Luís Rodrigues –
Verdade (mz)
Benvindo
Tapua, padre e docente da Universidade Católica de Moçambique em Nampula,
considera que há condições para a criação de estados federais em Moçambique. O
sacerdote reagia, assim, às exigências da Renamo, o maior partido político da
oposição no país e do seu líder, Afonso Dhlakama, sobre a instituição de
regiões autónomas, cuja proposta será submetida à apreciação da Assembleia da
República
Numa
avaliação preliminar sobre a actual situação política no país, Benvindo Tapua
falou sobre os vários desafios que se colocam ao Executivo de Filipe Jacinto
Nyusi, e à necessidade do estabelecimento de uma cultura efectiva de inclusão
de todos os actores da sociedade no sistema governativo e a importância da
“verdadeira unidade nacional”.
De
acordo com o nosso entrevistado, a valorização dos aspectos positivos dos seus
adversários políticos e a gestão condigna do diálogo com a Renamo e outras
formações políticas constituem alguns dos principais desafios que se impõem ao
Governo de Nyusi. Segundo o nosso interlocutor, a opinião da oposição não deve
ser relegada para último plano, simplesmente para satisfazer os interesses de
determinados dirigentes.
Director
da Rádio Encontro, estação radiofónica de inspiração cristâ, propriedade da
Arquidiocese de Nampula e docente da Universidade Católica de Moçambique (UCM),
Tapua defendeu, por outro lado, a necessidade da criação de regiões
administrativamente autónomas, tal acontece nalguns países do mundo, com
particular destaque para o Brasil.
O
líder da Renamo tem vindo a exigir a criação de regiões autónomas nas
províncias de Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa, regiões onde
obteve uma larga vantagem nas eleições gerais, realizadas a 15 de Outubro do
ano passado.
Segundo
o padre Tapua, tal pretensão não cria espaço para a anarquia e ou
desobediências às estruturas centrais, como defendem alguns círculos de
opinião. Quanto àquele docente, o sistema autónomo de governação não se pode
considerar algo novo em Moçambique e idealizado pela Renamo.
“Ela
já foi experimentada pelo próprio Governo, com a institucionalização das
autarquias locais”, disse. Tapua mostra-se céptico relativamente à aprovação da
proposta da Renamo, mas ele reitera que “se os deputados da Assembleia da
República são, realmente, legítimos representantes do povo saberão o que
fazer”.
Em
entrevista que concedeu ao @Verdade, o padre desdramatizou as informações
postas a circular por certos dirigentes políticos segundo as quais Afonso
Dhlakama pretende dividir o país e torná-lo ingovernável.
Para
o nosso interlocutor, o país esteve sempre dividido, a avaliar pelas
assimetrias regionais e pela falta de oportunidades de emprego para certas
camadas sociais, o que faz com que a riqueza esteja concentrada num punhado de
gente, em detrimento de milhares de moçambicanos mergulhados numa extrema
pobreza.
Segundo
Benvindo Tapua, a criação de regiões autónomas no país não pode ser vista como
um perigo, pois isso pode ser uma mais-valia para a maioria dos moçambicanos.
“Nas
províncias em que
Dhlakama tem a pretensão de gerir amealhou mais votos que os
seus adversários, o que significa que o povo quer experimentar um outro regime
de governação, pode ou não dar certo”, disse, tendo acrescentado que
presentemente “ se fala mais do líder da Renamo, e penso que isso serve para
combater a sua ideia, porque os que não querem mudança sabem que o povo sairá a
ganhar”.
Tapua
é da opinião de que os analistas devem deixar o pessimismo à parte e pautarem
mais pela realidade que se vive em Moçambique. Aquele
líder religioso aproveitou o momento para instar todas as forças e camadas
sociais a procurarem melhores formas para materializarem a paz e a unidade
nacional. Todavia, de acordo com o nosso entrevistado, os desafios que
Moçambique tem pela frente não são só de Nyusi, nem da Frelimo, mas de todo o
povo.
Num
outro desenvolvimento, o padre Benvindo Tapua disse que tem a expectativa de
que o actual Presidente da República traga alguma novidade no diálogo, cujos
resultados se devem reflectir na vida dos cidadãos.
Formado
em Teologia, Filosofia e Jornalismo, para além de exercer as funções de
director da Rádio Encontro e docente na Faculdade de Educação e Comunicação da
Universidade Católica de Moçambique, o sacerdote é pároco da comunidade
católica da Santa Maria, no populoso bairro de Namicopo, arredores da cidade de
Nampula.
Sem comentários:
Enviar um comentário