Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
O
banqueiro Fernando Ulrich levantou a questão para que muitos dos portugueses
procuram resposta, pelo menos, desde agosto do ano passado. Como é que a
rigorosa troika não se apercebeu do furação no interior do Grupo Espírito
Santo? Não deu por nada ou fez de conta? A dúvida é legítima, depois de
ouvirmos o presidente do BPI na comissão de inquérito ao caso BES. Ulrich foi
extremamente claro. Em reuniões mantidas com os técnicos da troika, alertou
para a situação explosiva no BES. Mas o assunto, pelos vistos, era irrelevante.
E os técnicos da troika mandaram calar o banqueiro. Ora, quando se manda calar
alguém, sobretudo quando essa pessoa está a transmitir informação importante, a
conclusão é óbvia: pretende-se ignorar acintosamente, para não ter de atuar. E,
a fazer fé nas palavras do presidente do BPI, foi o que aconteceu. Todos
sabiam, inclusive Vítor Gaspar, o também rigoroso ministro das Finanças.
Gaspar, se a versão de Ulrich é a verdadeira, mentiu à comissão de inquérito.
Aos deputados, o ex-ministro disse que nas conversas mantidas com os operadores
do sistema financeiro português, não se apercebeu do problema. Contudo,
Fernando Ulrich tê-lo-á alertado em maio de 2013. Afinal, todos sabiam. Sabiam
os responsáveis pelas Finanças, o primeiro-ministro, o presidente da República,
o Banco de Portugal, a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. A troika.
Sabiam e deixaram o furação seguir o devastador destino. Deixaram o BES fazer
um aumento de capital, como se de uma entidade financeira séria se tratasse, e
que os incautos comprassem ações de um banco falido. Dois meses depois,
estourou e mudou de nome: passou a "banco mau", como numa história de
crianças. E tudo continuou na normalidade, como se todos os titulares dos mais
altos cargos nada tivessem a ver com este caso de polícia - é disso mesmo que
se trata, como o demonstra o relatório da auditoria forense enviada ontem para
o Parlamento.
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