Podíamos
abordar a tão propalada reforma da justiça que a ministra daquele pelouro
demonstra que é a sua menina dos olhos com papos (a idade e o passado pesam), podíamos.
Mas não vamos fazer isso porque o artigo de Mariana Oliveira e Ana Henriques, no
Público, convida a que nos prestemos a ser intermediários do produtor e
proporcionar ao consumidor ler de uma assentada o trabalho que nos trazem. Por
nós resta dizer o que pensamos da tal reforma da justiça: é uma balbúrdia
produzida por trafulhas e farsantes. A justiça é muitas vezes injusta, sectária,
discriminatória, etc.. Como o regime, que nos trouxe o governo de
Cavaco-Passos-Portas, a justiça é forte com os fracos e fraca com os fortes. Até
parece que Salazar regressou e se recusa a cair novamente da cadeira. Neste
caso o “boneco” aplica-se a Cavaco, uma salazarista de todos os costados, uma
desgraça que não veio só e se fez rodear dos ressabiados da direita que tem por
hino a cantigueta de António Mourão intitulada “Ó Tempo Volta P’ra Trás”. É a
justiça que temos, com legisladores que criam modelos e “alçapões” à sua
medida, à medida dos lobies que representam e lhes pagam. Apesar de alegarem
falsamente que servem Portugal e os portugueses. Foi e é assim que a justiça em
Portugal está de rastos, caiu no descrédito. Percepção extensiva a juízes e aos
restantes componentes da balbúrdia que aquele setor (vital em democracia)
demonstra padecer. Assim não há Citius que salve a justiça. Uma injustiça
mascarada de justiça que em imensos exemplos nos manda “levar no citius”. Desprezando
tudo e todos que não sejam classificados (pelo regime) cidadãos acima de
qualquer suspeita, como tantos que se têm alcandorado nos poderes. Esses são os
intocáveis. Os filhos abastados da impunidade. Por exemplo: quem ordenou (de tão
influente que será) que fossem suspensas ou finadas as investigações a Dias Loureiro? Notícia
pública que caiu em saco roto e nem chegou à PGR, que se saiba. A quem convém a balbúrdia na justiça? À justiça e à democracia não.
Redação
PG
Colapso
do Citius continua sem explicações um ano depois
MARIANA OLIVEIRA e ANA HENRIQUES - Público
O
sistema informático já funciona mas os efeitos dos 44 dias do colapso do Citius
no arranque da nova organização dos tribunais – a lançada faz amanhã um ano –,
ainda se sentem no dia-a-dia de muitos tribunais.
Um
ano depois do caos se ter instalado, ainda não há conclusões sobre o
que esteve na origem do problema.
A
Inspecção-Geral das Finanças, a quem o Ministério da Justiça pediu uma
auditoria ao “processo de adaptação do Citius”, só começou os trabalhos oito
meses após o colapso e só prevê ter conclusões no próximo mês.
Por
outro lado, os problemas informáticos impossibilitam um balanço
detalhado da reforma, já que, justamente por causa desses constrangimentos,
ainda não há dados estatísticos sobre os processos pendentes ou terminados e,
as que existem, não são fiáveis.
A
migração informática fez com que processos já concluídos passassem a estar
classificados como “pendentes” e não transferiu outros, que ainda hoje, apenas
se encontram na versão anterior do programa.
Ainda
assim, é possível fazer o balanço do
primeiro ano da reorganização do funcionamento dos tribunais, que concentrou os
processos por área de especialidade (Família e Menores, Execuções, Crime, etc),
acabando praticamente com os tribunais de competência genérica. E o cenário não
dá para sorrisos. Em áreas como a cobrança de dívidas e as falências, há centenas
de milhares de processos parados à espera de funcionários para os tramitar. Em
jurisdições sensíveis, como família e menores, por vezes os recursos só
permitem tramitar os processos mais urgentes.
Alguns
cidadãos passaram a percorrer distâncias maiores para recorrer à Justiça e
deslocam-se de transportes públicos, táxi ou à boleia dos advogados, bombeiros
e das polícias.
Muitos
juízes estão limitados na marcação dos julgamentos porque as instalações ainda
não estão adequadas às necessidades do novo modelo, que concentrou muitos
serviços nas sedes dos distritos. É aí que correm os litígios mais graves em
termos criminais e cíveis, ficando as diversas especialidades dispersas pela
comarca, que deixou de corresponder à área de um município passando a abarcar
um distrito. Neste ano, realizaram-se ou estão em curso obras em dezenas de
edifícios, para resolver os problemas detectados. Os
maiores constrangimentos de qualquer modo estão ultrapassados.
