Pedro
Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
1-Os
governos não são eleitos para resolver problemas de lana-caprina. O colapso dum
grande banco, duma instituição financeira onde se encontrava cerca de um quarto
da riqueza nacional, é uma questão que tem de ser tratada diretamente pelos que
elegemos para conduzir os destinos da comunidade. Nunca passando a
responsabilidade dum problema desta magnitude para outras entidades. Muito
menos para o Banco Central.
É
evidente que o Banco de Portugal poderia apoiar o governo na resolução dos
vários problemas, nomeadamente na questão da reprivatização, mas nunca ser o
responsável pelo processo. Mas em que parte do mundo um regulador se transforma
num vendedor? Em que parte do estatuto dum banco central consta as funções de
mediação de negócios? Alguém é capaz de nomear um negócio que Carlos Costa
tenha organizado - compra da casa e do carro não contam? Agora querem que tenha
competência e experiência para fazer um negócio de muitos milhões? Por outro
lado, pôr um regulador a vender uma entidade que depois vai ter de regular é um
disparate sem nome.
Se
encararmos a venda do Novo Banco como um assunto político - que o é -, jamais
deveria ser a entidade que regula os bancos a tratar do assunto; se olharmos
para a questão em termos de negócio, nunca poderia ser uma instituição que não
tem como função ser uma Remax de bancos a tratar do assunto.
Os
erros de base para a resolução do dossiê NB começaram aqui. Mas o pior foi a
intenção por detrás dessas decisões: gerir com objetivos eleitorais um problema
que afeta duma maneira vital a comunidade. Alijar a questão para o Banco
Central, de forma a que se existissem prejuízos se desse a ideia de que a
responsabilidade não era do governo.
Incompetência
e eleitoralismo formam um cocktail mortal e, desta vez, correram contra quem o
misturou e contra os do costume: nós, está claro. Carlos Costa, qual Jorge
Mendes de aviário, não conseguiu gerir bem o dossiê de venda, e ficou
absolutamente claro, a meia dúzia de dias das eleições, que, como era óbvio
desde o início do processo, as perdas para a comunidade vão ser avultadas -
digamos que eleitoralmente para a coligação PAF não será um tema fácil.
Mais,
e ainda pior, é cada vez mais evidente que Vítor Bento tinha razão quando
defendia que era preciso mais tempo para vender o banco e que era preciso
capitalizá-lo para o valorizar. Numa palavra: a solução governo/Carlos Costa
vai sair muito mais cara aos contribuintes.
A
mentira, mil vezes repetida, de que os portugueses não iriam ter de pagar nem
um tostão e as tentativas de mascarar o óbvio irão resultar em prejuízos ainda
maiores. E foi uma mentira estúpida. Estúpida porque, por muito que nos custe,
não há memória, em qualquer época, de que um problema desta dimensão não
acarrete encargos para os cidadãos. Infelizmente, todos o sabemos.
Mas,
não fossem a incompetência e o eleitoralismo suficientemente graves num
processo deste interesse público, temos agora um primeiro-ministro que lança
campanhas de subscrição. Custa a acreditar, mas é mesmo verdade:
"Organizarei uma subscrição pública para os ajudar a ir a tribunal."
Deve ser a primeira vez na história que um primeiro-ministro sugere uma
angariação de fundos para um problema que ele tem, pelo menos, de ajudar a
resolver. Por este caminho, ainda o vou ver lançar campanhas de recolha de fundos
para os desempregados que não têm acesso ao subsídio de desemprego, outra para
não deixar fugir os jovens do país, outra para ajudar a arranjar os 600 milhões
para a Segurança Social ou até substituir a recolha de impostos por operações
de crowdfunding.
Já
tínhamos um primeiro-ministro que não quis resolver um problema que só o seu
governo devia tratar, que nos vai fazer uma conta maior do que a que já
sabíamos ir ter de pagar por causa dos seus cálculos politiqueiros, só faltava
mesmo um primeiro-ministro que acha que deve organizar operações de caridade
pública em vez de tentar resolver os problemas da comunidade.
Em
vez de um primeiro-ministro temos um organizador de peditórios. Às tantas,
Passos Coelho está a candidatar-se ao lugar de Isabel Jonet e ninguém se tinha
apercebido.
2-Esta
semana correu bem ao líder do PS. O debate deu um novo impulso à sua campanha e
motivou os seus seguidores.
Costa
e os socialistas não esperariam é pelo bambúrrio que foi o aparecimento do
ex-doutor Miguel Relvas como comentador. Não serão precisas grandes explicações
sobre a imagem do ex-ministro junto do eleitorado. Rever o cavalheiro fez-nos
lembrar as suas peripécia pouco edificantes. Digamos que a coligação PAF não
deve ter gostado muito de que as pessoas voltassem a lembrar-se de que Miguel
Relvas foi ministro deste governo e uma das suas principais figuras.
Das
duas uma: ou Relvas acha que as pessoas se esqueceram dele e considera que a
sua imagem está recuperada ou quer contribuir para uma possível derrota eleitoral
do partido de que é militante. Agora escolha.
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