terça-feira, 7 de julho de 2015

ESTADOS UNIDOS – ALTERAÇÕES SENSÍVEIS NA DOUTRINA MILITAR




Em homenagem aos cinco heróicos combatentes anti terrorismo cubanos de visita à África Austral, no momento em que eles passam por Angola

Martinho Júnior, Luanda 

1 – As mudanças de doutrina militar e por tabela de geo estratégias, por parte dos Estados Unidos, têm muito que ver com a evolução dos relacionamentos dos Estados Unidos para com a América Latina, bem como da percepção que os Democratas estão a fazer em relação ao eleitorado norte-americano, em função da tensão dialéctica entre culturas dentro de sua complexa sociedade, algo que está na “ordem do dia” à medida que se vão aproximando as eleições.

O poderoso “lobby” do armamento e das tecnologias electrónicas, com essas alterações, só tem que se regozijar, pois em nada está posto em causa no seu estatuto, bem como na sua pujança e prodigalidade capitalista, muito pelo contrário.

Interpretadas nesse sentido, as alterações na Doutrina militar dos Estados Unidos revertem a desfavor dos esforços da paz global.

Com a tão propagandeada “guerra ao terrorismo”, que a administração de George W. Bush inaugurou, os Estados Unidos meteram-se no atoleiro das “guerras de contra insurgência”, ainda que de forma “assimétrica”, uma experiência que já haviam experimentado antes no Vietname com tão maus resultados e agora experimentou no Afeganistão e no Iraque, ao ponto de procurar a todo o transe retirar-se e ver-se livre dos rescaldos!...

Se bem que após o final da Guerra Fria a iniciativa de “combate ao terrorismo” não se tornou impopular nos Estados Unidos, uma coisa aprendeu a administração Obama: há que a todo o custo saber evitar “guerras de contra insurgência”, mesmo as “assimétricas” (que permitem por exemplo o emprego de drones), sem que isso signifique temer a confrontação em termos de guerra convencional, onde as vantagens têm sido mais evidentes.

Os Estados Unidos, perante seu eleitorado e perante o mundo, estão a ser obrigados a evitar fazer recair sobre si o dedo acusador da esmagadora maioria dos estados, nações e povos da Terra, algo que pode ser simbolizado com a votação anual relativa ao bloqueio contra Cuba, na Assembleia Geral da ONU.
  
2 – Assim sendo, os Estados Unidos estão cada vez mais a encarregar terceiros, seus aliados, para assumirem a “contra insurgência”, ainda que sob o rótulo de “anti terrorismo” e por isso tem sido pródigo em promover as condições de expansão do terrorismo em especial no Médio Oriente e em África, enquanto se reserva a si ao papel de condução de confrontações “clássicas”, do tipo em que se empenharam e moveram durante a Guerra Fria, onde o seu “núcleo duro” se sente muito mais à vontade!

Essa é a razão da ambivalência de que se veste agora a doutrina e as geo estratégias da NATO, assim como do “periférico” que em relação ao Pentágono constitui o AFRICOM.

Essa é a razão também do exercício da NATO que se realizará no Mediterrâneo (“Trident Juncture 2015”), que tem como hóspedes Portugal, Espanha e Itália, que é preciso não esquecer, têm alguma experiência (sobretudo Portugal), em “guerras de contra insurgência”, sem deixar de “cultivar” o tipo de “ambientes e cenários” que se estão a recriar a Leste da União Europeia, com fulcro na Ucrânia!…

Passar para aliados-vassalos uma parte dos encargos de “contra insurgência”, assumindo a liderança na confrontação clássica, é de tal maneira aliciante que as alterações sensíveis na doutrina militar e nas geo estratégias afins estão a fazer reverter as coisas na direcção de outra Guerra Fria e, por causa dessas alterações, é muito importante vigiar todos, conforme o tem feito assumido a NSA!...
  
3 – As respostas progressistas da América Latina são em grande parte responsáveis pelas mudanças encetadas e a libertação dos cinco combatentes anti terroristas cubanos que estão de visita à África do Sul, Namíbia e Angola são, até pelo sentido de oportunidade, disso sinal, daí a tentativa de desanuviamento para com Cuba, que se regista ao mesmo tempo em que se verifica o empertigamento em relação à Venezuela Bolivariana, ou em relação aos termos do “incentivo” das oligarquias latino americanas enfeudadas aos seus propósitos desde o México ao cone sul da América, assim como em relação ao reforço militar das bases espalhadas sobretudo na América Central, Colômbia e Peru.

Com a libertação dos cinco combatentes anti terrorismo cubanos, os Estados Unidos estão já a demarcar-se tanto quanto lhes é possível, do papel de mentor directo principal da “contra insurreição” visível à escala global, até por que a experiência fez, à administração Democrata em curso, perceber o nó-cego onde se colocou perante toda a audiência global, quando perdeu, por exemplo, o seu Embaixador Christopher Stevens, na Líbia…

Foi muito provavelmente nessa altura que deram implicitamente valor ao heróico sacrifício dos cinco combatentes cubanos, injustamente julgados, condenados e presos!

Em termos clássicos, sabendo das razões da Rússia e da China tenderem a unir esforços, os Estados Unidos vão procurar que eles cheguem à completa coesão e para isso, atraem a Rússia para uma tensão calculada enfrentando a NATO a ocidente (tendo a Ucrânia como “chave”), enquanto no lado oposto do continente euro-asiático são suas próprias forças do Pacífico que estimulam o enfrentamento à China.

… Todos os estados, nações e povos se têm agora que cuidar do que vem aí, pois uma nova Guerra Fria, nestes termos, vai ser mais perigosa que a “homóloga” do século passado!

Foto: Embaixador J. Christopher Stevens, assassinado em Bengazi, na Líbia, numa data fatídica: 11 de Setembro de 2013

A recordar:
- Cuba foi dos primeiros a condenar o pérfido ataque. (“Cuba condena ataques à Embaixada dos EUA na Líbia” – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/09/14/cuba-condena-ataques-a-embaixada-dos-eua-na-libia/).

A consular (de minha autoria):


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