A
polémica aumenta em França sobre a "marcha republicana" de domingo em
memória das vítimas do ataque ao Charlie Hebdo, registando-se apelos ao
afastamento dos partidos e críticas da Frente Nacional por não ter sido
convidada.
A
menos de 48 horas da realização da marcha de Paris, Daniel Cohn-Bendit, líder
do movimento estudantil de Maio de 1968 e ex-deputado europeu, disse numa
crónica transmitida hoje pela rádio francesa Europe 1 que os políticos estão a
aproveitar-se da situação.
"É
preciso que os partidos políticos se afastem", disse Cohn-Bendit, para
quem a manifestação - tal como está a ser organizada, através da intervenção
das formações partidárias - vai contra o espírito do jornal Charlie Hebdo.
Cohn-Bendit
propõe mesmo que a marcha deve ser encabeçada por jornalistas e polícias que
segundo o ex-deputado europeu "foram as vítimas" do ataque, seguidos
dos amigos dos que morreram e dos que ficaram feridos e só depois devem entrar
o presidente da República e os membros do Conselho Francês do Culto Muçulmano
que apelou à participação na marcha.
"Em
último lugar devem seguir os cidadãos e só depois os representantes dos
partidos políticos", propõe o antigo líder do movimento contestário de
Maio de 1968 sublinhando que se trata de um momento de unidade nacional e que,
por isso, a questão da Frente Nacional não é relevante.
"Evidentemente
que não vamos perguntar aos participantes se votaram na Frente Nacional. Todos
devem entrar. É a unidade. Todos os cidadãos estão convidados",
acrescentou Daniel Cohn-Bendit.
Entretanto,
a líder da Frente Nacional (FN), Marine le Pen, já se insurgiu por não ter sido
convidada para o encontro de organização da marcha e que já reuniu a maior
parte dos partidos políticos franceses.
"A
Frente Nacional foi excluída desta manifestação de unidade nacional, por isso
não existe união. Os partidos são responsáveis pela divisão nacional e pelo
sectarismo", disse a líder de extrema-direita depois de uma primeira
reunião dos partidos políticos que decorreu na quinta-feira.
A
Frente Nacional não esteve envolvida nos preparativos da "marcha
republicana", uma ideia que partiu de Jean Christophe Cambadélis, primeiro
secretário do Partido Socialista, no poder, e que associou à iniciativa a maior
parte das formações políticas francesas.
Inicialmente,
a marcha esteve marcada para sábado mas o gabinete do primeiro-ministro, Manuel
Valls, comunicou que era preciso adiar o evento 24 horas para "garantir
melhores condições de mobilização e de segurança".
Hoje,
o presidente francês, François Hollande reuniu-se com Marine Le Pen, no quadro
de uma ronda com todos os partidos parlamentares sobre a questão do ataque ao
Charlie Hebdo e reafirmou que todos os franceses podem participar na marcha.
"Todos
os cidadãos podem ir às manifestações, não há controlo. É a mesma convicção e a
mesma determinação que devem levar os nossos compatriotas a participarem no
domingo", assinalou Hollande.
O
chefe de Estado disse também que apesar de terem sido as forças políticas e
sindicais que convocaram a marcha "são os cidadãos" que decidem
participar ou não.
Hollande
voltou a apelar à unidade nacional, que segundo a FN está comprometida pelo
afastamento do partido da organização da marcha, e ao fim da "demagogia e
dos estigmas".
Três
homens vestidos de preto, encapuzados e armados atacaram na manhã de
quarta-feira a sede do jornal Charlie Hebdo, no centro de Paris, provocando 12
mortos (10 vítimas mortais entre jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e
11 feridos, quatro dos quais em estado grave.
Um
dos alegados autores, Hamyd Mourad, de 18 anos, já se entregou às autoridades e
os outros dois suspeitos, os irmãos Said Kouachi e Cherif Kouachi, de 32 e 34
anos, estão desde hoje de manhã cercados pela polícia na localidade de
Dammartin-en-Goële, a norte da capital francesa.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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