Martinho Júnior, Luanda
1
– A corrente iniciativa da Rússia na Síria, está a surpreender os Estados
Unidos e seus aliados-vassalos da NATO e do ANZUS, assim como os
respectivos “parceiros” ao redor do mundo, demonstrando de forma
inequívoca que todos eles têm agora muitas lições a receber e aprender.
Os
avanços são de al ordem, que alguns analistas experientes e bem fundamentados,
estão a chegar à conclusão de que acabou finalmente o período da hegemonia
unipolar que se sucedeu à “Guerra Fria”, tendo-se entrado já no universo
multipolar!
Os
Estados Unidos não estavam à espera que a Rússia, em toda a linha, desde as
iniciativas político-diplomáticas, à economia, às finanças, aos serviços de
inteligência, à logística, ao poder de manobra, ao poder de fogo e ao poder geo
estratégico militar, fosse capaz de ir tão longe e, em alguns aspectos,
claramente tão fora de alcance!
Nos
estudos comparativos do poder no espaço, poder terrestre, poder aéreo e poder
naval, os Estados Unidos e a NATO estão “ofuscados” por aquilo que
está a ser demonstrado na Síria, funcionando todas as disciplinas de mando ao
dispor de Putin, como um relógio de superior afinação… como um Ómega!
Isso
é efectivamente a um conjunto de qualidades cujo produto final, neste caso a
ofensiva russa, é um processo refinado e com capacidade humana que conta com
patriotas esclarecidos, inteligentes e decididos, que nada têm a ver com a
panóplia de mercenários a que os Estados Unidos nos vêm habituando a observar
particularmente desde a “doutrina Bush”, mercenários esses que abrangem
também sectores importantes das próprias Forças Armadas norte-americanas…
O “Trident
Juncture 2015”, que era uma manobra demonstrativa e de propaganda do músculo da
NATO, desapareceu das atenções internacionais em amplos sectores da opinião
pública, o que é sintomático de sua ridícula pretensão face às iniciativas
russas que têm fulcro e projecção mais evidente na Síria.
2
– Do conjunto de iniciativas desencadeadas a partir de Putin, um dos aspectos
mais surpreendentes é a demonstração feita com o uso da pequena flotilha de
navios russos no Mar Cáspio, um mar fechado e interior, onde nenhum vaso de
guerra ocidental circula e é a última das prioridades para os sensores de
inteligência e militares dos Estados Unidos e da NATO.
A
Rússia na ofensiva que preparou na Síria, fez desfilar fisicamente uma parte do
seu poder naval no Mar Negro e no Mediterrâneo, aliando-se à China nesse
aspecto, chamando todas as atenções sobre o Mediterrâneo Oriental, sobre os
Dardanelos, sobre o Suez e sobre Tartus, com manobras e exercícios conjugados
com o desenrolar dos acontecimentos, atraindo as atenções dos
sensores“ocidentais” a oeste dos alvos…
De
repente e quando de Tartus a Rússia alargou sua implantação integrando no
núcleo duro o aeroporto de Latakia, um dos golpes mais surpreendentes sobre o
Estado Islâmico na Síria é feito a partir do Mar Cáspio, precisamente a
nordeste dos alvos, a partir de aparentemente pouco poderosos vasos navais que
constituem o grosso do poder da pequena flotilha russa que circula naquele mar.
A
surpreendente demonstração foi feita com precisão cirúrgica, dando a conhecer
as iniciativas de forma oportuna e em tempo real, evidenciando a eficácia
tecnológica conseguida com os mísseis que foram empregues, assim como os
resultados sobre os alvos e colocando praticamente sem recursos qualquer tipo
de propaganda, ou contrapropaganda, que os Estados Unidos e a NATO quisessem a
propósito fazer.
O
poder dissuasor demonstrado sob os pontos de vista geo estratégico e geo
político, foi acompanhado pela demonstração da eficácia do poder naval russo, a
partir da sua mais pequena e despercebida força-tarefa naval!
3
– A experiência da flotilha do Mar Cáspio é resultado de desenvolvimentos
anteriores na região:
-
A primeira guerra na Chechénia, ocorrida entre 1994 e 1996 (derrota de Boris
Yeltsin);
-
A segunda guerra na Chechénia entre 1999 e 2009 (vitória de Vladimir Putin);
-
Ataques no âmbito da Frente do Cáucaso (Emirato do Cáucaso), entre 2004 e 2007
(neutralizado por Vladimir Putin, podem haver tentativas para ressurgir);
-
Crise entre a Geórgia (“Revolução Rosa”) e a Rússia, entre 2008 e 2010
(fortalecida a posição de Vladimir Putin, que destruiu parte das Forças Armadas
da Geórgia e reconheceu a Abkásia e a Ossétia do Sul como estados
independentes).
