domingo, 15 de junho de 2014

Angola: MISTERIOSO VOO DOS BILIÕES DA “BESA AIRLINES”




A propósito do sumiço de 5,7 biliões de dólares no “Caso Sobrinho/BESA”, uma observação assaz pertinente, publicada em primeira mão no estrangeiro e “postada” no Facebook sobre o que se passou nestes últimos quatro ou cinco anos no Banco Espírito Santo Angola, chama à atenção do leitor o volume do dinheiro sacado nesse banco por “Quem de direito”: «Quanto dinheiro cabe numa mala? Numa mala de executivo cabe um milhãozito em notas de cem dólares, bem apertadinhas. Agora imagine que levantou de um banco 525 milhões. 525 malas, um camião TIR! (pelo que se diz são mais de setecentos milhões o que Sobrinho papou). É de outro mundo? Não, é deste.

William Tonet e Arlaindo Santana – Folha 8 – 13 junho 2014

Aconteceu em Angola, no BESA, com gestores an­golanos e portugueses. Onde está o dinheiro? Uma parte foi depositada em contas de não se sabe quem, a outra em contas do presidente e de um administrador do banco. Chocado? Então continue a ler».

Foi o que fizemos, conti­nuámos a ler, mas antes de entrar no miolo deste golpe magistral, quase mortal para qualquer ban­co, vamos fazer um pe­queno retorno no tempo para melhor entender a situação actual.

No ano de graça de 2009 depois de Jesus Cristo, o Banco Espírito Santo An­gola (BESA) foi distingui­do com o prémio Banco do Planeta, atribuído pe­las Nações Unidas através da Unesco. O seu director executivo desse tempo era um angolano, Álvaro Madaleno Sobrinho, per­sonagem perseguida pelo fisco e Ministério Público de Portugal por ter sido, alegadamente, surpreen­dido numa tarefa rotinei­ra de lavar dinheiro sujo proveniente, vejam só, de Angola.

Não sei se estão a ver o topo da montanha, esta­mos em plena crise finan­ceira e económica, oferta­da sem juros pela falência do gigantesco banco ame­ricano Lehman Brothers, e eis que neste cataclismo monetário uma institui­ção bancária angolana faz.

A mostra das suas excelen­tes qualidades de gestão e recebe de mão beijada uma prestigiosa distin­ção internacional. Palmas na assistência e restante povo, festa entre os accio­nários, louros para Álvaro Sobrinho, tudo ouro sobre azul, com os juízes portu­gueses a encolherem-se e, claro está, o brasão des­se bancário a brilhar de novo em todo o seu fulgor d’antanho, novinho em fo­lha!

Sobrinho continuou a diri­gir o BESA, o homem fez o que quis e o BES de Lisboa deixou fazer. O Sobrinho agradeceu, foi ao cofre e serviu-se, mas só depois – e disso não restam muitas dúvidas -, de ter servido em grande as mais gigan­tescas “Trutas” empresa­riais, financeiras e políticas do regime JES/MPLA. Tão simples como isso.

Nesta proveitosa passea­ta ao longo da majesto­sa auto (mática)-estrada da corrupção angolana, passaram dois anos sem qualquer problema, mas, em 2011, os auditores co­manditados por Lisboa repararam que o BESA estava numa situação tão má que só com ajuda ex­terior poderia escapar a uma fraudulenta bancarro­ta, o buraco atingia quase seis biliões de dólares e…já agora, adivinhem quem foi ao socorro do BESA… não vale a pena adivinhar, é elementar, foi o Estado an­golano, graças à interven­ção providencial de JES, que se prestou a assumir e a prestar garantias oficiais sobre estes créditos mal­parados.

Isto há maneiras de ga­nhar dinheiro e enrique­cer em dois tempos e três movimentos que nem ao Mafarrico passaria pela cabeça! Foram quase 6 mil milhões de dólares (vulgo seis biliões) para os cane­cos privados. Desapare­ceram, não se sabe onde estão, eram empréstimos sem nome certo do bene­ficiário, nem qualquer ga­rantia, uma festa.

