quinta-feira, 14 de agosto de 2014

AUMENTO DA POPULAÇÃO COLOCA MACAU PERTO DA ROTURA - especialistas




Macau, China, 14 ago (Lusa) - Macau está prestes a atingir o ponto de rutura devido ao constante aumento da população, agora nos 624.000 habitantes, alertam especialistas ouvidos pela agência Lusa.

De acordo com o economista José Isaac Duarte e o urbanista Francisco Vizeu Pinheiro, a cidade não está a conseguir dar resposta ao número elevado de trabalhadores que todos os meses entram no território - só nos últimos três meses foram 9.618, totalizando 155.310 trabalhadores - resultando num aumento generalizado dos preços, falta de espaço e de equipamentos sociais.

A situação não é de solução fácil, dizem, já que os trabalhadores são indispensáveis para os novos complexos de jogo em construção no Cotai - zona de casinos entre a Taipa e Coloane.

"A solução é sempre o planeamento, mas atendendo às limitações, penso que atingiu o limite, até com os novos aterros", diz Vizeu Pinheiro. Com 30 quilómetros quadrados (excluindo o novo terreno de 1 quilómetro quadrado na Ilha da Montanha), Macau tem tentado combater a falta de terrenos disponíveis com a construção de aterros.

À medida que a população cresce - num território que acolhe também cerca de 30 milhões turistas por ano - a proporção de equipamentos sociais desce, estando já abaixo da média mundial e até da média da China continental, explica o urbanista, apontando, como exemplo, o número de camas disponíveis nos hospitais.

"Este é o período da história de Macau em que mais trabalhadores não residentes entram no território", sublinha Isaac Duarte.

Uma das consequências é a subida de preços que "são brutais e não poupam nenhum setor de atividade. A população está cada vez com mais dificuldades", afirma o economista.

As consequências do aumento da população não são apenas económicas e, à semelhança do que se passa em Hong Kong, Macau pode vir a assistir a um aumento da tensão social e até a fenómenos de racismo.

"A tensão deverá aumentar à medida que aumenta a população não residente. Brevemente, um terço da população será flutuante, são pessoas em trânsito, num limbo social", comenta.

Vizeu Pinheiro acredita que Macau é "mais tolerante pois depende mais do turismo", mas também antevê problemas.

"É uma espécie de panela de pressão, há um risco grande", alerta.

Nada faz prever que a situação se altere num futuro próximo porque, "com a construção da ponte [que vai ligar Hong Kong, Macau e Zhuhai], o fluxo de pessoas vai aumentar. E não se pode reduzir o fluxo devido aos novos complexos de jogo no Cotai", alerta Vizeu Pinheiro.

Opinião semelhante tem Isaac Duarte: "Esta gente que está a vir é necessária para todos os projetos de construção".

Para Vizeu Pinheiro, a única solução possível é a expansão para a Ilha da Montanha - um território adjacente a Macau, na província de Guangdong, para onde já foi transferida a Universidade de Macau, num terreno sob a jurisdição da região administrativa.

"Não deviam destruir mais o rio e as montanhas para construir aterros, mas sim usar a Ilha da Montanha", aconselha.

A expansão para o território chinês não é consensual, vista como uma ameaça à autonomia do território e um passo em direção à diluição da identidade local.

No entanto, o urbanista considera que a transferência da universidade foi um caso de sucesso, permitindo melhores condições, e sugere que se faça o mesmo com um novo hospital.

"Daqui a uns anos, faremos todos parte do mesmo sistema, de qualquer forma", conclui.

De acordo com a Lei Básica e com a Declaração Conjunta Luso-Chinesa, a China compromete-se a manter o estilo de vida de Macau, os direitos, liberdades e garantias atuais até 2049.

ISG// PJA - Lusa

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