática do princípio “oil for money” (petróleo por dinheiro), em que às li­nhas de crédito chinesas correspondem as expor­tações de petróleo ango­lano. Um bom negócio para as duas partes, diz o governo. Maus, afirmam os autóctones que, contu­do, nada contam para as contas do regime.

Por alguma razão a Chi­na é actualmente, e assim continuará por muitos anos, destino de cerca de metade das exportações de crude angolano.

Os efeitos desta parce­ria estratégica são evi­denciados pelo enorme crescimento das trocas comerciais bilaterais, que aumentaram mais de dois mil por cento entre 2002 e 2012, tornando Angola no segundo país lusófono com relações comerciais mais intensas com a Chi­na.

As trocas comerciais en­tre Angola e a China, que cresceram mais de 42 por cento em 2011, atin­giram o valor de 37,5 mil milhões de dólares em 2012, um aumento sig­nificativo comparativa­mente a 2002, quando era apenas de 1,8 mil milhões de dólares. Os números mais recentes das trocas comerciais bilaterais, de­monstram que continuam a crescer.

A China concedeu a An­gola, com o fim da guer­ra civil em 2002, apoio financeiro para a recons­trução do país, destruído por um conflito fratricida de cerca de quatro déca­das, compensando assim a falhada intenção do Go­verno angolano de reali­zar uma conferência in­ternacional de doadores.

Inicialmente baseada em empréstimos monetários, pagos com o petróleo an­golano, a cooperação bila­teral entre os dois países ficou rapidamente marca­da pela presença em An­gola de várias empresas chinesas, a investirem nos projectos de reconstru­ção e de desenvolvimen­to, sobretudo no sector da construção de edifícios, estradas, pontes, escolas, instalação de fábricas e em outros sectores so­ciais e económicos.

Apesar do número avan­çado pela China relativa­mente a cidadãos chine­ses ser apenas de 100 mil, as autoridades estimam que residam em Ango­la, na realidade, cerca de 260 mil chineses, maiori­tariamente trabalhadores de empresas chinesas da construção civil.

Noutro patamar registe­-se que são decepcionan­tes os números sobre a economia chinesa. Pe­quim anunciou uma que­da inesperada de 18,1% das suas exportações e um défice comercial surpresa de 22,98 mil milhões de dólares.

A estes números acres­centou-se uma diminui­ção da inflação anual para 2%, em Fevereiro, o que foi visto como uma per­da de força do consumo e da actividade da segunda maior economia do mun­do.

Mesmo que parte da fra­queza subjacente a estes indicadores seja imputada ao novo ano lunar, no final de Janeiro, durante o qual grande parte de fábricas e lojas suspenderam as acti­vidades, estes dados “con­firmam a ideia, observada desde há meses, que a economia chinesa está a perder força”, observou Jack Ablin, da BMO Ca­pital Markets, acrescen­tando que “isto afecta em particular o mercado de matérias-primas”, de que a China é uma consumi­dora particularmente im­portante”.

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