Paulo
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião - ontem
A
meio desta semana, presidente da República e Governo trocaram uns recados por
causa do Novo Banco. Basicamente, Cavaco Silva lembrou a Passos Coelho que o
chefe de Estado deve estar na posse de toda a informação relevante sobre este
escaldante dossiê, a que o consagrado e influente "Finantial Times"
chamou, por estes dias, "o maior colapso financeiro da Europa".
Para
bom entendedor, meia palavra basta: Cavaco sabia que algo estava a passar-se,
mas não conhecia o alcance do que estava a passar-se. O primeiro-ministro
apressou-se a responder, garantindo que o Executivo não sonegava informação ao
senhor presidente. Perante a consumada demissão da Administração do Novo Banco,
uma de duas coisas aconteceu: ou Cavaco estava a forçar em público o que não
conseguiu em privado - o que é grave; ou Passos estava a garantir em público o
que não garantira em privado - o que é igualmente grave.
O
Governo quis, desde muito cedo, colocar-se do lado de fora deste gigante
imbróglio. Estava bom de ver que, empurrando o óbice da matéria para o
governador do Banco de Portugal, se a coisa corresse mal, como correu, o caso
cair-lhe-ia com estrondo nos braços. Isto é, perante o descalabro, cabe agora
ao Governo responder à pergunta que está na cabeça dos portugueses, em geral, e
dos depositantes do Novo Banco, em particular: é garantido que, no final do
dia, a operação não terá custos para os massacrados contribuintes? E o que
devem fazer os depositantes: continuam a acreditar na estabilidade da
instituição, ou é de esperar que aos cerca de 10 mil milhões de euros
transferidos para outros bancos se junte, pelo menos, outro tanto, num fatal movimento
de descapitalização do Novo Banco?
As
repercussões deste triste episódio no sistema bancário e na confiança dos
depositantes e investidores não conseguem, ainda, estimar-se. Mas isto é certo
e incontornável: o medo vai alastrar-se, sobretudo entre aqueles que, com menos
informação e mais desconfiança, deixarão de acreditar nas virtudes dos fundos
de garantia e coisas afins. Estão entre a espada e a parede. Não sabem o que
fazer. Temem pelas poupanças de uma vida. E com razão, porque nisto de recuperar
um banco lá do fundo onde se meteu só há uma certeza: os prejuízos, normalmente
medidos em milhões de milhões de euros, são para distribuir por todos. Mais por
uns do que por outros, é certo, mas por todos.
É
por isso que, regressando ao início, percebe-se mal, muito mal, que o
presidente da República, chefe máximo da nação, e o primeiro-ministro,
executivo máximo da nação, se entretenham a mandar recados em público um ao
outro em vez de, juntos, ampararem os estragos provocados pela detonação de uma
bomba. É tudo rasteirinho. E o pior é que temos (quase) todos a sensação de que
a coisa só ainda saiu do adro.
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