terça-feira, 16 de setembro de 2014

Dhlakama entra na campanha eleitoral de Moçambique com comício em Chimoio




A RENAMO está confiante no regresso do seu líder à máquina eleitoral (16.06). Mas o analista ouvido pela DW duvida que a popularidade se reflita em votos no principal partido da oposição nas eleições de 15 de outubro.

Apesar de a campanha eleitoral ter arrancado a 31 de agosto, a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) esteve até agora a meio gás. A conclusão do acordo de paz entre o principal partido da oposição e o Governo, a assinatura do documento e a sua aprovação no Parlamento dificultaram a RENAMO nas duas primeiras semanas de caça ao voto. A campanha entra numa nova fase, esta terça-feira (16.09), com a presença do líder Afonso Dhlakama num comício na cidade de Chimoio, capital da província de Manica, centro do país.

“O tempo perdido nunca se recupera, mas vamos tentar fazer o melhor de nós”, afirma António Muchanga, porta-voz do líder da RENAMO.

“A campanha presidencial do candidato vai ser curta, mas nós estamos no terreno desde que a campanha iniciou. A maior parte dos deputados ainda estava cá [em Maputo] por causa da aprovação dos entendimentos em forma de lei. Mas acredito que esta semana todos eles já estarão posicionados no terreno e que a campanha vai ganhar nova dinâmica”, acrescenta Muchanga.

A RENAMO corre agora contra o tempo. No entanto, o porta-voz de Afonso Dhlakama acredita que tanto o partido como o líder saem beneficiados do longo processo do acordo de paz (assinado a 5 de setembro).

Para a campanha, “as expectativas são muito altas porque desde que o presidente Dhlakama saiu da Gorongosa, do famoso “lugar incerto”, toda a estrada que ele percorreu estava abarrotada de moçambicanos que queriam saudar e agradecer por tudo quanto ele tem feito. No aeroporto de Maputo, também havia uma enchente muito grande”, lembra Muchanga.

“Portanto, acreditamos que haverá também uma enchente jamais vista na cidade de Chimoio”, diz otimista o político da RENAMO. É na capital da província de Manica onde Dhlakama faz o seu primeiro discurso da campanha para as eleições gerais de 15 de outubro.

Popularidade não significa votos

Mas o analista político moçambicano Silvestre Baessa duvida que a crescente popularidade de Afonso Dhlakama se venha a refletir em votos nas urnas.

“O retorno dele foi sem dúvida grandioso, promoveu muito a sua imagem. Este regresso de Dhlakama dá alguma esperança à RENAMO de manter alguma influência no Parlamento, porque poderá conservar milhares de votos de pessoas que já não acreditavam na RENAMO e que agora voltam a votar”, avalia o analista político.

No entanto, adverte: “não estou muito certo se será suficiente para colocar a RENAMO muito próxima dos resultados de 1999 que foram históricos”. Na altura, Afonso Dhalkama obteve 47,7% dos votos e Joaquim Chissano, da FRELIMO, foi eleito Presidente de Moçambique com 52,3%.

No discurso eleitoral de Afonso Dhlakama deverá estar em destaque, segundo o seu porta-voz, a reforma da administração pública, sobretudo na política salarial nos sectores de saúde, educação e segurança pública. E são previsíveis naturalmente duras críticas ao partido no poder, FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique).

Para o analista Silvestre Baessa, “há uma tentativa clara de menosprezar a força do MDM e dar a entender que o verdadeiro adversário da RENAMO é a FRELIMO”, um “elemento dominante também na campanha da FRELIMO”. No entanto, no entender de Baessa, “o maior adversário da FRELIMO e da RENAMO é o MDM”, Movimento Democrático de Moçambique, a terceira força política do país. Depois de ter conseguido uma grande projeção nas cidades, o MDM avança na campanha nas zonas rurais, o que representa uma ameaça principalmente para a RENAMO.

Um líder "mais galvanizado"

Questionado sobre se Afonso Dhlakama está preparado para percorrer o país de lés a lés, o porta-voz António Muchanga garante que, depois do acordo de paz, o líder está “mais galvanizado”.

Dhlakama "terá de fazer um esforço de poder pisar todas as províncias". "Dependendo da condição estratégica de cada província, há províncias onde ele vai demorar mais tempo do que noutras. Por exemplo, as províncias de Zambézia e Nampula têm um eleitorado muito superior, na sua maioria, duas vezes mais do que as outras províncias. Portanto, é lícito que ele tente dobrar o tempo que vai permanecer em Nampula e na Zambézia, mas tendo em conta que terá de palmilhar todas as províncias do norte ao sul”, sublinha Muchanga.

Depois de Chimoio, Afonso Dhlakama segue para Nampula, no norte de Moçambique.

Glória Sousa – Deutsche Welle - ontem

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