Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
A
Direita portuguesa exultou com os resultados das eleições britânicas que deram
a maioria absoluta aos Conservadores no poder (ao contrário do que diziam as
sondagens). Mais do que a alegria pela manutenção de Cameron no poder, a
Direita procura transmitir a ideia de que, afinal, lá como cá, é possível
ganhar as eleições depois de um mandato a destruir a economia e o Estado
social.
Não
sendo um especialista na matéria, parece-me que o PSD e o CDS, do mesmo modo
que maquilham os números da economia nacional, procuram, agora, deitar-nos pó
para os olhos a propósito das eleições britânicas (e antes das espanholas...).
Vejamos, então, alguns factos. O Governo britânico, tal como em Portugal, era
constituído por uma coligação de dois partidos: os Conservadores e o PLD -
Partido Liberal Democrata (que assumiu o papel de CDS lá do sítio). E que se
apresentaram às eleições separados, sendo que os Conservadores tiveram uma
ligeiríssima subida (de 36,05% para 36,81% dos votos), enquanto o PLD teve uma
estrondosa derrota (passando de 23,03% para 7,85% dos votos). Ou seja, e no
total, os partidos do Governo baixaram de 59,08% para 44,66% dos votos,
perdendo um quarto do eleitorado!
Mas
estas eleições também confirmaram duas teses que tenho vindo a defender. Uma é
que, cada vez mais, as sondagens longe de serem estudos de opinião procuram ser
estudos que influenciam opinião. E, também lá como cá, procuram incentivar a
bipolarização entre os partidos do "sistema", garantia de que as
políticas se mantêm no essencial, apesar de possíveis tonalidades distintas.
Por isso caras e caros (e) leitores, desconfiem, também, das sondagens que, em
Portugal, já apontam para os "empates técnicos"...
Outra
é de que o sistema de círculos uninominais constitui uma profunda machadada na
proporcionalidade eleitoral. De facto os Conservadores, com 36,81% dos votos
elegeram, com este sistema, 50,92% dos deputados. Enquanto o UKIP, por exemplo,
com 12,6% dos votos elegeu 1 deputado (0,15% do Parlamento). Dá para entender
que os defensores dos círculos uninominais (mesmo que mais rebuscados), a
pretexto da aproximação dos eleitos aos eleitores, mais não visam do que
perpetuar no poder os que já lá se encontram? Independentemente da vontade de
mudança das pessoas?
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