Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Soube-se
agora que o banco que punha as empresas portuguesas a mexer, poucos dias antes
de o escândalo rebentar, transferiu centenas de milhões de euros da instituição
para off-shores no estrangeiro. É um caso de polícia. A PT, símbolo de um
Portugal moderno, alicerçado na ligação das empresas à investigação científica,
é uma recordação.
Ruiu
o BES, em poucos dias para alguns, em poucos meses poderão dizer outros. E com
o Espírito Santo esvaiu-se uma das mais promissoras empresas nacionais. Sinais
contraditórios - e preocupantes - com o discurso da retoma. Maria Luís
Albuquerque esforça-se. Tenta passar a mensagem de que melhores tempos se
aproximam, sem ultrapassar o limite do que é honesto. "É pouco, mas é
crescimento", dizia a ministra neste final de semana, durante uma
iniciativa do PSD.
Portugal
visto de fora, porém, ganha outra (má) imagem. Estamos a desviar-nos do
caminho, as metas não serão alcançadas, profetizam aqueles a quem teremos de
pagar uma dívida astronómica. Podem ter razão. Mesmo sendo injustos, contudo,
faltam razões para se celebrar: se cumprirmos as metas, não será graças ao crescimento
económico, não será por estarmos a viver melhor.
Se
alguém sair vivo desta borrasca, a mezinha é a mesma usada pelo Governo de
Passos Coelhos e Paulo Portas: arrecadar mais e mais impostos. E assim
continuaremos. Como titulava o jornal "El Pais", no domingo: "O
país está à venda". Como pode ser feliz o povo de um país à venda? Acabou
da pior maneira o banco que dava crédito às empresas, os setores estratégicos
serão vendidos em saldo, tudo em nome da liquidez. Portugal, ainda há poucos
meses um país "sob protetorado", está à beira de se transformar num
país concessionado.
Tempos
estranhos, de facto, estes em que ouvimos Marcelo Rebelo de Sousa classificar
como "imperdoável" o facto de Passos Coelho ter deixado cair a
"golden share" na PT. A maldita "golden share" que permitia
ao Estado evitar tamanhos desvarios.
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