Mas
também há resultados positivos e muitos juízes-presidentes das novas comarcas e
procuradores-coordenadores têm a expectativa de que o próximo ano permita um
balanço bem mais positivo.
No
top das preocupações surge, sem excepção, a falta de funcionários, um problema
que não decorre da reforma, mas que a mesma agudizou.
Na
comarca dos Açores, por exemplo, estão por preencher 43% do global dos quadros
definidos pelo próprio Ministério da Justiça, que, em muitas outras comarcas,
são considerados insuficientes. “O quadro dos oficiais de justiça nos serviços
judiciais é de 152 funcionários, mas só estão ao serviço 85, havendo um défice
de 67”, escreve o presidente da comarca, José Neves, no primeiro relatório
semestral de balanço. De fora ficam os 15 que faltam no Ministério Público. O
presidente do Sindicato dos Oficiais de Justiça, Carlos Almeida, lembra que os
23 gabinetes de gestão das comarcas tiveram que ser preenchidos com oficiais de
justiça saídos das secretarias.
O
presidente da comarca de Faro, Sénio Alves, fala na necessidade imperiosa – e
urgentíssima – de preencher um quadro legal deficitário em 30% e fala numa
“situação aflitiva”. “A escassez de oficiais de justiça permite, em alguns
casos, o funcionamento da secção no limite dos casos urgentes”, escreve no
relatório semestral.
Apesar
da míngua, as novidades neste campo são boas. A Direcção-Geral da Administração
da Justiça conta colocar na segunda semana de Setembro 517 oficiais de justiça
em vários tribunais do país. Vários magistrados insistem, contudo, que este
reforço não vai permitir resolver a escassez, apenas atenuar o problema. “Os
Açores deverão receber 57”, resume o procurador-coordenador, João Carreira. Esse
reforço deverá ajudar a colmatar a “iminente ruptura” do Departamento de
Investigação e Acção Penal de Ponta Delgada, o maior da comarca. “Estamos a
acudir a processos de natureza urgente e pouco mais”, admite Carreira. Há
também falta de procuradores. Por isso, a comarca vê-se obrigada a recorrer aos
chamados substitutos, licenciados em Direito que não são magistrados que
representam o Ministério Público em três das ilhas do arquipélago.
Aqui,
como noutras comarcas, o colapso do Citius deixou marcas, com “um agravamento
considerável das pendências criminais” face a Junho de 2014. “A nossa ambição é
chegar ao fim do ano com os mesmos processos que tínhamos em Junho de 2014. Não
sei se será possível”, diz Carreira.
Menos
optimista está Amélia Almeida, juíza-presidente da comarca de Lisboa, que com
mais de 1100 funcionários e 400 magistrados, representa um quinto da realidade
nacional. Tomou medidas especiais, como criar equipas de oficiais de justiça
que trabalham ao sábado, mas não consegue avanços significativos na tramitação
dos 350 mil processos de cobrança de dívida pendentes em Lisboa. “Nesta secção
cada juiz tem entre 27 mil e 30 mil processos”, precisa. Sublinhando que a
carência mais significativa é de funcionários, a juíza diz não compreender como
estão a trabalhar nestes processos menos de metade dos funcionários que os
tramitavam antes da reforma. “Os quadros foram feitos não à medida das
necessidades, mas à medida do que havia”.
O
procurador coordenador da comarca do Porto, Eduardo Loureiro, nota que a
concentração das execuções “deu origem a estruturas de algum gigantismo, que
são sempre mais difíceis de gerir”.
Amélia
Almeida preocupa-se igualmente com problemas que afectam a área da Família e
Menores. “O número de juízes não é suficiente, mas em Setembro vão começar a
trabalhar mais dois”, nota. Mesmo assim, não ignora que durante este ano os
processos menos urgentes ficaram praticamente parados. Mas nem tudo é mau. A
reorganização transferiu para o novo Tribunal da Propriedade Intelectual cerca de
400 processos, vindos dos tribunais do Comércio, alguns pendentes desde 2004.
“Estão todos decididos”, afirma com satisfação a juíza-presidente que lamenta
que no Comércio, que trata das falências, haja processos com a mesma idade
“raramente” mexidos que obrigaram à criação de uma equipa para recuperar estes
processos.
