sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Portugal. Heloísa Apolónia. “Nem PS nem PSD representam uma verdadeira alternativa”



Ana Petronilho - Económico

As maiorias absolutas “não significam a estabilidade no país” e geram “muito autoritarismo e até uma submissão das maiorias parlamentares”, alerta Heloísa Apolónia.

É necessário "trabalhar mais a dinâmica parlamentar" e as maiorias absolutas "geram muito autoritarismo e até uma submissão das maiorias parlamentares", alerta Heloísa Apolónia. Essa é, aliás, a razão apontada pela líder parlamentar dos Verdes para defender que, "no período em que estamos, uma maioria absoluta não é uma solução viável e desejável para o país". Até porque, uma maioria absoluta não traduz estabilidade para o país, remata Heloísa Apolónia em entrevista ao Económico.

Têm a expectativa de subir o número de deputados?

Estamos em crer que há grandes condições para haver um reforço da Coligação Democrática Unitária (CDU) nas próximas eleições, em número de votos e de mandatos. É fundamental que as pessoas não esqueçam o passado e o tomem como um aviso para aquilo que pode vir a ser o futuro. Tivemos um Governo a mentir aos portugueses e isto não é forma de estar na política, quem tem um passado destes não conseguirá fazer diferente. Os partidos que se têm alternado no poder não têm como eixo central das suas políticas as pessoas e a promoção da sua qualidade de vida e a CDU representa essa alternativa.

Os Verdes perdem eleitorado por estar na sombra do PCP?

A CDU traz gente à participação que nem é militante do PCP nem dos Verdes. Esta CDU é muito positiva quer para aqueles que integram a coligação quer para o país. É uma força de dinâmica e é por isso que outros partidos como o PS, o PSD e o CDS têm tanto receio desta força da CDU.

Receia o voto útil no PS?

O fundamental é as pessoas perceberem que o voto útil será aquele que será útil para si. Ou seja, o voto que se poderá traduzir numa política e em propostas que sejam úteis para quem deu o voto. E não dar o voto a uma determinada componente ou uma determinada força política que depois imediatamente trai o seu voto. A utilidade do voto não vai para a construção de maiorias absolutas. As maiorias absolutas não significam a estabilidade no país, muito pelo contrário, as maiorias absolutas têm sido o instrumento mais eficaz para retirar direitos às pessoas e para promover determinadas políticas extraordinariamente desagradáveis.

Estão abertos a consensos?

Nunca chegou nenhuma proposta à Assembleia da República, seja do PS, PSD, CDS ou do BE, que consideremos benéfica para o país e que tivesse levado o nosso voto contra. Nunca. Agora também não houve nenhuma proposta que considerássemos maléfica para o país que tivesse o nosso voto a favor. Se nos vierem pedir privatizações, terão o nosso voto contra, se nos vierem pedir a descapitalização da Segurança Social, têm o nosso voto contra e se nos vierem propor desvalorização do factor trabalho e despedimentos fáceis têm o nosso voto contra.

São essas as vossas linhas vermelhas?

Não lhe chamaria, exactamente, linhas vermelhas. São princípios e valores dos quais não podemos abdicar. Agora, para uma política de valorização do salário, das pensões, da produção nacional, para uma visão fiscal de justa repartição da riqueza, nunca terão o voto contra dos Verdes. Nunca, absolutamente, nunca.

O que acha do programa do PS?

O PS tem uma história. Não nos podemos esquecer daquilo que representaram os PEC que carregavam consigo uma dose brutal de austeridade e uma lógica de empobrecimento continuada. Temos de fazer com que as pessoas não se esqueçam disso. Porque essa história, dos PEC, por exemplo, não está renegada por António Costa e por este PS. Aquilo que se tem verificado é o que podemos chamar de alternância entre o PS e o PSD/CDS. É uma mesma lógica política, com uma diferença aqui e outra acolá, temos o mesmo trilho, o mesmo caminho preparado. Nenhum deles representa uma verdadeira alternativa para o país.

Nesse cenário estarão mais abertos a acordos com a direita ou com o PS?

O PS quando esteve no Governo, fosse com maioria absoluta ou com maioria relativa, procurou sempre os seus consensos à direita. Fez opções por alguma razão. É porque o caminho trilhado é de facto no mesmo sentido. Aquilo que dizemos é que dar mais força à CDU é potenciar o país para nos desviarmos e descolarmos desse caminho. A CDU é a única força que está em condições de empurrar o país para um outro caminho.

Seria desejável um consenso mais alargado à esquerda?

Depende do que entende por consenso. Porque uma convergência à esquerda está provada que é possível através da CDU. Uma convergência à esquerda não tem depois de se alargar a uma coligação de toda a esquerda. Agora, no Parlamento, quando as propostas aparecem os partidos tomam as suas posições e convergem ou deixam de convergir em função dos seus objectivos. Temos de trabalhar mais essa dinâmica parlamentar e as maiorias absolutas geram muito autoritarismo e até uma submissão das maiorias parlamentares. No período em que estamos, uma maioria absoluta não é uma solução viável e desejável para o país.

Uma maioria não traria estabilidade?


Não. Não tem trazido estabilidade nenhuma. Houve uma maioria absoluta nos últimos quatro anos e pergunto: houve estabilidade no país? Nunca vi tantos protestos, nem pessoas tão desesperadas como durante esta legislatura. Chamar a isto estabilidade... O que é que entendemos por estabilidade? É os políticos estarem confortavelmente sentados na sua cadeira porque não têm que fazer negociações com ninguém? Isso não é estabilidade nenhuma. A política tem de ser centrada nas pessoas e as pessoas não tiveram estabilidade na sua vida. Muito pelo contrário. Esta maioria absoluta foi profundamente instável para o país.

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