Edson Cadette –
Afropress, colunista
Manhattan, Nova
York – Ferguson, uma pequena cidade de apenas 21 mil habitantes, no Estado
de Missouri (Meio-Oeste) está em chamas há uma semana, desde que o jovem
Michael Brown foi assassinado, aparentemente, sem qualquer razão por um
policial branco. O crime aconteceu no dia 09 de agosto último.
Segundo
testemunhas, o jovem estava com a mão levantada quando foi morto. Detalhe:
Michael Brown, de 18 anos iria começar a Faculdade dois dias depois. Desde sua
morte, os distúrbios ocorrem diáriamente. A morte do adolescente foi o estopim
para incendiar a já tensa relação entre a Polícia, majoritáriamente branca, e
os moradores, na sua maioria negros.
O Departamento de
Justica dos EUA, sob a direção de Eric Holder, investiga as circunstâncias do
crime. Nem mesmo o pronuciamento do presidente Barack Obama, que fez críticas
públicas ao comportamento da Polícia de Ferguson, acalmou os ânimos. Com a
popularidade em níveis baixíssimos, mesmo entre eleitores negros, a fala
de Obama não surtiu o efeito esperado, nem acalmou os ânimos.
Os confrontos se
sucedem e continuaram neste sábado (16/08), conforme relatam as agências de
notícias. De um lado, a Polícia portando armas de grosso calibre; de outro,
manifestantes enfurecidos. Autoridads locais e federais buscam formas de fazer
cessar os conflitos, até agora sem sucesso.
Como, normalmente
acontece em situações desse tipo, jornalistas se tornaram alvos no fogo
cruzado dos enfrentamentos Polícia x manifestantes indignados.
Danny Lyon, um
velho fotógrafo, cujo trabalho é conhecido desde à época das grandes manifestações
do Movimento pelos Direitos Civis, na década de 60, disse ter ficado
impressionado com as imagens na TV.
Se na época, os
policiais brancos carregavam rifles e se faziam acompanhar por cães pastores,
em Ferguson de 2014, a
mesma Polícia usa uniformes equipados com capacetes e máscaras de gás e porta
metralhadoras.
As imagens de
Fergusson em chamas remetem às cenas quase diárias dos conflitos Polícia x
moradores nas favelas do Rio, e não são usuais para uma pequena cidade no meio
oeste Americano.
“Não parecia como
os EUA. Parecia mais com Soweto”, disse Lyon, referindo-se a cidade na África
do sul que ficou conhecida por causa dos protestos durante o regime do
apartheid. “Parecem soldados, e o trabalho do soldado não é proteger. O
trabalho deles é matar pessoas e devem estar preparados para morrer.”
O historiador
Martin A. Berger, professor universitário na Califórnia e autor do livro “Seeing
Through Race: A Reinterpretation of Civil Rights Photography” (trad – Vendo
Através da Raça: Uma Reinterpretação das Fotografias dos Direitos Civis) disse
que as imagens dos manifestantes atirando coquetel Molotov ou da Polícia
jogando spray de pimenta, lembra a luta pelos direitos civis. Tais imagens,
para Berger, podem server para distorcer o entendimento da população deste
início de século XXI.
“Não podemos olhar
as imagens e dizer que Ferguson é igual a Los Angeles ou Birmingham, porque
parece o mesmo”, ressaltou. “Porém, temos que perguntar não apenas, o que é o
mesmo, mas também de que forma os EUA mudaram. Ter somente uma outra conversa
que termina neste nível de brutalidade policial não nos leva muito longe”,
conclui.
Os conflitos,
conforme estampam as manchetes dos principais jornais não apenas nos EUA, mas
em todo o mundo, continuam. E ninguém sabe quando e como vão parar. O fato é
que as cenas já são bem conhecidas dos norte-americanos.
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Afropress
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