Numa
altura em que as negociações UE/Grécia dão escassos sinais de progressos, uma
fonte do governo grego não identificada diz ao The Telegraph que Atenas admite
nacionalizar os bancos.
A
Grécia estará a trabalhar num plano de contingência que passa
pela nacionalização dos bancos e pela emissão de moeda própria. A
informação foi transmitida ao jornal britânico The Telegraph por uma fonte
próxima do Syriza, o partido que lidera o governo de coligação na Grécia, e
surge numa altura delicada em que a Grécia se aproxima perigosamente da
insuficiência de fundos para pagar a dívida pública e as despesas correntes. A
ameaça, que não vem acompanhada do nome do seu autor mas que é citada pelo The
Telegraph, equivaleria a uma saída da Grécia da zona euro, um cenário que
os analistas do suíço UBS passaram a ver como mais provável do que o seu
contrário.
Caso
a Europa não ceda nas negociações, aproximando-se das propostas gregas e
acabando com o impasse que se arrasta há vários meses, a Grécia terá um plano
B em que o Estado assume o controlo dos bancos e começa a cunhar moeda,
efetivamente abandonando a zona euro. O The Telegraph escreve que esta poderá ser uma
consequência de uma eventual falha de pagamento ao FMI na próxima
quinta-feira, que o governo garante que não acontecerá.
A
fonte citada pelo Telegraph avisa que “fechamos os bancos e
nacionalizamo-los, e depois emitiremos notas de dívida se tivermos que o fazer,
e todos nós sabemos o que isso significa”. Em termos simples, tratar-se-ia da
saída efetiva da Grécia da zona euro através da emissão de moeda própria. “O
que não acontecerá é tornarmo-nos um protetorado da União Europeia”, avisa a
mesma fonte.
“Querem
fazer-nos passar pelo ritual da humilhação”, diz a fonte próxima do Syriza.
“Estão a tentar colocar-nos numa situação em que temos de falhar com o nosso
povo ou assinar um acordo que é politicamente tóxico para nós. E se é esse o
objetivo, terão de continuar sem nós”, avisa, acrescentando que a Europa está a
“tentar que nós instauremos controlo de capitais e causar um aperto de crédito
até que o governo se torne impopular e caia”.
Os
analistas do banco suíço UBS aumentaram esta sexta-feira para 50%-60% a
probabilidade de uma saída da Grécia da zona euro. “Ainda que o governo tenha
prometido apresentar uma lista de reformas, antecipamos que as negociações irão
arrastar-se, e tendo em conta as obrigações significativas com pagamento de
dívida nas próximas semanas, acreditamos que os mercados podem tornar-se muito
mais nervosos em Abril, escreve o banco de investimento.
A
Grécia está a enfrentar dificuldades de tesouraria muito graves, recorrendo já
a operações complexas com liquidez de entidades públicas como
universidades e hospitais. Isto enquanto não se chega a um acordo entre Atenas
e os representantes dos credores para um plano de reformas que desbloqueie a
tranche financeira que está suspensa (a última do segundo resgate, de 7,2 mil
milhões de euros). Os progressos nesse sentido estão, contudo, a ser muito
lentos e o clima é de grande tensão, com o governo a garantir que irá pagar os salários
da Função Pública e as pensões. O ministro da Administração Interna avisou na
quarta-feira que se poderia não pagar a horas ao FMI, uma informação que foi desmentida
pelo governo.
Observador
– ontem
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