segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

“HÁ ESPAÇO PARA CRIAÇÃO DE ESTADOS FEDERADOS EM MOÇAMBIQUE” - Tapua



Luís Rodrigues – Verdade (mz)

Benvindo Tapua, padre e docente da Universidade Católica de Moçambique em Nampula, considera que há condições para a criação de estados federais em Moçambique. O sacerdote reagia, assim, às exigências da Renamo, o maior partido político da oposição no país e do seu líder, Afonso Dhlakama, sobre a instituição de regiões autónomas, cuja proposta será submetida à apreciação da Assembleia da República

Numa avaliação preliminar sobre a actual situação política no país, Benvindo Tapua falou sobre os vários desafios que se colocam ao Executivo de Filipe Jacinto Nyusi, e à necessidade do estabelecimento de uma cultura efectiva de inclusão de todos os actores da sociedade no sistema governativo e a importância da “verdadeira unidade nacional”.

De acordo com o nosso entrevistado, a valorização dos aspectos positivos dos seus adversários políticos e a gestão condigna do diálogo com a Renamo e outras formações políticas constituem alguns dos principais desafios que se impõem ao Governo de Nyusi. Segundo o nosso interlocutor, a opinião da oposição não deve ser relegada para último plano, simplesmente para satisfazer os interesses de determinados dirigentes.

Director da Rádio Encontro, estação radiofónica de inspiração cristâ, propriedade da Arquidiocese de Nampula e docente da Universidade Católica de Moçambique (UCM), Tapua defendeu, por outro lado, a necessidade da criação de regiões administrativamente autónomas, tal acontece nalguns países do mundo, com particular destaque para o Brasil.

O líder da Renamo tem vindo a exigir a criação de regiões autónomas nas províncias de Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa, regiões onde obteve uma larga vantagem nas eleições gerais, realizadas a 15 de Outubro do ano passado.

Segundo o padre Tapua, tal pretensão não cria espaço para a anarquia e ou desobediências às estruturas centrais, como defendem alguns círculos de opinião. Quanto àquele docente, o sistema autónomo de governação não se pode considerar algo novo em Moçambique e idealizado pela Renamo.

“Ela já foi experimentada pelo próprio Governo, com a institucionalização das autarquias locais”, disse. Tapua mostra-se céptico relativamente à aprovação da proposta da Renamo, mas ele reitera que “se os deputados da Assembleia da República são, realmente, legítimos representantes do povo saberão o que fazer”.

Em entrevista que concedeu ao @Verdade, o padre desdramatizou as informações postas a circular por certos dirigentes políticos segundo as quais Afonso Dhlakama pretende dividir o país e torná-lo ingovernável.

Para o nosso interlocutor, o país esteve sempre dividido, a avaliar pelas assimetrias regionais e pela falta de oportunidades de emprego para certas camadas sociais, o que faz com que a riqueza esteja concentrada num punhado de gente, em detrimento de milhares de moçambicanos mergulhados numa extrema pobreza.

Segundo Benvindo Tapua, a criação de regiões autónomas no país não pode ser vista como um perigo, pois isso pode ser uma mais-valia para a maioria dos moçambicanos.

“Nas províncias em que Dhlakama tem a pretensão de gerir amealhou mais votos que os seus adversários, o que significa que o povo quer experimentar um outro regime de governação, pode ou não dar certo”, disse, tendo acrescentado que presentemente “ se fala mais do líder da Renamo, e penso que isso serve para combater a sua ideia, porque os que não querem mudança sabem que o povo sairá a ganhar”.

Tapua é da opinião de que os analistas devem deixar o pessimismo à parte e pautarem mais pela realidade que se vive em Moçambique. Aquele líder religioso aproveitou o momento para instar todas as forças e camadas sociais a procurarem melhores formas para materializarem a paz e a unidade nacional. Todavia, de acordo com o nosso entrevistado, os desafios que Moçambique tem pela frente não são só de Nyusi, nem da Frelimo, mas de todo o povo.

Num outro desenvolvimento, o padre Benvindo Tapua disse que tem a expectativa de que o actual Presidente da República traga alguma novidade no diálogo, cujos resultados se devem reflectir na vida dos cidadãos.

Formado em Teologia, Filosofia e Jornalismo, para além de exercer as funções de director da Rádio Encontro e docente na Faculdade de Educação e Comunicação da Universidade Católica de Moçambique, o sacerdote é pároco da comunidade católica da Santa Maria, no populoso bairro de Namicopo, arredores da cidade de Nampula.

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