Verdade
(mz) - Editorial
A
partir da altura em que o Governo e a Renamo assinaram o segundo acordo de
cessar-fogo, a 05 de Setembro último, em Maputo, abriu-se um caminho para o
desarmamento deste partido e integração dos seus membros nas Forças de Defesa e
Segurança e na vida económica e social do país com vista a estarem em
conformidade com a Lei-Mãe, que não abre espaço para que os partidos políticos
estejam armados.
Na
última ronda do diálogo político, as negociações entre as partes voltaram a
cair num impasse porque o Executivo exige que a Renamo revele quantos tem sob o
seu comando, mas este partido, igual a si próprio, condiciona a divulgação da
tão desejada informação à apresentação do modelo de integração. Que tempo este
partido está a fazer para entregar as armas?
Ao
agir desta forma, a Renamo está a criar um secretismo desnecessário em relação
aos seus guerrilheiros e não abre espaço para que o diálogo avance.
Conseguir-se-á desarmar completamente a "Perdiz"?
Na
tentativa de fintar a contra-parte, este partido alega que tal exigência viola
um dos preceitos do acordo. Para que os seus homens residuais sejam integrados
à luz dos acordos assinados com o Governo, o Estado e a Equipa Militar de
Observadores Internacionais da Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM) têm
a prerrogativa de saber, entre outras questões, quantas pessoas estão ou
estavam sob o comando de Afonso Dhlakama durante cerca de dois anos de tensão
político-militar, quantas armas estão em poder deste partido e onde se
encontram. Os moçambicanos precisam dessa informação e só assim poderão viver em paz. A luta pela
democracia, de que a “Perdiz” se vangloria, e que todos nós reconhecemos o seu
valor, não necessita de armas escondidas algures.
A
Renamo não deve condicionar a revelação destes dados à apresentação do tal
modelo de integração dos seus homens. A sua desmilitarização é assunto sério,
que deve ser tratado como tal e tornado público. Este é um problema sobre o
qual não pode haver segredos nenhuns.
Que
interesse tem a Renamo em se manter um partido militarizado? O que pretende ao
recusar nos dizer de quantos homens e armamento dispõe? A insatisfação dos
moçambicanos em virtude da demora do desfecho deste do dossier e a sua
incredulidade na desmilitarização com sucesso da “Perdiz” não podem prevalecer.
Desejamos, vivamente, que esta crispação entre os Governo e o maior partido de
oposição seja efémera e fique realmente para a história. O líder deste partido,
Afonso Dhlakama, não pode se orgulhar por ser diabolizado e conotado como
belicista e perigoso.
A
guerra de que nos queixávamos há poucos meses não pode apenas significar o
calar das armas, é preciso, acima de tudo urgente, que a Renamo ajude os
gestores do Estado a darem a todos nós garantias de que para sempre teremos o
poder de decidir sobre o nosso futuro com recurso ao diálogo e nunca mais por
via armada.
Gostaríamos
de estar certos de que a Renamo será conhecida e reconhecida pelo seu papel na
luta pela democracia assente no princípio de que o poder é do povo, deve ser
exercido pelo povo e para o povo, e nunca por ser um partido militarizado.
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