Não
é que Portugal não esteja preocupado com a situação dos Direitos Humanos em
Angola. Mas a preocupação maior de Lisboa, pela qual se rege a sua política
externa, é manter boas relações com Luanda.
ui
Machete, o chefe da diplomacia portuguesa, mantém que Angola tem vindo a fazer
progressos em matéria de Direitos Humanos. Afirma ainda que é um erro observar
o respeito pelos direitos fundamentais na Europa da mesma maneira como se
coloca o problema em África. E não esconde que objetivo é não pôr em causa as
excelentes e importantes relações políticas e económicas entre os dois países.
O
ministro reconhece que tem havido atropelos por parte do executivo de Luanda, e
que é um erro pensar que existe “alguma indiferença” por parte de Lisboa em
relação a esta matéria: “Aqui ou além essas coisas nunca são em linha reta. Mas
essa é uma matéria em que percebemos a sensibilidade da questão, o carácter
político”. Para Machete “Angola tem feito o seu caminho”.
Realidades
diferentes
O
titular da pasta dos Negócios Estrangeiros de Portugal admite que as soluções
encontradas em Angola podem não ser sempre de agrado geral, mas diz que “temos
de aceitar que
há realidades que são diferentes. Portanto, por muito que custe aos
comentadores que não têm grande responsabilidades nas matérias, e portanto se
podem dar ao luxo de dizer o que entenderem, nós não nos arvoramos em juízes em
causas alheias. Procuramos sim contribuir para o progresso de Angola”.
Para
Machete, ajudar a diversificar a economia angolana pode ser uma maneira de
contribuir para que as exigências em matéria dos Direitos Humanos possam ser
mais facilmente satisfeitas. O ministro português dos Negócios Estrangeiros
admite que é preciso encontrar soluções satisfatórias, na medida do possível,
para fazer face à situação: “É o que fazemos com uma grande sinceridade com o
Governo angolano, quando é caso disso, mas não pretendemos que as nossas
relações piorem, agravem e não sejam boas, por fazermos condenações que não têm
nenhuma eficácia”.
Guiné-Bissau
preocupa Lisboa
Rui
Machete também está preocupado com a crise política na Guiné-Bissau. O Governo
português acompanha a situação, evitando ingerência nos assuntos internos. Mas,
no âmbito do apoio solicitado por Bissau à comunidade internacional, Lisboa
está disposta a estender a mão aos guineenses para que seja possível encontrar
uma solução consensual. Para o chefe da diplomacia portuguesa, a melhor maneira
de ajudar é “procurar ver quais são as necessidades da Guiné e procurar uma
solução de consenso. Essa solução de consenso naturalmente depende da posição
do senhor Presidente da República da Guiné-Bissau e depende também do PAIGC e
de diversas forças vivas. A nós preocupa-nos a situação e achamos que era muito
útil que fosse possível encontrar algo que permitisse que o novo Governo, ou um
novo Governo funcionasse. E funcionasse em termos de cumprir aquilo que foi o
pressuposto da ajuda internacional. E é nesse sentido que vamos empenhar”.
Militares
não devem intervir
Machete
afirma ser importante que os militares se mantenham nos quartéis sem interferir
no conflito: “Estamos preocupados, e faremos pressão sim, para que, como até
agora tem acontecido, os militares da Guiné-Bissau se mantenham, não é alheios,
mas que se mantenham sem interferir em termos da sua natureza militar, neste
conflito”.
Na
quarta-feira, 2 de setembro, depois de um encontro com a imprensa internacional
em Lisboa, Machete reuniu-se no Palácio das Necessidades com o representante
especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, Miguel Trovoada, com quem
analisou a instabilidade política no país membro da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) e da Comunidade dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO).
Miguel
Trovoada, que foi recebido pelo Presidente da República portuguesa, Cavaco
Silva, esteve com o primeiro-ministro, Passos Coelho e com o secretário
executivo da CPLP, Murade Murargy, garantiu aos jornalistas que as Forças
Armadas guineenses se vão manter à margem da crise política.
João
Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle
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