O PONTO DA SITUAÇÃO ACTUAL

Em finais de 2013, depois de uma espécie de revolução palaciana nas altas esferas do Banco Espírito Santo Angola (BESA) a situação por que estava a passar o banco foi explicada aos ac­cionistas pelo novo CEO, Rui Guerra, em duas reu­niões que decorreram em Angola, mais precisamen­te, em Luanda.

O panorama apresentado por Guerra foi descrito em poucas palavras, o que se justifica plenamente, pois é extremamente complicado justificar com alguma lógi­ca o desaparecimento de um valor de 5,7 biliões de dólares de crédito (cinco mil e setecentos milhões de dólares) concedido pelo BESA “a alguém”, o que representa nada menos do que 80% do total da cartei­ra desse estabelecimento bancário. Curiosamente, não há informação sobre quem são os beneficiários económicos nem para que fins foi utilizado o dinheiro. Há muito poucas garantias reais e as que existem não estão avaliadas. Eis pelo essencial a notícia dada no final da semana passada pelo semanário português Expresso.

Sabendo nós que em 2009 o BES Angola chegou a ser distinguido com o prémio Banco do Planeta, atribuí­do pelas Nações Unidas através da Unesco, não vale a pena argumentar, para justificar o que se pas­sou, recorrendo a noções como desleixo, distracção, negligência, não, o acto foi cirúrgico e magistralmente executado durante vários anos. Os que comeram do mesmo bolo não devem ser poucos! E todos eles, são, com certeza, membros da mais ufana “High Socie­ty” de Angola.

A EXUBERANTE ROUBALHEIRA

As reacções a esta bom­ba mediática não se fize­ram esperar. O semanário Expresso, revelador do “Caso”, escreveu, «Na his­tória de empréstimos sem registos nem garantias do Banco Espírito Santo Angola (BESA), “não há inocentes”, “só culpados”, numa clara alusão ao bra­dar aos Céus de João Vieira Pereira, director adjunto do BES em Portugal, “Como é que em pleno século XXI é possível que um banco atribua créditos de quase 6 mil milhões de dólares sem saber em concreto quem beneficiava desses empréstimos? Nesta his­tória não há inocentes, só culpados”, garantiu, para em seguida acrescentar, «porque se o empresário Álvaro Sobrinho é o rosto das operações”, havia um conselho de administração que “é co-responsável”, uma empresa encarregue da auditoria, a KPMG, que nada disse, e um regulador, o Banco Nacional de Ango­la, que nada fez».

Todos no mesmo saco: CULPADOS. O BNA tam­bém? Sim, também…

Pedro Santos Guerreiro, o director executivo, por seu lado, num artigo de opinião que subscreveu, descortica o que se passou: “Paremos para pensar na loucura de tudo isto. Um homem fez o que quis, o BES de Lisboa deixou fazer, os audito­res só repararam em 2011. Nessa altura, o BESA esta­va numa situação tão má que foi necessário o Esta­do angolano, graças a JES, avançar com uma garantia sobre estes créditos”. E rematou, “Mas alguém vai perder muito dinheiro. Os accionistas, claro. Mas é provável que também o Es­tado de Angola perca».

Façamos aqui uma pausa. Neste passo da história levantam-se questões inte­ressantes:
a. Que interesses le­varam JES a acordar uma garantia de Estado de um montante tão elevado ao BESA, empresa privada?

b. Que teria perdido o Estado angolano com o descaminho definitivo desses biliões do BESA?

c. Que elos unem tão estreitamente JES ao BESA?

d. Será o Estado angolano/JES, sócio do BESA pela calada?...

A partir deste ponto, a nossa e qualquer outra análise entrarão, como barco à vela, num mar de espesso nevoeiro, sem vento nem correntio e, de velas pandas não vai dar para poder navegar, vamos sim derivar, espe­cular, imaginar o óbvio, como foi possível esse óbvio acontecer, pondo sistematicamente de lado, por termos medo dos ja­carés, a única hipótese vá­lida: trata-se de um roubo evidente com mais que provavelmente, inteira e entusiástica cumplicidade directa das mais altas es­feras do Estado angolano.


