sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Cabo Verde. MILHARES DE PAIS NÃO RECONHECEM OS FILHOS




“7 266 averiguações oficiosas de paternidade pendentes”. Os dados do Relatório Anual sobre a Situação da Justiça 2014/2015 sobre a questão da paternidade traçam um cenário onde ninguém fica bem. Nem a justiça que parece incapaz de dar vazão aos casos, nem a investigação nacional que ainda não dá resposta científica à problemática e muito menos os pais que fogem ao dever de dar o nome (e não só) ao filho. Eventualmente, até algumas mães, porque maternidade consciente é também fundamental para mudar este quadro.

“Encontram-se pendentes 7 266 averiguações oficiosas de paternidade, sendo que destas 5 264 na Curadoria de Menores da Praia, tendo entrado só neste ano judicial 1 081,” lê-se no relatório Anual sobre a Situação da justiça relativo ao ano judicial 2014/2015.

Perante tais números, o documento tenta traçar as razões para esse elevado volume de pendências e entradas. Logo à partida temos a questão da prova. Assim, atribui-se os dados “à escassez de elementos de prova que possam demonstrar que, no período legal de concepção, a mãe apenas manteve relação sexual com o pretenso pai”.

Um apuramento que se baseia em provas testemunhais, o que dificulta a averiguação precisa e que hoje em dia, com o avanço da ciência forense pouco sentido faz.

Por isso, logo de seguida, o relatório aponta, a “impossibilidade de se poder realizar em Cabo Verde, exames de DNA”, salientando-a como a principal questão para os números.

Actualmente, estes testes têm de ser feitos no estrangeiro e os custos para a realização dos mesmos deve ser suportado pelos requerentes (o pai ou a mãe), o que justifica o pouco recurso aos mesmos.

Neste sentido, refira-se, a situação poderá mudar com o já anunciado início da prestação de serviço em biologia e genética molecular, pela Universidade de Cabo Verde, que deverá arrancar em breve e que enquadra também a área de genética forense em que se podem fazer testes de DNA.

De volta aos números, somem-se os número de processos arquivados, “por inviabilidade de acção de investigação e caducidade do prazo para se instaurar” essas averiguações e os casos que não chegam a tribunal e o panorama, certamente, é ainda pior.

Uma problemática preocupante, até porque, além de todas as questões éticas inerentes, a não assumpção da paternidade acarreta prejuízos a vários níveis. De afectos, claro, mas também materiais. Isto porque não se pode exigir a pensão de alimentos a uma pessoa que não está no papel identificado como pai. A criança vê-se privada de uma série de direitos, que lhe deviam ser assegurados. E tudo começa, pois, com a perfilhação.

Este texto é o excerto de um artigo mais vasto que pode ser lido na edição desta semana do Expresso das Ilhas, já nas bancas.

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