segunda-feira, 25 de maio de 2015

SONDAGENS E OUTRAS ALDRABICES



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

A Direita portuguesa exultou com os resultados das eleições britânicas que deram a maioria absoluta aos Conservadores no poder (ao contrário do que diziam as sondagens). Mais do que a alegria pela manutenção de Cameron no poder, a Direita procura transmitir a ideia de que, afinal, lá como cá, é possível ganhar as eleições depois de um mandato a destruir a economia e o Estado social.

Não sendo um especialista na matéria, parece-me que o PSD e o CDS, do mesmo modo que maquilham os números da economia nacional, procuram, agora, deitar-nos pó para os olhos a propósito das eleições britânicas (e antes das espanholas...). Vejamos, então, alguns factos. O Governo britânico, tal como em Portugal, era constituído por uma coligação de dois partidos: os Conservadores e o PLD - Partido Liberal Democrata (que assumiu o papel de CDS lá do sítio). E que se apresentaram às eleições separados, sendo que os Conservadores tiveram uma ligeiríssima subida (de 36,05% para 36,81% dos votos), enquanto o PLD teve uma estrondosa derrota (passando de 23,03% para 7,85% dos votos). Ou seja, e no total, os partidos do Governo baixaram de 59,08% para 44,66% dos votos, perdendo um quarto do eleitorado!

Mas estas eleições também confirmaram duas teses que tenho vindo a defender. Uma é que, cada vez mais, as sondagens longe de serem estudos de opinião procuram ser estudos que influenciam opinião. E, também lá como cá, procuram incentivar a bipolarização entre os partidos do "sistema", garantia de que as políticas se mantêm no essencial, apesar de possíveis tonalidades distintas. Por isso caras e caros (e) leitores, desconfiem, também, das sondagens que, em Portugal, já apontam para os "empates técnicos"...

Outra é de que o sistema de círculos uninominais constitui uma profunda machadada na proporcionalidade eleitoral. De facto os Conservadores, com 36,81% dos votos elegeram, com este sistema, 50,92% dos deputados. Enquanto o UKIP, por exemplo, com 12,6% dos votos elegeu 1 deputado (0,15% do Parlamento). Dá para entender que os defensores dos círculos uninominais (mesmo que mais rebuscados), a pretexto da aproximação dos eleitos aos eleitores, mais não visam do que perpetuar no poder os que já lá se encontram? Independentemente da vontade de mudança das pessoas?

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