sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

França - Charlie Hebdo: Marcha de domingo marcada por polémica política




A polémica aumenta em França sobre a "marcha republicana" de domingo em memória das vítimas do ataque ao Charlie Hebdo, registando-se apelos ao afastamento dos partidos e críticas da Frente Nacional por não ter sido convidada.

A menos de 48 horas da realização da marcha de Paris, Daniel Cohn-Bendit, líder do movimento estudantil de Maio de 1968 e ex-deputado europeu, disse numa crónica transmitida hoje pela rádio francesa Europe 1 que os políticos estão a aproveitar-se da situação.

"É preciso que os partidos políticos se afastem", disse Cohn-Bendit, para quem a manifestação - tal como está a ser organizada, através da intervenção das formações partidárias - vai contra o espírito do jornal Charlie Hebdo.

Cohn-Bendit propõe mesmo que a marcha deve ser encabeçada por jornalistas e polícias que segundo o ex-deputado europeu "foram as vítimas" do ataque, seguidos dos amigos dos que morreram e dos que ficaram feridos e só depois devem entrar o presidente da República e os membros do Conselho Francês do Culto Muçulmano que apelou à participação na marcha.

"Em último lugar devem seguir os cidadãos e só depois os representantes dos partidos políticos", propõe o antigo líder do movimento contestário de Maio de 1968 sublinhando que se trata de um momento de unidade nacional e que, por isso, a questão da Frente Nacional não é relevante.

"Evidentemente que não vamos perguntar aos participantes se votaram na Frente Nacional. Todos devem entrar. É a unidade. Todos os cidadãos estão convidados", acrescentou Daniel Cohn-Bendit.

Entretanto, a líder da Frente Nacional (FN), Marine le Pen, já se insurgiu por não ter sido convidada para o encontro de organização da marcha e que já reuniu a maior parte dos partidos políticos franceses.

"A Frente Nacional foi excluída desta manifestação de unidade nacional, por isso não existe união. Os partidos são responsáveis pela divisão nacional e pelo sectarismo", disse a líder de extrema-direita depois de uma primeira reunião dos partidos políticos que decorreu na quinta-feira.

A Frente Nacional não esteve envolvida nos preparativos da "marcha republicana", uma ideia que partiu de Jean Christophe Cambadélis, primeiro secretário do Partido Socialista, no poder, e que associou à iniciativa a maior parte das formações políticas francesas.

Inicialmente, a marcha esteve marcada para sábado mas o gabinete do primeiro-ministro, Manuel Valls, comunicou que era preciso adiar o evento 24 horas para "garantir melhores condições de mobilização e de segurança".

Hoje, o presidente francês, François Hollande reuniu-se com Marine Le Pen, no quadro de uma ronda com todos os partidos parlamentares sobre a questão do ataque ao Charlie Hebdo e reafirmou que todos os franceses podem participar na marcha.

"Todos os cidadãos podem ir às manifestações, não há controlo. É a mesma convicção e a mesma determinação que devem levar os nossos compatriotas a participarem no domingo", assinalou Hollande.

O chefe de Estado disse também que apesar de terem sido as forças políticas e sindicais que convocaram a marcha "são os cidadãos" que decidem participar ou não.

Hollande voltou a apelar à unidade nacional, que segundo a FN está comprometida pelo afastamento do partido da organização da marcha, e ao fim da "demagogia e dos estigmas".

Três homens vestidos de preto, encapuzados e armados atacaram na manhã de quarta-feira a sede do jornal Charlie Hebdo, no centro de Paris, provocando 12 mortos (10 vítimas mortais entre jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e 11 feridos, quatro dos quais em estado grave.

Um dos alegados autores, Hamyd Mourad, de 18 anos, já se entregou às autoridades e os outros dois suspeitos, os irmãos Said Kouachi e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, estão desde hoje de manhã cercados pela polícia na localidade de Dammartin-en-Goële, a norte da capital francesa.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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