domingo, 25 de outubro de 2015

RÚSSIA SURPREENDE EM TODA A LINHA



Martinho Júnior, Luanda 

1 – A corrente iniciativa da Rússia na Síria, está a surpreender os Estados Unidos e seus aliados-vassalos da NATO e do ANZUS, assim como os respectivos “parceiros” ao redor do mundo, demonstrando de forma inequívoca que todos eles têm agora muitas lições a receber e aprender.

Os avanços são de al ordem, que alguns analistas experientes e bem fundamentados, estão a chegar à conclusão de que acabou finalmente o período da hegemonia unipolar que se sucedeu à “Guerra Fria”, tendo-se entrado já no universo multipolar!

Os Estados Unidos não estavam à espera que a Rússia, em toda a linha, desde as iniciativas político-diplomáticas, à economia, às finanças, aos serviços de inteligência, à logística, ao poder de manobra, ao poder de fogo e ao poder geo estratégico militar, fosse capaz de ir tão longe e, em alguns aspectos, claramente tão fora de alcance!

Nos estudos comparativos do poder no espaço, poder terrestre, poder aéreo e poder naval, os Estados Unidos e a NATO estão “ofuscados” por aquilo que está a ser demonstrado na Síria, funcionando todas as disciplinas de mando ao dispor de Putin, como um relógio de superior afinação… como um Ómega!

Isso é efectivamente a um conjunto de qualidades cujo produto final, neste caso a ofensiva russa, é um processo refinado e com capacidade humana que conta com patriotas esclarecidos, inteligentes e decididos, que nada têm a ver com a panóplia de mercenários a que os Estados Unidos nos vêm habituando a observar particularmente desde a “doutrina Bush”, mercenários esses que abrangem também sectores importantes das próprias Forças Armadas norte-americanas…

O “Trident Juncture 2015”, que era uma manobra demonstrativa e de propaganda do músculo da NATO, desapareceu das atenções internacionais em amplos sectores da opinião pública, o que é sintomático de sua ridícula pretensão face às iniciativas russas que têm fulcro e projecção mais evidente na Síria.

2 – Do conjunto de iniciativas desencadeadas a partir de Putin, um dos aspectos mais surpreendentes é a demonstração feita com o uso da pequena flotilha de navios russos no Mar Cáspio, um mar fechado e interior, onde nenhum vaso de guerra ocidental circula e é a última das prioridades para os sensores de inteligência e militares dos Estados Unidos e da NATO.

A Rússia na ofensiva que preparou na Síria, fez desfilar fisicamente uma parte do seu poder naval no Mar Negro e no Mediterrâneo, aliando-se à China nesse aspecto, chamando todas as atenções sobre o Mediterrâneo Oriental, sobre os Dardanelos, sobre o Suez e sobre Tartus, com manobras e exercícios conjugados com o desenrolar dos acontecimentos, atraindo as atenções dos sensores“ocidentais” a oeste dos alvos…

De repente e quando de Tartus a Rússia alargou sua implantação integrando no núcleo duro o aeroporto de Latakia, um dos golpes mais surpreendentes sobre o Estado Islâmico na Síria é feito a partir do Mar Cáspio, precisamente a nordeste dos alvos, a partir de aparentemente pouco poderosos vasos navais que constituem o grosso do poder da pequena flotilha russa que circula naquele mar.

A surpreendente demonstração foi feita com precisão cirúrgica, dando a conhecer as iniciativas de forma oportuna e em tempo real, evidenciando a eficácia tecnológica conseguida com os mísseis que foram empregues, assim como os resultados sobre os alvos e colocando praticamente sem recursos qualquer tipo de propaganda, ou contrapropaganda, que os Estados Unidos e a NATO quisessem a propósito fazer.

O poder dissuasor demonstrado sob os pontos de vista geo estratégico e geo político, foi acompanhado pela demonstração da eficácia do poder naval russo, a partir da sua mais pequena e despercebida força-tarefa naval!

