As
contas da empresa de telefonia móvel Mcel não gozam de boa saúde. O Estado fala
em resgate, mas o CIP exige antes uma prestação de contas. E as desconfianças
de que a empresa seja um saco azul da FRELIMO estão no ar.
Na
última semana o primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário,
visitou a Mcel e disse que é preciso resgatar a liderança da primeira empresa
de telefonia móvel do país.
Para
o Centro de Integridade Pública (CIP) não faz sentido que uma empresa pública
rentável seja resgatada pelo Estado, ainda por cima sem que antes se saiba
publicamente o que fez a empresa entrar em crise.
Borges
Nhamire é investigador nesta ONG e diz que "no mínimo, é preciso que haja
esclarecimento. Uma coisa é aumentar o investimento, isso é um assunto e
concordamos com um investimento para enfrentar a competetividade do
mercado."
E
o pesquisador repisa que o primeiro-ministro afirmou em visita à Mcel, "
que é preciso resgatar a empresa. Então, resgata-se aquilo que está no
precipício. E se a Mcel estiver no precipício é muito preocupante, porque é das
poucas empresas públicas que era sustentável, num grupo muito restrito de
empresas que não chegam a 10. Portanto é muito estranho e é preciso que haja
uma explicação exaustiva do que se passou."
Mcel
não é transparente
A Mcel tem participações do Estado, através das empresas TDM e IGEPE, e sempre teve grandes rendimentos, contribuindo substancialmente para os cofres do Estado. Entretanto, a Mcel não respeita totalmente a lei das empresas públicas que obriga a prestação de contas publicamente, não cumprindo desta forma os princípios de transparência.
A Mcel tem participações do Estado, através das empresas TDM e IGEPE, e sempre teve grandes rendimentos, contribuindo substancialmente para os cofres do Estado. Entretanto, a Mcel não respeita totalmente a lei das empresas públicas que obriga a prestação de contas publicamente, não cumprindo desta forma os princípios de transparência.
Borges
Nhamire está preocupado com a origem do dinheiro para o resgate e falta de
transparência: "E neste momento em que o primeiro-ministro diz que é
preciso resgatar a Mcel com o dinheiro dos contribuintes moçambicanos e de
outras pessoas que contribuem para este país, faz sentido que esta informação
seja tornada pública antes de se fazer o resgate prometido".
E
o Centro de Integridade Pública garante: "Que fique claro, queremos uma
Mcel forte, mas em todos os aspetos; forte em investimento, em receitas, forte
em transparência e responsabilização dos seus dirigentes."
Mcel
é um "saco azul" da FRELIMO?
De
lembrar que por um lado, a Mcel tem sido com alguma regularidade alvo de
fraudes e saques, segundo notícias veiculadas pela imprensa local. Por outro
lado, no país há suspeitas de que empresas públicas como a Mcel, por exemplo,
sejam uma espécie de saco azul do partido no poder, a FRELIMO, principalmente
em épocas eleitorais.
O
analista e membro do MDM, a terceira maior força política moçambicana, Silvério
Ronguane, não hesita em afirmar que "é fácil perceber que não é só com as
empresas, mesmo a tendência de depreciação da moeda tem-se agravado em todas as
épocas pós-eleitorais."
E
Silvério Ronguane detalha: "Primeiro, pela necessidade de financiamento da
campanha. Sabe-se que desta vez a campanha foi notoriamente mais cara que todas
as outras, porque o partido (FRELIMO) não tinha as condições mínimas para
ganhar as eleições. Mas também dada a mudança de governantes, porque apesar de
serem do mesmo Governo e partido há uma mudança de atores. Os que saem é
evidente que sempre levam essa atividade a que estão acostumados, que é o saque
do erário público."
Mcel, Vodacom e Movitel operamem Moçambique
Ao lado da Mcel operam em Moçambique outras duas companhias,
a Vodacom, com participação de importantes figuras do partido FRELIMO, e a
Movitel, com participação do partido FRELIMO.
Mcel, Vodacom e Movitel operam
Ao
Que
vantagens estas duas obteriam caso a Mcel entrasse em falência? O membro do MDM
começa por responder esclarecendo: "Primeiro estamos numa situação de
incoerência, porque por um lado o partido suporta o Governo, mas por outro este
mesmo partido é concorrente do Governo a partir do momento em que tem uma
empressa concorrente a empresa estatal."
E
o também analista político conclui da seguinte forma: "Portanto, parece
não haver dúvidas de que face ao desgaste do partido FRELIMO e a provável perda
de controle do Estado se acentue cada vez mais esta tendência de transferir o
património do Estado para o partido FRELIMO, como uma retaguarda segura para
garantir os privilégios deste partido de forma ilegítima, como sempre se
beneficiou."
Nádia
Issufo – Deutsche Welle – Na foto: Revendedores de crédito da Mcel em Lichinga,
norte de Moçambique
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