quarta-feira, 18 de março de 2015

Portugal. TODOS SABIAM DO FURACÃO BES



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

O banqueiro Fernando Ulrich levantou a questão para que muitos dos portugueses procuram resposta, pelo menos, desde agosto do ano passado. Como é que a rigorosa troika não se apercebeu do furação no interior do Grupo Espírito Santo? Não deu por nada ou fez de conta? A dúvida é legítima, depois de ouvirmos o presidente do BPI na comissão de inquérito ao caso BES. Ulrich foi extremamente claro. Em reuniões mantidas com os técnicos da troika, alertou para a situação explosiva no BES. Mas o assunto, pelos vistos, era irrelevante. E os técnicos da troika mandaram calar o banqueiro. Ora, quando se manda calar alguém, sobretudo quando essa pessoa está a transmitir informação importante, a conclusão é óbvia: pretende-se ignorar acintosamente, para não ter de atuar. E, a fazer fé nas palavras do presidente do BPI, foi o que aconteceu. Todos sabiam, inclusive Vítor Gaspar, o também rigoroso ministro das Finanças. Gaspar, se a versão de Ulrich é a verdadeira, mentiu à comissão de inquérito. Aos deputados, o ex-ministro disse que nas conversas mantidas com os operadores do sistema financeiro português, não se apercebeu do problema. Contudo, Fernando Ulrich tê-lo-á alertado em maio de 2013. Afinal, todos sabiam. Sabiam os responsáveis pelas Finanças, o primeiro-ministro, o presidente da República, o Banco de Portugal, a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. A troika. Sabiam e deixaram o furação seguir o devastador destino. Deixaram o BES fazer um aumento de capital, como se de uma entidade financeira séria se tratasse, e que os incautos comprassem ações de um banco falido. Dois meses depois, estourou e mudou de nome: passou a "banco mau", como numa história de crianças. E tudo continuou na normalidade, como se todos os titulares dos mais altos cargos nada tivessem a ver com este caso de polícia - é disso mesmo que se trata, como o demonstra o relatório da auditoria forense enviada ontem para o Parlamento.

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