Paulo
Brandão, presidente da Comarca de Aveiro, sublinha que com este modelo os
“recursos são mais bem empregues” e a homóloga de Viseu, Maria José Guerra,
destaca que permite resolver os problemas mais cedo. “Estamos no terreno e
diagnosticamos os problemas no início”. As possibilidades de gestão permitem a
alguns adoptar soluções criativas, como o juiz-presidente da comarcada de
Setúbal, Manuel Sequeira, que criou um balcão único de atendimento ao público
no átrio do tribunal, evitando que a maioria dos funcionários sejam
interrompidos. “Concluímos que funciona porque 88% das pessoas resolvem o
problema logo ali”, concluiu Manuel Sequeira.
José
Carlos Fernandes, um dos procuradores que faz parte do grupo que acompanha a
reforma, reconhece várias virtualidades na reforma, mas lamenta que se tenha
arrancado de uma só vez em Setembro do ano passado. “Sentiu-se um decréscimo de
produtividade e eficácia no arranque da reforma, mas não temos estatísticas”.
José Carlos Fernandes lamenta que os estatutos sócio-profissionais dos
magistrados não estejam ainda adequados à nova reforma, o que, diz, “criou
dificuldades de clarificar as relações hierárquicas”, uma situação ultrapassada
pelas orientações da procuradora-geral.
A
falta de instalações adequadas é outra das fragilidades detectadas e que
condicionou este primeiro ano. Que o diga o juiz-presidente da comarcada de
Setúbal, Manuel Sequeira, que já perdeu a conta às mudanças realizadas no
Palácio da Justiça. Com as obras de ampliação a realizarem-se a par do
funcionamento do tribunal, cada vez que uma zona ia ser intervencionada era
preciso mudar tudo. “Já falta pouco”, desabafa Sequeira, que espera no final de
Outubro ter mais oito novas salas de audiências. “O que existe é irreal: seis
salas de audiência para 20 juízes”, constata, admitindo que a instância local
criminal está a agendar julgamentos a mais de um ano devido a essa
lacuna.
No
Palácio da Justiça de Beja a situação ainda é pior e não tem fim à vista. “Oito
juízes com necessidades de marcar diligências para duas salas de audiência
acarreta um inevitável estrangulamento, com grave prejuízo para o ritmo normal
de realização dos actos judiciais e a consequente dilação temporal”, lê-se
primeiro relatório semestral da comarca.
Os
contentores já saíram de Faro, mas Vila Real mantem-nos até ao final do ano e
Loures pelo menos até Abril.
As
maiores deslocações a que ficam obrigados cidadãos e advogados preocupam a bastonária
Elina Fraga. “A Justiça está mais distante, mais cara e menos
independente”, resume. Recorda que apesar das despesas de deslocação terem
aumentado, as custas judiciais mantêm-se altas. “Os custos são um muro
intransponível para a classe média, esmagada pelos impostos”, defende. Elina
Fraga sublinha ainda que o facto de o Ministério da Justiça não ter adequado a
Lei do Acesso ao Direito ao novo conceito de comarca, faz com que os advogados
não sejam reembolsados dos gastos com as deslocações dentro do distrito. ”Mesmo
que tenham que fazer 100 quilómetros”, nota. Por isso, pode dar-se o caricato
de um advogado gastar mais em deslocações do que ganha em honorários, diz. “São
os advogados que estão, em alguns casos, a pagar o acesso ao direito dos
cidadãos”, afirma a bastonária.
Os
casos de cidadãos com poucos recursos são mais flagrantes. O Estado
concede-lhes apoio judiciário, mas depois não comparticipa despesas de
deslocação. “Só o empenho dos operadores judiciários é que tem permitido
ultrapassar esta situação. Bombeiros, GNR e advogados transportam as pessoas.
Qualquer coisa está mal quando é necessário recorrer a soluções de improviso”,
diz Fraga.
Cristina
Fernandes é um dos poucos advogados de Mondim de Basto a fazer apoio
judiciário. E já teve várias vezes que dar boleia aos clientes. “São pessoas
que não têm dinheiro para táxi e, aqui, há poucos transportes públicos”,
explica.
Os
autarcas ainda não se conformaram com o encerramento dos 49 tribunais que
fecharam ou foram transformados em secções de proximidade. Por isso, quando o
Ministério da Justiça devolveu à Câmara de Mesão Frio o edifício onde
funcionava o tribunal, a autarquia manteve-o intacto. “Continuamos a acreditar
que vai voltar a haver tribunal em Mesão Frio”, diz o presidente do município,
Alberto Pereira. A fé é igual em Resende, onde há litígios que têm de ser
resolvidos em Viseu, a 64 quilómetros. “Para muitas pessoas a justiça acabou”,
resume o presidente da Câmara de Mêda.
Sem comentários:
Enviar um comentário