quarta-feira, 3 de junho de 2015

Portugal. COMO MÁRIO FERREIRA AZEDOU A MINHA CARA



Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

Se olharem para a cara que apresento hoje, no boneco que acompanha esta crónica, constatarão a caricatura de um indivíduo orelhudo e magrinho, um bocado azedado pela vida. Pois, de facto, é com espantada amargura que me deparo com casos como o do senhor Mário Ferreira, empresário que, segundo o Diário Económico, comprou um navio ao Estado por oito milhões de euros e estará quase a vendê-lo, oito meses depois, a uma empresa de cruzeiros da Noruega por 17 milhões de euros.

A minha azia, note-se, nem é provocada pelo possível lucro de cento e tal por cento do homem do programa da SIC onde se ensina as pessoas a serem empresárias com alma de tubarão - pelos vistos, faltará uma lição prática sobre como abocanhar dinheiro ao Estado.

Recordemos: este ferryboat foi encomendado pelo governo regional dos Açores aos Estaleiros de Viana do Castelo. Em 2009 o executivo de Carlos César recusou receber a embarcação, por não cumprir alguns requisitos técnicos. Em causa esteve, leio em vários locais, um nó de diferença na velocidade máxima atingida pelo navio, de 98 metros de comprimento.

Foi aberto um concurso para a venda, ganho por um armador grego que prometeu pagar 13 milhões. O dinheiro nunca veio. A empresa que ficou em segundo lugar, de Mário Ferreira, ficou com ele.

Sobre a venda, agora, à Noruega, o dono da Douro Azul disse à revista VIP que "essa notícia é falsa" e não podia falar mais. Mas o Diário Económico não retificou, desde o dia 20 de maio, a informação...

Qual é então o motivo da minha irritação? O caso Atlântida fez parte de um longo processo de destruição dos Estaleiros de Viana do Castelo, foi mais uma acha para a fogueira que arruinou a sua reputação, despediu 600 trabalhadores e entregou a sua exploração à West Sea.

Um ano depois, o primeiro-ministro foi lá. Passos Coelho até prometeu adjudicar-lhes a construção de dois navios para a marinha, depois de ouvir a West Sea gabar-se de já ter reparado 37 navios.

Há três anos os Estaleiros de Viana do Castelo não tinham trabalho para fazer, eram dados como inviáveis. O Atlântida, ali parido, era tido como aborto destinado à sucata. Os apoios do Estado (milhões) só aumentavam prejuízos.

Governos PS e PSD-CDS nomearam incompetentes para gerirem os estaleiros, aprovaram contratos ruinosos, foram complacentes com erros básicos. Criaram condições para destruírem, sem custo político, os estaleiros e o emprego com um mínimo de direitos de centenas de trabalhadores.

Agora os estaleiros já são bons e até o Atlântida vale dinheiro. Tudo isto me irrita porque, como de costume, tudo isto cheira mal. É uma amargura já com 40 anos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Agora os estaleiros ja são bons porque não tem 4 ou 5 trabalhadores encostados á sombra a coçar a micose por cada trabalhador efetivo.
Já são bons porque já não estão lá os que roubavam a casa à descarada!

Não deve haver nenhuma casa e viana que não tenha nada roubado do estaleiro

Ja são bons porque ja não tem trabalhadores a fazer obras privadas com o material do estaleiro e na hora de trabalho! portões fogareiros galinheiros tudo se fazia la!

Em viana toda a gente conhece a obra 10 dos ENVC

já são bons porque já não se atrasam trabalhos para se poder trabalhar Sábados, Domingos e horas extras!

Já são bons porque já não há lá trabalhadores com o direito adquirido de não fazer nada!

Já são bons porque 200 trabalhadores dão lucro, e faturam mais que os antigos 700, entendeu?
O mes de Maio foi o melhor mes de sempre em 70 anos de história dos estaleiros de viana!

Acabou a mama a roubalheira, o direito de receber sem fazer nada!

Quer que eu continue??

Os estaleiros de Viana tal como estavam eram um cancro! ainda bem que foram extintos!

Veja bem que os dois anos em que estiveram parados, sem fazer nada, foram os anos com menos prejuízo!

Sou de Viana sei do que falo e conheço dezenas de ex trabalhadores dos ENVC!

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