Madrid
- O político espanho,l José Bono Martínez, concedeu uma entrevista à Angop, na
qual realça o sistema de democracia multipartidária em Angola, país em
crescimento "muito acelerado" e que privilegia a estabilidade
institucional e a paz.
José
Chimuco – Angop, entrevista
Na
entrevista (via e-mail), enquadrada nos 40 anos de independência de Angola, o
antigo ministro espanhol da Defesa exalta o "destacável" trabalho do
Presidente José Eduardo dos Santos para o alcance da paz e a sua liderança num
"ambicioso plano de reconstrução nacional", sem esquecer a autoridade
que representa em África, nomeadamente na pacificação de conflitos.
Eis
na íntegra:
Angop
- Quando Angola ascendeu à independência, em 11 de Novembro de 1975, o senhor
era um jovem de 25 anos de idade. Tinha, nessa altura, alguma informação sobre
as antigas colónias de Portugal em África?
José
Bono Martínez (JBM): Tinha um conhecimento muito geral. Sabia que Angola era
colónia de Portugal e que ascendeu à independência, precisamente em 1975. Era
conhecedor do movimento “Vamos descobrir Angola”, com o qual colaborou o poeta
Agostinho Neto e que, na década de 60, os angolanos começaram a organizar-se
politicamente sob a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA) e da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), e que, em 1964,
membros dissidentes da FNLA fundaram a UNITA. Tinha conhecimentos dos
movimentos independentistas. Em 1974, a Revolução dos Cravos, em Portugal,
acabou com o regime de Salazar e a descolonização de Angola entrou na sua fase
final.
Angop – Recorda-se de alguma notícia ligada aos líderes da independência?
Angop – Recorda-se de alguma notícia ligada aos líderes da independência?
JBM: Sim, recordo-me especialmente de Agostinho Neto e as relações militares e económicas estreitas que estabeleceu com a então URSS e Cuba. Recordo que o seu funeral, em 1979, reuniu representantes muito proeminentes do Mundo inteiro. Também soube que Savimbi, presidente da UNITA e candidato à Presidência, negou-se a aceitar os resultados eleitorais, mas a sua morte, em 2002, levou à assinatura de um novo Acordo de Paz.
Angop - Entre 2004 e 2006, foi ministro da Defesa de Espanha. Qual era a sua visão sobre Angola?
JBM:
A de um país extenso, mais do dobro de Espanha, na altura com 16 milhões de
habitantes (12,5 habitantes por quilómetro quadrado), dos quais 1/3 vive na capital,
Luanda. Politicamente, é um sistema de democracia multipartidista e de pendor
presidencialista. A estrutura da sua riqueza depende muito da indústria
extractiva (56 porcento) e o seu desenvolvimento é muito acelerado. Como
ministro da Defesa, tive notícias das suas Forças Armadas: dos de maior
contingente do continente africano, sendo obrigatório o serviço militar a
partir dos 18 anos e com um orçamento que superava oito porcento do PIB.
Angop - Ao longo da sua vida como político e governante espanhol, tomou contacto com algum político ou governante angolano?
Angop - Ao longo da sua vida como político e governante espanhol, tomou contacto com algum político ou governante angolano?
JBM: Em 2011, viajei para Angola como presidente do Congresso dos Deputados e, nos distintos encontros com as autoridades angolanas, registei um particular apreço por Espanha, fundamentalmente por ter sido o segundo país a reconhecer a independência de Angola, assim como pelas semelhanças culturais e a facilidade de entendimento linguístico. Quase todos os interlocutores mostraram o seu interesse em fortalecer as relações e surpreendeu-me a insistência de muitos empresários para que a cooperação entre Espanha e Angola não se realizasse através de Portugual, mas directamente.
Conheci o Presidente da República, que se interessou vivamente no estabelecimento de uma ligação aérea directa entre Luanda e Madrid, que a companhia Ibéria concretizou. Igualmente, referiu-se a um “quadro preferencial” na agilização de vistos com Espanha. Este é um assunto que levantam com insistência os empresários espanhóis. Reuni-me com mais de 100 empresários espanhóis presentes no país.
Angop - Que avaliação faz da situação em Angola num momento em que a paz é uma realidade irreversível no país?
