quarta-feira, 19 de março de 2014

Xanana vê demasiada demagogia nas críticas à adesão da Guiné Equatorial à CPLP




Jacarta, 18 mar (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, considerou hoje em Jacarta, na Indonésia, que, por vezes, existe demasiada demagogia nas críticas à possível entrada da Guiné Equatorial como membro pleno da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Penso que, às vezes, somos demasiado teóricos e demagogos. Se formos a ver por isso tudo, a Guiné-Bissau devia ter saltado fora da CPLP há 33 anos", defendeu o chefe do Governo de Timor-Leste, referindo-se a "33 anos de golpes de Estado".

Várias vozes têm-se feito ouvir contra a adesão da antiga colónia espanhola à CPLP, devido à natureza repressiva do regime liderado por Teodoro Obiang, que recentemente decidiu suspender a pena de morte.

A abolição da pena de morte no país terá de envolver um referendo, porque está inscrita na Constituição do país, explicou a presidente do Senado da Guiné Equatorial, Efua Asangono, em declarações à Lusa na terça-feira, em Genebra.

Neste sentido, reforçou Xanana Gusmão, "então os Estados Unidos não podem ter assento na ONU [Organização das Nações Unidas], porque têm pena de morte".

A antiga colónia espanhola em África tem o estatuto de país observador da CPLP desde 2006 e pediu a adesão como membro pleno em 2010, ano em que oficializou o português como a sua terceira língua oficial, a par do espanhol e do francês.

"Se eles falassem alemão ou holandês, dizíamos que para aprender o português, seria difícil, mas eles falam espanhol", comentou Xanana Gusmão, que prevê deslocar-se em breve à Guiné Equatorial.

Timor-Leste vai assumir, pela primeira vez, em julho, a presidência rotativa da CPLP, durante a cimeira da organização que vai decorrer em Díli e na qual será, mais uma vez, discutida a adesão do país africano como membro pleno.

Nas últimas reuniões, apenas Portugal se opôs à adesão devido à natureza repressiva do regime, mas em fevereiro os ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP aconselharam, por unanimidade, a entrada da antiga colónia espanhola na organização, sob a forma de uma recomendação à cimeira dos chefes de Estado e de Governo de julho.

A mudança da posição portuguesa face à entrada de um país visto como uma das piores ditaduras africanas foi justificada pela pressão dos parceiros na CPLP e pelo facto de o país ter dado sinais de abertura e empenhamento no cumprimento do programa de ação a que se comprometeu com a CPLP.

A Guiné Equatorial, que é um dos maiores produtos de petróleo de África, é liderada por Teodoro Obiang desde 1979, mas o país procedeu a uma reforma política em 2011 para favorecer a democracia.

AYN // VM - Lusa

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