VOZ
DE UMA IGREJA SEM AMARRAS
Infelizmente,
em Angola não existem muitos bispos, com a capacidade e independência cristã
de dar de beber a sede espiritual dos angolanos, servindo-lhes água benta,
para alimentar as agruras. Em Angola, muitos bispos parecem comprometidos com o
regime e são veias de transmissão da sua política, havendo mesmo denúncias de
alguns padres, tal como no tempo colonial, outros, por razões óbvias, o
faziam, informam a Segurança de Estado, o resultado das confissões de alguns
crentes. É preciso resgatar a credibilidade da Igreja Católica e nisso o Papa
Francisco não se tem cansado de mandar sinais e conselhos. Para os angolanos,
salva-nos ouvir, em momentos de angústia, homens de Cristo destemidos a dizer,
do exterior, o que os do interior se acobardam, como o fez, recentemente, D.
Januário Torgal Ferreira que exige mais pressão de Portugal e da comunidade
internacional ao regime do Presidente José Eduardo dos Santos, face a constante
violação dos Direitos Humanos, as prisões arbitrárias e os assassinatos
selectivos. Por sinal, este homem sabe do que fala, pois, não se pode esquecer,
que foi interpretando o sentir popular que se agigantou o movimento dos
capitães de 24 de Abril de 1975, que destronar a ditadura de Salazar e Caetano.
Portanto neste alerta, Dom Januário lança um sério recado ao regime; tudo
poderá acontecer, até mesmo uma implosão interna.
O
Bispo emérito das Forças Armadas e de Segurança em Portugal D. Januário
Torgal Ferreira acusou o Governo angolano de estar a comportar-se como Salazar,
que dirigiu o regime fascista português derrubado a 25 de Abril de 1974.
“Estão
a fazer a mesma coisa que o Salazar fazia através da PIDE”, disse Torgal
Ferreira em entrevista à Rádio Vaticano em referência não só à greve de fome
que o activista Luaty Beirão levou a cabo, durante 36 dias, até 26.10, como a
prisão arbitrária dos outros jovens presos políticos do processo 15+1.
D.
Januário Torgal Ferreira vai mais longe e diz que “Angola pode padecer de uma
anomalia de não constituir um Estado de Direito”.Os jovens são acusados da
preparação de um golpe de Estado e de um atentado contra o Presidente
angolano, “uma calúnia” diz o prelado português à Rádio Vaticano que considera
“tudo isto ridículo”, um “balde de água fria para quem acredita na democracia”.
A
acusação destes jovens de estarem a preparar um gole de Estado foi classificada
por aquele bispo de “calúnia”.
O
Bispo emérito das Forças Armadas e de Segurança de Portugal pediu uma maior
intervenção do Governo de Lisboa neste processo e mais “pressão” da
comunidade internacional.
Folha
8 digital - 31 outubro 2015
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