 3 – A experiência da flotilha do Mar Cáspio é resultado de desenvolvimentos anteriores na região:

- A primeira guerra na Chechénia, ocorrida entre 1994 e 1996 (derrota de Boris Yeltsin);

- A segunda guerra na Chechénia entre 1999 e 2009 (vitória de Vladimir Putin);

- Ataques no âmbito da Frente do Cáucaso (Emirato do Cáucaso), entre 2004 e 2007 (neutralizado por Vladimir Putin, podem haver tentativas para ressurgir);

- Crise entre a Geórgia (“Revolução Rosa”) e a Rússia, entre 2008 e 2010 (fortalecida a posição de Vladimir Putin, que destruiu parte das Forças Armadas da Geórgia e reconheceu a Abkásia e a Ossétia do Sul como estados independentes).

No início do século o armamento russo estava praticamente ao nível de todos os outros estados surgidos com a dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia… quinze anos depois o“salto” científico e tecnológico é por demais evidente e as Forças Armadas Russas exprimem esse“salto”, mantendo um elevado grau de patriotismo, profissionalismo e competência.

Se nos conflitos na Chechénia e na Geórgia as coisas ainda não estavam suficientemente evidentes, na Síria a Rússia está a dar provas em todos os sectores das Forças Armadas e, no que toca às Frotas navais, alcançaram-se padrões que nunca antes tiveram expressão igual.

Os pequenos navios russos, disseminados nas frotas do Báltico e Mar Negro, assim como na flotilha do Cáspio, concebidos desde os primeiros anos do século XXI, possuem um potencial tecnológico e de fogo equiparável aos “destroyers” e “fragatas” alinhadas pela NATO, podendo superá-los em suas capacidades “inter-armas” e no seu poder de manobra, deitando por terra toda a propaganda de que o poder naval russo representava a decadência ou mesmo um colapso em resultado do desaparecido poder naval soviético.

Os mais pequenos desses navios, da classe Buyan e correspondentes a corvetas, têm 62 metros de comprimento e deslocam vazios cerca de 500 toneladas… o seu potencial de fogo permite a implantação modular com emprego de armas de tiro tenso e mísseis com várias funções, possui radares de navegação e de tiro e estão equipadas para guerra electrónica.

Este tipo de navios é excelente para combinações desde a intersecção antiterrorista e a contra tráficos, riscos que o AFRICOM não se cansa em apregoar como existentes na vasta região do Golfo da Guiné… sem que os Estados Unidos possam apresentar melhores e mais baratas soluções do que estas.

Se a intervenção dos vasos de guerra no Mar Negro, foram importantes para as vantagens russas em relação à Abkásia e Ossétia do Sul (na Geórgia), impedindo qualquer manobra de reforço com injecção directa de logística a partir da base de Poti, desta feita a flotilha do Mar Cáspio provou sua notável eficiência, enquadrando-se na ofensiva da Rússia na Síria, numa experiência que a NATO não poderá mais desvalorizar!

Imagens: 
- 1 – Quadro representativo do poder naval russo;
- 2 – Manobra naval russa em torno da costa síria, impedindo qualquer ataque proveniente do Mediterrâneo;
- 3 – Ataque de mísseis a partir das pequenas corvetas russas que integram a flotilha do Cáspio;
- 4 – Corveta da classe Buyan, lançadora de mísseis (que integra a flotilha do Mar Cáspio).

A consultar:  
- OTAN lanza sus mayores ejercícios bélicos desde 2002 –
- “Trident Juncture 2015”, aspectos gerais – http://www.operacional.pt/trident-juncture-2015-aspectos-gerais/ 
- Doutrina Bush: Guerra contra o terrorismo e o “eixo do mal” – http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/doutrina-bush-guerra-contra-o-terrorismo-e-o-eixo-do-mal.htm 
- 1999 Russian bombing of Chechnya – http://en.wikipedia.org/wiki/1999_Russian_bombing_of_Chechnya 
- Russia Georgia War – http://en.wikipedia.org/wiki/2008_South_Ossetia_war        

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