quinta-feira, 27 de março de 2014

Portugal: Governo só anuncia cortes salariais na função pública depois das europeias



Rosa Pedroso Lima - Expresso

Na próxima segunda-feira, o Executivo reúne em sessão extraordinária para fechar o Documento de Estratégia Orçamental. Ponto forte: o modo de tornar definitivos os cortes definitivos de salários e pensões dos funcionários do Estado. Uma medida que vale quase 2 mil milhões de euros.

Os actuais cortes de salários e pensões de funcionários do Estado vão ser definitivos. A notícia não é nova, foi até noticiada pelo Expreso em Janeiro, mas ganha agora actualidade quando se aproxima a reunião extraordinária do conselho de ministros, marcada para segunda feira e onde o tema vai ficar definido. No entanto, os cortes definitivos dos salários dos trabalhadores da Administração Pública só serão conhecidos depois de Maio - isto é após a saída da troika e das eleições europeias.


O Documento de Estratégia Orçamental (DEO) é o ponto único da agenda do encontro dos ministros e será aí que, em linhas gerais, será estabelecido como serão permanentes os cortes de cerca de 2 mil milhões de euros que representam a redução remuneratória aplicada, desde 2011, aos funcionários públicos e aos pensionistas do Estado.

"O objectivo de acomodar a actual redução de salários e pensões estará no DEO", disse fonte oficial do Ministério das Finanças. As contas estão feitas: os cortes a aplicar 'valem' 800 milhões em pensões e 1,1 mil milhões em salários. São estes os valores orçamentais incluídos no OE 2014 e que terão de se prolongar no próximo ano.

A fórmula para tornar permanentes os cortes, até agora dados como provisórios, passa pela revisão da Contribuição Extraordinária de Solidariedade, assim como pela alteração das tabelas salariais e de suplementos remuneratórios dos funcionários públicos. A primeira parte do trabalho está mais adiantada e resulta das contribuições do grupo técnico, nomeado em janeiro pelo Governo, para estudar a fórmula como a CES podia passar a ser uma medida definitiva.

"Já foi encontrada uma solução", garantiu a mesma fonte oficial das Finanças, que esclarece que o assunto vai ser discutido na última avaliação da troika ao programa de ajustamento. O grupo técnico´, que tinha como missão encontrar uma solução blindada constitucionalmente e tecnicamente execuível, terá avançado com a possibilidade de indexar as pensões de reforma a indicadores demograficos e económicos. Uma solução, aliás, já ensaiada pelo Governo na altura de apresentação ao TC do diploma sobre convergência de pensões. Nessa altura, dois constitucionalistas - Vieira de Andrade e João Loureiro - elaboraram pareceres, incluídos num vasto dossie enviado aos juízes constitucionais, sustentado que os cortes definitivos das pensões do Estado se justificavam constitucionalmente em nome do princípio da equidade entre-gerações e para garantir a sustentabilidade do sistema de segurança social público.

No diploma da convergência de pensões, o Governo previu pela primeira vez a possibilidade de indexar uma alteração dos valores das pensões a indicadores de crescimento económico e de redução da dívida pública. Ou seja, admitia que os cortes não seriam definitivos, se houvesse um crescimento da economia sustentado ao longo de um período de, pelo menos, dois anos consecutivos. O mesmo modelo seria, então, introduzido na alteração da CES: se o País crescesse economicamente e os níveis de natalidade aumentassem, então as pensões públicas podiam ser automaticamente revistas.

A outra grande tarefa do Governo é a da redução salarial da função pública. Não só porque a medida tem um peso orçamental grande - 1,1 mil milhões de euros - como também por não estar imune a riscos orçamentais. A mesma fonte oficial adianta que o trabalho da revisão da tabela salarial única está mais atrasado e não será apresentado em concreto na última avaliação da troika em Portugal - isto é, antes das eleições europeias. A este diploma e com o mesmo objectivo de redução estrutural da despesa do Estado em salário está na forja o diploma de revisão da tabela de suplementos dos trabalhadores da Administração Pública e do sector empresarial do Estado. O Governo deixa claro que vai reduzir o número de suplementos existentes actualmente - não dizendo quais deixará 'cair' - e que vai acabar com a existência de complementos associados percentualmente ao valor do salário do funcionário. Os suplementos remuneratórios serão fixados em euros e terão um teto máximo para toda a Administração do estado.

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