O HOMEM DA SITUAÇÃO

Álvaro Madaleno Sobrinho é um homem tumultuoso e polémico. Acusado em Portugal de fuga e bran­queamento de capital, não tendo actividade econó­mica em Angola capaz de justificar os grandiosos investimentos que ia fa­zendo, vai de si que, antes desta descoberta do mega buraco do BESA, não era preciso apresentar provas de que este homem não podia ser o financiador das compras que as suas socie­dades faziam e pretendiam fazer (comprar a RTP, por exemplo), pois ele tra­balhava em empresas de terceiros, logo não podia ter outro dinheiro que não fosse o que lhe era pago em emolumentos.

Contudo, como ele traba­lhava no BESA e este, em Angola, é conhecido como sendo testa de ferro do sec­tor bancário com capitais do MPLA em Portugal, não é preciso ser bruxo para adivinhar que ele e seus parentes. esses cavalheiros da família Madaleno, são laranjas do principal accio­nista do banco em Angola, o MPLA (ver mais adiante), ou então são da presidên­cia da Republica, pois os Madalenos ou “Sobrinhos” não têm actividade em empresas de comunicação social em Angola, apenas compraram jornais para si­lenciar vozes discordantes.

A actual gerência do BESA pensa que neste imbróglio, Sobrinho teria abocanha­do mais de setecentos mi­lhões, o que acrescido às suas anteriores operações financeiras dúbias, explica o facto de ele estar liga­do por um porta-moedas bilionário às empresas Newshold, Pineview Over­seas e Akoya, isto para não ir mais longe pois o andor do Santo Kumbú é grande e a procissão comprida… Este homem, como já refe­rimos, é dono do semaná­rio SOL, mas o seu nome nem sequer figura na lista dos dez principais accio­nários desse periódico. Só que a Newshold, dona des­se semanário, é dele. Por­tanto…por quê esconder?

O primeiro número do Sol, semanário português publi­cado às sextas-feiras, saiu a 16 de Setembro de 2006, num lançamento em fanfar­ra, com uma tiragem de 128 mil exemplares. É obra!

Em boa verdade, numa pri­meira análise nada se pode encontrar nessa compra como sendo motivo para noticiar de modo incisivo. A referida compra parece ter as características duma notíciazeca sem peso na balança de poderes da im­prensa escrita, especifica­mente no mercado de re­vistas periódicas.

Mas, contrariamente às aparências, nem tanto as­sim, porque o que nos é revelado vem-se juntar a um fluxo importante de investimentos angolanos no meio de negócios por­tugueses, nomeadamente nos círculos restritos dos sectores bancário e de imprensa, o que contraria em tudo o que se propaga na mãe pátria desses in­vestidores, Angola, onde desde há uns tempos a esta parte, ao invés de vermos aparecer financiamentos privados a apostar na re­construção nacional, como continuamente se anuncia na imprensa estatal, tem­-se vindo a assinalar um grande acréscimo de inte­resse dos seus filhos por investimentos fora do país, e particularmente entre aqueles que «se encontram especialmente atraídos pe­los arautos do “business” luso.

Vem a propósito aqui, ci­tar um dos últimos lances negociais de Sobrinho a atingir as luzes da ribalta, o da sua proposta de com­pra da RTP pela Newshold, isto sem esquecer que ele próprio revelou ser tam­bém accionista da empresa Pineview Overseas, que é detida (leia-se detentor de poderes delegados por quem de facto é dono) em partes iguais pelos seus fa­miliares Carlos de Oliveira Madaleno, Generosa Alves dos Santos e Silva Madale­no, Álvaro de Oliveira Ma­daleno Sobrinho, Emanuel Jorge Alves Madaleno e Síl­vio Alves Madaleno , sendo este último o presidente da Newshold, dona do SOL e de 15% da Cofina (esta proprietária, entre outros, do Correio da Manhã e do Jornal de Negócios) e 1,7% da Impresa (Expresso e SIC). Um império! Para um empregado de banco, “c’est pas mal”, parabéns.

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