Macau,
China, 14 ago (Lusa) - Macau está prestes a atingir o ponto de rutura devido ao
constante aumento da população, agora nos 624.000 habitantes, alertam
especialistas ouvidos pela agência Lusa.
De
acordo com o economista José Isaac Duarte e o urbanista Francisco Vizeu
Pinheiro, a cidade não está a conseguir dar resposta ao número elevado de
trabalhadores que todos os meses entram no território - só nos últimos três
meses foram 9.618, totalizando 155.310 trabalhadores - resultando num aumento
generalizado dos preços, falta de espaço e de equipamentos sociais.
A
situação não é de solução fácil, dizem, já que os trabalhadores são
indispensáveis para os novos complexos de jogo em construção no Cotai - zona de
casinos entre a Taipa e Coloane.
"A
solução é sempre o planeamento, mas atendendo às limitações, penso que atingiu
o limite, até com os novos aterros", diz Vizeu Pinheiro. Com 30 quilómetros
quadrados (excluindo o novo terreno de 1 quilómetro quadrado
na Ilha da Montanha), Macau tem tentado combater a falta de terrenos
disponíveis com a construção de aterros.
À
medida que a população cresce - num território que acolhe também cerca de 30
milhões turistas por ano - a proporção de equipamentos sociais desce, estando
já abaixo da média mundial e até da média da China continental, explica o
urbanista, apontando, como exemplo, o número de camas disponíveis nos
hospitais.
"Este
é o período da história de Macau em que mais trabalhadores não residentes
entram no território", sublinha Isaac Duarte.
Uma
das consequências é a subida de preços que "são brutais e não poupam
nenhum setor de atividade. A população está cada vez com mais
dificuldades", afirma o economista.
As
consequências do aumento da população não são apenas económicas e, à semelhança
do que se passa em Hong Kong ,
Macau pode vir a assistir a um aumento da tensão social e até a fenómenos de
racismo.
"A
tensão deverá aumentar à medida que aumenta a população não residente.
Brevemente, um terço da população será flutuante, são pessoas em trânsito, num
limbo social", comenta.
Vizeu
Pinheiro acredita que Macau é "mais tolerante pois depende mais do
turismo", mas também antevê problemas.
"É
uma espécie de panela de pressão, há um risco grande", alerta.
Nada
faz prever que a situação se altere num futuro próximo porque, "com a
construção da ponte [que vai ligar Hong Kong, Macau e Zhuhai], o fluxo de
pessoas vai aumentar. E não se pode reduzir o fluxo devido aos novos complexos
de jogo no Cotai", alerta Vizeu Pinheiro.
Opinião
semelhante tem Isaac Duarte: "Esta gente que está a vir é necessária para
todos os projetos de construção".
Para
Vizeu Pinheiro, a única solução possível é a expansão para a Ilha da Montanha -
um território adjacente a Macau, na província de Guangdong, para onde já foi
transferida a Universidade de Macau, num terreno sob a jurisdição da região
administrativa.
"Não
deviam destruir mais o rio e as montanhas para construir aterros, mas sim usar
a Ilha da Montanha", aconselha.
A
expansão para o território chinês não é consensual, vista como uma ameaça à
autonomia do território e um passo em direção à diluição da identidade local.
No
entanto, o urbanista considera que a transferência da universidade foi um caso
de sucesso, permitindo melhores condições, e sugere que se faça o mesmo com um
novo hospital.
"Daqui
a uns anos, faremos todos parte do mesmo sistema, de qualquer forma", conclui.
De
acordo com a Lei Básica e com a Declaração Conjunta Luso-Chinesa, a China
compromete-se a manter o estilo de vida de Macau, os direitos, liberdades e
garantias atuais até 2049.
ISG//
PJA - Lusa
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