Isabel
Moreira Expresso, opinião
Como
escrevi no meu último artigo, a direita usa a encenação como arma.
Em
tudo.
Vamos
ao emprego.
Em
primeiro lugar, a direita tem um conceito de emprego - quando se deleita com
variações de taxas trimestrais - que deve ser denunciado por quem preza a
dignidade de cada um.
Para
a direita, os beneficiários do RSI que “trabalham” sem serem pagos para o
Estado têm “emprego”; para a direita, os recém- licenciados que estão que fazem
biscates têm “emprego”; para a direita, as pessoas que investiram anos e anos
na sua formação e estão a dar o seu melhor em recibos verdes, falsos recibos
verdes, contratos a prazo renovados para sempre a auferirem uma miséria têm
“emprego”.
Acontece
que a palavra “emprego” significa emprego digno, significa segurança e
possibilidade de confiança no traçar de planos de vida, significa direitos e
proteção laboral, significa que não se pode trabalhar e continuar pobre.
Esta
clivagem ética e ideológica entre PS e PSD/CDS é evidente, o plano de Passos
foi confessadamente “empobrecer para crescer” e, ainda há pouco tempo,
respondendo a uma pergunta, afirmou que falhou por não ter reduzido ainda mais
os custos do trabalho.
Nunca
o fosso entre PS e direita foi tão grande. A conceção de emprego que a direita
emprega sem vertigens é uma das dimensões do tipo de comunidade que ambiciona
criar: a comunidade do abandono; da destruição da escola pública; da destruição
do SNS. Mas hoje vou focar-me no emprego e na encenação em torno de uma chaga
nacional que a direita não vê sangrar.
O
emprego retrocedeu quase duas décadas, para níveis de 1995. Durante a vigência
deste governo, foram destruídos mais de 320.000 empregos.
Esta
é a verdade e não vale a pena andar com papelitos a tentar mistificar o horror.
Há
160 mil desempregados em programas ocupacionais (antes deste governo, rondavam
os 20 mil), que desaparecem das estatísticas apesar de continuarem a não ter
emprego.
Também
tem havido um recurso pouco criterioso aos estágios. Os estagiários também não
contam para o desemprego, mas o Tribunal de Contas revelou que apenas 1/3 dos
estagiários transitam para um emprego.
Há
mais de 250 mil desencorajados: pessoas sem emprego e disponíveis para
trabalhar, que deixaram de cumprir os critérios administrativos para demonstrar
que procuraram empregam.
E
muito maior seria o desemprego, não fora o quase meio milhão de portugueses
empurrados para a emigração durante a vigência deste governo
(emigração permanente e temporária, em algum dos anos desta legislatura).
Esta
é a realidade que a direita pensa que esconde na sua encenação, na sua farsa.
No
dia 4 de Outubro está em causa salvar um modelo de sociedade e a estratégia da
direita radical falha isto: as pessoas atrás da farsa existem. E sabem que não
têm o tal do “emprego”.
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