Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
A
imagem é simbólica. Numa manifestação contra a austeridade que juntou, em
Atenas, alguns milhares de pessoas, destacavam-se três bandeiras gigantes: a
grega, naturalmente, mas também a espanhola e a portuguesa.
Não
é provável, no entanto, que se tratasse de um gesto de solidariedade para com
dois povos dessa Europa do Sul preguiçosa e sobre-endividada que também sofrem
os efeitos das amigáveis políticas de empobrecimento ditadas pela troika
enviada pelo Norte trabalhador e de boas contas. Terá sido, antes, um gesto de
desagravo perante dois governos que são afinal os mais assanhados na tentativa
de encurralar os paralíticos gregos nos seus esquemas e aldrabices.
A
intransigência de Espanha é fácil de perceber. Trata-se da mais nobre das
razões: o cálculo político. O PP de Mariano Rajoy (e por arrasto os
socialistas) vê-se na iminência de ser substituído, na paisagem política, por
novos movimentos, o Podemos mais à esquerda, o Cidadãos mais à direita. A
melhor forma de o evitar, não haja dúvidas, é adotar a tradicional postura da
beata, pedir a bênção alemã e esconjurar o contágio dos vermelhos do Syriza.
Já
a intransigência de Portugal é um pouco mais elaborada. Temos, por um lado, um
primeiro-ministro que gosta de se sentar ao lado da poderosa Merkel nas
cimeiras e que não está disponível para perder a face. Se Portugal prospera,
ainda que apenas no mundo de realidade virtual habitado pelos fiéis do
primeiro-ministro, o que há para mudar? Se os portugueses são, "de longe",
os que fazem o "maior esforço" para apoiar os gregos, ainda que a
afirmação não seja verdadeira, porquê trocar de cadeira e alinhar com um tipo
que não usa gravata?
Temos,
por outro, um presidente da República, versado em Finanças, que nos diz que Portugal
está numa "situação bastante sólida", ainda que fique a dúvida sobre
se estará a referir-se à solidez do crescimento dos números da pobreza ou à
granítica resistência de um pequeno número de de-sempregados em aproveitar a
oportunidade para emigrar. Se já saíram "muito milhões de euros da bolsa
dos contribuintes portugueses", porquê aliviar o garrote aos gregos?
Veja-se, aliás, o caso pessoal do presidente, que em devido tempo alertou para
a dificuldade em pagar as despesas correntes com a sua magra pensão de 10 mil
euros. E ainda lhe pedem mais um esforço?
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