segunda-feira, 4 de maio de 2015

Portugal. VANESSA. O BOM CASAMENTO É O CASAMENTO POR INTERESSE



Ana Sá Lopes – jornal i, opinião

Foi a Vanessa que insistiu em ligar a televisão. E enquanto eu ia e vinha da cozinha a mudar pratos e a tratar do vinho, ela ficou para ali colada ao ecrã. Toda a gente lá em casa, a família e amigos íntimos, viraram costas à coligação e continuaram a festa de anos. Mas ela fixou-se na renovação dos votos do casamento entre o PSD e o CDS

Vanessa casou três vezes, as três vezes por amor, e correu tudo mal.

Não se passou nada de extraordinário, simplesmente o trivial: a uma paixão doida segue-se um casamento eufórico, o deslumbramento de ter bebés e um divórcio dilacerado. A coisa maravilhosa do amor é que sendo infinitas as possibilidades de correr tudo mal, as pessoas continuam a insistir no assunto como se não houvesse amanhã, como se o laço da paixão não fosse uma coisa mais sensível do que o cristal da Marinha Grande, como se o mundo não fosse acabar depois do amor acabar. Do amor romântico ninguém percebe nada, apesar dos extensos tratados que já foram escritos: é indefinível e perecível, sujeito aos tormentos da natureza e das coisas humanas que são sempre estranhas.

A Vanessa estava numa festa em minha casa quando Passos e Portas fizeram o anúncio da coligação para as legislativas. Estávamos a comemorar os 21 anos do meu filho – e não os 41 da liberdade. Esta coincidência que me comove faz-me estar muito mais concentrada em saber se a comida chega ou não para todos do que em minuciosas análises sobre se o dia da liberdade é ou não condignamente evocado.

Ao longo destes maravilhosos 21 anos, a minha descida da avenida foi quase sempre um passeio entre a casa e o supermercado.

 Foi a Vanessa que insistiu em ligar a televisão. E enquanto eu ia e vinha da cozinha a mudar pratos e a tratar do vinho, ela ficou para ali colada ao ecrã. Toda a gente lá em casa, a família e amigos íntimos, viraram costas à coligação e continuaram a festa de anos. Mas ela fixou-se na renovação dos votos do casamento entre o PSD e o CDS.

- Afinal isto correu bem!!!!! E tu andavas sempre a dizer que qualquer dia a coisa rebentava, que eles se odiavam e tal. Estavas completamente enganada. Erraste em toda a linha.

Eu tinha um bolo na mão e tive uma espécie de impulso de lhe o atirar à cara. Mas controlei-me. Pousei o bolo na mesa e abri uma mini.

- Oh pá há imenso tempo que se sabia que isto ia ser assim. Não havia saída. Era fundamental que existisse a coligação para poder haver uma réstia de esperança, dificilmente numa vitória, mas num resultado honroso.

E continuei no patati patatá, até que ela disse:

- Se calhar era melhor que os casamentos a sério fossem como as coligações. Casamentos de interesse, como havia dantes. O interesse é sólido, o amor é líquido, dissolve-se. Acho que tenho que aprender com o Passos e o Portas. A partir de agora vou transformar-me numa mulher pragmática. Se me voltar a casar, só casarei por interesse!!! E se me vires a querer casar por amor, por favor impede-me!!!

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