David
Pontes – Jornal de Notícias, opinião
Não,
a ideia não era ir buscar um saiote axadrezado, até porque tenho a impressão
que aquilo deve picar nas pernas. O impulso é mais de pegar no voto e fazer com
que a nossa voz seja ouvida, como certamente a dos escoceses passará a ser
ouvida em Westminster depois das eleições do Reino Unido, na quinta-feira da
semana passada.
Os
escoceses que tinham votado contra a independência não tiveram problemas em
mostrar que não se querem separar de Londres, mas também não querem permanecer
sob a lógica da capital ou representados por deputados que seguem mais os
partidos do que os cidadãos que os elegem.
E
foram categóricos a fazê-lo, de tal forma que o Partido Trabalhista,
tradicionalmente forte naquela região, foi varrido do mapa e só conseguiu
eleger um deputado. Ian Murray é o último trabalhista a resistir e mesmo esse,
acreditam os analistas, foi eleito porque durante o seu mandato se empenhou
numa luta verdadeiramente local: salvar o clube de futebol Hearts de fechar, o
que conseguiu.
O
exemplo de Ian Murray conduz-me às questões que, como escocês de Portugal,
gostaria de deixar para vossa reflexão. Ainda se lembram de quem eram os
cabeças de lista pelo Porto, Braga, Bragança, Viana do Castelo ou de qualquer
que seja o distrito onde votem? Sim, imagino que o exercício seja complicado,
quanto mais se descermos por aí abaixo na lista de deputados. Se tivéssemos
círculos uninominais, mesmo num sistema misto, o exercício seria mais fácil,
mas, pequenos ou grandes, os partidos fogem de uma reforma eleitoral que ajude
a aproximar os eleitos dos eleitores. Por que será?
Mas
eles vão aparecer novamente a pedir o meu e o seu voto. E quando isso
acontecer, eu vou querer saber o que andaram a fazer estes anos na Assembleia
da República em questões como a autonomia do Aeroporto Sá Carneiro ou do Porto
de Leixões, a Linha do Minho, a ampliação do Metro, o encerramento de
organismos do Estado no interior, a gestão do equilíbrio nos fundos
estruturais... Vou querer saber o que fizeram em questões que se prendem
diretamente com a região em que vivo e isso não me diminui para avaliar as
posições que eles e os seus partidos tiveram na gestão de temas de índole mais
nacional. As duas coisas podem conviver, o estranho mesmo é que eles dediquem
tão pouco a questões que são decisivas para os territórios que os elegeram.
Ainda
não vou pintar a cara como os escoceses em "Braveheart", mas
acreditem que a resposta à pergunta "o que estão disponíveis a fazer para
tornar este país menos centralista?" vai ter um grande peso na minha
escolha nas legislativas.
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