Eduardo
Oliveira Silva - jornal i, editorial
É
urgente e essencial para se saber o mínimo indispensável convocar uma comissão
de inquérito parlamentar
Cada
dia que passa são mais perturbadoras as notícias sobre o futuro de tudo o que
envolve o ex-império Espírito Santo, começando até pelo sucedâneo chamado Novo
Banco, ontem mesmo já considerado lixo pela influente Moody's.
Relativamente
à parte GES, ou seja, a teia empresarial montada em holdings e unidades de toda
a espécie, a situação é clara. Parte das empresas quando analisadas
individualmente estão falidas ou em graves dificuldades financeiras. Não
sobreviverão aquelas, e não são poucas, que operavam frequentemente em circuito
fechado dentro do grupo, o que as desvaloriza e lhes retira mercado.
Obviamente
também haverá algumas que sobreviverão uma vez isoladas. No entanto, terão de
passar por um crivo que começa na averiguação da situação económica e
financeira e acaba na reconsideração dos gestores e directores de cada uma,
sendo certo que até às decisões finais se assistirá ao habitual rol de
traições, cortes de cabeça e saneamentos, sejam eles fundamentados ou não. Há gente
sem culpa que vai pagar e culpados que vão escapar. O costume no planeta dos
homens. As ocorrências serão muitas e
certamente algumas bem feias. Primos e primas não terão um cartão de acesso
privilegiado ao que quer que seja, mas é preciso criar mecanismos para evitar
perseguições de sentido inverso, embora essa probabilidade seja baixa.
Uma
das realidades lamentáveis com que nos confrontamos todos os dias neste caso
tem a ver com as revelações a conta-gotas que cada cidadão tende a analisar
como uma verdade absoluta e definitiva, mas que, normalmente no dia seguinte,
se configura como apenas uma minúscula parcela de uma verdade complexa que
talvez nunca se deslinde, como sucedeu em casos semelhantes em Portugal ou no
estrangeiro. E aqui não vale a pena citar o caso Madoff como excepção porque na
realidade dele nada se sabe, a não ser que o seu alegado chefe levou mais de
cem anos de cadeia porque se auto-incriminou.
Quem,
por exemplo, sabia segunda-feira que o Banco de Portugal se tinha visto na
contingência de injectar 3500 milhões de emergência no BES? Por que razão um
dado tão significativo e que envolve responsabilidade directa dos contribuintes
só foi conhecido ontem?
Como
interpretar, ainda hoje, tantas declarações destinadas a tranquilizar cidadãos
mais ou menos incautos a propósito da situação do BES? Isto quando na realidade
teria sido altamente desejável uma atitude menos crédula para detectar as
manobras que estavam em curso entre o anúncio do nome de Vítor Bento e a saída
de Salgado? E já agora porque não se esclarece se efectivamente quem estava à
frente do banco nesse período tinha legitimidade para assinar cartas de
conforto de 800 milhões de dólares? Tinha mesmo? Venha a explicação.
Como
ontem afirmava Jorge Coelho, há muito por contar sobre o assunto (BES) e também
sobre a PT. Com o seu ar bonacheirão, Coelho está cheio de razão. Há realmente
muito para contar, mas haja quem o faça.
Para
tal era fundamental um escrutínio rápido e minimamente fiável de tudo isto.
Como a via judicial não funciona ou é lenta, como os supervisores estão
excessivamente envolvidos para poder ser preclaros, como os medianão têm
mecanismos suficientes, talvez a única solução aceitável seja aprovar
rapidamente uma comissão de inquérito parlamentar, que se reúna quanto antes
para fazer alguma luz sobre uma situação que diariamente se torna mais confusa
e opaca.
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