Prisão
de membro da inteligência alemã que vendia dados sigilosos para os americanos
abala a confiança entre EUA e Alemanha. Mas a Berlim só resta se proteger,
opina Miodrag Soric, correspondente da DW em Washington.
Depois
da revelação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos
espiona os cidadãos alemães, tendo mesmo grampeado o celular da chanceler
federal alemã, Angela Merkel, agora mais esse escândalo: durante um ano e meio,
um funcionário do Departamento Federal de Informações (BND), o serviço secreto
alemão, vendeu informações confidenciais para os americanos. Muitos estão
indignados na Alemanha. Comentários na mídia ou entre os parlamentares alemães
acusam os americanos não serem confiáveis. O Ministério Público abriu
inquérito.
Mas
como os EUA reagem? Primeiro, sequer reagem. Os americanos têm um fim de semana
prolongado, em que comemoram seu feriado nacional. Jornais dos EUA ou não tocam
no assunto ou se limitam a citar publicações alemãs. Congressistas e senadores
estão em suas bases eleitorais. O governo permanece em silêncio.
Quem
conversou com funcionários de think tanksamericanos neste fim de semana,
recebeu sempre a mesma resposta: eles se espantam que os alemães estejam
fazendo tanto estardalhaço sobre o assunto, chegando até a convocar o
embaixador dos EUA em
Berlim. Eles ressaltam ser um fato que os serviços secretos
dos EUA espionam outros Estados, incluindo aqueles com que têm laços de
amizade, como Israel, França e Alemanha. E não vão mudar seu comportamento no
futuro. A opinião é que, embora a Alemanha deseje receber um tratamento
especial, Washington não o concederá.
O
próprio presidente americano, Barack Obama, também deixou isso claro durante a
última visita da chanceler Angela Merkel à Casa Branca. Ele assegurou que o
celular da chefe de governo alemã não será mais grampeado. Outros
comprometimentos – até mesmo de um acordo de não espionagem – não houve.
Várias
centenas de agentes do serviço de inteligência dos EUA continuam atuando na
Alemanha, de forma totalmente oficial. A maioria tem status diplomático, e
muitos cooperaram com o BND. Se um funcionário do serviço secreto alemão
oferece a eles informações sigilosas que lhes parecem importantes, eles a
aceitarão, comprarão e levarão para fora do país. No futuro também.
Estimativas
indicam que o serviço de inteligência dos EUA dispõe de um orçamento de cerca
de 50 bilhões de dólares – uma quantia enorme. Por medo de que um ataque
terrorista como o do 11 de Setembro se repita, os EUA vão continuar a investir
na NSA, CIA ou DIA, a Defense Intelligence Agency. Em caso de dúvida, para
Washington, a própria segurança é mais importante do que a sensibilidade de
Estados amigos. Isso soa arrogante, de uma perspectiva europeia. Para os americanos,
é algo óbvio.
No
final, a Alemanha não tem outra escolha a não ser tentar se proteger. Até mesmo
de tentativas de espionagem dos Estados Unidos. Os americanos entenderiam, se
Berlim decidisse gastar mais dinheiro nesse campo.
Porque,
no final das contas, a administração Obama sabe que seus aliados, incluindo a
Alemanha, são beneficiados com a informação coletada pela inteligência dos EUA.
Por isso, dizem os especialistas, o governo americano espera de que o mal-estar
diplomático causado pelo recente escândalo envolvendo o BND logo vá se
arrefecer. E aí será business as usual.
Deutsche
Welle, opinião - Autoria: Miodrag Soric, de Washington (md) – Edição: Augusto
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