quinta-feira, 9 de abril de 2015

Primeiro-ministro timorense recorda papel da Igreja na "proteção do povo perseguido"




Díli, 09 abr (Lusa) - O primeiro-ministro timorense recordou hoje o papel da Igreja na "proteção do povo perseguido" durante a ocupação Indonésia de Timor-Leste, considerando o seu contributo fundamental para forjar a própria identidade timorense.

"A Igreja templo foi, em muitos momentos, o local de proteção de um povo perseguido e se nem sempre conseguiu garantir a sua proteção física, conseguiu sem dúvida proteger e acompanhar espiritualmente um povo que nunca perdeu a fé nem a esperança num Timor-Leste independente", afirmou Rui Maria de Araújo.

"Não esqueçamos por isso os homens e mulheres da Igreja, que dedicaram a sua vida a Timor e às suas gentes e que perderam a sua própria vida em massacres como os que aconteceram no Suai ou em Liquiçá", recordou.

Rui Araújo intervinha na conferência "Igreja com o seu rosto timorense"´, organizado pelo Instituto Superior de Filosofia e Teologia e em que fez um discurso de "memória e reflexão" sobre o papel da Igreja na luta pela libertação de Timor-Leste.

Perante a hierarquia da igreja timorense, incluindo o bispo de Baucau e administrador apostólico de Díli, Basílio do Nascimento, e o bispo de Maliana, Norberto Amaral, o chefe de Governo recordou a morte do ex-bispo de Díli, Alberto Ricardo da Silva, na passada quinta-feira.

"Um rosto que marcou indubitavelmente a sua história e que tão bem representa o papel que esta teve na luta pela Libertação Nacional. Numa vida dedicada a Timor-Leste e ao seu povo, acolheu e protegeu os jovens timorenses na sua paróquia em Motael aquando do Massacre de Santa Cruz, em novembro de 1991, e sofreu com eles a violência da sua repressão", disse.

Recordando a história da evangelização de Timor-Leste - que este ano comemora o seu 500.º aniversário, o chefe do Governo relembrou nomes como os dos ex-bispos de Díli Martinho da Costa Lopes e Ximenes Belo.

Nomes de líderes da igreja que durante a ocupação indonésia sempre apoiaram "Timor e as suas gentes".

"Mas eu diria que o (...) contributo fundamental foi forjar a própria identidade timorense que, ao longo dos séculos e no contacto com esta, se foi moldando na diversidade dos nossos antepassados, das nossas culturas e tradições e que depois, durante 24 anos de muita violência, se viu reforçada pela absoluta convicção da justiça da causa da independência, da liberdade e da soberania do nosso povo", afirmou.

Para Rui Araújo, o que distingue Timor-Leste dos seus países vizinhos, dos seus povos e culturas "é precisamente o resultado do contacto com a Igreja e os seus missionários, portugueses, os quais contribuíram inquestionavelmente para a emergência de uma identidade própria e diria mesmo única".

Um processo que começou há 500 anos quando missionários portugueses desembarcaram em Lifau, no enclave de Oe-cusse marcando "a chegada de uma nova religião, abraçada e apropriada muito antes da própria colonização do território".

"O cristianismo não entrou na nossa cultura e na nossa história pelas armas e pela imposição, mas sim fruto de rotas comerciais estabelecidas que tinham no sândalo um bem a explorar, e que permitiu que homens, imbuídos de verdadeiro espírito de missão, chegassem e percorressem o interior do nosso território para evangelizar em nome de Portugal", disse.

ASP // VM

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