No
início do século o armamento russo estava praticamente ao nível de todos os
outros estados surgidos com a dissolução da União Soviética e do Pacto de
Varsóvia… quinze anos depois o“salto” científico e tecnológico é por
demais evidente e as Forças Armadas Russas exprimem esse“salto”, mantendo um
elevado grau de patriotismo, profissionalismo e competência.
Se
nos conflitos na Chechénia e na Geórgia as coisas ainda não estavam
suficientemente evidentes, na Síria a Rússia está a dar provas em todos os
sectores das Forças Armadas e, no que toca às Frotas navais, alcançaram-se
padrões que nunca antes tiveram expressão igual.
Os
pequenos navios russos, disseminados nas frotas do Báltico e Mar Negro, assim
como na flotilha do Cáspio, concebidos desde os primeiros anos do século XXI,
possuem um potencial tecnológico e de fogo equiparável
aos “destroyers” e “fragatas” alinhadas pela NATO, podendo
superá-los em suas capacidades “inter-armas” e no seu poder de
manobra, deitando por terra toda a propaganda de que o poder naval russo
representava a decadência ou mesmo um colapso em resultado do desaparecido
poder naval soviético.
Os
mais pequenos desses navios, da classe Buyan e correspondentes a corvetas, têm
62 metros de comprimento e deslocam vazios cerca de 500 toneladas… o seu
potencial de fogo permite a implantação modular com emprego de armas de tiro
tenso e mísseis com várias funções, possui radares de navegação e de tiro e
estão equipadas para guerra electrónica.
Este
tipo de navios é excelente para combinações desde a intersecção antiterrorista
e a contra tráficos, riscos que o AFRICOM não se cansa em apregoar como
existentes na vasta região do Golfo da Guiné… sem que os Estados Unidos possam
apresentar melhores e mais baratas soluções do que estas.
Se
a intervenção dos vasos de guerra no Mar Negro, foram importantes para as
vantagens russas em relação à Abkásia e Ossétia do Sul (na Geórgia), impedindo
qualquer manobra de reforço com injecção directa de logística a partir da base
de Poti, desta feita a flotilha do Mar Cáspio provou sua notável eficiência,
enquadrando-se na ofensiva da Rússia na Síria, numa experiência que a NATO não
poderá mais desvalorizar!
Imagens:
-
1 – Quadro representativo do poder naval russo;
-
2 – Manobra naval russa em torno da costa síria, impedindo qualquer ataque
proveniente do Mediterrâneo;
-
3 – Ataque de mísseis a partir das pequenas corvetas russas que integram a
flotilha do Cáspio;
-
4 – Corveta da classe Buyan, lançadora de mísseis (que integra a flotilha do
Mar Cáspio).
A
consultar:
-
A OTAN lança o Trident – http://www.globalresearch.ca/a-otan-lanca-o-tridente/5456156
-
OTAN lanza sus mayores ejercícios bélicos desde 2002 –
- “Trident
Juncture 2015”, aspectos gerais – http://www.operacional.pt/trident-juncture-2015-aspectos-gerais/
-
Doutrina Bush – https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_Bush
-
Doutrina Bush: Guerra contra o terrorismo e o “eixo do mal” – http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/doutrina-bush-guerra-contra-o-terrorismo-e-o-eixo-do-mal.htm
-
Doutrina Bush: a face monstruosa do fascismo – http://www.anovademocracia.com.br/no-4/1336-doutrina-bush-a-face-monstruosa-do-fascismo
-
History of Chechnya – http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_Chechnya
-
Chechnya – http://en.wikipedia.org/wiki/Chechnya
-
1999 Russian bombing of Chechnya – http://en.wikipedia.org/wiki/1999_Russian_bombing_of_Chechnya
-
Caucasian Front – http://en.wikipedia.org/wiki/Caucasian_Front_(Chechen_War)
-
Second Chechnya War – http://en.wikipedia.org/wiki/Second_Chechen_War
-
Russia Georgia War – http://en.wikipedia.org/wiki/2008_South_Ossetia_war
-
Caspian Flotilla – https://en.wikipedia.org/wiki/Caspian_Flotilla
-
Buyan class corvettes (Project 21630), Russia – http://www.naval-technology.com/projects/buyan-class-corvettes-project-21630-russia/
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