Adeildo
Vila Nova* - Afropress
O
mercado de trabalho para a população negra no Brasil, desde o período
escravocrata e de colonização do nosso país, sempre foi restrito a ocupações
basicamente braçais, que não dependiam de nenhum conhecimento específico,
bastava a força e resistência física para desempenhar suas funções. Atualmente,
a realidade não é diferente. Mudaram-se apenas os locais e as formas de
trabalho, mas a cultura escravocrata brasileira ainda persiste e insiste em
reservar para os negros os subempregos e menos remunerados, como é o caso da
maioria dos empregados domésticos.
Esse
quadro representa o grau de discriminação ao qual a população negra está
submetida em nossa sociedade. As desigualdades percebidas hoje são construídas
historicamente e resultado de uma abolição inconclusa, que não veio acompanhada
de uma política efetiva de inclusão para os negros escravizados.
O
doutor em Administração e professor Hélio Santos observa três tipos de
discriminação que os negros sofrem no mercado de trabalho: a ocupacional, que
questiona a capacidade dos negros em executar determinadas tarefas mais
complexas; a salarial, que embute a ideia de que o trabalho do negro não vale
tanto quanto o dos demais e a discriminação pela imagem, caracterizada pela
fobia da imagem do negro, onde a empresa procura manter aquilo que ela
considera como a sua imagem ideal. Se observarmos os três tipos de
discriminação, perceberemos que se trata daquilo que a sociedade assegura jamais
praticar: o velho e dissimulado racismo brasileiro.
De
acordo com o último relatório Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores
Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas,lançado pelo Instituto Ethos e o
Ibope Inteligência em 2010, os resultados confirmam tendência de aumento
progressivo da participação dos negros, constatada pela observação da série
histórica, iniciada em 2001 só para o executivo e em 2003 também para os demais
níveis. A expansão é de 7,7 pontos percentuais no quadro funcional, 12,1 pontos
na supervisão e 2,7 pontos no executivo. Até na gerência, em que há uma
retração de 3,8 pontos percentuais no período 2007-2010. Vê-se um acréscimo, na
série histórica, de 4,4 pontos percentuais. Os dados apontam uma progressão,
mas ainda muito aquém do desejado em uma sociedade que defende a bandeira da
“democracia racial”.
Portanto,
há uma necessidade urgente de que a o mercado de trabalho, seja ele público ou
privado, adote programas bem estruturados que promovam a diversidade étnica em
seus quadros. É preciso criar leis específicas de incentivo à iniciativa
privada, bem como políticas públicas de ações afirmativas nos serviços
públicos, a exemplo do Governo do Estado de São Paulo, que criou o Selo
Paulista da Diversidadepelo Decreto 52.080/2007, que tem por objetivo estimular
organizações públicas, privadas e da sociedade civil a introduzir o tema da
Diversidade, em seus ambientes de trabalho e em suas áreas de atuação, com
vistas à promoção da inclusão de grupos vulneráveis no mercado de trabalho.
Promover
a inclusão da população negra e demais etnias é o caminho que devemos percorrer
para a eliminação e a superação das desigualdades raciais no mercado de
trabalho brasileiro.
*É
Assistente Social, Bacharel em Serviço Social , Diretor da AFROSAN
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