JBM:
Angola é um país em ebulição, uma nação que faz preceder a estabilidade
institucional e a paz a qualquer outra consideração. Um país, como tantos, aos
que lhes faltam muitas coisas por fazer, mas que se tem posto em movimento de
forma decidida.
Angop - O que tem a dizer sobre a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos e do seu papel interventivo na resolução dos conflitos em África?
Angop - O que tem a dizer sobre a liderança do Presidente José Eduardo dos Santos e do seu papel interventivo na resolução dos conflitos em África?
JBM:
O Presidente José Eduardo dos Santos iniciou a sua actividade política
militante em grupos anti-coloniais. Os seus estudos na URSS foram determinantes
na sua formação. Com a proclamação da independência da República de Angola, em
11 de Novembro de 1975, foi nomeado ministro das Relações Exteriores e,
posteriormente, do Planeamento Económico. A sua vitória, em 1992, sobre o líder
da UNITA, Jonas Savimbi, conferiu-lhe um poder carregado de autoridade
pessoal.
O seu trabalho para conseguir a paz e o desenvolvimento de Angola são muito destacáveis. Não se pode ignorar o enorme trabalho desenvolvido para superar a gravíssima crise humanitária, resultante da prolongada guerra civil e internacional que sofreu Angola, a abundância de campos de minas pelo mesmo motivo e as acções dos grupos guerrilheiros.
Na actualidade, o Presidente Dos Santos lidera um ambicioso plano de reconstrução nacional, que inclui a construção de infra-estruturas, de dezenas de fábricas e o impulso à edificação de centenas de milhares de habitações no país. Empresas de todo o Mundo investem em Angola e Dos Santos é uma referência de autoridade em todo o continente africano e, nomeadamente, na procura de uma solução pacífica para os conflitos que hoje afectam a região.
Angop - O que acha que deve ser feito para aproximar, ainda mais, Angola de Espanha?
O seu trabalho para conseguir a paz e o desenvolvimento de Angola são muito destacáveis. Não se pode ignorar o enorme trabalho desenvolvido para superar a gravíssima crise humanitária, resultante da prolongada guerra civil e internacional que sofreu Angola, a abundância de campos de minas pelo mesmo motivo e as acções dos grupos guerrilheiros.
Na actualidade, o Presidente Dos Santos lidera um ambicioso plano de reconstrução nacional, que inclui a construção de infra-estruturas, de dezenas de fábricas e o impulso à edificação de centenas de milhares de habitações no país. Empresas de todo o Mundo investem em Angola e Dos Santos é uma referência de autoridade em todo o continente africano e, nomeadamente, na procura de uma solução pacífica para os conflitos que hoje afectam a região.
Angop - O que acha que deve ser feito para aproximar, ainda mais, Angola de Espanha?
JBM:
As relações bilaterais são saudáveis. O Governo espanhol foi o segundo em
reconhecer o triunfo eleitoral do MPLA e do Presidente Dos Santos, em 1992. A Espanha
é um país reconhecido e pelo qual as autoridades angolanas têm um singular
apreço: deveríamos impulsionar mais a nossa actividade política a respeito de
Angola.
A
Espanha vem mantendo, desde há décadas, uma estreita relação de cooperação ao
desenvolvimento, sendo destacáveis os acordos entre os seus respectivos
Ministérios do Interior para a preparação de efectivos angolanos. É muito
significativo o crescente número de empresários espanhóis que procuram
oportunidades de negócio na economia angolana e que precisariam melhores
políticas de apoio.
Angola tem um défice claro de visitas espanholas de alto nível político e institucional, embora tenha recebido a visita dos Chefes de Estado e do Governo dos países mais importantes do planeta. Estou ciente do enorme interesse e bem fazer da embaixatriz espanhola Dª Julia Olmo y Romero, em Luanda, e do seu colega angolano em Madrid, Sr.Victor Lima, para melhorar as condições de cooperação política, cultural e comercial entre ambos os países.
Angola tem um défice claro de visitas espanholas de alto nível político e institucional, embora tenha recebido a visita dos Chefes de Estado e do Governo dos países mais importantes do planeta. Estou ciente do enorme interesse e bem fazer da embaixatriz espanhola Dª Julia Olmo y Romero, em Luanda, e do seu colega angolano em Madrid, Sr.Victor Lima, para melhorar as condições de cooperação política, cultural e comercial entre ambos os países.
Foto:
Lino Guimarães
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