São
suficientes esses mortos? Ou ainda faltam mais? É essa, e não outra, a pergunta
que os colombianos vão responder neste domingo
Patricia
Lara Salive - Carta Maior, em
Pátria Latina
Um
informativo veiculado pela imprensa disse que o conflito armado na
Colômbia deixou 34.813 sequestros, 792.382 homicídios e 124.696
desaparecimentos forçados, números da Unidade de Vítimas que, somadas,
equivalem a 917.088 mortos.
São
suficientes esses mortos? Ou ainda faltam mais?
É
essa, e não outra, a pergunta que os colombianos vão responder neste domingo!
Por
isso, antes de marcar na cédula eleitoral para escolher o próximo presidente da
Colômbia, na solidão da consciência e da cabine de voto, cada pessoa deve ser o
suficientemente honesta, clara e valente para contestar estas três perguntas:
Quero
conseguir uma paz com mais condições e, para alcançá-la, tanto faz que tenhamos
mais mortos, porque esses mortos, muito provavelmente, não vão doer em mim,
pois eles estarão no campo, longe, e não serão meus filhos, nem meus pais, nem
meu parceiro, nem meus amigos e, por isso, escolho o candidato que não quer
esta paz que está próxima, mas sim a outra, perfeita, que está distante e que
talvez não chegue nunca?
Ou
eu voto pelo candidato que está a ponto de concluir a atual negociação e aposto
que esta paz será conquistada em poucos meses, parando as mortes que doem em
mim, ainda que eu não os conheça, pois são cidadãos colombianos? E porque eles
importam para mim, aceito essa paz que implica em reconhecer que existe uma
contrapartida. E chegar a um acordo não significa, sob qualquer hipótese, ceder
em relação aos princípios que afetam o sistema democrático, nem permitir que
exista um canto apenas do país que não esteja controlado por nossas Forças
Armadas.
Ou
para mim não importa se há ou não mais colombianos mortos por causa do conflito
e me abstenho de votar ou voto em braco?
Estas
são, sem maquiagem, as opções que temos para este domingo.
Em
minha longa vida, nunca tinha visto eleições tão decisivas como as de agora...
E não tenho dúvidas: no domingo, eu vou escolher esta paz, confio nela, ainda
que não seja exatamente aquela que eu queria. Eu aceito e escolho ela porque eu
a quero agora, para meus filhos, para meus netos, para mim. Porque não me
conformo com uma paz com melhores condições para meus bisnetos e porque, além
disso, antes de morrer, quero ter conhecido uma Colômbia em paz.
E
para os que ainda estão indecisos ou consideram que seu voto – um a mais ou um
a menos – não define nada, deixo este poema atribuído a Bertold Brecht:
Primeiro
levaram os judeus
Mas
não me importei com isso
Eu
não era judeu
Em
seguida levaram alguns comunistas
Mas
não me importei com isso
Eu
também não era comunista
Depois
prenderam os operários
Mas
não me importei com isso
Porque
eu não sou operário
Depois
levaram uns intelectuais
Mas
não me importei com isso
Porque
eu não sou intelectual
Agora
estão me levando
Mas
já é tarde.
Parabenizo
o governo e o ELN (Exército de Libertação Nacional) por terem revelado que
estão em fase exploratória para iniciar a negociação que tanto se tentou fazer
durante o governo de Álvaro Uribe.
Anunciaram
que já chegaram a um acordo para que a agenda inclua os aspectos das vítimas e
da participação da sociedade civil.
O
fato de terem feito aproximações públicas compromete ainda
mais os dois lados e esclarece a possibilidade do final total do conflito
armado na Colômbia.
Que
Deus queira assim!
Tradução:
Daniella Cambaúva
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